Alguns dias após a grande virada na minha carreira ninja, a masterização do elemento vento no seu potencial máximo, eu não sabia ao certo o que fazer para aumentar minhas habilidades. Enquanto salteava minha cabeça, com um pirulito açucarado na boca, decidi que iria aprimorar conhecimentos em venenos e medicamentos, talvez até experimentos. Com certeza, no futuro, eu poderia simplesmente desenvolver um medicamento que curasse meu vício em glicose. Isso seria fenomenal.

Dirigi-me de minha casa para o hospital da vila, chegando quase uma hora depois. Não tinha pressa e também morava longe. Bati à porta, entrando em seguida. Fui na recepcionista que ali residia, buscando ser paciente, mas não conseguindo evitar a ironia: — Você provavelmente não sabe onde eu poderia arranjar um sensei que me ensinasse a arte científica da saúde, né? Venenos, medicamentos e afins... — fiz menção, como um idiota, em me virar para ir embora, mas aguardava que ela me ajudasse nisso.

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Um pouco nervoso e impaciente para obter o que eu queria, saquei uma bala ultra açucarada e coloquei na boca, fechando os olhos por um instante para saboreá-la. Esse foi o tempo que, depois de tomar um copo d'água, a moça da recepção me entregou um mapa do lugar. Fiquei espantado com o tamanho do lugar, pois se estendia muito mais que a superfície que era possível ver. Balancei a cabeça em sinal de aprovação e comecei a andar. Após 15 minutos, ainda não tendo chegado, vi que me enganei no local demarcado como para onde e era ir. Na verdade, não indicava nada. Fiquei ainda mais impaciente e passei a andar rápido, abrindo as portas que estavam destrancadas e vendo se tinha alguém. Como era domingo, aparentemente não tinha nada acontecendo. Muito estranho, pensei. Quase meia hora depois, cheguei ao último cômodo dali. "Só pode ser aqui", murmurei. Bati na porta e pedi permissão para entrar, mas não esperei que me fosse dada. Coloquei a cara para dentro e me deparei com um cientista ali.

— Me chamo Feitan. Busco o aprendizado científico. — Não havia como ser irônico, eu estava apenas me apresentando, porém senti uma pontada de agonia em não ter dito alguma besteira. Tinha que me conter.

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Assim que observei o bolo sendo oferecido, foi precisamente o momento que me impulsionei para frente para agarrá-lo. Acenei em agradecimento e comi, que por sinal estava muito bom. Em seguida, antes mesmo de se apresentar e me introduzir às coisas que nós trabalharíamos ou coisa do tipo, pediu medicamentos para diabetes. Fiquei surpreso, logo demonstrando meu espanto. Será que ele também precisava de injeções periódicas de glicose, assim como eu?

— Seu nome é...? — Obviamente não esperei por resposta, pois já fui gesticulando que entendia o que ele estava falando. — Eu tenho uma espécie de diabetes que acomete os ninjas. Claro, é diferente dos civis, que necessitam de mais cuidados e são mais restritos. Nós, shinobis, precisamos de glicose, talvez porque não produzimos, ou talvez porque nosso fígado não aceita ou reconhece a que fazemos em nós mesmos.

— Seria um tanto quanto inadequado, perdoe as palavras, pedir que eu diga ingredientes da criação de medicamentos, pois é exatamente isso que eu vim fazer aqui. Quero me livrar do meu vício e de minha condição. Em minhas buscas e leituras, no entanto, sei que o fosfato de sitagliptina monoidratado é utilizado num medicamento para controlar os níveis de açúcar, geralmente usado em pessoas normais que não têm a sabedoria do chakra. É a única coisa que sei, me perdoe. Dizer esse nome foi difícil também.

Considerações:

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Harukei era um homem que pouco lembrava a mim mesmo, muito embora ele achasse o contrário. Coloquei um pirulito açucarado na minha boca e golfei a insatisfação por ter dez longos e chatos livros para ler pela frente. Ele não poderia me ensinar coisas mais práticas? Mas, infelizmente, não havia sentido algum nessa minha impulsividade. O ato de tornar-se sábio e mestre em algo definitivamente perpassa pela calma, paciência, dedicação e tempo, muito tempo dedicado a isso. Como eu esperaria conhecer sobre venenos, plantas, órgãos e tudo o mais apenas sendo dito sobre poucas coisas? Destarte, direcionei-lhe nobres palavras:

— Agradeço sua cooperação, Harukei, farei o possível. — De certo, aquilo não era verdade. O conhecimento científico, muito embora fosse o que eu almejava agora, ninguém passa a ser pacificamente paciente só porque quer. E assim foi. O que se levaria dois longos meses de leitura e anotação, a fim de integralizar 10 livros como aqueles, acabou levando seis. Porém, havia uma vantagem intrínseca em gastar o triplo do tempo aprendendo algo: uma vez que todos os dias eu dedicava algumas horas para isso, ao invés do dia inteiro, tanto minha fixação, quanto atenção estavam muito aguçados. A memória humana para o aprendizado é atiçada ao longo do tempo, e não em um único grande montante de horas.

E assim foi. Seis meses depois, lá estava eu à porta do cientista. "Toc toc", um pouco sem jeito tentei explicar-lhe que estava de volta. Não mais dez livros eu carregava, mas apenas dois. Inclusive, escritos por mim. Eram meus resumos, anotações e ideias para tudo aquilo que li, testei e tentei reproduzir. Ao menos as coisas baratas e de fácil acesso, pois a maioria dali era bastante absurdo procurar por mim mesmo ou comprar. Ou era uma planta do outro lado do mundo, ou uma madeira que custava o dobro da minha casa.

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''Agora que já possui conhecimentos científicos avançados" foram palavras que me fizeram franzir o cenho de leve, mas imediatamente desfazendo esse ato tão corriqueiro na minha vida. Era comum que eu não concordasse com muita coisa que as pessoas falavam, no entanto era necessário tentar não mostrar desrespeito, mesmo que fosse muito difícil às vezes. De qualquer forma, o homem prosseguiu falando eludindo sobre minha tarefa mais complexa e mais difícil até agora: criar um medicamento para desviciar alguém quanto ao açúcar. Pode-se pensar, claro, que desintoxicar de verdadeiras drogas como o cigarro ou a cocaína é mais difícil e mais "sério", em definitivo, do que a nossa dependência. Mas, sinto dizer, não é. Vício em qualquer que seja a coisa, antes do físico, está no psicológico. Daí só então curar-se-á por completo o indivíduo. A questão é que o fator físico muitas vezes abalam a vontade de alguém, sacudindo-o contra o que quer deixar.

Com certa astúcia e dezenas de minutos escrevendo ideias, anotando, amassando papéis e gastando neurônios, o primeiro passo estava concretizado: os mecanismos de atuação da droga helio erebus. Era seu nome. A substância atuaria instantaneamente nos efeitos físicos provenientes da secura de açúcar, bastante comuns às outras drogas, por certo. Portanto, algo mais simples e mais fácil de ser obtido: já haviam muitos estudos sobre isso e elementos eficazes para isso. Um pouco de antidepressivos, histamínicos e barbitúricos seriam a base disso. Prazer leve, gradual, leveza e sono. Outras substâncias que controlavam o ressecamento, o nervosismo e a tremedeira foram fundamentalmente postos no papel. As dosagens tiveram que ser pesquisadas mais à fundo em minhas anotações, consumindo duas horas. Vez por outra olhava para Harukei, porém sem esperanças que ele fosse me ajudar. Estava muito entretido com seja lá o que estivesse fazendo.

Claro, nada estava feito. O que fiz não foi nada mais que uma pequena otimização nos medicamentos tão dispersos, ao custo de, claro, encarecer o produto. No entanto, não me preocuparia com o custo: provavelmente se desse certo eu iria curar-me e curar ao meu mestre apenas. Ou seria obrigado a distribuir pela vila isso? Quando esse pensamento cruzou-me, durante o longo tédio que se seguiu, não soube o que pensar. No fundo, eu não queria ajudar ninguém além de mim mesmo, mas também pouco me importava com o que fizessem com essa criação tão preciosa. Coloquei algumas balas na boca e parei de pensar nisso.

Seja como for, o segundo passo era encontrar a substância essência para o medicamento. Era a etapa mais pesarosa, custosa e definitivamente mais demorada do processo todo. Talvez até mesmo Harukei não soubesse disso, porém li em vários trechos, enciclopédias adicionais e mesmo na dezena de livros obrigatórios para esse "curso" a potencialidade benéfica que uma essência no medicamento pode fazer. Seria exatamente o que preciso, ou seja, algo que seja praticamente milagroso. Praticamente, pois não acredito em milagres.

As semanas foram longas, e os testes incontáveis. Nada parecia dar certo, nem mesmo em tentativas esdrúxulas de plágio de outros medicamentos. Ah, claro, usei ratos para testar a eficácia dos remédios, o que só atrasou tudo. Se fossem em coisas inanimadas, como chutar um tronco de árvore, talvez fosse muito mais rápido. Sem muitas esperanças, acabei pegando no sono por volta das duas da madrugada. Harukei já tinha ido embora e me deixado por ali mesmo, provavelmente entendia que nada era mais importante para mim que concluir isso. Afinal, seria eu capaz? Em meio a sonhos místicos e pensamentos enebriados de insatisfação, acordei em um espasmo poderoso, esparramando diversos frascos importantes no chão ao lado da minha cadeira. O primeiro impulso foi xingar, porém meus olhos se fascinaram com a possibilidade diante deles: duas substâncias distintas, dentre os vários punhados de mix e poças pequenas ali presentes, ganharam uma coloração âmbar e que indicava alta reatividade, conexão e funcionalidade de uma solução: a questão é que ninguém pensaria em fundir as duas coisas, pois o grupo reagente a que essas substâncias pertenciam deixava claro a inabilidade nisso. Talvez porque explodisse ou fosse tóxico. Ou ambos. Curioso.

Foi necessário devotar-me dois inteiros dias catalogando as funções e riscos do tal líquido. Nunca, em definitivo, havia visto algo parecido. Era tão surpreendente que em dado momento me toquei que uma das substâncias bases era permeado por uma planta equatorial que dela emergia chakra. Assim sendo, o tal agente foi adicionado ao montante de conclusões que eu tinha sobre os efeitos físicos. E, bom, era realmente isso que faltava, inclusive, através da meticulosa experimentação e testes do antecedente, fui capaz de determinar rapidamente a quantia necessária. A posologia já estava em mãos, e os ratos realmente pareciam curados após alguns dias. Suspirei e contatei o meu mestre: — Parece que é isso, Harukei-senpai. Finalmente. — Por fim, é claro, tratei de utilizar-me do medicamento e provar eu mesmo dos seus efeitos.

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