Depois de passar um tempo razoável no hospital do vilarejo, Ethan finalmente tomava o caminho de casa. Ainda sentindo diversas dores e uma fadiga inexplicável, ele planejava chegar em casa, tomar um banho quente e, se estivesse disposto, prepararia um chá enquanto escolheria um livro na biblioteca do avô. Por fim, pela noite, deitaria na sua cama e tentaria ter a melhor noite de sono em dias. O Uzumaki não tinha do que reclamar sobre o tempo que passou no hospital, além de ser muito bem tratado, ainda tinha conseguido ter um pouco de conforto e paz no quarto onde o puseram. No entanto, nada se comparava à sua casa. No seu quarto, tudo seguia um sistema minimalista de organização. E mais importante, no hospital ele não dispunha de muita privacidade, o que às vezes gerava um certo embaraço.

Olhando para os céu, o Jonin percebeu que o sol já não brilhava tanto quanto antes e que já estava se pondo. Enquanto caminhava tranquilamente por um punhado de ruas, contemplaria aquele espetáculo visual por alguns minutos, vendo um vermelho vivido tomar todo o azul que banhava as nuvens até então. Então, quando não achou que poderia se surpreender ainda mais, uma forte ventania começou a levar tudo pelo caminho. As pessoas em volta que trajavam roupas volumosas encolheram o corpo ao passo que seguravam as vestes com as mãos. Outros, por sua vez, levavam a mão até a cabeça e protegiam seus cabelos. Por fim, vários comerciantes começariam a correr de um lado para o outro, guardando os produtos expostos do lado de fora.

Embora não tenha demorado muito para perceber a ventania vindo na sua direção, Ethan demorou alguns instantes para tomar ciência de toda a comoção feita por alguns. Ele sentiu uma brisa revigorante tocar sutilmente a sua pele, deixando-o arrepiado, e também notou a presença de incontáveis folhas sendo levadas no ar, em uma dança descompassada e caótica. No entanto, mesmo com tantos sinais, ainda não enxergava problemas naquilo. Por isso, continuou andando despreocupadamente, preso nos próprios pensamentos.

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Conforme o fenômeno climático se intensificava, deixando muitos assustados e inseguros, Ethan se via cada vez mais preso nas suas questões. Diferente dos outros, o Uzumaki não via aquilo como uma ameaça, na verdade, sentia um certo conforto em estar rodeado por uma ventania tão intensa quanto aquela. Desse modo, de um jeito estranho, parecia que os seus próprios dilemas não eram nada. Diante da fúria do mundo, onde os ventos se agitavam e levavam tudo pelo caminho, dilemas éticos sobre o que era certo ou errado não tinham muita importância.

Quando as correntes de ar que assolavam a vila estavam para atingir o seu ápice, prestes a deixar um rastro enorme de destruição, Ethan começou a ser invadido por memórias de dias atrás. Devia ser por volta das 8 da noite quando o garoto começou a andar pela casa. Sem nada em mente, esperava pegar algo na cozinha para comer. A princípio, foi exatamente o que fez, se deliciou com as sobras do almoço antes de começar a vaguear pelos vários cômodos da casa dos avós. Foi nesse momento que, passando em frente a porta da biblioteca, ele se deparou com um livro aberto sobre a mesa. Em um primeiro momento, supôs que o seu avô tinha voltado de viagem e estava passando o tempo ali, lendo um pouco. Mas, não muito tempo depois, confirmou que estava sozinho em casa. Curioso para ver do que se tratava e levemente assustado, o Jonin tomou uma cadeira para se sentar.

Ainda sem saber como o exemplar tinha ido parar ali, posicionado perfeitamente no centro da mesa, fazia uma leitura superficial do material. Já que ler não estava nos seus planos, todo o trabalho que estava tendo era unicamente visando acalentar a sua curiosidade. Caso não fizesse nada a respeito, sabia que não conseguiria pregar os olhos à noite. Por isso, engajado na tarefa, deixou os seus lábios se moverem de um lado para o outro enquanto mantinha uma leitura silenciosa.

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Levemente entretido com a atividade, sem se dar conta, o Uzumaki passaria a noite toda em claro. Para a sua surpresa, não imaginava que ler sobre as particularidades do chakra poderia ser tão interessante. Começando a partir do capitulo que destrinchava aspectos específicos do estilo vento, ele fazia alguns paralelos com as próprias capacidades. Mesmo não se achando um expert no assunto, ainda assim ficou surpreso quando descobrir que desconhecia inúmeros conceitos e aspectos fundamentais no uso de jutsus do estilo supracitado. Com isso, um mundo completamente novo se abriu diante dos seus olhos, principalmente se resolvia dar a atenção devida para as notas do autor, que continham dicas e outras formas de enxergar conceitos enraizados nas mentes da maioria dos Shinobis.

A cada palavra, um novo suspiro. Mesmo depois de horas descobrindo que não sabia de nada, Ethan ainda ficava surpreso com as pequenas descobertas. Ele estava tão animado que até começou a se imaginar sendo capaz de reproduzir os conhecimentos do livro. Se conseguisse de fato um feito daqueles, as possibilidades seriam infinitas. Mas, antes de voltar a se enganar, o Uzumaki se lembrou da academia ninja, lugar onde descobriu toda a sua mediocridade. Foi lá que percebeu que não era um gênio, muito pelo contrário. Diferente dos outros, não estava destinado à grandeza. Se tivesse sorte, seria um shinobi mediano, sem grandes feitos e que morreria no anonimato.

Após decidir por conta própria que jamais seria alguém com habilidades como aquelas, foi impossível não se sentir desmotivado. Era como se o seu maior sonho virasse pó diante dos seus olhos. Pra piorar, ele não podia fazer nada para impedir aquilo. Sendo acometido por um desanimo monumental, Ethan não faria mais questão de continuar se enganando, por isso fechou aquele livro e voltou para o quarto, completamente desiludido.

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Deitado na sua cama, Ethan se preparava para deixar todos os problemas para trás. Com algumas boas horas de sono, esperava afugentar todos os sentimentos conflituosos que nutria. No entanto, o seu plano não foi tão bem sucedido assim. Enquanto encarava fixamente alguns raios de sol que invadiam o seu quarto passando pelas persianas, o Uzumaki se deu conta de que, mesmo não tendo dormido na noite passada, o sono não vinha. Não importava o quanto rolava de um lado para o outro na cama, o garoto simplesmente não conseguia se ver livre de alguns pensamentos e preocupações. Por alguns instantes, até tentou contornar a situação, mas, conforme os minutos passavam, não demorou muito até perceber que era perda de tempo.

Sem conseguir dormir e com mais problemas do que gostaria, Ethan entrou numa espiral de pensamentos, que se assemelhava a uma meditação. Tentando se lembrar de todas as seções de treinos que já teve quando era mais novo, imaginava o que seria diferente caso soubesse tudo que sabe hoje. Como já ouviu avô falar um milhão de vezes: “O lado bom de envelhecer, sem dúvida, é a experiencia que adquirimos”. Mesmo não acreditando muito naquilo, já que teve o desprazer de conhecer pessoas velhas e tolas, não viu problema algum em se apoiar no conceito. Desse modo, fez exatamente o que planejou, assistia todas as seções de treinamento que se lembrava como se fossem um filme, apontando os erros que cometia e tecendo comentários a respeito deles.

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Depois que Ethan começou com aquele treinamento peculiar, ele nunca mais parou. Na maior parte do tempo, usava o método apenas para passar o tempo. Foi assim que tudo começou. Os dias passaram e com isso, pouco a pouco, os resultados ficavam mais evidentes. O Uzumaki, a princípio, não identificou os motivos por trás da sua melhora. Demorou um bom tempo até ele começar a sentir uma fadiga mental como nunca antes, constatando que o seu passatempo não era tão inofensivo assim. Por fim, vendo nisso uma oportunidade de ouro, começaria a se dedicar cada vez mais, não se limitando às próprias experiências. Agora, para facilitar o seu aprendizado, usava situações hipotéticas para reforças conceitos que envolviam selos de mão, controle de chakra e a forma correta de utilizar grandes quantidades de chakra – visando ter um aumento de potência.

Voltando ao presente, a ventania ainda não tinha cessado. Mas, assim como antes, isso não era um problema. Na verdade, Ethan gostava da sensação de ir contra toda aquela massa de ar. Isso fazia ele se sentir no controle.

Enquanto fazia uma retrospectiva de todo o esforço que teve para ter um domínio apurado do elemento que o cercava, um sorriso discreto deixou os seus lábios. Percorrendo um árduo caminho até ali, era gratificante ver onde tinha chegado. Se deixasse o seu lado supersticioso falar mais alto, diria que aquela ventania era um presente enviado pelos deuses, onde o parabenizavam por todo o seu esforço. Talvez, nem mesmo Ethan acreditava naquilo, mas ainda assim gostava de pensar que teve algum proposito maior por trás de todo o suor derramado.

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