Soujirō realizou uma série de missões em sequência e não achou tão problemático, porém em sua última tarefa teve que confrontar um ninja inimigo e, se ele não estivesse com muitos ferimentos e esgotado, sabia que sua vitória era impossível. O menino contou com a sorte aliada as suas habilidades, mas estas últimas se mostraram limitadas por demais e isso o deixou desanimado. Sempre escutara sobre ser esperado um prodígio, porém conforme ia crescendo foi marginalizado por não atender as expectativas dos pais e da família. O Hyuga nunca se importou com tal assunto, só que agora a situação é totalmente diferente pois é sua vida em risco. Não quer surpreender ou agradar outro alguém, e sim manter-se vivo para que possa alcançar seus objetivos.

— Meus golpes não possuem tanta força, se não fosse preciso e o jyuken, Geki teria sobrevivido. — uma breve reflexão sobre sua luta.

O genin notou sua parca quantidade de técnicas, resolvendo treinar a arte do ninshuu. Nasceu dotado de uma grande maestria em chakra, então optou por iniciar seu treinamento por aqui. Pequenas faíscas nas extremidades do corpo surgiram como resultado da alta circulação da energia pelos tenketsus. O Hyuga não só podem ver os pontos, como também controla-los como bem entender. O genin acelerou o chakra para percorrer todos os pontos para, de alguma forma, aumentar a quantidade. Porém, percebeu que desta forma seria impossível aumentar a reserva de energia, mas a sentia com mais clareza ao ponto de estar transformando-a em raiton.

Com sua afinidade elemental em raio, o menino percebeu a facilidade de moldar a energia e, melhor, manipular ao ponto de criar mudanças físicas.

— Se eu soubesse disso antes, teria finalizado Geki bem mais fácil. — falou empolgado.

Soujirō moveu as mãos observando as faíscas nas pontas dos dedos e como um herói de história de fantasia, apontou a mão para um tronco de madeira no campo de treinamento e "disparou" sua energia convertida. Ao acertar, causou apenas um pequeno buraco que transpassou a matéria, deixando as bordas queimadas.

— Raiton tem uma característica penetrante muito grande que combina com meu taijutsu que causa danos internos, mas e seu eu conseguisse aumentar o dano espalhando a energia elétrica depois de atingir o alvo. — matutou.

O Hyuga começou a realizar teste com o raiton tentando implementa-lo com o jyuken. Mas para sua hipótese dar certo o genin precisava controlar sua energia por seus tenketsus ao mesmo tentou transformando-a em raiton para só depois mesclar as duas energias em uma para aprimorar seus golpes. A cada golpe de mão espalmada no tronco, o alvo tremia ao ponto de parecer estar quase saindo do solo. Os olhos brancos estavam focados e alertas para ver qualquer mudança significativa, mas por enquanto não via nenhuma faísca sendo emitida nos ataques.

O suor escorria pelo couro cabeludo encharcando as madeixas branca do menino, seu doujutsu fora ativado para perceber todas as nuances de seus golpes. Não sabia medir o tanto de tempo que estava ali. Mesmo com suas mãos revestida com chakra, começou a sentir suas juntas doerem, a pele estava avermelhada e a respiração ofegante. Nunca havia ficado tanto tempo treinando, sentindo uma sensação nova ao se esforçar tanto.

— Por que as pessoas perdem tanto tempo treinando? — cansado, se questionou.

O pequeno corpo do menino desabou, com as costas contra o chão encarava o céu ensolarado e com poucas nuvens. O doujutsu desativou, o cabelo estava todo bagunçado e cobrindo seus olhos, limitando sua visão. A mente dele estava vagando por vários pensamentos dispersos. Queria continuar treinando, mas seu corpo só havia alcançado um estado de fadiga muscular como este quando lutou contra Geki. Mas eram duas situações totalmente diferente.

Não podia desistir e simplesmente parar porque isso seria admitir que não queria mais viver, Geki havia um motivo muito grande para continuar vivendo. Soujirō não havia encontrado um motivo tão grande como o do inimigo, mas sem se importar com isso continuou a lutar porque não queria morrer. Porém agora não estava em perigo, só que desistir do treino seria o mesmo que apenas prolongar seu tempo de vida para um próximo confronto onde, sem a sorte, não sairia vitorioso.

— Entendi, entendi. — repetiu para si.

Não precisou refletir muito para descobrir o por quê as pessoas treinam e treinam até ultrapassar seus limites. Levantou com dificuldade, as dores nas mãos aumentaram conforme o sangue esfriou. Balançou a cabeça negativamente, não poderia continuar golpeando o tronco então para aumentar sua resistência física optou por correr envolta do campo enquanto executava alguns movimentos aleatórios com as pernas, mudando de direção abruptamente e aumentando a velocidade para forçar o corpo a tentar a ultrapassar o próprio limite. A manipulação do chakra continuou simultaneamente com o exercício, mas agora o foco são os membros inferiores.

O genin caiu mais uma vez, mas agora estava esgotado e não pretendia se levantar muito cedo. O peito subia e descia aceleradamente, arfando. Soujirō levou seu corpo além dos limites e nem mesmo a luta contra Geki o levou a um estado físico tão deplorável, não demorou para o corpo desabar caindo deitado sobre o chão outra vez. O Hyuga trouxe a mão destra a frente do rosto e pôde ver pequenas faíscas elétricas sumindo quando seu chakra esgotou-se, a visão ficou turva quase levando ao desmaio.

— Não sei se posso fazer isso de novo. — resmungou.

O garoto ficou inconsciente devido ao cansaço e foi após poucos segundos que sons altos podiam ser ouvidos. O ronco do Hyuga parecia o som de um veículo motor.

considerações:

O mancebo mal estava recuperado do treinamento anterior, sentia dores musculares por todo o corpo. Havia enfaixado os membros superiores até os cotovelos, e o kimôno negro bloqueava a visão das faixas brancas. Estava outra vez no campo de treinamento e um sentimento nostálgico sobre o dia antes permeio Soujirō. A sessão de treino teve resultados imediatos, o ninjutsu e resistência física estavam maiores, e por isso decidiu repetir. Mas o primeiro objetivo de hoje é a velocidade. Com uma resistência maior, poderá forçar o corpo além dos limites novo.

— Corrida intervalada. 1OO metros intenso e 2OO fraco. — ditou, não parecia ter segredo.

Antes de iniciar a corrida, o menino alongou o corpo sentindo cada músculo gritar de dor, não evitando a expressão de desconforto. Trotando, o genin percorreu envolta do campo de treinamento cinco vezes como aquecimento. Focou em controlar a respiração e no tamanho da passada em coordenação com os braços. O controle corporal do Hyuga é algo inerente a família na qual nasceu, facilitando os movimentos.

Soujirō estava com a respiração ofegante. Quando definiu o plano de treino, não colocou um objetivo final e correria até que as energias esgotassem, porém quando estava no quinto série, com a respiração difícil devido ao clima frio e ar gelado, seus pulmões mandando parar, lembrou-se que realizaria outro treino. As pernas bambearam, sentiu os joelhos falharem e diminuiu o ritmo dos últimos cem metros. Caminhou até o centro do campo e ficou de frente ao tronco de árvore, as marcas de seus golpes ainda estão visíveis.

Realizou a última volta em baixa intensidade para não causar lesão depois das sessões de corrida, alongando o corpo mais uma vez no final. Moveu a cabeça de um lado para o outro, estalando o pescoço.

— O quão bom será a resistência? — perguntou retoricamente.

Por ser Hyuga, é herdeiro de um estilo único de taijutsu, porém para executá-lo da melhor forma possível deve treinar e aprimorar seus movimentos corporais sempre que tiver uma oportunidade. Com socos leves e lentos começou a golpear o tronco de árvore, aumentando a velocidade e ângulo dos golpes, acrescentando chutes e movimentos de corpo tornando o treino maior e mais complexo.

Diferente do jyuken, Soujirō revestia externamente o corpo com chakra para aumentar a força de seus ataques, causando um som seco e alto quando a madeira era acertada. No campo despovoado o som alto chamaria atenção de qualquer um, e se prestassem atenção notar-se-ia um certo ritmo no barulho. Um, dois, três, quatro, cinco... Um, dois... Três, três. Os golpes seguiam uma certa sequência até que o menino mudasse o ângulo das próximas investidas.

A sessão durou por vários minutos até o genin não aguentar mais. Seu corpo estava fragilizado e o ato impensado de ir além dos limites na corrida fizeram com que o taijutsu desta vez fosse focado mais em coordenar ataques e mudança de posições enquanto luta, faltando o quesito força. A habilidade em controlar sua energia espiritual auxiliou na potência dos golpes, mas esse é outro vetor que lhe falta: força.

Mesmo se quisesse não conseguiria manter a rotina de treino por mais tempo, retirando-se do campo e indo embora.

considerações: