Descrição Geral: Em seus primeiros anos de vida, a personalidade de Suzuya era geralmente normal, embora um pouco bizarra. Como resultado do tratamento da Madame Vermelha, entretanto, não mais sentia medo e remorso, nem desenvolveu um senso de moralidade. Yukinori Shinohara, seu mentor, o descreveu como uma criança problemática. Apesar de seus maneirismos infantis e um comportamento brincalhão, ele era extremamente violento e altamente perturbado. O próprio descrevia seus métodos de assassinato como "limpos", ou seja, sem movimentos desnecessários, habilidade esta em que ele tinha orgulho, não demonstrando hesitação ao matar alguém. Entretanto, após meses passados de sua inserção em Iwagakure no Sato, Rei demonstrou ter adquirido e aprendido certo nível de humanidade quando percebeu, no dia de sua graduação, o quão importante era Shinohara para ele; desenvolveu, também, uma capacidade de amar e de se importar com indivíduos próximos a ele.

Rei sempre foi uma criança animada, enérgica, descontraída e era tão feliz quanto era inteligente: aprendeu a ler e escrever muito cedo, e, pela cativa audiência de sua mãe, demonstrava muitos sinais de que sua mente se desenvolvera rápido. Demonstrava fonte inesgotável de energia, esta "resultado de todos os doces que comia", como seus colegas de escolinha faziam questão de apontar dado o gosto por açúcar da criança; com as qualidades que rapidamente desenvolveu, era normal seus pais mandarem-no sozinho para realizar algumas atividades nos arredores de Namida, o pequeno vilarejo habitado por sua família, recebendo este nome ─ "lágrimas" ── devido a uma grande formação natural rochosa próxima de um córrego que, vez por outra, aumentava sua intensidade e alterava o fluxo de sua corrente com força o suficiente para que a água atravessasse tal formação rochosa, dando a impressão de que lágrimas escorriam por toda a extensão do monumento da natureza. Comprava os mantimentos necessários para sua família, como Natto, ovos, boshi, chás e vegetais, embora suas viagens mais felizes eram as que o levavam à loja de doces local; a loja era colorida, a velhinha Aiko sempre o tratava bem e as guloseimas que conseguia ali eram baratas e agradavam-lhe o paladar até que resolvesse incomodar seus pais para comprar mais. Foi em frente a uma destas viagens de ida para a doceria, inclusive, que uma tragédia que forçou seu renascimento ocorreu. Distraído, caminhava pela estrada de terra do pacato vilarejo, pensando nas tarefas que teria ao longo do dia mas, mais importante, em como melhor gastaria os ryous que sua mãe lhe deu nos doces. Nunca nada lhe acontecera em seu próprio vilarejo, e a população era pequena e, portanto, todos conheciam todos; isto foi motivo o suficiente para que até os anciãos de Namida andassem com suas guardas baixas. Portanto, não se podia culpar o jovem Suzuya por não notar as figuras encapuzadas, indumentadas com uma cor tão negra quanto a noite, aguardando-o ao dobrar a esquina que separava os seus olhos da vitrine da lojinha que tanto gostava. Não lembra-se destes acontecimentos, mas os mesmos seriam gravados em sua história e constituiriam tudo que o jovem ninja estava para se tornar.

Acordou o que se pareciam dias depois. Frio. Nu. Parecia ser numa maca, mas era de metal. Mal realizou um movimento e uma das figuras, até então despercebida pelos inocentes olhos de Rei, fitou seu despertar. Vestia-se de branco e estava parcialmente ensanguentado; ── O número vinte acordou. Chamem a Madame. ── Ordenou por intermédio duma voz camuflada pela máscara cirúrgica. Agora quase sentado, a criança podia ver seu reflexo na própria maca metálica em que acordou. Cabelos longos e brancos. Olhos vermelhos. Não era capaz de discernir o que era na época, mas sua feição se tornou levemente mais feminina. Não teve tempo suficiente para analisar seu corpo quando o ríspido som de uma caminhada em pisos de porcelanato cortavam-lhe a concentração. O barulho aumentava a intensidade conforme a progressão dos passos. A sombra projetou-se por baixo da porta poucos segundos antes de a mesma ser aberta, para que então a figura se prostrasse no espaço em que o móvel se encontrava. Obesa. Alta. Óculos escuros redondos. Batom vermelho em seus viçosos lábios. Artificialmente loira. Fitou-o com olhos clínicos e uma expressão comedida por alguns instantes antes de abrir um doentio e perturbador sorriso, que esbanjava contentamento. ── Perfeito! Você fez um ótimo trabalho, senhor Matsuda. Mesmo nestas condições, neste buraco de merda e nessa clínica improvisada. ── Assim que falou o nome do cirurgião, a tensão em seu corpo triplicou. Suava ainda mais do que já estava. Olhava de volta para a mulher, com os olhos inquietos e arregalados. ── O-Obrigado, Madame Vermelha! Será que isso significa que posso ver meus filh- ── Foram suas últimas palavras. Um dos guardas já presentes na sala removeram-lhe a cabeça com um único golpe com a espada que carregavam em suas costas. Rei dava um pequeno mas barulhento pulo de espanto com o som de sua cabeça se chocando contra o concreto. Não se movia mais do que a tremedeira involuntária. Não piscava, tampouco removia os olhos da fétida figura feminina que aparentava estar no comando. Manteve-se na mesma estância enquanto seus saltos barulhentos se aproximavam da mesa de cirurgias ou maca improvisada. Deslizou sua mão direita do joelho direito da criança por suas coxas, genitália e pescoço num único movimento antes de abrir o mesmo sorriso de antes. ── Você tem um corpo muito bom agora, meu filho. Filho? Ou prefere que eu te chame por seu novo nome?... ── Removeu sua mão por poucos instantes para pensar. ── Rei! Rei Suzuya! Viu só como sua mamãe é bondosa? Vou deixar você continuar com seu sobrenome! ── Retornou sua mão para o meio de suas pernas, apertando com força o suficiente para quebrar a posição estática do jovem, respondendo a dor com lamúria. ── Contanto que você seja um bom menino.... Mas não se preocupe. Mamãe vai te transformar num bom menino! ── Afrouxou sua pegada, retirando a mão por uma última vez, dando as costas ao seu novo prisioneiro e ordenando que o colocassem em inércia novamente com um estalar de dedos. Voltou a dormir.

Anos se passaram, e demoravam a passar tendo Rei como escravo de sua sequestradora. Ao invés de desenvolver humanidade, tomou gosto por explosivos. Ao invés de aprender cumprimentos, aprendeu a afiar lâminas. Ao invés de fazer amizades, aprendeu a rastrear fugitivos. Ao invés de amar, aprendeu a executar sem remorso. Com suas habilidades somadas a uma aparência agradável aos olhos da Madame Vermelha, rapidamente se tornou seu guarda-costas preferido quando não estavam no esconderijo, protegendo-a quando estava negociando escravos caros com pessoas de destaque. A "Rainha do Submundo", chamavam-na quando não optavam por seu alias. Nunca aprendeu seu nome verdadeiro. Tentaram comprar o escravo de número vinte, "Rei Suzuya", da posse da magnata, mas sem sucesso algum; talvez, de alguma forma doentia, apegou-se de verdade ao garoto. Talvez ele apenas fosse útil. Após uma série de negociações e vendas, entretanto, a utilidade do jovem assassino findou quando o esconderijo da Rainha foi invadido. Em meio a correria, pânico instalou-se no complexo da fugitiva. Rei sentiu medo ao ver sua mãe adotiva deixando-o para trás como isca. A raiva que sentiu junto com o ponto de vista distorcido em sua mente motivaram-no a matar, com quatro anos e sozinho, trinta e dois ninjas qualificados que carregavam a bandana do vilarejo da pedra antes que desmaiasse de exaustão e pelos danos que recebeu durante o embate. Inesperadamente, os ninjas aproveitaram-se de sua fragilidade para trazê-lo para a vila a mando de um dos ninjas que estavam envolvidos na invasão e que era experiente e respeitado o suficiente para que ninguém o questionasse diretamente. Através do esforço do próprio velhote que o trouxe junto dum programa psicológico intensivo oferecido pelos médicos da cidadela, Rei foi aos poucos reinserido na sociedade, desta vez de maneira humanitária e amorosa. Shinohara, o ancião responsável pelo mesmo, derramou lágrimas de felicidade e orgulho ao vê-lo graduando-se na Academia Ninja; lágrimas estas que só tinham sido escorridas de seus olhos anteriormente no nascimento de seu seu filho. Rei secou as lágrimas de seu voluptuoso e cicatrizado rosto com suas pequenas mãos, mesmo que os motivos daquilo ainda não parecessem claros para este, muito menos os motivos do porquê começou a chorar também e sentir um calor que emanava de seu coração.