Graduada como ninja média, sentia-se bem consigo mesma. Traduzia esse sentimento no reflexo da sua personalidade de governante: desejar sempre mais poder para, assim, sobrepôr-se aos seus pares. A pura busca incessante pela vontade de potência. Potência ativa. Ainda sim, sabia que alguns momentos deveria simplesmente "parar". Aquele era um desses. Aproveitou-se de estar num lugar aparentemente pacato, muito embora há pouco estivesse lutando contra um raptador de mulheres. Sem qualquer acuidade visual, desfrutou-se somente dos sons e odores nos arredores da Cachoeira. Uma vila predominantemente dominada pela vila, pelo verde. Sabia disso pela forma das copas das árvores denunciadas pelos ares que as circundavam. "O quão bonito deve ser observá-las?!" imaginava tentando dar vida à imagem em sua consciência.
As residências existentes pareciam terem todas as mesmas características: estilo oriental, produzidas com madeira e com portas corrediças. A estalagem pela qual repousava também o era. Cortando o vilarejo como um todo havia um grande rio. Repousava sobre bancos em frente a ele naquela tarde de um dia qualquer. Reservou o curto período entre seu teste e missão para devanear sobre sua existência. Uma roda-viva de pensamentos, levando-a sempre ao mesmo ponto comum: "eu serei a mulher mais forte desta terra, doa a quem doer!" determinou-se com as pernas entrelaçadas. Pensativa, apoiava o queixo na destra e mantinha-se cabisbaixa. Atravessaria toda a tarde se não fosse por uma cegada inusitada. Sentada sobre o banco de concreto, escutou alguns passos aproximarem-se. Continuou sentada, esperava que simplesmente passasse adiante dela. Não aconteceu o previsto.
— Oh, com licença. — pediu um homem alto, trajando um sobretudo cinza e de cabelos longos grisalhos. Ao seu lado, um cão de pelos negros
— Não se preocupe. Eu já estava de saída de qualquer jeito. — anunciou deixando o assento com pequena relutância.
De repente, enquanto deixava o banco, escutou um latido contra si. Sim, havia uma segunda presença ali. Pelo que os ares a lhe indicavam, aquela criatura saltitava e balançava o que aparentemente seria uma cauda. "Um cachorro?!" supôs.
— Yamimaru! Quieto! — ordenou o velho de voz cansada. — Perdoe-me por isso, pequena senhorita. Yamimaru não é acostumado com humanos, ele não confia neles...
— E nem deveria. — interrompeu a menina de modo mais sisudo.
— Hahaha! Você parece alguém de opiniões bem concisas. — qualificou olhando Toph diretamente em seu rosto.
— Bom, acho que sim. Se é só isso... Estou indo... Tchau bichano... — despediu-se saindo do lugar, não era paciente o suficiente para continuar uma conversa com alguém mais velho que, provavelmente, divagaria bastante acerca da vida.
— Espere!!! — postergou o homem.
A menina virou, apesar de não estar muito feliz em fazê-lo.
— Essa espada nas suas costas... Ela parece ser bem pesada para alguém de sua idade. — comentou sentado com um sorriso irônico enquanto acariciava seu cachorro.
A garota já deixava o lugar à passos rasos quando escutou a última das sentenças proferidas pelo homem. Seu comentário despertou-lhe um grande interesse.
— Eu acho que sim... — rebateu cinicamente. — Você sabe alguma coisa sobre ela? — questionou por fim, curiosa acerca dos conhecimentos do senhor.
— Talvez sim, talvez não... — vagueou, provavelmente provocando a menina e seu interesse.
Àquela altura, Yamimaru já estava deitado sobre o chão de areia batida, gozando de todas as carícias que seu dono poderiam lhe oferecer. Toph deu meia volta, aproximando-se novamente do mais idoso.
— E o que você quer dizer com isso, velho? — indagou inconsequentemente, ignorando qualquer tipo de etiqueta e aparentemente impulsiva.
— Hahaha! — riu. — Agora em quem despertou seu interesse, hein?! — satirizou. — Tá, tá. Eu te conto, mas antes disso tem um trabalho que preciso que você faça pra mim... — ofertou, barganhando com um rosto indecente.
— Não brinque com a sorte, velho... — irritou-se.
— Não estou brincando. Se quiser a informação terá de me manter vivo. A vida vai além do seu pequeno mundo arrogante, garota. — estabeleceu prudentemente, lendo a situação com sagacidade.
— Certo, certo. Você venceu, velho. Diga-me, o que diabos alguém na sua idade precisa?! Deveria estar curtindo a aposentadoria com seu "au au". — zombou.
— É esse o problema. Acho que não viu ainda, mas eu sou cego, Yamimaru é meu cão de guarda e eu preciso de alguém que possa cuidar dele enquanto viajo. Se você fizer isso por mim, não somente lhe contarei sobre a espada, como também lhe ensinarei a utilizá-la. — propôs.
Sua ânsia de poder gritou do fundo de seu âmago: "aceite!", "você precisa ficar forte", "é só um cão, não há nada com o que se preocupar!". Convencida, balançou um pouco a cabeça e deu uma risada.
— Engraçado você falar sobre não ver. Afinal de contas, eu também não enxergo nada. — relatou simpaticamente.
— Isso é perfeito, minha casa é completamente adaptada a pessoas como nós! — conversou surpreso, ainda acariciando o cachorro.
— Quando eu começo?
— Agora mesmo. Venha!
"Droga, eu tinha outros planos para o dia... Mas que seja, se eu puder aprender mais sobre a espada e como usá-la, eu com certeza vou ficar mais forte e aproximar-me ainda mais do meu louco objetivo." convenceu-se daquela maluca história de dar cuidado a um cão de um completo desconhecido.
— A propósito, meu nome é Inuzuka Azami. É um prazer conhecê-la. — apresentou-se cordialmente, levantando-se e andando ao lado de Yamimaru.
"Inuzuka?! Este não me é um nome estranho." pensou brevemente. — Eu sou Toph, Toph Beifong. Sou agora uma Chunin de Konohagakure e estou aqui a missão. — rebateu. A sua fala, no entanto, preocupou-lhe. "Droga, eu falei demais. Acabei de revelar detalhes completamente desnecessários para este velho." penitenciou-se.
— Ninja, huh? Isso é perfeito. Um desafio como esse não deve ser nada para alguém tão forte quanto você. — ironizou.
O velho a lembrava dela própria. Aquele tom levemente hhumorístico de falar, muito embora conduzido sobre soberba lhe era bastante semelhante, quase como se conversasse com sua cópia idosa e masculina.
— E não será! — convenceu, andando ao seu lado.
Finalmente chegou à sua casa. Ou melhor dizendo, o seu canil. Cercada por madeira, era localizada nos subúrbios do vilarejo. Um grande quintal repleto de uma infinidade de cães. Todos latiam incessantemente pelo seu dano. As suas caldas balançavam e eles estavam em polvorosos com a presença dele. Aquilo irritou Toph, não conseguia mais saber se deveria, ou não, aceitar o pedido.
— Ah, eu quase esqueci de avisar. Você terá algumas companhias enquanto estiver cuidando de Yamimaru...
— Seu velho maldito... Só não te mato porque o ataque cardíaco já fará isso por mim...
Ele garaglhou. Mas sabia que teria de ir o mais breve possível.
— É isso, Toph-san. Boa sorte e cuide bem dos meus meninos! — requereu deixando o lugar à passos ágeis.
Não havia qualquer chance de recusa.
...
O tempo seguiu. Toph teve imensas dificuldades de cuidar daqueles animais, todos comiam bastante e eram bem agressivos na ausência de seu dono. Um pouco de força bruta parecia acalmá-los, afinal era essa a atitude da garota quando eles a desobedeciam. Não somente a força, como também o medo por serpentes lhe foi bastante útil. Durante o dia, o trabalho era sempre o mesmo: limpar o quintal, servir a ração e brincar com eles. Apesar de cansada, pela primeira vez sentiu-se verdadeiramente alegre com algo. O melhor amigo do homem parecia servir-lhe bem no seu propósito. Durante todo o tempo Yamimaru mantinha-se quieto, sendo o único a não participar das dinâmicas exercidas em grupo.
Passada uma semana da ausência de Azami. Os seus companheiros caninos sentiam a ausência, muito embora Toph lhes parecesse uma mediadora de seus sentimentos tristes. Na manhã de um dia ensolarado a garota iniciou seus afazeres novamente. Aquela vida certamente não lhe servia, não era bom para sua personalidade despender tanto tempo cuidando daqueles cães. Todavia, fazê-lo era mais prazeroso do que poderia imaginar. Nunca havia se sentido tão bem. Ficar com eles, para ela, trazia-lhe o mesmo prazer de combater. Durante a reposição de ração, percebeu o afastamento de um cão de todos os outros. Era Yamimaru, sem sombra de dúvidas. Aproximou-se, levando a mão sobre a cabeça dele e acariciando-o.
— Você sente falta dele, não é?! Não se preocupe, tenho certeza que Azami voltará em breve. Ele não me parece ser o tipo de pessoa que deixaria vocês para trás. — tentou acalentá-lo.
O cão de pelos inteiramente negros e olhos bicromáticos virou a cabeça para o lado direito e então voltou a encarar Toph.
— Você não sabe de nada, garota. — disse-lhe em um tom grave, rouco. Yamimaru, para a surpresa completa dela, na verdade tinha a habilidade de fala.
Confundiu-se, jamais viu um animal com aquela capacidade em toda sua vida. No então não deixou de dar um leve sorriso sobre a novidade.
— Então você fala... Venha, vamos comer um pouco com os seus irmãos... — convidou acariciando um pouco mais sua pelugem.
A rotina continuou a mesma por um bom tempo. Em climas mais frios, a garota permitia que todos os cães entrassem dentro de casa, mantendo-se com eles, conversando e aprendendo bastante. Alguns sabiam falar, outros nem tanto. As conversas mais duradouras eram sempre com Yamimaru à madrugada. Assemelhavam-se à amigos de longa data, gargalhando e divagando bastante acerca da vida. Uma atitude completamente incomum para a garota. No entanto não havia do que reclamar, visto que em alguns dias até mesmo colocava seu corpo em prática. Todos os moradores daquele canil eram, na verdade, ninkens. Eles tinham treinamento militar avançado e conseguiam sempre exercitar o corpo de Toph ao máximo. A menina havia treinado tanto com os cães que até os seus movimentos já estavam análogos. Não somente isso, viver naquela casa repleta de cheiros acentuou bastante sua acuidade olfativa. De fato havia crescido naquele meio tempo.
...
Um mês se passou e finalmente Azami regressou. Era manhã de um dia comum, reposicionava a ração dos cães e tinha um longo e amplo debate ao lado de Yamimaru. Estranhamente sentiu que todos balançavam o rabo em dado momento. Ter melhorado o seu olfato ajudou-lhe, percebeu que o homem finalmente estava de volta. Vivia um misto de sentimentos. Finalmente estava livre de seu fardo e poderia aprender um pouco mais sobre aquela espada em suas mãos. Todavia, abandonaria aqueles cães pelos quais havia desenvolvidos laços poderosos. Quando o homem anunciou sua presença, o coração de Toph simplesmente congelou, não queria deixar aqueles companheiros caninos para trás. Cabisbaixa, assistiu-o entrar dentro do quintal e ser agraciado com lambidas e pulos na sua direção.
— Então você está de volta, Azami... — emitiu em um tom ligeiramente triste.
— Sim, Toph-chan. Vejo que você fez um incrível trabalho com meus filhos! — agradeceu com um sorriso sincero.
— Mas é claro, eu sou uma ninja no fim das contas. Não seriam estes monstrinhos que me parariam...
— Hahaha! — gargalhou. — É verdade...
Ele foi entrando cada vez mais e o coração da menina simplesmente parou.
— Essa foi uma viagem e tanto... No entanto, parece que finalmente encontrei a minha herdeira... — divulgou.
— O que você quer dizer com isso, Azami, ela é forte, mas não passa de uma fedelha! — resignou-se Yamimaru, adentrando à conversa.
— Eu tive bastante tempo para pensar nisso, Yami-kun. E, veja, ela é a única que sobreviveu todo esse tempo sem fugir. Não somente isso, ela também parece ter desenvolvido fortes laços com todos daqui... Não é verdade, Toph-chan?
A cega demonstrava uma grande confusão emocional, não entendia nada daquilo sobre o que eles falavam.
— Do que diabos vocês estão falando? — questionou abruptamente
— Você agora se tornará uma Inuzuka, a sucessora de Inuzuka Azami. Você não o quer? Digo, é praticamente impossível rejeitar essa proposta depois de viver tanto tempo com os meus filhos, certo?
— Você deve estar de brincadeira, seu velho maldito... — falou olhando para baixo. Não era alguém sentimental, mas sua voz agora embotava-se em lágrimas. — É claro que eu aceito. Nunca na minha vida eu me diverti tanto... — declarou, colocando a destra contra os olhos.
Senhor e cão permaneceram calados, respeitando os sentimentos da garota. Até o inflexível Yamimaru parecia concordar com a decisão de Azami.
Um dia se passou e o homem finalmente executou o ritual.
— Toph Beifong, você jura lealdade aos ninkens e ao nome Inuzuka por toda a eternidade até o dia de sua morte?
— Sim!
— Pois bem. Sobre esta fogueira que aqui paira e essas luas cheias que nos iluminam eu a declaro como a mais nova integrante deste clã, sendo recebida com graças e, apesar da idade mais avançada, abençoada com todas as nossas forças. Venha, tome e deleite-se no pergaminho de nossos jutsus secretos! — proclamou alegremente.
A menina subiu um altar de pedras com o cenário descrito pelo homem. Estava cercada pela horda canina de pouco tempo atrás. Ao apalpar aquele pergaminho, sentiu seu corpo ser penetrado por um chakra estranho. Seus caninos se desenvolveram em tamanho e o seu nariz estava bem mais aguçado que antes. Tudo era muito novo, parecia estar finalmente bem consigo mesma.
— Isto feito. Você continuará a ser chamada de Toph Beifong, assim como seu nome de batismo, no entanto também fará parte integrante do clã Inuzuka. Seu cão companeiro será Yamimaru e juntos vocês formarão um time de duas pessoas! Vocês devem cuidar um do outro e juntos elevarem o nome Inuzuka através do mundo. — concluiu.
Todos os cães se juntaram naquele momento, aproximando-se da garota e uivando contra os grandes satélites naturais existentes.
...
Novas aventuras haveriam de ser tomadas a partir dali e, antes que pudesse tomar o caminho de volta para Konoha, deveria compartilhar novas experiências de vida ao lado de Yamimaru. Ambos se completavam em questão de personalidade e inteligência. O parceiro de Toph era do tipo durão e que também gostava de combates. Suas inspirações eram as de um dia poder mostrar o poder dos ninkens e alçar o nome deles dentro do continente ninja. Até mesmo as metas se complemetavam.
Dentre as inúmeras experiências que passariam juntos, a primeira delas foi a de ensinar, à garota, mais sobre o manejo da espada. Azami havia contado uma mentira tremenda quando falava sobre a espada, na verdade tudo não passava de um blefe para atingir a atenção da menina. Ainda sim, ele era mesmo um grande espadachim, e por esse motivo resolvera tutorá-la na arte do manejo daquele tipo de artefato. O treino foi longo, exaustivo, no entanto a menina logo pegou o jeito. Treinando ao lado daquela espada gigante, efetuou uma quantidade colossal de combates contra o seu companheiro canino. Juntos pareciam se entender até mesmo numa luta, tendo ideias e estratégias idênticas em meio à luta.
Inúmeras risadas foram gastas e diversos cortes executados, mas no fim de tudo parecia finalmente sagrar-se também como uma espadachim. A aventura havia chegado ao fim.
[b]Uma porrada de palavras. Filler para mudança de clã: Hatake -> Inuzuka. Aproveitei também para treinar Perícia em Kenjutsu (1 [tenho prodígio, por isso custou um ponto]).