❝ Blood for blood.  ❞

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A chuva que caía incomodava um pouco. Não sabia do por que estar sendo convocado, mas mesmo assim acatava o pedido como um bom Uchiha. Família às vezes poderia significar sacrifício, teria de fazer minha parte em algum momento. Não estava muito distante quando uma pessoa acenava para mim, talvez outro subordinado do ancião.

—— Olá, onde está Yhwach? Indaguei esperando uma resposta positiva daquele outro garoto, era estranho mas ele sabia que eu viria para cá.

—— Ele está o esperando nos fundos, agora já posso ir dizia o outro garoto, que tratou de sair correndo dali.

Entrei no recinto, o chão velho de madeira rangia como se estivesse sendo partido ao meio. Mas ao contrário do que indicava, parecia bastante resistente. Algumas imagens com o símbolo do clã estavam estampadas pelas paredes, sorri como se aquilo me agradasse mas na verdade eu era indiferente. Minha curiosidade estava sobre o assunto que o ancião tinha para tratar comigo e logo teria minhas respostas.

—— Yhwach-sama? proferia.

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"Um complexo Uchiha tão perto de casa... por que me excluo deles?" Era minha pergunta enquanto iria ao encontro predestinado com Yhwach. Enquanto andava pelo lugar, mesmo com a chuva, pude observar os detalhes das casas padronizadas. As maiores, com dois andares, deveriam ser daqueles com mais influência no local. Pelo menos era isso que deduzia.

Por alguns instantes parei, olhando para uma poça de água que se formou à minha frente. Meu reflexo era tão nítido que chegou a me assustar. Por algum motivo, cerrei os punhos enquanto continuei minha caminhada. Notei que não via mais ninguém transitando pelo local, a quantidade de pessoas que moravam ali era tão pequena assim? Talvez Yhwach me respondesse mais tarde.

Finalmente chegava ao meu destino, a estrutura retangular não chamava tanto minha atenção quanto as casas de dois andares, o velho já estaria frente a porta para me receber —— olá respondi por educação. Após o convite para entrar, apenas movi meu corpo para dentro do lugar. Que por sinal tinha um cheiro maravilhoso.

Optei por ficar encostado na parede da sala de onde nos encontrávamos, era um lugar agradável mas mesmo assim não queria me sentar. Yhwach tratou de me lançar algumas verdades, o clã Uchiha estaria de olho em mim. Meu semblante mudava, estava desconfiado e não gostava nada da ideia de me supervisionarem, ainda mais eu que não despertei meus poderes.

—— Quem é Kenji Uchiha? A dor de cabeça começou. A infeliz me pegou de jeito, tive que colocar uma das mãos ao lado da cabeça, gemia um pouco demonstrando minha dor —— quem... sou eu? Proferia, mas dessa vez para que eu pudesse analisar, que tipo de pessoa era afinal. Apoiava-me com a outra mão na parede, estendendo todo o braço por ela, tinha medo de me desequilibrar.

—— Desculpe por isso, essa dor de cabeça é um inferno admitia enquanto tentava projetar as futuras falas —— eu sou um garoto normal, meu passatempo? Evoluir. O que eu gosto? Essa é uma pergunta engraçada, eu queria ter amizades, entretanto não posso confiar em ninguém e sabe-se lá o motivo. Apenas não confio. Mas também, gosto de de evoluir. Me tornar forte. O que não gosto? Resumidamente; injustiças. Meu alimento preferido? Não sei, qualquer coisa que mate minha fome. Meu objetivo? Ficar forte.

Todas as respostas eram vagamente dadas. Não conseguia me aprofundar no assunto "eu", minha cabeça doía só de falar aquilo, e parte das respostas foi apenas o que eu consegui responder no momento, não é como se fossem totalmente verdadeiras ou eu conseguisse pensar em algo mais profundo para falar. Fique parado por um momento até projetar um sorriso no rosto e falar;

—— Então vocês me espionam? Eu realmente não gostava daquilo.

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"Me observam? Bobagem" enquanto o homem falava meus pensamentos surgiam como resposta, entretanto ainda não dizia nada. A dor de cabeça passava, era algo que vinha e ia na mesma intensidade. Yhwach dizia que aquilo era para a minha própria segurança, mas na verdade eu não temia nada e ninguém, detestava a ideia de proteção, nasci para lutar por minha vida.

Observei os alimentos serem postos sobre uma mesinha próxima, minha boca ficou cheia de água; o cheiro era agradável e parecia ser uma comida muito deliciosa. Meus olhos saltitavam, apenas esperava por um convite. E após algumas indagações ele veio, o famoso convite. Não teria que suspeitar da comida, simplesmente não queria suspeitar, eu era um convidado Uchiha no complexo Uchiha... e cheio de fome!

—— Conhecimento é poder proferia com a boca cheia de Kushikatsu, entre uma mordida e outra iria respondendo —— sou um ninja sensor, sabia disso? Eu aposto que sabe. Neste momento fitei o ancião, olhando direto para seu olho e tapa olho, minha expressão facial demonstrava seriedade, não estava ali porque queria e nem fiquei porque fui obrigado. Deveria deixar aquilo claro.

—— Eu não sei se tive um pai e pouco me importo. Deve saber também da minha origem, que pouco após chegar aqui minha mãe me abandonou neste momento apertei o cabo de madeira que empalava a comida —— se minha própria mãe me abandonou, imagina os outros, não é mesmo... ancião-san? Era uma indagação retórica, ele poderia responder ou não.

Fiquei surpreso por um momento, havia lembrado do fato da minha mãe me abandonar... isso não ocorria com frequência. Toda vez que tentava me lembrar do passado a dor de cabeça surgia como um soco no estomago. Mastiguei mais algumas vezes, fechei os olhos após engolir a comida e suspirei de alivio. Estava realmente muito bom.

Tinha de responder a última pergunta, ainda com os olhos fechados, projetei um sorriso no canto do rosto porque sabia que minha resposta seria irônica dado alguns fatos —— eu não gosto de injustiças como disse ressaltava o que foi dito outrora enquanto prosseguia —— mas também não acredito no bem ou mal e então finalmente abria os olhos novamente.

Olhando para o teto prossegui —— veja, minha mãe disse que iria embora para o meu próprio bem, você diz que me "monitora" para a minha segurança mas nenhum dos dois perguntaram para mim o que acho disso. E se eu falasse para ela ficar que a gente conseguiria dar um jeito em tudo? Ou falasse agora para você que eu odeio essa espionagem que diz ser proteção? Um suspiro de alívio foi dado —— eu sou um Uchiha afinal, não preciso de proteção, nem dela ou sua. Levantei-me com um sorriso ousado no rosto e falei com convicção —— eu vou despertar meu sharingan e conquistar o mundo!

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Não entendia o que o velho queria dizer mas apenas concordava com a cabeça, às vezes queria parecer mais inteligente do que realmente era. E então ele me disse aquelas palavras "...A única certeza que eu posso te passar é que, se não é de sua vontade, não iremos mais te acompanhar, e se irá acreditar ou não em minhas palavras, é com você.".

De fato, queria acreditar no homem, meu corpo respondia de uma maneira positiva —— vovô dizia vendo ele se levantar, não entendia nada daquilo, suava frio pela primeira vez desde que entrara naquela lugar. Até que via aqueles olhos. Era como se o tempo tivesse parado, só sabia que era o sharingan por instinto, ou na verdade teria visto quando era menor, não tinha certeza.

"Me mostre quem é Kenji" nos primeiros segundos não entendia, pensava já ter falado para Yhwach sobre o que eu era. Mas não era isso o que ele queria. Fiquei sem reação, logo perdi os sentidos. Pude ver meu mundo se desequilibrar, obviamente meu corpo foi ao chão. Não sabia como ele estava fazendo aquilo, mas logo tudo ficou preto e então as imagens começaram a surgir.

Era um mundo vazio mas ao mesmo tempo repleto de emoções, logo o choro de um bebê me levou à uma cena; estava em um lugar escuro, como anteriormente, mas deitado ao lado de minha mãe. Um homem estava ao lado dela sorrindo. Presumi que era o tal pai que o ancião confirmou que eu tinha. Pude notar as roupas surradas do pai e da mãe, fora o pequeno pano onde eu fui enrolado ao nascer. Era deprimente.

Dois homens não demoraram para aparecer, tinham sorrisos medonhos em seus rostos. Agrediam o pai como se ele fosse um animal sem controle enquanto ele pedia para ficar perto de nós só mais um pouco. E então a imagem mudou; minha mãe corria comigo em seus braços, repetia que aquilo não ficaria assim. "Aquilo o que?" Me arrependi de pensar, a resposta veio em seguida, meu progenitor estava morto.

A fuga de uma parte do clã do laboratório clandestino resultou em mortes, muitas delas foram dos homens que protegiam as crianças e suas mulheres. E então, novamente, a imagem saltou. Agora mamãe já estava em Konoha, o primeiro refúgio que ela procurou foi com o ancião - de certo mo não estava surpreso - e ele lhe deu assistência, ficou conosco até que minha mãe conseguiu comprar nossa casa, onde moro atualmente.

E depois a memória que estava incompleta: minha mãe me abandonando. Mas desta vez o motivo estava claro, a vingança que mamãe havia prometido estava chegando. Outras mulheres e irmãs que perderam seus parentes iriam ajudá-la, eram todas uchihas cheias de raiva. Lembro do meu pequeno eu, parado frente a porta da cozinha e escutando a conversa das mulheres adultas. Lembro-me bem do olhar com o sharingan que a mamãe tinha quando estava zangada.

—— Pare! Era o que eu conseguia dizer no mundo real, enquanto a dor de cabeça também tomava conta do meu corpo.

E então mais um salto; desta vez já estava na academia. Me gabando simplesmente por pertencer ao clã Uchiha no início das aulas e no final delas chorando por não conseguir ser o melhor da turma, ou ter de fato o sharingan que tanto almejava. Foi uma época difícil. Mais memórias incompletas ganhavam brilho, mostrando-me respostas enquanto meu corpo, de certo modo, sofria no mundo real.

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—— O- oque? disse já lúcido, ainda no chão, me rastejando até a parede. Meus olhos lacrimejavam, não sabia ao certo o motivo. O velho pronunciava suas palavras. Passado? Futuro? O que ele queria dizer realmente e por quê demônios eu não parava de chorar?

Mais uma surpresa, notava que a dor de cabeça se fora assim que "despertei" para o mundo real. O choro se intensificou quando lembrei da despedida com minha mãe, jurando para ela que tomaria um rumo diferente como um Uchiha, e esse era o motivo de eu não morar no complexo com o vovô ancião. Eu deveria ser uma nova luz para uma história de sangue —— obrigado... quis dizer antes dele sair, para que pudesse escutar.

Respirei um pouco, parando com as lágrimas. Levantei-me, estava pronto para sair dali o quanto antes. Não sabia se tudo o que tinha visto fora um sonho ou não... era tão real que me atrevia à classificar aquelas memórias como um simples sonho. Levei a mão direita até a testa, projetei um sorriso —— droga falava depois de me levantar.

O velho tinha minha confiança, me sentia seguro com essa decisão. Mas não falaria nada para ele, talvez até já soubesse. Me movendo entre os cômodos pude ver outra criança, da minha idade, resmungando com o velho. Fechei minha cara na hora, como se estivesse bravo com a má educação do garoto para com o ancião. Não disse nada para o homem antes ou depois de deixar sua casa, evoluir era minha tarefa e iria começar com meu treinamento.  

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