Um dia como qualquer outro estava prestes a começar, ou pelo menos era o que eu acreditava. A rotina iniciava-se novamente, naquela manhã tão monótona de segunda-feira. Até mesmo abrir os olhos me transbordava de cansaço. - Arghh! - Sentada na beirada da cama, curvava minhas costas e estalava minhas juntas, seria um novo dia de missões. O primeiro passo para fora da cama foi o responsável por deixar todo cansaço e preguiça de lado, e me focar nos afazeres básicos da manhã. Encontrava-me com Thanatos em um dos cômodos da casa, e acariciava sua pelagem suavemente, buscando forças para continuar. - Se prepare, logo sairemos. - A frase era protagonizada por um tom de voz de cansaço, acompanhado de um olhar sonolento.

Sem enrolar, o que deveria ser feito era feito. A jovem órfã era diferente de muitos cidadãos normais, a garota detestava ficar em casa. Talvez esse fosse o motivo dela estar fazendo missões incessavelmente nos últimos dias. Ter tempo livre forçava-a a pensar em suas perdas passadas, em sua tão drástica mudança de cenário. Para alguns, o que Kaya fazia poderia parecer nobre, ou até mesmo necessitado. Mas a verdade é que aquilo era sua fuga, seu refúgio. Buscava proteger-se de si mesma, de seus demônios que cultivava no fundo de sua mente.

- Au! - O latido simpático do cão era o responsável por tirar Kaya de uma espécie de estado vegetativo. A garota estava prestes a sair, quando entrou naquela onda de pensamentos. - Vamos, Thanatos. - Saíram pela porta da frente daquela cabana acabada, e não pouparam esforços ao se locomover pelas ruas da vila até o posto de atribuição de missões. - Bom dia! Uma missão, por favor. - Talvez não fosse o jeito ideal de pedir uma missão, mas fora a forma que Kaya mais se adequou. Seu objetivo era entregue à garota, pela primeira vez faria uma missão de rank elevado. Sua evolução era notada, e um breve sorriso era exposto em seu rosto. - Agradeço! - Após ter lido seus futuros afazeres, agradeceu e retirou-se, partindo até o portão da vila.

- "Mate o animal ou resolva da forma de não prejudicar-nos, novamente"... - Lia em voz alta, visando explicar seu objetivo à seu cão companheiro. O sorriso anterior era abandonado pela garota, que agora se contemplava em um grande dilema. - Vamos nos apressar! - Guardou o pergaminho em uma de suas bolsas de cintura, e com isso, voltou ao ritmo de caminhada normal. O cão apenas assentiu com seu olhar, enquanto seguia a jovem Inuzuka.

- Bom dia! Gostaria de me retirar da vila por algumas horas, tenho permissão dos superiores. - Ao se encontrar no portão da vila, explicava para os encarregados do fluxo de saída enquanto exibia o pergaminho de sua missão. Com a permissão concedida, a jovem órfã e seu cão cruzaram os limites de Kumo, dando as boas-vindas ao cenário de sua mais nova missão. - Mantenha-se atento, vamos tentar encontrar o paradeiro desse cão. - Em uma breve ordem, compartilhou seus pensamentos com o seu companheiro. Planejavam explorar os arredores da vila, enquanto utilizando de seu faro, para localizar o objetivo de sua missão.

Não havia demorado até que algo cruzava nosso olfato. Thanatos foi o primeiro, que me alertou com um latido. Poucos segundos depois também senti o forte cheiro se aproximando de nós. "Ajudem-me por favor" - Era dito pelo homem de aparência devastada que corria em nossa direção. Em um movimento rápido, o homem caiu em meus braços, sendo apoiado por Thanatos. - Senhor, esse seu ferimento... Foi causado por um cão? - Conseguia notar uma mordida exposta em seu braço ensanguentado. Enquanto esperava uma resposta, saquei uma Kunai e cortei uma pequena tira da bainha de meu vestido, enrolando a peça de tecido sobre o ferimento do homem. O cheiro que era emitido pelo homem era insuportável, causando grande desconforto aos nossos narizes.

- O senhor consegue voltar para a vila sozinho? Minha missão é deter aquele cão. - De fato se encontrava em certo dilema. Por mais que seus ensinamentos dissessem que ela deveria escoltar o homem ferido, sua missão era outra. Além do mais, não estavam tão distantes do portão da vila. - Sabe se tem mais pessoas naquela direção?! - Aos poucos raciocinava o problema, percebendo que o risco poderia ser maior do que o esperado. Aguardaria a resposta do homem para tomar sua decisão, planejava apenas voltar à vila caso o homem não se sentisse confiante o suficiente para retornar sozinho.

Imensa era a surpresa de presenciar aquela técnica medicinal sendo usada pelo senhor que até o momento se mostrava indefeso, a careta exposta em meu rosto era nitidamente visível, que carregava consigo o arrependimento de minhas ultimas ações desesperadas. - Sim senhor, por favor! - O homem se desculpava pelo cheiro que carregava consigo, porém já deixava de ser um problema tão grande, se tornando apenas um pequeno desconforto. Thanatos como de costume permanecia silencioso, vigilante. Seguimos a deixa do senhor, que se oferecia à nos mostrar o caminho até a fera selvagem que o atacara.

O homem caminhava em passos lentos e simples, então não fora complicado seguir seu trilhar. - ... - Permanecia quieta, enquanto fitava o antigo braço ferido do homem, que mostrava-se completamente restituído. De fato essa era uma habilidade que interessava minha mentalidade atual, talvez fosse uma provável futura carreira a ser trilhada. Voltava a me focar em meu objetivo, tentando acelerar os passos do homem aumentando gradativamente minha velocidade de caminhada, tentando forçá-lo a seguir o ritmo. Cada minuto que passava, mais pessoas poderiam estar em perigo, devia manter meu foco completo nessa missão.

A cada passo que dávamos o cheiro forte adentrava nossas narinas e causava um imenso desconforto. Por mais que estivesse animada com a missão, de certa forma também estava cansada dela, esperando que aquela tensão acabasse de uma vez. Thanatos mostrava-se deveras incomodado, assumindo um semblante nervoso e mostrando-se muito incomodado com o odor, espirrando algumas vezes consecutivas. - Calma amigão, estamos quase lá. - Não sabia o caminho, mas via necessidade em demonstrar apoio ao cão.

A caminhada nos levava diretamente até o covil da fera, que, ao longe, podia ser observada dormindo poucos metros à frente de uma caverna. Finalmente era possível ter visão do nosso real problema. Sua pelugem branca assemelhava-se à de um dos antigos cães da minha família, que havia morrido em um incêndio. Estava deitada, mas era notável seu tamanho um pouco maior do que o normal, assim como era notável suas presas afiadas e ensanguentadas. Nos aproximávamos exalando calmaria acompanhando o velhote, até que o homem recitou sua ultima frase: - Não é um cão, minha menina. É uma cadela. - Aquelas palavras fixaram-se em meus pensamentos como pregos, uma ponta solta havia sido exposta, uma alternativa que não havia pensado até o momento. - Sendo assim tudo muda completamente. Cães não são animais agressivos, é raro algum cão atacar um ser humano assim sem nenhuma razão... Mas sendo uma cadela, um enorme leque de opções é criado... - O homem que nos acompanhava se retirava, pensava em voz alta para compartilhar minhas ideias com Thanatos. Agora com o conhecimento de que se tratava de uma cadela, opções como alterações hormonais e proteção de filhotes se tornavam viáveis. Porém também perduravam opções como proteção de território e fome.

- Preciso checar uma coisa. - Uma ideia foi o ponto de partida para minha aproximação, queria ter uma visão mais afundo do local onde a cadela estava descansando, de todas as opções possíveis para causar a agressividade dela, a proteção de filhotes era a mais fácil de comprovar. Tentava me aproximar da maneira mais furtiva possível, esgueirando-me em possíveis árvores ou rochas pelo local, me distanciando de Thanatos. "Se for realmente filhotes não tem o que fazer, ela vai continuar causando problemas até os filhotes crescerem... Espero que não seja, pois não vou saber como proceder." - A comprovação de minha teoria era meu maior medo atual, tal pensamento mantinha-se em minha mente durante minha aproximação.

Cada passo que dava na direção da cadela, eu mais me sentia ameaçada. Buscava seguir um tanto quanto furtivamente, porém não deixava de manter uma postura limpa e suave, para caso fosse detectada não demonstrasse ameaça alguma. Thanatos por sua vez, ficou um pouco mais atrás, sentado em guarda. O cão esperava alguma ação diferente ocorrer, para assim se mover, priorizaria a proteção de Kaya. Quando julguei que já estava próxima o suficiente, esgueirei-me sobre qualquer objeto que houvesse no lugar, lançando meu olhar para a caverna, procurando por algo que comprovasse minha teoria.

Estava certa. A cadela estava protegendo alguns filhotes, que a acompanhavam. Por um deslize, acabava por ser vista pela cadela e suas crias, crias estas que sua primeira ação foi investir contra mim, porém não de maneira agressiva. Os pequenos filhotes me cercavam e mostravam certo afeto, porém, assustada, lancei meu olhar rapidamente à cadela. A cachorra estava fitada em Thanatos, mas conseguia notar em seu olhar que não estava com raiva ou agressiva. - ... - Não sabia exatamente o que estava acontecendo, não havia possibilidade dela estar temendo a aproximação de Thanatos... Só sobraria uma opção: Estava apaixonada?

Abri caminho pelos pequenos cães que me cercavam, enquanto assobiava para Thanatos, que rapidamente se aproximava. - Ela não para de te olhar. - Conversava com o cão, com um tom de voz assustado. Por mais que as crias da cadela haviam se movido até nós, ela permanecia deitada, como se não representássemos perigo algum à ela. Me abaixei e acariciei a cabeça de Thanatos, exibindo afeto pelo cão. - Vou tentar resolver isso. - Levantava e seguia caminhando em direção à cadela, mantendo meus passos em linha reta. Tinha que convencer a cadela de que aquele lugar era perigoso para ela, que deveria partir com seus filhotes.

- Sou Kaya Inuzuka. Uma ninja de Kumogakure... É um prazer! - Me colocava a poucos metros distante da cadela, enquanto fitava seus olhos com certa firmeza em minha voz. - Você está em perigo aqui, deve arranjar outro lugar para cuidar de seus filhotes. - Continuava, enquanto me preparava para qualquer reação agressiva. - Existem missões na nossa vila para matar você, cartazes querendo sua morte. Você não pode continuar aqui, a não ser que queira o pior para seus filhotes! - Exaltava-me um pouco na ultima parte do discurso, visando mostrar a ela a intensidade da situação. - Por favor... - Juntava ambas minhas mãos à frente de meu queixo, mostrando um sinal de súplica.

Thanatos se aproximou, sem que eu desse comando algum para isso. Se posicionou ao meu lado direito, e se comunicou com a cadela com um par de latidos. Após isso, lançou seu focinho contra minha perna, e deu uma breve lambida. Eu conseguia perceber que o gesto do cão foi feito para mostrar que ele confiava em mim, visando convencer a cadela de que eu estava fazendo aquilo com uma boa intenção. Após o ato, esperaria a ação feita pela cadela, e torcia para o melhor. Caso ela escolhesse se afastar do local, minha missão estaria completa. Visaria voltar para a vila com Thanatos e coletar nossa recompensa.