Iniciei o treinamento com minha mente. Pensava como atribuir à minha velocidade valores ainda maiores do que possuía. Fui andando ao campo de treinamento com essa dúvida ecoando minha cabeça. Imaginei que quando chegasse lá uma inspiração divina viria e eu teria uma ideia mirabolante para melhorar esta capacidade física. Não foi bem o que aconteceu. Fiquei por horas refletindo, tentando, de todos os modos, ter alguma ideia. Eu era inteligente, deveria haver um modo de realizar o que pretendia.

Depois de horas explorando meu intelecto, finalmente cheguei a uma solução simples, estava bem ao meu alcance, bastava pensar. Se eu quisesse melhorar a velocidade de meus movimentos eu precisaria ter um corpo bom, para tanto, deveria treinar os meus músculos. Principalmente o das pernas, cujo seriam usados, praticamente, em qualquer movimentação que fizesse. Uma corrida seria suficiente?! Talvez, mas não poderia ser qualquer corrida. Isto é, não é qualquer exercício. Uma simples musculação apenas aumentaria meus músculos, não me faria ter mais velocidade.

Eu teria de encontrar um mix entre musculação (em outras palavras, tonificação muscular), aceleração e perda de peso. Músculo pesa bem mais do que gorduro, sei disso pelos meus conhecimentos científicos. Com isso, não posso simplesmente me preocupar com o ganho muscular, mas sim com a perda de peso, principalmente. Mais leve, seria mais fácil mover meu corpo. Apesar de ter um corpo aparentemente atlético, meu peso não me permitia mover meu corpo de forma mais ágil. Para a perda de peso exercícios seriam essenciais. Contudo, para que eles fizessem efeito eu precisaria passar um grande intervalo de tempo me concentrando neles.

Iniciei a série de treinamentos numa segunda, às oito da manhã, em um clima perfeito para tanto. Como eu tinha um grande fôlego, eu poderia suportar, ainda que não fosse tão fácil, vários tipos de treinamentos dos mais variados focos. A sequência de exercícios era a seguinte: vinte corridas de cem metros com pesos,  pausados; cinquenta saltos com pesos, intercalados com as corridas; dentre outros tipos de exercícios que diminuiriam minha massa de lipídeos e tonificariam meus músculos da perna e braços, para, desse modo, incrementar a velocidade de meus membros.

No início eu pude sentir o quão difícil era a série proposta por mim. Ainda que tivesse feito todos os cálculos de quanto meu corpo suportaria, não pude acreditar que a prática seria totalmente diferente. E foi. Era difícil me adaptar, levei meu corpo ao limite. O primeiro dia foi complicado, todos a minha massa muscular ficou dolorida. Dos pés a cabeça tudo o que eu mais sentia era dor. Dor, dor e mais dor. Ainda que tivesse um fôlego invejável, meu corpo não estaria tão bem preparado para uma carga tão complicada de exercícios. Passei a me acostumar com a dor no segundo dia, mas ainda preocupado com o ácido lático e a fadiga.

Passei a diminuir o ritmo. Se continuasse desse jeito não haveria progresso, mas sim regresso. Por conta disso, fiz novos cálculos para a situação atual enfrentada. Revisei os exercícios e voltei à praticá-los. Iniciei, como de costume, às oito da manhã. Tinha de manter o ritmo constante se quisesse melhorar alguma coisa. Mantive, durante algumas horas, ainda que estivesse dolorido, um ritmo forte e de impacto. Pude sentir cada fibra muscular dos braços e pernas enquanto executava aqueles treinos. Era incrível, pois, aos poucos, pude sentir um acréscimo na velocidade dos meus movimentos.

Para sentir os efeitos que os treinos me proporcionavam até agora resolvi tirar os pesos. Embora fosse o segundo dia, pude sentir um aumento exponencial na agilidade de meus movimentos. Continuei a treinar, esperava melhor muito além disso. No resto da semana continuei fazendo apenas mais do mesmo. Me adaptando àquilo eu poderia aumentar a frequência e força nos movimentos. Por enquanto, focaria apenas em fazer meu corpo aguentar o atual. Consegui, depois de duas semanas, executar tudo aquilo facilmente.

Era hora de mudar. Voltei, então, ao exercício que propus ao iniciar o treinamento, cujo fez o meu corpo travar. Enfrentei ele com bravura e determinação, qualidades suficientes para conferir à mim a vitória contra minha própria fraqueza. No primeiro dia tive pequenos problemas de adaptação. Eles foram corrigidos ao longo da terceira semana, a qual não tive maiores problemas. Corri, pulei, levei todos os tecidos musculares para além dos meus limites. Naquele ponto supus estar a cento e oitenta por cento de meu potencial de quando iniciei aquele extenso e complicado treino. Para mim, aquela era uma vitória incrível. No entanto, minha real meta eram os duzentos por cento.

Para preencher a pequena percentagem que ainda restava voltei-me a um processo ainda mais arriscado, pois, caso não obtivesse sucesso, estaria prejudicando todo o progresso adquirido até o presente momento. Mas é como diz o ditado: quem não arrisca não petisca. E que bom que consegui petiscar um resultado apavorante para o meu pretendido. Ao analisar minhas estatísticas pude perceber que o treino arriscado estava sendo muito mais que benéfico, a realidade é que no vernáculo não existiriam palavras suficientes para definir tudo o que acontecia.  

Terminei tudo após um extenso e cansativo mês. Meu peso estava à níveis ideais. Para notar a real mudança, retirei os pesos das pernas. Incrível, corri tão rápido quanto nunca antes. Não sabia que poderia atingir um nível desses, surpreendi-me completamente com minhas capacidades. Meu maior ensinamento desse treino foi provar que não existiam limites para o esforço, tudo o que eu quisesse eu poderia alcançar. O meu limite era inexistente.