À medida que os anos avançavam, Yuta, agora com dezesseis anos, sentia o peso crescente de uma expectativa não realizada. O sharingan, uma herança genética de seu suposto clã Uchiha, permanecia adormecido em seus olhos. A pressão social e psicológica começou a envolvê-lo como uma sombra persistente, obscurecendo seu caminho com dúvidas e inseguranças.

Desde novo foi tratado com orgulho pelos seus progenitores, um garoto abençoado e bem educados com os dotes de seu sangue. Desde a academia ninja, até atividades diárias e treinos em sua residência, sempre foi um ponto alto. Nunca decepcionou, sempre considerado um ninja promissor por todos a sua volta. Talvez, causado pelo seu talento inato em ser um ninja, acabou causando um ferimento grave em um colega seu, o que causou a sua reclusão inicial em seu quarto.

Passou cinco anos preso em sua cama. Quase não se comunicava, poucas vezes olhou para o sol nesse tempo, sempre recluso. Seus pensamentos o consumiam, corriam por dentro. Sentia-se culpado, se sentia um monstro por ter feito o que fez, mesmo sem intenção de machucar ninguém. Com isso, o menino orgulhoso que um dia foi, se tornou a melancolia em pessoa. Um verme cravado nos confins na terra, que existe por existir, mas não podia ser considerado vivo.

O nascimento de sua irmã, aos poucos o fez sair do seu próprio quarto. Criar vida novamente, ter vontade de se esforçar e voltar para o caminho que nunca deveria ter saído. E conseguiu, precisou superar muitas dificuldades e podemos levar em consideração que ainda não havia se tornado homem que queria ser, mas estava no caminho. Aprimorou-se como ninja, melhorou suas habilidades, seus jutsus, seus elementos e evoluiu até mesmo como pessoa. Depois de anos, tinha voltado se sentir bem estando vivo. Criou laços, amizades e por cima de tudo, estava claramente dando orgulho para o feixe de esperança para quem o fez sair de sua cama: Rika, sua pequena e preciosa irmã. Até mesmo, por um momento teve um animal que criou e por incrível que parece, fez um pacto com um tigre. Realmente, tinha evoluído.

Mas no meio de sua evolução, um choque de realidade o culminou. Apesar de tudo isso, tudo que fez, tudo que criou, tudo que evoluiu. Um ponto não havia mudado, um ponto permanecia o mesmo. Seus olhos não tinha se tornado vermelho como o seu clã orgulha de ter. Um Uchiha incapaz de utilizar o que trás a tona a sua verdadeira essência. Os murmúrios na vila, as olhares curiosos e as perguntas constantes sobre a manifestação de seu sharingan tornaram-se uma fonte constante de desconforto para Yuta. Ele se via mergulhando novamente na melancolia que um dia havia tentado superar. O quarto, antes um refúgio de treinamento e reflexão, tornou-se um santuário para suas ansiedades crescentes.

Os dias se transformaram em uma repetição dolorosa de expectativas não atendidas. Yuta se questionava sobre sua própria identidade e lugar no mundo ninja. Sentia-se como um estranho em sua própria pele, incapaz de cumprir as expectativas que pairavam sobre ele. A escuridão de seus pensamentos se aprofundava, e a auto imposta reclusão tornava-se um hábito difícil de quebrar. As conversas com Rika, uma vez cheias de alegria e cumplicidade, agora eram pontuadas pelo silêncio desconfortável que pairava entre eles. A jovem irmã podia sentir a mudança no ambiente, mas o garoto hesitava em compartilhar o fardo de suas preocupações.

Todo caminho tortuoso, parece ter sido em vão.

"Será que isso é meu medo indireto de machucar alguém novamente? Ou estou apenas recebendo o que mereço, por ser... eu?", ele se questionava constantemente.

Outro dia amanhecia e sua persiana permanecia fechada. A luz do dia tentava entrar pelas frestas, mas o máximo que conseguia era iluminar minimamente o canto do quarto. Yuta com contorno dos olhos escuros e seus globos oculares com veias vermelhos destacadas, representavam sua insônia. Encarava a sua parede que não continha nada, apenas o vazio. E seus olhos, pesados, sem foco, representavam o mesmo. Era como se fosse apenas uma carcaça deitada em cima da cama, onde não representava e não valia de nada. Não estava olhando para parede, ele só não estava conectado no mundo e seu corpo estava lá só existindo. Sua pele pálida, suas bochechas secas e seus lábios desérticos, representavam que não comia e nem bebia nada, faz um tempo. Talvez um ou dois dias. O fracasso Uchiha, se é que ele pode se denominar assim, permanecia estático. Essa era uma de suas crises mais fortes, a pior de sua vida. Até que, algumas batidas são escutadas na porta. Sem reação da parte do garoto. Elas se repetem, se tornam mais altas, mas ele continua imóvel. Até que:

"Irmãooooo, por favor, abre a porta...", uma frase carinhosa, com uma dicção ruim, mas preenchida por fofura. Não importa o quão mal estava, ele não conseguia resistir a sua pequena irmã.

Seus olhos então, mesmo que minimamente demonstravam vida, ele então se levantava, ajeitava seu cabelo para parece apresentável e dirigiu-se a porta. Ao abri ela, uma surpresa inesperada. Sua irmã estava lá, mas não sozinha, acompanhada e não de uma pessoa comum: Tadashi. Um, podemos dizer, companheiro criado ao acaso. Um tigre, mas dessa vez, na forma de um senhor. Nos seus longos treinamentos, Yuta utilizar da sua invocação para trazê-lo, então criaram certo vinculo e ele conhecia sua personalidade. Vir até um local tão movimentado e falar com alguém, não eram ações normais desse velho sábio. Antes que o jovem ninja pudesse ter qualquer reação, sua pequena irmã agarrava suas pernas, enquanto lacrimejava pelos olhos e esfregava seu rosto em sua calça.

"Por favor, irmãozão, não fica assiiim! ", novamente com sua voz carinhosa, adentrava os tímpanos de Yuta, a ponto de machucar seu coração por ter se deixado cair nesse limbo novamente. E novamente, antes que pudesse ao menos responder algo.

"Meu jovem, eu entendo sua tristeza. Acredito que deve estar se torturando muito por dentro por não ser o modelo ideal que você acha que deve ser. Também acredito, que essa sua necessidade de ser perfeito, advenha desses momentos que esteve só, como você está repetindo agora. Mas deixe lhe dizer uma coisa, independente disso, independente do seu clã e independente da cor dos seus olhos, você é especial. Pelo menos, para mim. Para sua irmã. Para sua família. Você salvou meu filho, sem depender desses olhos. E tenho certeza que não apenas isso, correto? Quantas outras pessoas você salvou, não lembra? ", as memórias de Yuta eram levadas para todas suas missões. O mais recente a salvar os reféns raptados, suas várias rondas pela vila, vencer até mesmo um animal sobrenatural. Com certeza ele não era uma falha, mas por que quis ir pelo caminho difícil e se torturar tanto por isso.

Um sorriso escapava pelo sorriso de Yuta, mas de alivio, por ter percebido o quanto foi um idiota parado no quarto, enquanto podia estar salvando pessoas, evoluindo ainda mais como ninja e como pessoa.

Esse baque, apesar de simples, foi o suficiente para levar o jovem à realidade. Que estar parado em seu quarto não mudaria nada. O desafio interno de Yuta, embora esmagador, serviu como um catalisador para sua resiliência. A cada dia, ele se forçava a sair da cama, enfrentando a incômoda pressão sobre seus ombros. Embora a melancolia persistisse, havia uma centelha de determinação que não se apagava. Ele começou a dedicar mais tempo ao treinamento, não mais para alcançar o sharingan, mas para fortalecer suas habilidades e provar a si mesmo que ele era mais do que a linhagem de seu clã. Seus olhos não eram o único reflexo de seu valor como ninja. Consciente de suas próprias limitações, Yuta procurou aconselhamento dos mais experientes. Conversas com mestres e anciãos proporcionaram uma nova perspectiva sobre sua jornada.

Até que, em um desses dias de conversas e experiências, uma revelação surgiu para si. Seu pai era um Uchiha, mas sua mãe era uma Shihōin. Seus parentes se preocupavam com seus filhos, principalmente com o Yuta, mas não conseguiam ter o discernimento correto para acolher o filho e ajudar em sua jornada. Principalmente depois do seu grande acontecimento em sua infância. Só que pela primeira vez o garoto descobriu sua verdadeira origem, apesar de sua mãe ter tentado fugir dela: Uma família originária do país do relâmpago, conhecida pela sua Kekkei Genkai única – Jinton da velocidade. Normalmente seus filhos eram enviados desde cedo para se tornarem ninjas, mas até por conta daquele acontecimento, seus pais tiveram receio de permanecerem com a tradição.

Essa descoberta explicou o motivo da afinidade de Yuta com o elemento raiton. Com essa informação, o jovem tentou se aproximar novamente dos seus progenitores. E deu certo, os laços voltaram a ser firmes. A sua família no geral parecia mais unida. Não apenas isso, mas sua mãe se dedicou a ensinar o poder adormecido que finalmente surgiu de dentro do Uchiha... Que dizer, do Shihōin.
O garoto teve incrível facilidade para aprender sobre sua habilidade, como se já dominasse por muito tempo. Quem precisa de olhos, quando se tem velocidade.

Considerações: