▸Uchiha Eileen.

Ó, a tempestade que se aproxima. Hei de se proteger frente às trovoadas violentas e relâmpagos que rasgam os céus em um resplendor único. Porém, não me impediria de cobrar as dívidas pendentes advindas de devedores do vilarejo. Sabia que meus deveres logo se iniciariam, e como um shinobi, tempestade alguma me abalaria. Medi meus passos até o gabinete, e alertei a atendente de minha iniciação como ninja. Não demorou muito para que a mulher deixasse um papel simples em referência ao meu objetivo, que como já previamente alertado - Se tratava da cobrança de dívidas de alguns homens que aparentemente tentavam burlar as leis do vilarejo da água.

Tão distante das demais nações - Coberto pela névoa densa, mas nós, que habitávamos a vila há tanto tempo, já havíamos nos acostumado com a sensação claustrofóbica e senso de direção prejudicado. Deixei o local rapidamente e direcionei-me até os subúrbios do Leste do vilarejo, onde a companhia sem registro do grupo de devedores se encontrava. Ao me aproximar, rapidamente percebi que conversavam baixo sobre alguma coisa, e ao notarem a minha presença, disfarçaram.

— "Por ordem da força tarefa da Névoa, estou vindo cobrá-los das dívidas que ainda não foram devidamente pagas ao gabinete. Peço que entreguem o valor estipulado imediatamente. Caso recusem, sofrerão as consequências legais e punições severas." — Os alertei de maneira direta, indo direto ao ponto.

— "Vá se foder, seu moleque! Você não é ninja porra nenhuma! Com um braço só, acha mesmo que iriam aceitar um aleijado como você?" — O mais velho do grupo gargalhava.

E de fato, eu não havia colocado a minha prótese naquele dia. Com apenas o braço direito à vista no kimono negro, não me abalei ou sequer demonstrei reação quanto aos comentários do homem, e apenas continuei no local. Com o tempo que se passava, os olhares de deboche passavam a perder a graça, e se tornavam olhares de preocupação. Os homens então se levantaram de suas cadeiras, e enfim pareciam ter decidido tomar alguma atitude. O mais novo entre eles foi instruído pelo mais velho a entrar em uma sala próxima, que ao ser aberta, um único som poderia ser ouvido - Tão rápido, quase imperceptível, que se assemelhava a um grito.

— "O que é isto?" — Questionei-os. — "Deixe-me ver o que há." — Continuei, me aproximando.

 Ao perceberem que eu havia notado a anomalia no interior da loja, se desesperaram. Tentaram de todas as formas me convencer de que não havia nada de errado, e até mesmo me ameaçaram com garrafas, mas apenas continuei meu caminho até os fundos da loja. Abrindo a porta com um chute poderoso direcionado em sua maçaneta, logo pude perceber o que de fato se tratava aquele estabelecimento. Duas garotas - Penduradas pelos braços, com ferimentos diversos pelos seus corpos. Ao lado das mesmas, um chicote, e ao fundo, o homem, que parecia estar coletando o dinheiro das dívidas. Eles eram traficantes de pessoas, e não apenas devedores imprudentes.

Ver aquela cena diante de meus olhos não foi fácil. Tentei evitar o contato ocular, mas era impossível desviar o rosto. O ódio que me tomou ao ver tal situação não era normal. Muito mais do que qualquer sensação que já tive antes - Eu enxerguei a minha própria irmã no rosto daquelas garotas, como se algo sobrenatural houvesse acabado de acontecer. Tanta crueldade. Tanta maldade. Por que tinha que ser assim? Eu não compreendia. O ódio leva ao ódio - E em mim, levou ao meu primeiro despertar. Mesmo sem deixar cair uma lágrima, paralisei com aquela cena. Era assustadora. Meus olhos se tornaram vermelhos, e minha mente vazia.

Pagariam com a vida. E assim foi feito - De um a um, os matei. Perfurações em seus crânios com uma kunai retirada de minha bolsa. Tantos ataques que acabei partindo seus crânios em pedaços. Eu ofegava ao fim, coberto por sangue, mas não me lembrava do que havia ocorrido. Eu havia os matado? Após alguns segundos, uma dor de cabeça acometeu-me, e ao olhar para minhas mãos trêmulas, percebi o que de fato eu havia feito. Porém, eu não poderia me arrepender daquilo. Foi a atitude certa, e disso tinha certeza. A promessa que fiz a minha irmão não poderia ir em vão.

Após a morte dos traficantes, rumei ao retorno do gabinete e relatei os acontecimentos - Que após ouvidos, a atendente tratou de acionar uma força especial que limparia o local, além de resgatar as reféns. E eu seria recompensado pelo cumprimento da missão. Eu estava nervoso e trêmulo, e retornei para a minha moradia ainda perturbado com as cenas que vi naquele dia. Porém, ao olhar novamente para o espelho, os olhos carmesim estavam lá. Desviei os olhares e tentei me acalmar...Porém não seria fácil.

O sangue Uchiha fervia...Assim como o ódio intrínseco desta linhagem.

Considerações: