Uma leve brisa abraçou o rapaz sentado no paredão leste da academia. Havia cada vez menos folhas secas no chão e os pássaros começaram sua migração. Voavam em bandos para o sul, fugindo do frio do inverno que estava prestes a estacionar-se na vila de Iwakagure. Brakios via o tempo passar de forma melancólica, sentia o peso da idade aumentar, junto as responsabilidades que começara a ter desde que se formou na academia ninja. De alguma forma, o rapaz parecia pouco contente como seu desempenho, era dedicado e esforçado, pegando várias missões diariamente para conquistar seu lugar de destaque na vila, mas, no fundo, sabia que tudo aquilo era apenas brincadeira de criança. Nenhum ninja de verdade ficaria forte realizando missões tão simples, mesmo sendo necessárias para o bom desenvolvimento da vila.

Brakios passou parte da tarde com esses pensamentos, tentou animar-se para pegar mais alguma missão de rank baixo, e assim, ser mais útil para a vila, mas não havia motivação em seu coração. Um rapaz de cabelos dourados vinha caminhando pelo corredor interno da academia, era menor e mais magro que Brakios, mas não menos forte. Ambos nutriam uma pequena rivalidade devido aos bons resultados que demonstravam na academia. Seus olhos se encontraram, então Kurapika acenou.

— Eai, Brakios! Tem planos para ceia de inverno? — A pergunta não era um convite.

— Droga! A ceia! — Brakios se pegou saltando do paredão no susto, estava no mínimo duas horas atrasado — Foi mal cara, depois a gente se fala!

O jovem Sarutobi correu às pressas no caminho de casa, pegou o caminho mais rápido sem se importar de pedir desculpas por esbarrar em uma ou outra pessoa na calçada. Esbaforido, chegou em casa. Sua mãe estava sentada na poltrona da sala, entediada e um tanto aborrecida. Olhou para o rapaz e com um simples gesto, disse tudo o que ele precisava saber. Brakios subiu as escadas até seu quarto, onde todos os equipamentos já estavam aguardando para serem usados.

— Eles devem ter começado sem mim — disse Brakios para si mesmo. Abriu a sacola de roupas e retirou um pesado roupão cinza. Nas costas tinha o símbolo da pedra e a marca da família Sarutobi. O roupão tinha partes da costura mais enrijecidas, um tecido grosso e um pouco apertado nos músculos. — Como pude esquecer?

Brakios vestia seu peso sobre a pele, ficando mais lento e cansativo caminhar com o roupão de treinamento. Abaixou-se o máximo que seus músculos conseguiam dobrar o roupão e ergueu um grande cesto de cerâmica cheio de pedras negras. O cesto estava quente e pesado, sua mãe havia aquecido as pedras com seu Katon para dificultar o trabalho, uma punição plausível de uma mãe irritada com seu filho atrasado. Colocou o cesto na cabeça e desceu as escadas, passo a passo. Sua mãe o recebeu no térreo com um pergaminho vermelho enrolado com uma fita cinza.

— Quando chegar, entregue isso ao seu pai — disse Yelena. — E não abra até chegar! — advertiu.

Brakios concentrou toda sua energia na tarefa, dedicando-se para não deixar o cesto cair. O pergaminho secreto estava no bolso do roupão, mas o rapaz conseguiu superar a curiosidade de ver o conteúdo. Também porque seria terrível se concentrar no cesto novamente. Passou pela entrada da casa e esperou 1 minuto em frente a imagem do seu avô, feito sua reverência. Seguiu em direção a floresta além das muralhas. Local de contemplação à vontade da Pedra, filosofia adotada desde os primórdios da família Sarutobi. Por sorte não encontrou conhecidos no caminho, a última coisa que gostaria de fazer era explicar tudo aquilo para um estranho que não entende nada de tradição. Os primeiros sintomas de exaustão chegaram antes mesmo do rapaz alcançar os limites do centro da vila, sua vista cansou e seus passos começaram a cambalear um pouco. Precisou tomar o fôlego por alguns segundos, sentia algo de estranho na sua pele, como se o roupão estivesse roubando sua energia.

Alcançou o portão da vila, havia um chunin na entrada e dois rostos familiares ao seu lado, juntos faziam mais fumaça que uma chaminé. Os fumantes eram seus tios, dois Sarutobis que aguardavam pacientemente a chegada do rapaz atrasado. Sorriram para ao rapaz ao ver suas péssimas condições. Então o mais velho abriu caminho para o rapaz.

— Seu pai o aguarda no Coração da Pedra! — disse Labu.

Brakios economizou suas últimas energias passando por eles sem dizer uma única palavra. Sua boca, nariz, pulmão e qualquer outro órgão útil para manter a respiração do rapaz funcionando, trabalhavam duro com esse único propósito. Passou pelas muralhas e sentiu uma terrível pressão esmagar seu umbigo. Grunhiu de dor, mas conseguiu permanecer de pé, ao menos o suficiente para se arrastar o resto do caminho. No fim do corredor, um homem com vestes brancas, cabelos negros e espetados aguardava meditando no topo de uma grande rocha, o Coração da Pedra. Seu pai fez final para o rapaz pousar o cesto no chão e descansar. Desceu da pedra com um salto sútil, pousando ao lado de seu filho que desmoronou de cansaço.

— Meu coração se enche de alegria por ter você aqui, filho! — disse Barutos. — Ofereça as pedras aos antigos e receba a Vontade da Pedra que fortalecerá sua alma.

Uma a uma, Brakios depositou as pedras aquecidas ao lado da grande rocha. Sentiu um véu aquecido abraçar toda extensão do seu corpo, era morno e relaxante, sua energia era restaurada a cada pedra depositada. Fechou os olhos e terminou de depositar fazendo um pedido em silêncio, desejou poder, sabedoria e sorte.

— Pronto! Pode abrir o presente da sua mãe! — disse Barutos.

Brakios puxou a fita cinza, abriu o pergaminho. Seus olhos correram as linhas escritas no pergaminho secreto. Uma lágrima escorreu no seu rosto, então sorriu...

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