Um guerreiro é moldado em silêncio. Era assim que Mike acreditava que seria. Dentro de um garoto tolo e meio "parafuso solto" havia a essência de um guerreiro que um dia mostraria pra todos seu potencial. Porém para isso seria necessário paciência, e acima de tudo, treinamento. Muito treinamento mesmo.

Lá estava o garoto, mais uma vez em um campo de treinamento nós arredores da vila. O local que ele estava era um campo largo que tinha alguns troncos de árvores erguidos como dummy de treinamento. Mike estava encima de um desses troncos, sentado com as pernas cruzadas em uma postura de lótus. Uma coisa que seu tio sempre lhe falou.

"Garoto, toda batalha começa em sua mente. Antes da batalha ser vencida no corpo, ela é vencida na mente. Então nunca deixe sua mente fraca."

Meditação sempre ajudou Mike a controlar sua ansiedade, a equilibrar os batimentos cardíacos e a preparar seu corpo para treinamentos pesados, como das últimas vezes que ele treinou a abertura dos portões. Enquanto estava ali ele fazia técnicas de respiração, puxando bastante ar pelo diafragma e o soltando, fazendo isso várias vezes. Vez ou outra ele soltava todo o ar e parava de respirar, até o limite, e quando chegava no limite ele voltava a respiração. Era uma técnica aprendida que, em tese, visava oxigenar as células do usuário para torna-las mais fortes.

O tempo se passava e Mike já estava pronto pro início do alongamento, ele nunca começou um treinamento sem alongar-se. Esticando braços e pernas ele percebia que seu músculo parecia já se lembrar involuntariamente de cada movimento, respondendo de forma mais rápida, mais conhecido como memória muscular.

O garoto se posiciona de frente a um dos troncos que ficava na vertical, justamente para treinamento, e começava a efetuar socos atingindo a superfície de madeira. A princípio os socos não eram tão fortes, mas seu punho comida com potência necessária para causar certo desconforto. Na verdade esse era o intuito, calejar ainda mais seus punhos e pernas com o objetivo de ampliar sua potência de ataque.

- É isso aí, Mike. Você vai dá Mil socos no tronco... Se falhar, serão dois mil chutes!

Ele declarava metas para ele, metas bem difíceis de serem batidas a propósito. Com algum tempo de treino, já era possível ver marcas vermelhas nos ossos da articulação dos dedos nas mãos. Não demoraria muito até chegar em carne viva, porém o garoto continuava, cada vez mais com golpes mais fortes. Chegava um momento em que cada golpe causava uma som pesado e contundente, como de marreta. Completados os mil socos ele dava um passo curto para trás e começaria a efetuar chutes com as canelas.

Sangue escorria de sua mão, e suas canelas estavam expostas pois, anteriormente, ele havia retirado as calças e ficando apenas de shorts. Cada golpe com as canelas aumentava a marca na superfície da madeira. Primeiro de um lado, depois do outro. Mil era seu objetivo, e assim ele o fez.

O garoto para, dando alguns passos para trás e caindo no chão sentado. Seus punhos e canelas doíam e sangravam, mas um sorriso molhado com lágrimas de dor preenchia seu rosto. O garoto ficaria ali por algum tempo, recuperando fôlego.