O dia começava calmo, estava nublado e todos na vila pareciam estar entediados por algum motivo. Os pais de Kyo já tinham saído de casa para cuidar da alfaiataria, por algum motivo naquele mês pareciam que todos os casais haviam decidido se casar. Kyo percebeu que teria muito tempo sozinho aquele dia, sendo assim decidiu treinar. Assim que acordou, correu para a cozinha e comeu seu café numa velocidade que competidores de competição de comida invejariam, logo saindo de casa e rumando ao campo de treinamento. No caminho passou pela alfaiataria dos pais para avisa-los, caso contrário eles com certeza achariam que ele poderia botar outras pessoas em risco. Por algum motivo Kyo se importava com eles, talvez a única coisa que realmente o importasse além de sua ambição. Saindo de lá correu em disparada para o campo de treinamento.
                O campo de treinamento estava molhado por causa da chuva da noite passada, mas não iria atrapalhar o treino de Kyo. Afinal não era todos os dias que se encontrava motivado para treinar, não seria uma chuva que estragaria essa rara ocasião.  Havia decidido que hoje não iria focar o treino em seu kekkei genkai, afinal o seu sensei sempre disse que a chave para aperfeiçoar uma técnica era dominar o seu chakra de forma que se pudesse controla-lo livremente. Logo, se ele esperava aperfeiçoar seu kekkei genkai, ele precisaria conhecer mais sobre o chakra e “doma-lo”, coisa que não seria fácil, visto que em determinadas ocasiões ele não conseguia nem fazer um clone e em outras ele simplesmente fazia uma dúzia. “Vamos lá, eu sei que tenho muito chakra, eu só preciso controla-lo”. Então o garoto fez um selo de mão e focou toda sua concentração no seu chakra, tentando fazer com que o seu chakra fluísse de maneira mais rápido no seu corpo. Mas não era tão fácil, não para Kyo pelo menos. O garoto conseguia sentir o chakra, mas o chakra simplesmente parecia não obedecê-lo. “Droga, vamos. Você faz parte de mim e vai se comportar do jeito que eu quiser”. – “falava” o garoto com o seu chakra. Depois de 30 minutos tentando ele decidiu fazer uma pausa, talvez fosse melhor tomar um ar e renovar as energias para se assegurar de que a próxima tentativa seria bem sucedida. “Eu só posso estar esquecendo de fazer alguma coisa... mas o que é?” – se perguntava o garoto. “Certo, vamos lá. Mais uma tentativa”. O garoto se levantou e então refez os primeiros passos, se colou em posição, fez um selo de mão e manteve-o e começou a forçar seu chakra. “Certo, eu o sinto, mas talvez eu deva não só senti-lo, mas sentir sua intensidade também”. O garoto então concentra todo o seu foco em seu interior, como se só existisse a si mesmo e seu chakra, e por um momento era como se pudesse sentir o chakra passando pelo seu corpo livremente, como se pudesse mapear cada caminho que o chakra tomava dentro de si. “Certo, agora foco... vamos aumentar essa velocidade”. Kyo força o chakra dentro de si, como se quisesse fazê-lo explodir, que faz com que seu chakra flua muito mais rápido. Dava pra ver no rosto de Kyo o tamanho esforço que estava exercendo. “Consegui! Agora vamos diminuir... tá bom, é como se o chakra fosse um rio, e eu preciso que a correnteza enfraqueça”. Logo a velocidade e intensidade com que o chakra fluía dentro de Kyo diminuía lentamente. Após conseguir normalizar seu chakra, ele cai no chão. É estranho uma atividade que deveria ser tão básica exija tanto esforço do garoto. – “Certo, está na hora da prova real”. – disse o garoto a si mesmo. Levantando-se do chão e fazendo os selos necessários – “Vamos lá, por favor. 7, 7, 7”, eis que surgiria uma pequena cortina de fumaça que se dissipava e mostrava sete cópias de Kyo. Ele finalemente havia completado a primeira parte do treino, mas estava longe do fim.

                “Se um dia esperam ser grandes ninjas vocês deveram ser inteligentes, mais especificamente, mais inteligentes que seus adversários. A verdadeira batalha acontece na mente de ambos, a maior parte da batalha não é aquilo que pessoas de fora veem, mas sim as armadilhas e blefes que cada ninja prepara um para o outro”. – Lembrava Kyo do discurso de seu sensei na academia. Mas como seria possível praticar isso em uma situação não real, como ele poderia bolar armadilhas e descobrir armadilhas sem ao menos ter um inimigo para enfrentar. É claro, o máximo que podia fazer era brincar consigo mesmo. Imaginar situações de combate, com inimigos idealizados por ele. Mas isso seria o mesmo que jogar xadrez contra si mesmo. Bom, ele não tinha escolha. “Certo, primeiro eu devo imaginar meu oponente. Vejamos... um garoto, da minha idade. Digamos que ele seja um usuário de ninjutsu, e possa usar algum elemento, como... katon. O ambiente seria esse campo de treinamento. Ele estaria bem ali no meio, eu viria das árvores. Assim que ele me visse, supondo que conhecesse minhas habilidades, se afastaria e tentaria usar algum jutsu de longa distância o quanto antes. Eu deveria ataca-lo assim que o visse, para não dar tempo de criar distância. Também posso supor que como sua principal força seja ataques de katon a longa distância, ele não seria tão rápido quanto, eu poderia acertá-lo sem problemas. Espera... talvez o meu erro esteja aí. Eu não posso simplesmente usar as informações obtidas por mim e traçar um plano sem considerar o conhecimento do inimigo. Ele sabe que eu ataco de perto, e ele estava no campo antes de mim, as chances daquilo ser um clone me atraindo pra uma armadilha são altas, o mais correto seria eu antes de me mostrar fazer um clone e manda-lo atacar, assim quando o real inimigo estivesse pronto para me atacar com a guarda baixa, eu pudesse virar o feitiço contra o feiticeiro e acertá-lo. Pera, hum... e se ele já tivesse pensado nisso tudo?”. – “Bom, se eu ficar imaginando todas as possibilidades eu nunca sairei desse campo de treinamento. Por hoje já chega, antes que eu fique paranoico”. – Diz o garoto ao sair do campo de treinamento, rumando para casa.

Treino de Ninjutsu e Inteligência

Um novo dia se iniciara, e a cada dia uma nova chance de evolução. Kyo já estava acordado desde cedo, mas se recusava a rumar ao campo de treinamento, pois hoje ontem tivera uma conversa com seu antigo sensei que o falou coisas que o garoto não só não gostava como também não aceitaria. Kyo havia ido mostrar sua evolução em seu domínio do chakra, o que alegrou o antigo sensei, visto que Kyo nunca havia sido bom em genjutsu ou ninjutsu. Porém, ao tentar ensinar um novo jutsu ao garoto, o qual possuía diversos selos de mão, percebeu que o garoto parecia um chimpanzé com Parkinson ao realizar os mesmos. “Garoto, você precisa treinar sua habilidade com selos, suas mãos não são nem um pouco precisas, tão pouco rápidas, nesse aspecto. Mesmo que consiga executar os selos, eles estão feitos de maneira relaxada, o que causará com que seus jutsus sejam imprecisos. Além disso, se suas mãos não conseguem fazer os selos rapidamente, mesmo você possuindo jutsus extremamente fortes, seus adversários simplesmente irão usar os deles primeiro, o que será uma enorme desvantagem”. Estas palavras o desanimaram, pois significavam que seu progresso no treino anterior não teria servido de nada, ele precisava treinar aquilo, o que também por si só era desanimador, treinar selos de mão com certeza seria a parte mais entediante de seu treinamento.
                -Kyo, não ia treinar hoje? Já está atrasado. – exclama seu pai do outro cômodo.
                -Já estou indo.
                Não havia para onde correr, se queria evoluir não poderia pular essa parte do treinamento. Logo ele se arrumou, pegou seu equipamento e rumou ao campo de treinamento.
                “Droga, vai ser um saco treinar essas merdas de selos, odeio ter que fazer isso”. -Resmungava mentalmente o garoto. “Talvez se eu... quando fazemos atividades chatas do nosso cotidiano alternamos elas com atividades ‘legais’, então se eu adicionar mais alguma coisa no cronograma de treino de hoje... hum...”
                Chegando ao campo de treinamento ele joga sua bolsa no chão, abrindo-a e tirando de lá um pequeno livro chamado “O Que Esperar Quando se Está Esperando”.
                -Que? Ah, não esse é o da mamãe. – fala a achar o livro o qual estava a procura. – Esse aqui mesmo “Selos de Mão para Idosos: A Arte de Usar Mãos Inúteis Para Algo Útil”. Perfeito.
                Ele então se sentou, abriu o livro e começou a lê-lo.
                “Certo, vamos começar primeiro pelos aquecimentos de mão. Aham, isso. Esticar os dedos, estala-los, esticar de novo, entrelaça-los... – lia enquanto replicava as ações descritas. “Agora vejamos... o primeiro é cobra. Ah, esse é fácil, eu acho que é assim... Que?! Como assim? Eu sempre fiz esse errado, mas é o mais fácil... não quero nem ver os outros. Certo, agora deixa eu praticar esse um pouco...”
                “Ok, vamos para a próxima”. – pensava enquanto fazia praticava um por um dos selos.
                Depois de 2 horas apenas praticando os selos, sua execução de cada um estava praticamente perfeita. Cada pequena imperfeição no modo como executava cada selo havia sido corrigida, agora estava na hora do garoto partir para a ampliação da velocidade em que reproduzia os selos.
                “Capítulo 2: Usando no Jutsu. Certo, agora vamos para a prática, os selos de mão servem para fazer jutsus, como todos sabemos. Mas para que o jutsu seja preciso e efetivo devemos executar os selos de maneira igualmente precisa e rápida. Vamos começar com um jutsu que você homem de certa idade pode gostar muito e usar em casa, é um jutsu que enrijece certas partes do corpo, você entendeu. Os selos para executam do jutsu são esses: Dragão, Tigre, Rato, Boi, Javali e Macaco, nessa ordem. Como podemos observar, é uma quantia relativamente grande de selos. Sua tarefa agora é, reproduzir os selos nessa ordem, cronometrando suas tentativas e analisando seu progresso”.- leu o ninja.
                “Certo, vamos lá”.
                Depois de algumas tentativas, sua evolução era notável, já conseguia fazer um selo a cada dois segundos. Depois de duas horas já era capaz de fazer dois selos por segundo. Sua evolução tinha sido rápida, sua ereção também. Mas era um pequeno preço a se pagar pelo aperfeiçoamento.
                -Finalmente! – gritou o garoto, não conseguia conter sua animação ao perceber que aquela parte do treinamento estava completa, agora era a hora de treinar algo menos monótono. -Agora que venham os músculos.
                O garoto então fazia os alongamentos para começar a praticar sua força e desenvolver certa massa muscular. Seria um treinamento bem mais puxado que o anterior, mas com certeza também seria bem mais divertido. Estava finalmente na hora de Kyo deixar de ser um completo fracote. O garoto então tirou alguns pesos (cada um pesando 20KG) que havia trazido consigo na sua bolsa, mal conseguia levantá-los com os dois braços, seu objetivo era conseguir levantar cada um deles com somente um braço ao final do dia. Não iria ser fácil, mas depois daquele treino extremamente entediante ele faria qualquer coisa.
                Começou então a levantar o um dos pesos com os dois braços, levando-o até seus joelhos e depois botando-os no chão, três vezes seguidas, com um espaço de 1 minuto entre cada repetição da série. Depois de 10 séries seus braços estavam queimando, ele então descansa.
                “Num vai dar não...” – pensava Kyo.
Mas então ele se perguntou o que seu pai diria vendo sua desistência. Com certeza seria algo como “Que não vai o que essa porra?”, e então ele sabia que estava tudo bem, podia fazer aquilo. Após de descansar por alguns instantes então o garoto retoma o seu treino, dessa vez aumentando o número de repetições na série, e fazendo mais rápido. Era como se aquelas belas palavras que imaginaria seu pai dizer tivessem dado a força e determinação necessárias para que ele continuasse se esforçando. Depois de uma hora e inúmeras séries já conseguia fazer a série levantando os pesos até o seu ombro. Estava na hora, agora ele teria que ser capaz de levantar os pesos com apenas um braço.
                Ao pegar o primeiro peso seu braço já estava tão dolorido que o garoto não pode conter o grito que veio em seguida. Engolindo o choro, então ele agarrou o segundo peso com o outro braço e começou. Dessa vez séries padrões, flexionando os seus braços, levando-os da cintura até a altura dos seus ombros. Seu corpo parecia não suportar aquilo, mas mesmo assim continuava a obedecê-lo. Série após série ele não parava, simplesmente não podia aceitar o fato de não ser capaz de fazer algo.
                “Mais cinco, e então mais cinco, e depois dobro para dez...”

                O seu treino então acabou quando ele, com o peso dos pesos caiu para trás, não conseguia sentir seus braços. Ele então apagou ali mesmo no campo de treinamento.

Força e Selos

aquele arroba de qualidade