Caminhando debaixo da débil luz restante ao fim de tarde, Shizuke descreveu seu trajeto até o campo de treinamentos da vila. Por um segundo, duvidou de si mesmo; incerto sobre o local que procurava, afinal, poderia ser não o local de treinos da vila e sim uma escolha pessoal da garota. Que seja. Caso chegasse ao lugar errado, ao menos teria uma certeza: o campo de treinamento oficial da vila era repleto de bancos e paredes onde poderia se recostar e descansar por alguns minutos. Que estranho pensamento de se ter, logo prestes a entorpecer seu corpo com adrenalina.
Pouco distante, avistou, uma figura sentada sobre um galho, as pernas pendendo ritmicamente abaixo. Aproximou-se silenciosamente, interrompendo seu avanço logo abaixo do ramo amarronzando — que curiosamente não cedera com o peso de um corpo.
— Você saiu com pressa, lá atrás. Sou Shizuke — manteve-se inerte, ali mesmo. Pensou em apoiar as costas contra o tronco mas o pergaminho que levava amarrado a esta se amassaria ou até mesmo rasgaria. Diante disto, lembrou das outras armas, dedicando um ligeiro toque em cada, como que para checa-las. Levou a mão esquerda sobre a bainha de suas lâminas, ambas, com um mero toque da palma sobre as empunhaduras. Tinta e pincel também estavam em lugares, percebeu. Respirou fundo.
Estava pronto, ansioso, para começar.

Shizuke: Hp: 250; Ck: 250; Sta: 0/3; Vício: 0/3; Tinta: 500 ml.

Considerações:

Arsenal:

Ainda sob a intimidante sombra da árvore e a luz alaranjada do fim de tarde, Shizuke conhecera o primeiro de seus companheiros de equipe. Hipátia, ela se apresentou. Pela maneira como conduzia aquilo, notou — mesmo antes de ter contato com os demais — que aquela provavelmente seria a cabeça do time. Aquela garota frágil e gentil. Mas o líder do time deve ter a maior patente, lembrou-se. Oh. Talvez não fosse assim tão frágil. Posso me conformar com isso, enquanto sou como sou. Fraco. Foi expulso de seus pensamentos pela chegada de outro integrante, Zero. O silêncio durou por algum tempo, até o três tornar-se quatro, o dia sumira por completo e, finalmente, a noite dava suas caras.
O último chegara acompanhado de um pedido de desculpas. Provavelmente quem irá puxar todos para baixo, supos. Não importava, não se deixaria levar. Tinha um caminho a traçar e isto era algo que faria sozinho, paralelo ao desenvolvimento de sua equipe. Novamente, teve os devaneios interrompidos por uma breve fala da garota sobre a árvore, invadido por um repentino espanto ao perceber que esta não estava longe de alcançar a patente de Jounin. Observaria-a atentamente, decidiu, especialmente nos aspectos da luta, como pensava, como agia. Um modelo a se seguir até que pudesse trilhar o próprio caminho.

Num relance, percebeu o tecer de selos e, em seguida, sua visão foi tomada por uma névoa gélida. Instintivamente, levou sua mão hábil até o cabo da lâmina; um desperdício, já que era pífia sua habilidade com a mesma. Servira como conforto, porém. Um som distante, não, não tão distante, próximo, embora o lugar lhe fosse desconhecido. Após isso, vários sons. Reteve-se por um instante, lembrando ser aquilo apenas um treino. Esticando os braços, tateou, em busca da árvore. Envolveu seus pés com chakra e subiu pelo tronco, mantendo-se verticalmente perto do topo, esperando. Desenrolou o pergaminho, alcançou o pincel preso à cintura e molhou sua ponta em tinta; por ora manteria-se inerte, em escuta e cauteloso, pronto para agir.

Shizuke: Hp: 250; Ck: 250; Sta: 0/3; Vício: 0/3; Tinta: 500 ml.

Considerações:

Arsenal:

Talvez estivesse errado em assumir que o treino teria um ritmo mais leve, com toda certeza não era ele o único ali que tinha seus próprios objetivos paralelos ao desenvolvimento da equipe, fora tolo em ver desta maneira. Mas já se encontrava mais alerta, agora, empregando o máximo de suas capacidades, mantendo-se atento a tudo que fosse audível enquanto a visão estivesse prejudicada.
Ouviu resmungos, uma conversa inaudível não tão longe da base da árvore — os outros dois, é claro — quase se esquecera dos demais presentes além de Hipátia. O melhor de tudo, poderia usa-los a seu favor, embora fosse indiferente se seus usos dariam ganhos a ambos ou somente a Shizuke. Por ora, tudo que queria era aproveitar ao máximo a situação atual para desenvolver-se; deixar de lado seu senso de superioridade era uma possibilidade temporariamente em aberto, até mesmo a solidão e o isolamento podem ser visto como fraquezas.
Um som metálico inundou seus ouvidos, de certo modo, era preciso, contínuo. Sabia com exatidão sua origem, era mais claro e mais próximo do que o ruído surgido logo após o aparecimento da névoa. Saltou da árvore, equilibrando seu corpo durante a queda, pousando da maneira que julgou correta, aliviando ao máximo o impacto de seu próprio peso sobre os joelhos. Olhou ao redor, nada. Embora o som seguisse, mais próximo a cada passo ligeiro. Finalmente viu, um dos integrantes com ambas as mãos reunidas, num clamor silencioso pela intervenção divina. Já chegou a esse ponto? Não, percebeu. Era outra coisa. Ao redor, uma massa escura circundava tudo, à parte da névoa; outra técnica. O volume crescia a cada segundo, engolfando tudo ao redor. Não hesitou.
— Vou me juntar à festa — disse, num tom que demonstrava traços de zombaria. Adentrou a área que aos poucos ia se delimitando, em razão daquele material desconhecido de cor escura. Enquanto se fechava, podia ouvir o som que ecoava no interior da redoma, um zumbido intermitente, quase ensurdecedor.

Mantendo-se próximo aos dois, desenrolou seu pergaminho, segurando-o em numa das extremidades com uma única mão, enquanto a outra já manuseava o pincel, sua ponta emergida em tinta. Notou a atmosfera dentro da redoma tornar-se ligeiramente mais gélida, o ar mais pesado. Não importava. Tracejou sobre o papel, sucessivas vezes. Cinco répteis rastejaram para fora, ganhando vida após o desenho. Carregavam uma vontade específica de seu desenhista, gravada por sua própria assinatura de chakra. Avançariam, de maneira quase retilínea, em direção ao som ouvido anteriormente — após a execução de selos por Hipatia e o aparecimento da névoa. Não era algo inteligente de se tentar, compreendia isto, provavelmente sua posição já teria sido alterada; tinha de tentar mesmo assim.

Shizuke: Hp: 250; Ck: 225; Sta: 1/3; Vício: 2/3; Tinta: 485 ml.

Considerações:

Arsenal:

Suas frágeis criações de tinta rastejaram à ordem, colidindo com o sólido que delimitava a área, separando o interior do exterior. A explosão era inevitável. E foi. Embora a força daquele ataque fosse, em muito, limitada, foi o suficiente para desencadear uma reação que facilmente deu fim às vidas líquidas. O dragão surgiu e tragou as serpentes, não em fogo, mas sim em gelo. Shizuke, em gesto de respeito, manteve o pincel inerte por um segundo, sem descrever movimento algum por sobre o pergaminho, valorizando a vida que dera a suas obras, a vida que fora tirada delas. Respirou fundo, pousando o pincel em sua cintura, prendendo-o em algo que se assemelhava em muito a uma bainha. Remexeu o bolsos no interior de suas vestes, encontrando um embrulho comprido; tabaco e algo mais. Crianças não deveria fumar, mas quem lhe impediria? Sua sensei provavelmente sequer chegara a ver dez primaveras e os demais, próximos a ele, ainda deviam estar em êxtase, maravilhados com as formas que desenhara. Acendeu e tragou, uma longa baforada, logo depois liberando a fumaça e vendo se perder em meio a tempestade. Quem dera fossem assim todos os dias, onde se podia encontrar a calmaria até mesmo no olho do furacão.

Absorto em seu fumo, e ensurdecido pelo chocar frenético dos grãos metálicos, sequer se deu conta que a tempestade cessara. Não mais haveriam nuvens densas e negras como um enxame de insetos sobre suas cabeças. Isto o deixou confortável. Observou e escutou a agitação de Zero, dando vida à suas próprias crias; feitos em terra porém, sem a elegância de pinceladas sutis. Antes que pudesse continuamente contemplar os felinos e seus falhas e suas virtudes, eles se foram. Avançaram na mesma direção tomada por suas cobras, aproveitando a brecha criada pela explosão, presumiu.

Agora, Chisaki tomava a liberdade de fazer sua demonstração; que não fossem mais nuvens negras pairando sobre nós. O desejo se cumpriu para Shizuke, ao ver a diferente forma que aquele ninja dava à sua habilidade. Aproximou-se com alguns passos, diminuindo a distância entre ambos para um metro apenas, momentaneamente intimidado pelas ramificações que se criavam e avançavam com furor. De tão concentrado naquele espetáculo, sequer ouvia o barulho infernal que provocara; embora tivesse a mente funcionando no perfeito de suas faculdades, pesando na maneira apropriada de aproveitar aquilo em sua própria investida. Liberou uma longa lufada de fumaça, colocando o pincel de prontidão em sua destra.

Pintou rapidamente, já estando decidido de sua criação. Traçou e traçou, detalhando, polvilhando e contornando; tudo com graciosidade, movimentos ágeis e precisos. Ao término, um macaquinho projetou-se para fora do pergaminho. Ficara perfeito, achou ele. Entregou ao animal sua espada, anunciando o ato com o som do metal raspando a bainha. Suas ordens eram claras, saltar entre os ramos de ferro, procurando sua presa. Para o caso de a espada falhar, teria ainda sua cauda; desenhada unicamente para servir como um último recurso, repleta de selos explosivos, o suficiente para colocar uma casa abaixo. Seguiria em direção oposta aos felinos, não enxergando necessidade de concentrar todos os recursos em um mesmo local. A ausência da névoa, notara, também seria de bom uso.

Shizuke: Hp: 250; Ck: 200; Sta: 0/3; Vício: 3/3; Tinta: 470 ml.

Considerações:

Arsenal:

Inquieto, esperou que a assinatura de seu chakra reagisse de alguma maneira no animal criado, fosse agitando-se ou esvaindo completamente. Precisava de uma resposta. No meio tempo, observou o enxame negro de vestas perder sua forma e ramificações, caindo sem vida pesadamente contra o solo. Relanceou à Chisaki, apenas podendo vislumbrar parcialmente seu rosto; lá estava, o crescente, embora discreto, desprezo. Não lhe importava, tampouco tinha qualquer mínima importância. Apenas ele, e ninguém mais, sabia do próprio potencial, da facilidade inata de aprender e executar tudo que desejava.
Um frio subiu por sua espinha.
O macaco desvencilhara-se do sopro de vida que gentilmente lhe fora dado, partindo para o abismo infinito.
Um presságio.
Ergueu os olhos, alheio às sugestões do manipulador de grãos, subitamente maravilhado e em pavor crescendo face a criatura que o encarava. Sentira anteriormente aquela mesma sensação, um desespero gélido transmitido através da morte de sua criação. Ao seu redor, até mesmo a vegetação perdia sua cor e vida, sucumbindo ao frio desolador. Seu fumo parou de ser tragável, a chama apagando-se, morrendo.
Sequer percebera a movimentação de Chisaki, que distanciara-se sutilmente, sobrando apenas o pintor e o criador de felinos.
— Gostaria de ter minha espada de volta — sorriu maliciosamente, tentando disfarçar o pânico anterior — Faria-me esse favor, Hipátia-sensei?

Shizuke: Hp: 250; Ck: 200; Sta: 0/3; Vício: 0/3; Tinta: 470 ml.

Considerações:

Arsenal:

Acabara, enfim. Lutar contra sua própria mestra e todas as adversidades provocadas por ela fora uma experiência renovante; não era a adrenalina em si, porém algo mais. Os olhos de Shizuke foram abertos para um mundo ao qual ele ainda não havia sido apresentado, um mundo no qual ele não se encontrava no centro, um mundo onde sua força era pífia e irrelevante, onde pessoas eram capazes de conjurar uma infinidade de grãos negros metálicos para sufocar a existência circundante e congelar a vida presente na fauna e flora. Os ceifadores estavam em todo lugar, rodeando-o, apenas esperando por uma chance de ceifar o imberbe pintor. Não me terão. Novamente, enviou as mãos numa caçada frenética pelos bolsos no interior das vestes, encontrando seu entorpecimento. Após ter ascendido a esse novo horizonte, abençoado com um nova compreensão, acendeu sua mistura de tabaco e algo mais, algo que ele não se importava em saber o que era, inalando e em seguida expulsando o ar dos pulmões em conjunto com uma fumaça nociva, tóxica; cada vez que praticava este ato sentia como se seu interior, especialmente seus pulmões, não aguentariam para ver o dia seguinte. Não morrerei, ainda é cedo.
Tomou sua espada pelo cabo, entregue por Hipátia, e num movimento fluído e gracioso guardou-a em sua bainha, um som tênue acompanhando o raspar de metal contra o couro.

— Até outra hora — disse, no que pretendia soar como uma despedida geral. Retirou-se.

Shizuke: Hp: 250; Ck: 200; Sta: 0/3; Vício: 0/3; Tinta: 470 ml.

Considerações:

Arsenal: