A missão de escolta ao Centro Botânico da Pedra havia incendiado uma chama dentro do menino. Por melhor que isso fosse ao seu desenvolvimento, também trouxe um problema que ele tentava evitar cada vez mais: as memórias. Já fazia cinco dias que terminara a missão e ainda não tinha conseguido dormir de verdade em nenhuma dessas noites. Acabava com os mesmos sonhos… lembranças. Via a face do pai marcada pelas sombras e a luz do chakra explosivo se formando na palma da mão, depois, a dor, o sangue, e mais um clarão. Embora não tivesse visto na época, nos pesadelos conseguia enxergar a pele do pai sendo derretida contra os próprios ossos graças ao poder de seu chakra explosivo. No fim, estava encarando o teto branco do quarto, com suor em todos os cantos do corpo.


Naquela noite, porém, decidiu não ficar apenas preso à cama, tentando dormir até desistir com o erguer do sol e passar o resto do dia esperando o chamado por uma missão. Vestiu um casaco vermelho, as calças pretas rasgadas, as luvas de meio-dedo, botou a bolsa de armas naquele visual civil e saiu pela janela do quarto, para não acordar a mãe. As ruas da cidade eram completamente diferentes no meio da madrugada. Não havia uma única luz acessa. Nenhuma pessoa passeava, entre as rochas, via apenas as silhuetas dos ninjas patrulheiros, guardando o povo do mundo externo e suas ameaças. Com as mãos nos bolsos, saiu em direção aos campos de treinamento mais afastados a passos lentos. Não tinha nenhuma pressa, a noite era longa e seu sono não existia mais.

O ambiente de treinamento era simples, mas muito conhecido por ele. Tinha ido ali exatamente por isso. Se precisava enfrentar as memórias do pai, que as aproveitasse para continuar avançando. Ali era muito usado pelo seu velho genitor para ensiná-lo maneiras de lutar e se tornar um ninja importante. Ao menos, importante na visão deturpada do homem; mesmo que sofrendo abusos físicos e psicológicos do próprio pai se fosse necessário. No entanto, decidiu aproveitar o espaço e a hora para treinar algumas coisas que estavam fracas nele. Tinha notado isso desde sua saída da Academia Ninja de Iwagakure, mas na última missão isso ficou ainda mais claro. Precisava melhorar seu condicionamento físico antes que se esgotasse no meio da batalha e morresse. Sua primeira percepção sobre isso havia sido ao proteger as árvores incendiadas da vila. Na última, notou que teve de se conter muito no breve combate com medo de se cansar demais, ainda mais após horas de viagem.

Batsuki olhou a lua coberta de poucas nuvens. Cada vez mais a primavera parecia esgotar-se, prestes a dar espaço ao verão. Ainda assim, a brisa gelada da noite continuava a mesma. Estalou os dedos, aliviou a tensão nos ombros e preparou-se para começar.

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Tinha as memórias com seu pai ainda muito claras. Difícil não estarem, suas costas ainda doíam em dias frios por causa da enorme cicatriz deixada por ele. Estalou a língua contra o céu da boca, incomodado com a epifania. Observou cada detalhe do local, vendo fantasmas do passado em cada canto. Nos troncos deixados para praticar técnicas físicas como socos e chutes, em que seu pai o colocava para socá-los até sangrar; no enorme muro de pedra ótimo para treinar o controle de chakra ao escalá-lo com os pés, mas que uma criança de quatro anos não conseguia fazer muita coisa e acabava caindo todas as vezes. O vasto espaço era ótimo para combates entre dois ninjas e não entre uma criança de cinco anos e seu pai de alta patente… Fechou os olhos e respirou fundo, concentrando-se, soltando o ar enquanto os ombros aliviavam.

Viajou um pouco mais adiante nas memórias. Viu-se na Academia, ouvindo as aulas básicas sobre o chakra. Para se manter resistente, disse um professor, a primeira tarefa era, na verdade, controlar melhor o chakra. Aquilo era importante para economizar ao usar seu arsenal de jutsus e conseguir manter-se em pé por mais tempo. Encarou o enorme muro de rocha. Ali era um bom lugar para treinar aquilo, usando as técnicas mais básicas da academia. Uniu as mãos, o chakra se formou dentro dele, fechou novamente os olhos para aumentar seu foco na energia através do corpo, e colocou tudo nas solas dos tênis brancos. Correu contra o muro, sentia-se com mais velocidade, mas era só impressão. A verdade era que o chakra nos pés tornava os passos mais leves como se ganhasse a leveza de uma pluma e deslizasse pelo chão. Colocou o pé direito no muro, depois o esquerdo, o corpo inclinou de maneira inumana, sem usar mãos a escalada era algo místico. Sentia a energia debaixo dos pés sendo empurrada contra a rocha para se manter grudada como goma de mascar, porém, após mais três passos essa mesma energia propulsora o atirou para trás. Teve de ser ágil. Fez uma acrobacia com a pouca capacidade que tinha e caiu com a lateral do corpo no chão duro.

Ofegou, levantando-se. Não desistiria só com aquilo. Mesmo que seu corpo estivesse dolorido pelo impacto, ele teria de continuar suportando. Uniu as mãos novamente, fluindo o chakra aos pés. Correu com uma expressão determinada no rosto. Não, irritada. Por mais que tivesse se controlando melhor ainda se incomodava com as coisas. Falhar era uma delas. Tentou subir novamente o muro sem usar as mãos, somente o chakra. Na mesma linha de antes, sentiu a pressão nas solas dos pés. Dessa vez não, reclamou para si mesmo, forçando o corpo um pouco mais, dando mais dois passos antes da pressão ser impossível de sustentar e ser atirado para trás, provocando danos leves na rocha. Dessa vez, porém, conseguiu cair direto ao chão, usando as pernas para amortecer a queda, mesmo com dor. Um sorriso surgiu no rosto dele; carregado de inspiração.

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A lua estava mais próxima do próprio descanso do que duas horas antes. Batsuki, porém, ainda parecia muito distante de uma noite de sono. Sem o casaco, apenas usando uma regata preta, ele ofegava com as mãos nos joelhos. O casaco deixado debaixo do tronco com a bolsa de armas em cima para nenhuma brisa voar estava molhado de suor. O muro tinha alguns riscos feitos com a kunai na mão do menino, marcando cada vez que ele subia um pouco mais. Uniu as mãos de novo, deixando a arma branca entre elas, e concentrou o chakra nas solas dos pés. Já sentia o fluxo diferente de alguma maneira. Avançou mais uma vez, as panturrilhas incomodavam sutilmente pelo esforço contínuo. Botou o pé no muro e inclinou-se, começando a corrida. Um pé depois do outro, manejando o chakra nos tênis para não cair. O treinamento era mais complicado do que aparentava. A pressão debaixo do pé direito fez com que as rachaduras na pedra estourassem, arrancando uma lasca. Ele ainda assim insistiu a dar mais um passo, pois não tinha chegado acima da última marcação, porém, já estava relativamente desequilibrado. Resmungando, passou a ponta da arma branca na pedra, fazendo outro risco e impulsionou-se para trás, dando uma volta, caindo com os joelhos flexionados.

“Você é uma decepção”, ouviu no fundo da cabeça a voz do pai anos antes. Botou as mãos nos joelhos. —— Pelo menos estou vivo —— sussurrou ao fantasma na sua mente. Atirou a kunai no chão, cravando-a. Ainda que estivesse com a respiração cansada e o corpo exausto precisava continuar. Uniu as mãos mais uma vez, desenhando um selo. Concentrou o chakra nas solas dos tênis e correu aos berros, jorrando toda sua frustração e raiva naquele grito. Subiu no muro, ainda gritando, esmagando os danos que deixava pelo caminho como um bom soldado. Sentiu-se perder o equilíbrio, mas não se deixou cair. Com um grito mais alto deu outro passo, aplicando mais chakra naquele instante, conseguindo fazer uma manobra para que a sola ficasse mais firme no muro ainda que o outro pé perdesse a estabilidade. Uniu novamente as mãos para lançar o chakra ao pé enfraquecido novamente, o que exigiu demais do fluxo de chakra. Quando tocou-o no muro, o outro pé perdeu totalmente a energia imposta sobre ele, o que o fez cair, mas só de uma perna. Merda, resmungou, adicionando mais chakra ao pé solto para grudar-se um passo abaixo. Um pé em cada andar da escalada. Moveu-se para chegar mais ao topo, mas perdeu totalmente o controle do chakra e caiu sem chances de se reestruturar. Bateu as costas no chão, sentindo um choque atravessando sua espinha e uma dor lacerante se espalhou através da enorme cicatriz, deixando-o imóvel durante vários minutos.

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Chegou em casa com o casaco no antebraço, os cabelos baixos de suor, a respiração ofegante e a dor latejando nas costas com o sol nascendo atrás dele. A mãe estava passando uma térmica de café e ficou surpresa ao vê-lo. Notou, porém, o que ele andava fazendo e não fez nenhuma pergunta. Batsuki foi ao quarto e deitou para aproveitar a exaustão e dormir.


Quando a noite caiu novamente, ele nem esperou os pesadelos começarem. Saiu escondido no casaco direto ao campo de treinamento. As marcas da kunai permaneciam ali anunciando seu desenvolvimento. Aqueceu o corpo por alguns minutos para se preparar e uniu as mãos fazendo o chakra fluir. Sentiu-o como o vento percorrendo todas as extremidades do corpo e depois se concentrando e descendo até as solas dos tênis brancos. Enfiou a mão na bolsa de armas às costas, sacando a kunai que estava usando na noite anterior, e avançou à velocidade máxima contra o enorme muro, projetando-se contra ele usando apenas as pernas para subir. Aplicar aquela quantidade de chakra era fácil, ele já tinha entendido, a dificuldade mesmo começava naquele momento. Porque o fluxo ficava muito instável com os movimentos, seu cérebro precisava processar muitas informações, seu corpo dependia de vários mecanismos, deixando o controle da energia se dispersar e acabar falhando. Bastava, então, aumentar o nível de aplicação da própria mente sobre aquela tarefa — algo que era complexo até em teoria.

Alcançou o mesmo ponto de corte da noite anterior. Decidiu não se esforçar demais assim no começo, ainda tinha a noite inteira para praticar. Preferiu dar mais atenção ao que acontecia no seu chakra no momento. A maneira como a energia não apenas desaparecia, mas antes se dispersava na forma de um empurrão. Deu atenção aos detalhes para compreender melhor e então, quando se deu conta, estava em pleno ar, planando para trás do enorme muro sem ter marcado com a kunai. Atirou-a na direção mais precisa possível, com sua pouca habilidade, e a viu cravar na rocha. Ajeitou-se ainda no ar e pousou flexionando os joelhos. Encarou o enorme muro com mais uma falha na conta, mas um novo aprendizado. Tinha começado a entender também a estrutura do chakra durante aquela ação; isso significava ter como encontrar uma maneira de controlá-lo melhor.

Encarou o muro mais uma vez com um sorriso de certeza. Uniu as mãos uma fez mais, tecendo um selo. O chakra fluiu nas solas dos pés e ele correu na direção dele. Concentrando-se, os passos fizeram mais sentido. Agarrou a kunai, arrancando-a da rocha, e continuou subindo. Cada passo uma nova sensação ondulante debaixo dele, mas controlável… até não ser mais e atirá-lo para trás após fazer um buraco no muro.

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Seu pai costumava dizer que repetição era o mais importante para um ninja se fortalecer. Por isso continuava acertando-o diariamente. Ao menos era nisso que acreditava. Tinha que haver um motivo maior por trás de todo aquele sofrimento. Movimentou-se no ar, caindo com os joelhos flexionados absorvendo o impacto, e afastou os pensamentos. Seu pai estava morto, não importava o que ele havia feito. Nada daquilo tinha serventia para seu novo eu, exceto se fossem coisas boas. As lembranças de toda a dor sofrida e toda expectativa destruída de ter amor paterno eram… inúteis. Endireitou-se, respirou fundo, estava incomodado, mas sabia melhor como resolver toda aquela questão de controle de chakra. Ao menos numa técnica básica servindo de base para o resto. O problema é que estava cansado, exausto. Haviam passado ao menos duas horas desde sua chegada e ainda estava experimentando a mesma coisa de novo e de novo e de novo…

Mordeu o cabo da kunai e uniu as mãos uma vez mais. O chakra circundou-o fazendo o casaco e os cabelos sacudirem. Sabia exatamente como fazê-lo. O fluxo seguiu enchendo-o até os pés e ali ele mesclou-os às percepções. Tinha entendido que a distribuição de chakra era sobre isso: perceber. Saber exatamente o limite, o mínimo, o máximo e tudo envolta disso. Seguiu em sua velocidade máxima, mas notou que ela era ineficaz naquele momento. Estava cansado demais. Resultado de noites mal dormidas, além do último dia em que não conseguiu dormir mais de duas horas. Tocou o pé no muro e sentiu a instabilidade do próprio chakra. Pegou a kunai de volta, girando nos dedos. Continuou subindo com tudo o que tinha, por mais fraco que fosse, e então, durante metade do caminho viu-se perdendo totalmente o controle do chakra, desativando-o mesmo tão focado em continuar até o topo. Resultado do cansaço? Realmente não saberia dizer. Pensou rápido, cravando a kunai no muro, mas no movimento bateu com o peito na rocha que quase o fez perder o ar.

Ficou pendurado apenas numa mão agarrada à kunai durante alguns minutos, recompondo-se. Bateu os pés contra a pedra, puxando a kunai, e lançou-se para trás, caindo no chão e tropeçando, indo direto ao chão com o corpo exausto e a parte da frente do casaco aberta. Caminhou até o tronco de treinamento, encostando-se nele com as costas exaustas. A respiração ofegante, o suor no rosto, as pernas doloridas. Não demorou para finalmente cair no sono.

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—— Chega de decepção.

Batsuki arregalou os olhos, o coração acelerado. A voz do pai ainda ecoava na sua mente após tantos anos. As últimas palavras ditas por ele antes de tudo acabar, da morte engoli-lo na explosão provocado pelo próprio filho. Coçou os olhos, ainda acordando. O brilho do sol batendo contra seu rosto era diferente de encarar um teto branco após um pesadelo. Notou que estava no campo de treinamento ainda e o amanhecer começava. Apoiou-se no tronco atrás dele, erguendo-se. A kunai no chão trazia a lembrança da falha da noite anterior. Ele tinha razão mesmo, pensou, recordando-se mais uma vez das palavras do pai. Bateu o punho fechado na madeira, furioso consigo mesmo. Não, ele não pode ter razão, rebateu mentalmente, se agachando até a kunai e pegando-a. O estômago roncou, lembrando-o que não comia nada desde o dia anterior e com uma careta, ele preferiu dar uma volta na vila antes de continuar o treinamento.


Voltou após um forte desjejum e um encontro rápido com a mãe no trabalho dela só para mostrar que estava bem. De casaco aberto e kunai na mão, ele voltou a concentrar o chakra necessário nos pés. Estava pronto para alcançar o topo do muro dessa vez, pois, diferente da última tentativa à noite, não tinha mais uma única gota de cansaço correndo em seus músculos. Mais uma vez, atento, sentiu o fluxo de chakra percorrendo-o. Quando se instalou nos pés, ele avançou. A brisa primaveril fez os cabelos loiros sacudirem. Um passo, depois outro. No muro, o fluxo interrupto fez as solas ficarem mais firmes do que nunca, quase como se não estivesse desafiando a gravidade usando dos poderes místicos vindos do chakra. Passou da última linha marcada com a kunai e continuou. Tinha entendido o que andava fazendo de errado; ou será que era seu corpo se acostumando com a atividade?

Sentou no topo do muro, trinta metros percorridos, com a kunai cravada ao lado e as pernas balançando como as de uma criança. O vento era mais forte ali. Olhou para baixo, tudo que havia enfrentado. Ofegava um pouco, mas era de emoção. Seu pai, quando o mandava tentar subir usando chakra, mesmo sem saber exatamente o funcionamento do poder, esperava que ele chegasse ali um dia; e ali estava. Sem a ajuda daquele homem perverso. Usando a própria força, nada mais.

Apreciou o momento durante alguns minutos. Só que o treinamento não havia sido encerrado. Primeiro, precisava fazer de novo. Ter certeza que não era apenas um costume e sim uma compreensão. Um aprendizado. Depois, precisava começar a melhorar o controle de chakra em coisas mais complexas. Agarrou a kunai e desceu, usando-a para diminuir a velocidade da queda ao fazê-la percorrer o muro, desenhando uma extensa linha nele. No chão, girou a kunai na mão antes de guardá-la na bolsa, reposicionando-se. Concentrou o chakra nos pés, mas sentia-o muito melhor. Já percebeu de imediato que não era apenas costume; havia aprendido parte do que começara a estudar naquele campo de treinamento.

No topo, observou a vila com as mãos na cintura.

—— Eu ainda vou ser o maior ninja dessa vila —— falou sozinho. Seria verdade? Somente o futuro diria.

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Pensava que, após conseguir parte do treinamento, voltaria a dormir bem. Não podia estar mais errado. Naquela mesma noite, bastou fechar os olhos para toda as lembranças voltarem em forma de pesadelos. Voltou ao campo de treinamentos, contaminado pela fúria. Sim, o pai estava morto, mas não bastava. Ele nunca devia existir para começo de conversa. Era isso que ele começava a perceber com todo o treinamento sendo feito. Porque tudo aquilo que havia feito com sua versão infantil jamais desapareceria. Acertou um soco no tronco com toda a sua raiva que se transformou numa massa de chakra descontrolada e criou uma linha vermelha na madeira seguido de uma explosão. Despreparado, Batsuki foi lançado para trás e caiu sentado com uma nuvem de poeira levantada no ambiente. Quando a poeira baixou, encontrou um tronco destruído. Apenas a metade inferior dele permanecia no chão. Tinha cometido outro atentado sem querer com aquele poder odioso que não só condenou sua família através dele mesmo como do pai. Uma herança maldita.

Mas a única que tinha.

Virou-se na direção do muro outra vez. Depois, as próprias mãos. Fechou-as. Tinha uma ideia de como seguir no treinamento. Uma técnica um pouco mais complexa, imaginada após sua missão nas florestas dos arredores da vila. Era uma forma de aprimorar sua velocidade em combate e também de se movimentar com mais fluidez contornando suas fraquezas; e agora seria uma técnica perfeita para continuar o treinamento sem causar danos ao ambiente. Porque ele não era o pai para não se importar com os danos. Tinha que ser melhor. Único. Por isso, avançou na direção daquele enorme muro outra vez, sem nenhuma kunai em mãos ou na boca, mas a marca da cobra feita pelas mãos. Depois, colocou as mãos para trás, como numa corrida típica de ninjas e criou duas explosões nas palmas. Concentrou-se para não forçar demais, fazendo das explosões propulsores que o lançaram para frente sem precisar ficar de pés no chão, numa velocidade um pouco maior. Sorrindo, uniu as mãos de novo, forçando os pés no chão ao chegar na base do paredão. Soltou o selo formado e abaixou as mãos, dessa vez tentando aplicar explosões um pouco maiores, jogando-se para cima o máximo que dava.

Subiu um terço do muro dessa maneira, mas não tinha energia para fazer de novo. Colocou os pés na parede, firmando-se com chakra. Fez isso com certa tranquilidade, porém, não perfeição. O chakra logo o empurrou para trás, mas ele caiu sorrindo desenhando uma meia-lua no ar até descer. Abriu a fechou as mãos, os dedos coçavam por causa da técnica usada, os ombros doíam um pouco pelo impulso, precisava fortificar-se mais. Sabia que se continuasse forçando os próprios limites isso aconteceria, querendo ele ou não. Estava satisfeito em crescer dessa maneira. Semelhante ao que o pai fazia, mas com sua essência; seus limites do que era aceitável.

Ficou ali até ficar tão exausto que caiu no sono novamente.

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De longe, a vila ouvia as explosões como meros estalos. Por isso o pai o levava constantemente para aquele campo de treinamento. Com habilidades tão espalhafatosas, era sempre melhor buscar espaços assim. Isso ele precisava confessar que era um bom ensinamento daquele velho desgraçado. Ainda mais para ser usado durante cinco noite seguidas como vinha usando. Também revelava a ele uma falha enorme de seus poderes — as missões mais furtivas estavam fadadas ao fracasso se fosse necessário usar as habilidades sanguíneas. Isso, porém, era uma preocupação futura. Naquele momento, após tantas horas realizando combinações de movimentos usando técnica explosiva e básicas ninja, ele não estava conseguindo pensar tão bem no futuro. Apenas em observar como o fluxo de chakra ficava mais instável na medida em que seus pensamentos vagavam dentro de sua cabeça até outros objetos. Porque, como ensinado na Academia, ele precisava achar um equilíbrio de mente, alma e corpo. Somente assim o controle seria melhorado.

Respirou fundo a brisa de primavera. Fluiu o chakra através do corpo, o selo da cobra criado com as mãos. Naquele momento, deixou os pensamentos acelerarem. As palavras costumeiras do pai, a explosão na casa deles, as lágrimas da mãe, os momentos de sofrimento naquele mesmo campo de treinamento… e as brincadeiras dentro da Academia, as notas altas, o dia de sua formatura, a conversa com Hanamaki na sua última missão… Deixou cada uma dessas memórias colidirem dentro dele, anulando umas às outras, afastando tanto a escuridão quanto a luz, achando um cinzento equilibrado. Baixou as mãos e preparou-se para correr. Uma luz amarela brilhou nas palmas anunciando a concentração do chakra do menino e então as primeiras explosões breves se formaram antes de criarem propulsores. Avançou, sorridente, até o enorme muro novamente. Uniu as mãos novamente, os ombros estavam mais leves do que antes, assim como sua mente mais limpa. Saltou antes de terminar de concentrar o novo disparo da técnica; alguns metros do chão, ativou-a. Jogou-se até metade do muro e colou os pés na parede, deu vários passos, mais próximo de chegar no topo antes da rocha romper e o chakra jogá-lo para trás e, utilizando uma manipulação do chakra explosivo, fez micro explosões para os lados, criando uma sequência que fez sua descida ser mais tranquila.

Não estava irritado em ter falhado. Ao contrário, estava satisfeito. Havia encontrado a melhor maneira de controlar o chakra e não estava em apenas ser insistente, mas em encontrar a si mesmo dentro do turbilhão que era seu coração. Isso era mais fácil. Além disso, sentia-se menos cansado de algum modo — ou seria apenas a adrenalina?

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A noite estava findando. Levaria alguns minutos para o sol começar a levantar no horizonte criando uma beleza divina aos olhos humanos. Batsuki decidiu que veria o nascer do sol no topo do muro usando uma combinação perigosa. Fez o selo da cobra mais uma vez e deixou-se ser dominado pelo fluxo de chakra. Os pensamentos continuavam colidindo uns com os outros, a melhor forma que encontrara para não vencê-los. Usou o chakra explosivo na medida ideal nas mãos, lançando-se. Sorridente, ouviu no fundo de sua mente a voz de Hanamaki: —— Vai com tudo —— disse o pesquisador como se entendesse tudo da vida. Batsuki sorriu. —— Aí vou eu! —— cravou os pés no chão, na base do muro, e aplicou chakra neles para melhorar o salto para cima num piscar de olhos; um movimento complexo para o menino de cinco dias atrás.

Manipulou o elemento explosivo para criar pequenas explosões com as mãos, primeiro a direita, depois a esquerda, para ganhar mais altura. Unificou as mãos, tecendo a marca do tigre, habitual para concentração básica de chakra, e tocou as solas dos pés na rocha. Ainda sorrindo, notou que não cairia se continuasse assim, pois o fluxo de chakra nas solas estava tão equilibrado quanto possível. Deu o primeiro passo, dando atenção ao chakra, e continuou mais alguns passos, sem problemas. Impulsionou-se para cima, usando mais uma vez a manipulação de chakra para produzir pequenas explosões que o mantiveram no ar ganhando pouca altura, só para se reconectar sem fazer o selo do tigre. Depois de outros dois passos, estava no topo. Ainda aplicou chakra nas palmas das mãos, fazendo uma tentativa de acrobacia para frente, e lançando-se mais para trás com as mãos imbuídas em chakra. Caiu sentado, porém, suas capacidades físicas não eram boas para aquilo. No entanto, não houve fúria, muito menos xingamentos.

Batsuki riu. Uma risada genuína porque mal sentiu o impacto da queda, o corpo começava a ficar mais durável. Um riso contagiante porque tinha conseguido não simplesmente usar o chakra, mas aplicá-lo com precisão em cada movimento. Diferentemente dos outros dias, ele podia notar como havia economizado em cada instante, não apenas isso, mas havia dado um jeito de manter a estabilidade mesmo criando combinações complexas.

Ele não era o mesmo de cinco dias ou anos atrás. Não, aquele era um novo Batsuki. Capaz de continuar em frente, indo com tudo, e ainda conseguir seu espaço naquele vasto mundo ninja. Satisfeito consigo mesmo, ele sentou na beira do muro e assistiu o nascer do sol antes de voltar para casa em paz.

Encarando o horizonte, porém, ele não viu o que o observava ao pé do paredão — e isso custaria caro mais tarde.

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