As prateleiras altas o cercavam, carregadas de pergaminhos e livros que continham séculos de sabedoria shinobi. Ainda assim, Munashi sentia-se pequeno diante daquele vasto oceano de conhecimento. Seus olhos brancos, quase etéreos, percorriam as estantes em busca de um título específico, mas as palavras nos lombos dos livros pareciam se misturar em um emaranhado indecifrável. Após semanas mergulhado no estudo da anatomia humana, estava decidido a desvendar os mistérios do Ninjutsu, apesar das limitações que sabia ter.

Por fim, encontrou um tomo envelhecido, cujas páginas amareladas prometiam revelar os segredos do chakra e do seu fluxo pelo corpo. Assim, sentou-se em uma mesa próxima e abriu o livro com cuidado, mas ao deparar-se com as primeiras linhas, sentiu a testa franzir. Os termos complexos e as explicações teóricas escapavam de sua compreensão.

"Não faz sentido...", murmurou, ao passar as páginas em busca de algo que pudesse entender. As ilustrações do Keirakukei, o sistema circulatório de chakra, eram intrincadas e confusas. Ainda tentou traçar com o dedo as linhas que representavam os meridianos, mas logo se perdeu na complexidade dos diagramas.

Frustrado, fechou o livro com um suspiro pesado. "Minha cabeça não funciona para isso", pensou. Então, levantou-se abruptamente e decidiu que precisava abordar o aprendizado de outra forma. Se não conseguia compreender os conceitos teóricos, talvez pudesse aprender através da prática.

Com essa determinação, dirigiu-se ao campo de treinamento, onde se sentia mais à vontade. O sol alto no céu lançava sombras curtas, e o calor era intenso, mas isso nunca o incomodara. Lá, posicionou-se no centro do campo, fechou os olhos e concentrou-se na respiração. Lembrou-se de como, durante os treinos físicos, sentia a energia percorrendo seu corpo. Talvez o chakra fosse semelhante.

Tentou sentir o fluxo interno, imaginou-o como um rio que corre por dentro de si. Entretanto, nada além dos batimentos acelerados de seu coração e da respiração ofegante se faziam presentes. Então, abriu os olhos, irritado consigo mesmo. "Por que não consigo?", questionou em voz alta.

Nas semanas que se seguiram, Munashi manteve uma rotina exaustiva. Durante o dia, insistia em retornar à biblioteca e reler os mesmos trechos, na esperança de que algo finalmente fizesse sentido. À noite, dedicava-se à prática no campo de treinamento, enquanto repetia os selos de mão observados outrora.

As tentativas de executar o Bunshin no Jutsu resultavam em nada além de suspiros frustrados. A cada falha, sentia a insegurança crescer dentro de si, e com ela o medo persistente de voltar a ser quem era antes, como uma sombra pesada que ameaçava sufocá-lo.

Certo dia, após inúmeras tentativas fracassadas, caiu de joelhos no chão. O suor escorria pelo rosto. "Talvez eu simplesmente não seja capaz", murmurou, a voz embargada pela exaustão. Mas então lembrou-se de Tama e Ura, das promessas que fizera a si mesmo, e afastou o pensamento. Não podia desistir.

Levantou-se com dificuldade e decidiu tentar algo diferente. Se a teoria era confusa e a prática isolada não surtia efeito, talvez pudesse combinar ambos de uma forma que fizesse sentido para ele. Com pressa, voltou à biblioteca e procurou por livros com ilustrações mais simples, que mostrassem os selos de mão passo a passo.

Encontrou um manual básico para iniciantes, destinado a crianças da academia ninja. Sentiu-se um pouco envergonhado por recorrer a um material tão elementar, mas decidiu que o orgulho não o ajudaria. Com o livro em mãos, retornou ao campo de treinamento.

Conforme seguia as instruções ilustradas, começou a praticar os selos lentamente, enquanto memorizava cada movimento. Repetiu-os inúmeras vezes, até que os dedos começaram a se mover com mais fluidez. Em seguida, tentou canalizar o chakra e concentrou-se na sensação de energia dentro de si.

No início, nada aconteceu. Mas, após dias de prática constante, notou uma leve sensação em seu interior, uma centelha que antes não percebera. Surpreso, abriu os olhos, mas a sensação desapareceu. Determinado, fechou-os novamente e retomou a concentração.

Gradualmente, essa sensação tornou-se mais pronunciada. O chakra começou a responder, ainda que de forma tímida. Ao tentar executar o Bunshin no Jutsu, uma figura nebulosa surgiu ao lado, antes de se dissipar no ar. Era um avanço mínimo, mas para Munashi representava uma vitória imensa.

A cada dia, os progressos eram pequenos, quase imperceptíveis, mas constantes. Conseguiu manter o clone por alguns segundos a mais, e a figura tornava-se um pouco mais definida. O Kawarimi no Jutsu ainda era um desafio, mas ocasionalmente conseguia trocar de lugar com um objeto próximo, embora de forma desajeitada.

Sua inteligência não aumentara significativamente, mas percebeu que, ao repetir os movimentos e exercícios inúmeras vezes, seu corpo começava a aprender por conta própria. A memória muscular substituía a compreensão teórica que lhe faltava. Era como nos treinamentos de Taijutsu, em que a prática incessante levava à perfeição dos movimentos.

Em uma noite tranquila, enquanto praticava sob a luz pálida da lua, conseguiu executar o Henge no Jutsu com algum sucesso. Transformou-se em um dos instrutores da vila, embora a aparência ainda apresentasse imperfeições. Observou seu reflexo em um espelho improvisado e sentiu um sorriso tímido surgir em seu rosto.

Sentado na formação rochosa que sempre visitava quando queria observar a vila que o acolhera, contemplou o caminho percorrido até ali. A jornada fora árdua, repleta de obstáculos e frustrações, mas sua determinação o mantivera em movimento. Sentia que, aos poucos, não apenas suas habilidades em Ninjutsu melhoravam, mas também sua capacidade de compreender e aprender.

Não se tornaria um gênio da noite para o dia, mas percebia que a persistência lhe ensinara lições valiosas. Sua inteligência ainda era limitada, mas aprendera a encontrar métodos que funcionavam para ele, adaptando-os às suas próprias necessidades.

Munashi levantou-se e olhou para as estrelas que pontilhavam o céu. Sabia que ainda havia muito a aprender e que seus progressos eram pequenos comparados ao que outros shinobis talvez alcançassem com facilidade. Mas, para ele, cada conquista era significativa.

Com o coração renovado, decidiu que avançaria, passo a passo. Afinal, a jornada de mil milhas começa com um único passo, e ele já havia dado vários.


Munashi: HP [1025|1025]; CK [1400|1400]; [16m/s de 18m/s]; [00|08];

Adendos: