Eiji, naquela noite, tinha resolvido sair um pouco de casa. Nos próximos dias, mesmo não sabendo com exatidão quando, sabia que a sua rotina não poderia mais ser a mesma, e, justamente por isso, resolveu curtir um pouco mais o tempo livre que ainda tinha o privilégio de ter. O que o motivava não era só o fato de ter ganhado mais responsabilidades no vilarejo, ele também já estava, a algum tempo, sentindo que precisava de uma folga, pois os últimos dias tinham sido muito duros para ele.

A noite estava especialmente estrelada. O brilho da lua era genuíno e, de certa forma, deixava a figura do Chunin impressionada. Mas, o que mais o impressionava era o fato de a vila estar tão movimentada. Não importava em qual rua estivesse, ainda assim poderia ver uma quantidade considerável de pessoas perambulando por aí; alguma eram apenas trabalhadores retornando para suas casas depois de um dia exaustivo de trabalho, e outras, assim como ele, apenas estavam afim de curtir tudo o que a noite tinha a lhes oferecer.

Quando o Uchiha finalmente havia chegado no coração do vilarejo, lugar esse onde boa parte do comercio ficava localizado, começava a se sentir um pouco incomodado com algumas luzes fortes que estavam sendo emanadas de alguns letreiros, e também era capaz de notar o barulho incomodo que todas as vozes dos presentes geravam ao se afunilar nas suas orelhas. Aquela situação estava muito longe do que considerava ideal, principalmente por causa de todo aquele barulho que tinha que suportar, mas também, estranhamente, sentia uma certa leveza em seus passos, como se estivesse feliz por estar ali, no meio de todas aquelas pessoas. Tendo que encarar todas as suas contradições momentâneas, aproveitava para procurar um lugar agradável para comer.

Informações:

Ao contrário dos que muitos podem pensar, a grande batalha pela sobrevivência não acontecia apenas do lado de fora dos grandes muros do vilarejo, nas florestas densas e extensas do País do Fogo. Diariamente, pessoas de diferentes tipos, credos e lugares tentavam a sorte naquela grande selva de concreto, no conjunto de lojas que compunham o comércio do vilarejo de Konoha. No decorrer dos anos, muitos se mantiveram firmes neste jogo, sempre achando novas maneiras de se reinventar e tornar o seu negócio mais atrativo; por outro lado, alguns apenas lutavam até não conseguirem mais, sem obter nenhum resultado que mantivesse o seu sonho vivo. Apenas os mais fortes podiam sobreviver em meio aquele clima hostil, que constantemente os lembrava de todos os sacrifícios que os mais aptos teriam que fazer.

Naquela noite estrela, nada era diferente. Para todo lado que olhasse, o Uchiha poderia se deparar com diferentes tipos de lojas à sua volta. Todas elas, à sua maneira, tentavam tomar a atenção daqueles que as vissem, sejam com promoções dos mais variados tipos, ou com estímulos visuais que conseguiam quebrar a determinação do mais forte dos homens. Tudo seguia como sempre, o lugar estava lotado de pessoas sorridentes e alegres, que carregavam sacolas em suas mãos enquanto comiam algumas das guloseimas que poderiam ser encontradas em alguma barraca próxima. Apesar de todos estarem vivendo às suas próprias vidas, ainda eram partes de um sistema muito maior e complexo, que seguia compelindo-os a continuarem consumindo, sem parar.

Eiji também não era imune a toda aquela atmosfera charmosa exalada pelo lugar, ele apenas se considerava uma pessoa exigente, o que não era o bastante para distingui-lo da maioria das pessoas que estavam ali. Levemente contente por estar naquele lugar, continuava a andar, procurando algum restaurante que lhe chamasse a atenção — ou que o fisgasse pelo cheiro.

— VENHAM! VENHAM! VENHAM… NÃO PERCAM ESTA OPORTUNIDADE ÚNICA EM SUAS VIDAS — chamava. Em um beco, não muito longe de onde o Chunin estava, uma voz doce e sedutora chama a atenção de todos que passavam pelas redondezas.

Informações:

Todos os olhares estavam voltados para a origem daqueles gritos, inclusive o de Eiji. Alguns apenas estavam curiosos, e até tinha quem acreditava cegamente nas promessas que estavam sendo feitas. No entanto, o Uchiha não se impressionou tanto com o ocorrido, já que deduziu ser apenas mais um dos vendedores falastrões que tinha pela vila. Por isso, também não foi capaz de acreditar nas palavras sedutoras utilizadas para atrair mais olhares curiosos para o lugar.

O tal homem, que seguia gritando, estava alojado em um beco sujo e mal iluminado que era, majoritariamente, usado pela escória de Konoha. As suas acomodações eram compostas por algumas tábuas de madeiras organizadas de modo que construíssem uma barraca bem frágil estruturalmente. Apesar de não ter tantos atrativos visuais, de algum modo, ele estava conseguindo atrair cada vez mais pessoas para perto. Entre elas, estava a figura de Eiji. Era verdade que ele não tinha nenhum interesse no que estava sendo ofertado, mas, ainda assim, a sua curiosidade não o deixava continuar.

Assim que algum curioso tomasse a decisão de seguir os gritos, seja pelo motivo que for, primeiro teria que tentar se aproximar. Essa não era uma tarefa nada fácil, haja vista que teria que lutar, em um jogo de “empurra-empurra”, com mais ou menos duas dezena de pessoas. Após quase ser pisoteada, a pessoa poderia, dependendo da sua sorte, conseguir uma visão privilegiada da barraca. Eiji, usando todas as suas habilidades físicas, não sofrera muito para vencer meros civis nesse jogo de força, o que acabou lhe rendendo um lugar na primeira fileira, bem de frente para o anfitrião de toda aquela algazarra.

O homem devia ter por volta de 40 anos. Os seus cabelos eram dourados e longos — pareciam ter sido tingidos com ouro. Por outro lado, as suas roupas não eram tão impressionantes assim, aquelas peças que usava estavam mais para trapos feitos com alguns retalhos. A sua aparência era o mais simples e modesta possível, quase como se tivesse sido feita para enganar. Junto dele, havia uma espécie de assistente; ele devia ter por volta de 1,50 m de altura, era gordo e mantinha uma boina cobrindo a sua cabeça raspada.

Assim que o homem julgou ter direcionado a atenção de pessoas o suficiente para o seu empreendimento, começaria a sua apresentação, eloquentemente.

Informações:

— Vocês não sabem a felicidade que sinto em ver tantas pessoas espertas reunidas em um só lugar — gritava. — Agora, vou lhes apresentar os melhores itens que alguém pode vender neste mundo. Isso mesmo que vocês ouviram! Hoje, vocês vão ter a chance de adquirir objetos raríssimos, que até podem ser considerados lendários por alguns. E sabem qual o melhor de tudo? Vocês não vão pagar quase nada por eles — o seu assistente começava a arrastar pelo chão vários caldeirões que estavam cobertos por algumas mantas cor de ébano, um após o outro. — Dentro destes recipientes, meus amigos, têm a vossa felicidade. Se por acaso tiverem interesse em algo que for anunciado, basta levantar a mão e vir até aqui pegar o seu prêmio. Quem paga mais leva!! — terminava a sua fala girando uma das mantas que tinha tomado em uma das mãos.

Boa parte das pessoas que estavam ali, na sua maioria homens, foram a loucura com as palavras daquele sujeito. Eles berravam, se empurravam e xingavam uns aos outros. Parecia que a chance de um lucro fácil nublava qualquer traço de racionalidade que eles pudessem vir ter. A única pessoa que não demonstrava nenhuma reação às palavras do vendedor era Eiji, pelo contrário, ao entender a situação, ele apenas tratou de cruzar os braços e levar uma carranca ao rosto. Quem o visse, poderia jurar que o mesmo estava odiando toda a situação, no entanto, ele só não estava gostando de toda a gritaria, que gradativamente fazia os seus ouvidos doerem.

Cada item que era vendido fazia os ânimos da multidão se inflamar, boa parte disso se dava porque alguns sujeitos já estavam ficando irritados por não conseguirem comprar o que queriam. Graças a esse fato, as brigas não poderiam mais ser evitadas. Como em um efeito dominó, a confusão chegou em um ponto em que todos que estavam mais afastados da barraca começaram a se golpearem. Tomando um caminho totalmente diferente daqueles homens, Eiji ficava mais sério a cada minuto que passava, enquanto analisava se valia a pena ou não comprar o que estava sendo oferecido; estava firme como uma rocha, parecia que seus pés estavam pregados no chão.

— Senhores, um momento da atenção de vocês — voltava os olhos na direção do Chunin. — Eu não estou querendo estragar a vossa diversão nem nada, mas acho que temos alguém aqui que não está tão contente com os itens maravilhosos que estou oferendo para vocês — a mão direita cobria todo o seu rosto, levantado a cabeça e gesticulando a canhota, dramatizando. — Isso… me corta o coração. Em toda a minha vida, jamais vi um desrespeito tão grande assim com a minha pessoa — forçava uma voz chorosa.

Informações:

No momento em que o homem parou aquele leilão, imediatamente, todos começaram a encarrar Eiji, com caras desdenhosas e irritadas. Alguns xingamentos até começaram a ser proferidos pelos mais enérgicos, mas a maioria ficava em silêncio, em respeito ao seu anfitrião. Fazendo uma pose expressiva com o corpo, o causador do tumulto parecia estar esperando alguma resposta por parte do Uchiha. O garoto não demorou muito para entender a situação na qual estava metido, e também sabia que se não falasse nada, acabaria sendo alvejado pela cólera das dezenas de pessoas que ali estavam. — Não tem nada de errado com as suas mercadorias — tentava se fazer audível. — Sabe, como sou um Chunin “pé-de-chinelo”, acabo não tendo muito dinheiro para gastar. No entanto, se você tiver algo bem barato para me oferecer, seria eternamente grato — entrava no jogo do homem.

— Pobrezinho… — a voz chorosa continuava. — Me desculpe, acabei te interpretando mal. Estou profundamente tocado com a sua história, meu jovem. Uta! — chamava pelo seu assistente. — Pegue “aquilo” para mim — O homenzinho, sem muita enrolação, buscou um pergaminho enorme que também estava coberto por uma manta. — Como meu pedido de desculpas, quero que aceite este presente.

— Não precisa. Isso deve ser muito caro, e não quero te causar prejuízo, afinal, o erro foi meu.

— Vejam! — uma lagrima escorria dos seus olhos — Olhem como esse garoto é uma pessoa de bom coração. Garoto, insisto, aceite o meu pedido de desculpas.

Como Eiji não queria continuar com aquela falsa modéstia que tentava transparecer, acabou aceitando o pergaminho. Quando chegou mais perto, na esperança de pegar o seu prêmio, teve o seu dedo espetado por uma agulha. Sem mais nem menos, o assistente tinha o atacado o seu polegar. O Uchiha estava prestes a agredir aquele nanico, porém, foi interrompido pelo homem, que voltou a falar. — Não se preocupe, isso é parte do ritual. Agora, preciso que assine o seu nome aqui — por fim, apontou para o pergaminho recém aberto.

— Posso ir agora? — Depois gravar o seu nome no papiro, tentava se afastar de toda confusão, pois, a sua fome começava a ficar incomoda

— Claro! E, novamente, gostaria de me desculpar pela minha grosseria — Antes de libera-lo, ainda teve tempo para entregar um pergaminho minúsculo para o garoto.

No momento em que Eiji tentava passar pela multidão, aproveitava para ler o que tinha naquele papel. Aparentemente, se tratava de um manual de instruções, onde listava alguns selos de mão necessários para realização de algum jutsu. No ápice da sua curiosidade, Eiji começava a replicar os selos, se atentando, principalmente, no seu fluxo de chakra. Se aproveitando do sangue que ainda escorrida pelo seu polegar, sem qualquer tipo de malícia, levou a destra até o chão (Kuchiyose no Jutsu).

Bastou apenas um segundo para que um bando de corvos surgisse em volta do garoto. Os animais pareciam estar fora de controle — partindo para cima das pessoas que estavam acompanhando o leilão. Quando isso aconteceu, a correria e o “empurra-empurra” se intensificaram ainda mais, chegando ao ponto de deixar uma meia dúzia de feridos para trás. Envergonhado pelo que tinha feito, o Uchiha saiu correndo dali — utilizando toda a sua velocidade.

— SEU MOLEQUEEEEEEE!!! — esbravejou.

Informações: