—  A noite em Iwagakure era um véu de escuridão que parecia não ter fim. O céu, cravejado de estrelas dispersas, refletia o caos silencioso dentro de mim. Eu caminhava pelas ruas desertas, sentindo o som abafado das minhas sandálias ecoando pelo vazio, como sussurros esquecidos. A lua cheia e intensa iluminava meu rosto, revelando uma expressão que oscilava entre indiferença e algo mais profundo, mais sombrio.

- "O sangue dos Uchiha é uma maldição, Lil." - A voz do meu pai, um eco distante, sussurrava em minha mente. - "Não busque poder além do necessário. O que parece uma bênção se tornará seu pior pesadelo." - Ele sempre falava em tons sombrios, carregando nos ombros o fardo de um clã que, embora grandioso no passado, agora estava fragmentado, com raízes que ele nunca ousara compartilhar comigo. Cresci ouvindo esses alertas, essas palavras de cautela, mas nunca pude ignorar o chamado. O chamado do sangue que corre em minhas veias, o clamor incessante por poder.

Como poderia eu, uma Uchiha, ignorar isso? Cada palavra de meu pai parecia encharcada de medo, mas era o que ele não dizia que verdadeiramente me inquietava. Havia segredos em seu silêncio, segredos que faziam eu questionar quem realmente sou, e o que mais poderia estar escondido nas sombras do meu próprio sangue. Sinto uma fome insaciável crescendo dentro de mim, uma fome que me guia, que me empurra além dos limites do que conheço. É como se cada célula do meu corpo clamasse por poder, por controle, e por respostas que sempre parecem fora de alcance. Mas essa busca está me transformando. O poder que eu desejo, que eu preciso, tem um custo, e eu sei disso. É fato que por muito tempo negligenciei a história por trás da minha linhagem sanguínea, mas o que poderia fazer, afinal? Os meus pais fizeram de tudo para esconder seus segredos de mim, e também nunca quiseram que eu me tornasse uma kunoichi.

Bem...Eu não luto por honra, mas ainda há algo aqui dentro que palpita fracamente, quase como um segundo pulso de meu coração. Uma presença que invade minhas entranhas de forma fria, como se tentasse me apontar a direção do caminho das trevas. Não sei descrever a sensação - Apenas sei que há algo que devo fazer, e que há algo que eu devo buscar. O meu pai se tornou um covarde fraco e rabugento. Ele temeu a aparição de um demônio antigo; Uma lenda risível sobre um espírito malévolo que supostamente assolava o clã há muitas gerações. Ele uma vez dissera que veio até Iwagakure por consequências de sua tolice em desafiar o Oni. Mentiras. Vou arrancar cada verdade que se esconde por trás desse véu.

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—  A escuridão da noite se aprofundava enquanto eu caminhava, e cada passo parecia me conduzir mais para dentro das sombras da minha própria mente. O peso das palavras do meu pai ainda pairava sobre mim, mas agora, mais do que nunca, eu estava decidida a não deixar que seu medo e sua covardia ditassem meu destino. Ele podia acreditar nas lendas, nas histórias de demônios e maldições, mas eu não. Não me deixaria ser controlada por superstições antigas.

Eu já havia passado tempo demais sendo mantida à margem, fora do que realmente importava. Eles sempre diziam que eu não estava pronta, que o poder dos Uchiha era perigoso, mas o que realmente temiam era que eu descobrisse o que eles escondiam. Meu pai, com seu olhar sempre cansado e cheio de medo, era um prisioneiro de suas próprias escolhas, incapaz de enfrentar as verdades que ele mesmo tentou enterrar. Mas eu não sou como ele. Eu não fugirei. Enquanto caminhava pelas ruas vazias de Iwagakure, sentia a raiva crescendo dentro de mim, um fogo que começava a consumir cada pensamento, cada dúvida. A lua cheia acima parecia observar, indiferente, enquanto eu afundava cada vez mais em meus próprios desejos. Eu não queria apenas poder. Eu queria controle, queria as respostas que me foram negadas por tanto tempo. E se para isso eu precisasse confrontar os demônios do passado, então que assim fosse. Mas eu faria isso à minha maneira.

Parecia quase irônico que meu pai tivesse vindo a Iwagakure para escapar do passado, apenas para criar uma nova prisão para si mesmo. Ele vivia acorrentado pelo medo de um "Oni". Eu sabia que havia mais nessa história do que ele estava disposto a admitir. O que ele chamava de demônio, eu via como uma metáfora, uma representação do poder que ele nunca teve coragem de dominar. Mas eu não tenho medo. Se existe um Oni, então eu o enfrentarei. Se é o poder que esse demônio carrega que meu pai tanto teme, então eu o tomarei para mim. Eu parava em uma pequena praça, o silêncio da noite me envolvia como um manto. As sombras das árvores dançavam ao meu redor, e por um momento, eu senti a solidão me envolver. Mas essa solidão era familiar, quase reconfortante. Eu sabia que o caminho que escolhi trilhar seria solitário, mas a solidão nunca me assustou. Ela era minha companheira, minha conselheira, a voz que me guiava nas horas mais sombrias.

Minha mãe sempre tentou me manter longe da escuridão, me distrair com frivolidades, mas nunca conseguiu me proteger de mim mesma. Eu sabia, desde cedo, que havia algo diferente em mim, uma fome que nunca poderia ser saciada com as respostas simples que me deram. Eu não queria uma vida comum, não queria ser apenas mais uma Uchiha. Eu queria ser mais, queria o que todos antes de mim temeram buscar.

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—  As sombras se alongavam ao meu redor, e senti o peso das estrelas acima como se estivessem me julgando. - "Quem sou eu?" -, a pergunta ecoava na minha mente, uma dúvida que há muito me acompanhava. Eu era apenas uma menina perdida em meio às lendas de um clã esquecido? Ou havia algo mais profundo, algo que esperava para ser despertado dentro de mim? Esses pensamentos me assombravam, mas ao mesmo tempo, me guiavam. Eu estava cansada de esperar, cansada de ser deixada para trás enquanto outros moldavam seus destinos. Se o poder do meu clã estava reservado apenas para aqueles que o buscavam, então eu o reivindicaria, sem hesitação.

Meus passos, antes lentos e contemplativos, agora se aceleravam enquanto eu fazia o caminho de volta para casa. Há anos eu evitava essa rota, temendo o que poderia encontrar ao revisitar o passado. Mas agora, cada passo parecia ecoar com determinação, uma batida constante que me lembrava da força que corria em minhas veias. A casa de minha família não era mais um lar; era um mausoléu de segredos e medos, uma prisão onde meu pai se enclausurou. Mas para mim, era também o lugar onde eu começaria a desvendar as mentiras e finalmente confrontaria as sombras que sempre se esconderam em cada canto escuro.Enquanto as lembranças do meu pai voltavam à minha mente, a raiva queimava mais intensamente. A cada passo que eu dava em direção àquela casa, eu podia sentir a tensão acumulada, como se o próprio ar estivesse carregado com as verdades não ditas. O peso de seus avisos parecia me seguir, mas agora, ao invés de me reprimir, eles alimentavam o meu desejo de provar que ele estava errado.

O caminho de volta era familiar, cada pedra, cada curva gravada na minha memória. Mas desta vez, havia uma diferença. Não era mais a menina assustada que voltava para casa, mas alguém que havia finalmente aceitado sua natureza. Eu podia sentir isso crescendo dentro de mim, uma fome insaciável por respostas, por controle, por poder. Era isso que sempre faltou; não respostas superficiais, mas um entendimento profundo do que eu era, e do que eu poderia me tornar. Ao avistar a antiga casa, parada ali como uma sombra entre sombras, me permiti uma breve pausa. O tempo não fora gentil com aquele lugar, assim como não fora gentil com as verdades que eu procurava. Mas eu sabia que a resposta estava em algum lugar dentro daquelas paredes. E se o caminho para isso exigia que eu confrontasse meu pai, então eu estava pronta.

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— Eu hesitei por um momento, olhando para a casa à minha frente, como se estivesse prestes a cruzar uma linha invisível. O tempo havia sido cruel com aquele lugar, assim como havia sido comigo. Com cada respiração, sentia a fúria crescer dentro de mim, alimentada pela determinação de finalmente encarar a verdade. E então, com passos firmes, me aproximei da porta. A madeira velha rangeu ao ser empurrada, e o som ecoou pelos corredores vazios. A casa parecia abandonada, uma casca do que um dia foi. E então, o vi. Meu pai, Aiko, sentado à mesa, magro e e, ennvelhecido de forma assustadora. Ele parecia uma sombra do homem que eu lembrava, a vitalidade que um dia conheci havia sido drenada por anos de medo e segredos. Seus olhos, no entanto, ainda carregavam aquela centelha, aquela chama que sempre me intrigou. Ele levantou o olhar lentamente, encontrando o meu, e por um breve momento, o silêncio foi absoluto. A lua cheia derramava sua luz prateada pelas janelas, iluminando seu rosto marcado pelo tempo.

— Lil... — Sua voz era fraca, quase um sussurro, mas havia um peso nela que não podia ser ignorado. — Eu sabia que você voltaria, mais cedo ou mais tarde. —

— Não tinha escolha. — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, mas não me importei. — Você sabia disso. —

Ele acenou lentamente, como se cada movimento exigisse um esforço imenso.

— O fogo, Lil... — Ele começou, desviando o olhar como se buscasse algo nas chamas que ainda ardiam na lareira. — O fogo dentro de você... Não consegue sentir? —

Eu me aproximei.

— Você sempre me disse para temer o poder que corre em minhas veias. — Minhas palavras eram afiadas, mas sinceras. — Mas nunca me contou a verdade. Sempre se escondeu atrás de suas superstições, de seus medos. —

Ele respirou fundo, os ombros magros tremendo ligeiramente. Quando finalmente voltou a olhar para mim, havia algo novo em seus olhos. Determinação, talvez. Ou resignação.

— Porque eu tinha medo do que você se tornaria. — Ele admitiu, a voz mais firme do que antes. — Mas agora vejo que não posso mais protegê-la. O poder que você busca... não posso impedir que você o reivindique. Mas eu posso ajudá-la a dominá-lo, antes que ele a destrua. —

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— O silêncio que seguiu as palavras do meu pai era denso, quase sufocante. Eu podia ouvir o crepitar das chamas na lareira, o som baixo e contínuo que contrastava com a tempestade de emoções dentro de mim. A raiva, o ressentimento, e, por fim, a incerteza. Ele estava realmente disposto a me ajudar agora, depois de todos esses anos?

— E por que agora? — Minha voz quebrou o silêncio, carregada com toda a frustração reprimida. — Por que, depois de todo esse tempo, você acha que pode simplesmente... aparecer e me ensinar? Você acha que pode desfazer tudo o que fez? —

Ele abaixou a cabeça, parecendo ainda mais velho e frágil sob a luz da lua. Por um momento, pensei que ele não responderia, mas então ele ergueu os olhos para me encarar diretamente, com uma intensidade que eu não via há anos.

— Porque... — Aiko começou, a voz dele grave, porém serena. — Percebi que as correntes que me prendiam eram mais fortes do que eu imaginava. Mas, Lil, você tem algo dentro de si que eu nunca tive... —

Eu cruzei os braços, tentando esconder o tumulto que essas palavras provocavam em mim. Cada fibra do meu ser queria rejeitar a oferta, continuar sozinha, provar que não precisava dele. Mas outra parte, mais silenciosa e mais sábia, sabia que, sozinha, eu estava caminhando cegamente para um abismo.

— Você nunca quis que eu tivesse esse poder. — falei, minha voz mais baixa, quase um sussurro.

— E talvez eu estivesse errado em fazer isso. — ele admitiu, com um suspiro pesado. — Mas eu não posso mudar o passado. O que eu posso fazer agora é te dar o conhecimento que você precisa para dominar o que está crescendo dentro de você. Antes que isso consuma tudo. —

A tensão no ar se intensificava, e por um momento, o silêncio voltou a nos envolver. Eu olhei para ele, tentando decifrar se havia alguma mentira em suas palavras, mas só vi um homem quebrado, implorando por uma chance de redenção. Finalmente, dei um passo à frente, quebrando a distância que nos separava.

— Se você realmente quer me ajudar... — Eu disse, minha voz firme, decidida. — Então me mostre. Me ensine a dominar esse poder. —

Um leve sorriso de alívio surgiu em seu rosto, algo quase imperceptível, mas genuíno. Ele se levantou lentamente, seus movimentos cuidadosos, como se cada ação exigisse um esforço consciente. Quando ele ficou de pé, sua postura era de alguém que estava prestes a se preparar para algo importante, algo que não podia ser subestimado.

— Prepare-se. — ele disse, sua voz agora carregada com um tom de seriedade que fez o ar ao redor de nós parecer mais denso.

Então, levantou o dedo indicador destro à altura da boca, seus olhos nunca deixando os meus. Ele expirou profundamente, e com aquele único gesto, uma névoa quente de ar escapou de seus pulmões, dançando pelo ar como um prelúdio de algo muito maior.

— Goukyakku no Jutsu! —

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— O calor da esfera de fogo rugiu à minha frente, e, por instinto, eu saltei para trás, sentindo o chão escapar debaixo dos meus pés enquanto a explosão de chamas consumia o espaço onde eu estava. O fogo se espalhou pela casa em questão de segundos, engolindo as paredes e o teto, transformando tudo em cinzas. O choque percorreu meu corpo, a adrenalina correndo em minhas veias enquanto o som do crepitar das chamas preenchia o ar ao meu redor.

Minha mente girava em confusão. Por que ele fez isso? Meu pai, que mal conseguia se manter em pé, agora invocava uma técnica com poder suficiente para destruir tudo ao nosso redor. A imagem dele, caminhando lentamente em meio às chamas, seus olhos fixos nos meus, me paralisou. Havia algo em seu olhar – uma intensidade malévola que nunca vi antes.

— Isso... isso não pode ser real. — Meu coração martelava no peito, cada batida ecoando em meus ouvidos. O medo misturava-se com a angústia e a emoção, criando um nó apertado dentro de mim. — Pai, você enlouqueceu?! — Pensei.

A casa, que por tanto tempo foi um lugar de segredos e ressentimentos, agora se tornava um cenário de caos e destruição. As chamas lambiam o que restava das paredes, e o cheiro de fumaça e madeira queimada enchia o ar. Meu pai continuava a avançar, seus passos lentos e calculados, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.

— Não posso ficar parada. — A decisão foi quase automática, impulsionada pela adrenalina que corria por minhas veias. Respirei fundo, tentando ignorar a mistura de medo e incerteza que ameaçava me consumir. Levantei as mãos, sentindo o chakra fluir através do meu corpo, alimentando o poder que crescia dentro de mim.

— Se ele quer me testar... então que seja! —

Com um movimento decidido, moldei o chakra em meus pulmões, acumulando energia até sentir o calor começar a irradiar de dentro para fora. Após realizar uma sequência de selos manuais, inspirei a maior quantidade de ar que pude, exalando-o da mesma forma que meu pai: — Goukakyuu no Jutsu! — As palavras ecoaram na minha mente enquanto eu expelia a energia acumulada, transformando-a em uma gigantesca esfera de fogo que cresceu à minha frente, pronta para ser lançada. A esfera de fogo que eu conjurei era imensa, muito maior do que qualquer outra que eu já havia criado. O calor intenso distorcia o ar ao seu redor, e por um breve momento, as chamas refletiam a imagem do meu pai nos meus olhos. Lancei a esfera na direção dele, mantendo o fluxo de chakra constante para garantir que o ataque tivesse toda a força que eu podia reunir.

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— A esfera de fogo rugiu pelo espaço entre nós, mas meu pai não recuou. Em vez disso, ele ergueu a mão com uma calma inquietante e, com um único selo, invocou uma miríade de pequenas bolas de fogo ao seu redor. Elas dançavam no ar como chamas vivas, e antes que eu pudesse reagir, lançaram-se na direção da minha esfera de fogo. Cada uma delas explodiu ao impacto, desfazendo minha técnica com uma precisão assustadora.

Eu mal tive tempo de processar o que estava acontecendo. — Ele... neutralizou o meu jutsu com tanta facilidade... — A realidade me atingiu como um soco, e, sem pensar, manipulei meu chakra rapidamente, criando dobras de fogo ao meu redor para me proteger da chuva de brasas que ainda caía.

— Preciso me concentrar... Se eu perder o controle, vou falhar. —

Mas antes que eu pudesse ajustar minha defesa, senti algo estranho no ar. — Onde ele está? — Meus olhos se arregalaram quando percebi que ele havia desaparecido de vista, e a resposta veio no instante seguinte: uma dor aguda rasgou o lado esquerdo do meu abdômen.

— Não... não pode ser... — O impacto da lâmina na minha carne me tirou o fôlego. Aiko, meu pai, estava ao meu lado, sua expressão inalterada enquanto a pequena faca penetrava em minha carne. O mundo ao meu redor pareceu parar, e o som das chamas, da batalha, tudo foi silenciado pelo choque que inundou meu corpo.

Eu tentei falar, mas tudo o que saiu foi um som fraco, sufocado pelo sangue que subiu pela minha garganta. Cuspi uma pequena quantidade, o gosto metálico encheu minha boca enquanto eu o encarava, incrédula. — Ele... realmente me atacou? — A dúvida e a descrença se misturaram com a dor e o medo. O homem que eu chamava de pai estava agora de pé diante de mim, com olhos frios e calculistas, segurando a lâmina que ele acabara de cravar em mim.

— Por quê...? — Mas as palavras não vieram. Senti a consciência me escapar durante alguns poucos instantes, rangendo os dentes para manter a cabeça de pé. Lentamente ergui meus olhares para se encontrar com os deles. Quando meus olhos se encontraram com os de meu pai, eu senti o meu coração pulsar de medo. Os olhos vermelho-sangue penetraram a minha alma.

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— O frio do metal deixou minha pele enquanto a faca era removida com um movimento lento e deliberado. A dor lancinante me fez cambalear para trás, minhas mãos instintivamente se pressionando contra o ferimento, tentando, em vão, estancar o sangramento. O calor do sangue escorria entre meus dedos, contrastando com a frieza crescente que se espalhava pelo meu corpo. Meu corpo tremia, não só pela dor, mas pelo turbilhão de emoções que começavam a emergir.

— Ele... realmente fez isso. Ele quer me destruir? Não...Ugh! — Refleti, enquanto me segurava para não dobrar os joelhos com a dor.

Enquanto meu corpo lutava para se manter de pé, minha mente tentava encontrar respostas, mas todas as tentativas eram em vão. Cada pensamento era um eco vazio, refletindo a descrença e a confusão que ameaçavam me engolir. Antes que eu pudesse organizar meus pensamentos, sua voz cortou o ar, fria e desprovida de qualquer traço de humanidade.

— Você me odeia, Lil? — A pergunta pairou no ar, carregada de uma indiferença cruel. Seus olhos, que antes eram cheios de vida, agora eram os olhos de um assassino. Vermelho-sangue, sem emoção, perfurando diretamente a minha alma.

O medo voltou com força total, entrelaçado com algo mais sombrio e profundo. A raiva fervilhava dentro de mim, misturando-se com a dor e o horror do que acabara de acontecer. Eu sentia meu coração pulsar mais rápido, como se estivesse sendo esmagado por dentro. O balbuciar de meus lábios se misturava com o rangido dos meus dentes, até que, finalmente, as palavras saíram, carregadas de veneno.

— Sim.....O ODEIO! COM CADA FIO DE MEU SER! — Proclamei, rasgando a voz com raiva genuína.

A declaração escapou de mim com uma força que eu não sabia que possuía, e, ao dizê-la, algo mudou dentro de mim. Senti um calor diferente do fogo nas minhas veias, algo que eu nunca havia sentido antes. Era como se a própria essência do meu ser estivesse despertando, respondendo à dor, à raiva, e ao medo. Meus olhos ardiam, e então, como se respondendo ao meu grito de fúria, tudo se tornou claro. A visão ao meu redor se aguçou, e quando ergui o olhar novamente, vi o reflexo em seus olhos: um Sharingan de uma tomoe, girando lentamente.

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— O mundo ao meu redor desacelerou, como se cada segundo se estendesse em uma eternidade. Os detalhes que antes passavam despercebidos agora se revelavam com uma clareza assustadora: as partículas de poeira flutuando no ar, o leve tremor das chamas nas ruínas da casa, e o olhar impassível de Aiko, meu pai, que observava cada movimento meu. Meus olhos, agora tingidos de vermelho, pulsavam com um poder recém-descoberto. Eu podia sentir os batimentos do meu coração ecoando em meus ouvidos, mas, ao mesmo tempo, uma calma sobrenatural tomava conta de mim. Tudo parecia mais nítido, mais real. No mesmo instante, Aiko ergueu o rosto, revelando seus próprios olhos — Sharingans de três tomoes. O contraste entre o vermelho intenso e o preto profundo das tomoes fez meu coração gelar. Ele não estava apenas brincando comigo; ele estava testando minha força, meu ódio, meu verdadeiro potencial.

— Você realmente me odeia, Lil? — Sua voz era um sussurro gélido, mas com uma força que parecia carregar o peso de gerações. — Esse é o nosso destino, a nossa maldição. O ódio é o que nos define como Uchiha. E disso, Lil... — Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos meus. — ...jamais poderemos escapar. —

As palavras dele ecoaram em minha mente, quase me atordoando com sua frieza. Mas não tive tempo para refletir sobre o significado delas. Num piscar de olhos, ele arremessou uma saraivada de kunais em minha direção. As lâminas cortaram o ar com um silvo mortal, avançando rapidamente, mas meus olhos recém-despertos captaram cada movimento, cada nuance da trajetória. Eu saltei para trás, movida por reflexos que nunca tive antes. O mundo ao meu redor parecia em câmera lenta, cada kunai se aproximando com uma clareza assustadora. Senti o chakra fluir através de mim, de maneira mais natural e poderosa do que nunca. Com um rápido selo de mão, soprei uma rajada de ar, convertendo-o em uma parede de fogo que se ergueu entre mim e as kunais, incinerando-as antes que pudessem me atingir.

— Meu controle... está diferente. — Pensei, percebendo que o domínio sobre meu chakra havia se elevado a um nível que eu jamais imaginara possível. Era como se o poder dentro de mim, o poder dos meus novos olhos, tivesse desbloqueado um potencial que até então estava adormecido. Enquanto as chamas rugiam à minha frente, ofuscando momentaneamente a visão de Aiko, meu coração martelava no peito. O ódio, a dor, a confusão — tudo se misturava, mas ao mesmo tempo, uma nova força nascia dentro de mim.

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— As chamas à minha frente continuavam a rugir, mas sua luz não aquecia. Apenas aumentava o frio que agora preenchia meu coração. Aiko deu mais um passo à frente, seus olhos fixos nos meus, e por um breve instante, senti uma conexão sombria entre nós — não de afeto, mas de algo mais antigo, mais profundo. Algo inescapável.

— Lil... — Ele falou, sua voz agora carregada. — O ódio que você sente... — Ele fez uma pausa breve. — ...eventualmente vai consumi-la. Corromperá sua alma, como fez comigo. O caminho que você está trilhando, o caminho do poder... — Ele suspirou, e por um breve segundo, pareceu hesitar. — ...também é o caminho para a sua perdição. —

Suas palavras ecoaram dentro de mim, mas não tive tempo para processar o que ele realmente queria dizer. Em um instante, ele ergueu a mão e, com um movimento fluido, invocou uma vasta parede de fogo. As chamas se ergueram violentamente, quase como uma onda prestes a engolir tudo em seu caminho. Meu instinto de sobrevivência gritou para reagir. Eu moldei meu chakra com uma rapidez que eu mesma desconhecia, sentindo o poder fluir dentro de mim. Meus novos olhos, meu sharingan, captaram cada detalhe da técnica que se aproximava, e meu corpo respondeu de imediato. Com uma respiração profunda e controlada, fiz uma sequência rápida de selos manuais, sentindo o chakra se acumular nos meus pulmões.

— Goukakyuu no Jutsu! —

A esfera de fogo que lancei foi imensa, maior e mais poderosa do que qualquer uma que já conjurei antes. O calor intenso distorceu o ar ao redor, e por um momento, o mundo parecia estar derretendo à minha volta. As duas técnicas colidiram, as chamas se entrelaçando em um espetáculo de poder e destruição. O rugido do fogo era ensurdecedor, mas eu mantive minha concentração, alimentando minha própria chama com o novo controle que havia despertado em mim. Por alguns segundos intermináveis, as duas técnicas competiram pelo domínio, até que, em um lampejo, ambas se desfizeram em poeira e calor disperso. O ar ficou pesado com o cheiro de fuligem, e o cenário ao meu redor estava destruído, transformado em cinzas.

Olhei à frente, esperando encontrar meu pai, mas ele não estava mais lá. Ele havia desaparecido, como um fantasma em meio às cinzas.

A única coisa que restou foi a voz dele, ecoando na distância:

— Não se torne aquilo que eu sou. —

Fiquei parada, o coração batendo em meu peito, ainda confusa com tudo que havia acontecido. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Lentamente, deixei meus olhos vagarem pelo chão à minha frente, agora em ruínas. Meu olhar caiu sobre as poças de sangue que escorriam de meu ferimento, mas isso parecia uma preocupação distante. Tudo o que eu conseguia pensar eram nas palavras dele, e nos olhos vermelhos que agora pulsavam em minha própria visão.

"Não se torne aquilo que eu sou."

Respirei fundo, sentindo o gosto metálico de sangue ainda em minha boca. Meus olhos... aqueles olhos vermelho-sangue que refletiam o meu próprio ódio, eram uma lembrança do que eu havia acabado de despertar. Uma lembrança do que eu estava me tornando. Dei as costas para as ruínas da casa, um último adeus ao lugar que um dia chamei de lar. Eu sabia que, a partir daquele momento, minha vida jamais seria a mesma. O caminho à minha frente estava coberto de sombras e incertezas, mas uma coisa era clara: eu não voltaria a ser quem eu era.

Com passos pesados, ainda lutando contra a dor, comecei meu retorno para Iwagakure. As memórias daquele dia me assombrariam para sempre, assim como os olhos do meu pai — e agora, os meus próprios.

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