O meu retorno a Kumo após minha mais recente missão não havia sido tão produtivo quanto desejava – e para meu desdém, o Raikage ainda não se mostrava disponível – ‘Que fúria! Logo quando preciso do homem...’ – Pensava para mim mesma, lembrando do fato de que, apesar de ser meu líder de time, quase jamais treinávamos ou saiamos do Gabinete para realizar alguma missão. Era um tanto frustrante... Mas, afinal, eu já era uma Tokubetsu Jonin. – ‘Mas, ainda vou fazer ele me ensinar algo útil, só esperar...’

Enfim, meus pensamentos se concluiram quando um ANBU, dessa vez bem gentilmente, bateu em minha porta e me entregou um pergaminho, ligeiramente se curvando. Já estava na hora de aparecerem...

Após a entrega do relatório da minha última missão, sabia que seria apenas uma questão de tempo para eles oficializarem a próxima – afinal, um indivíduo não-afiliado aos Jashinistas, que está vendendo drogas, armas e produtos ilícitos, e possui contatos com importantes figuras políticas...? Quer algo melhor para uma missão que requer furtividade?

Mais uma vez, saí do vilarejo assim que estava pronta – Organizando e depositando todos os meus equipamentos em seus devidos lugares. Gostaria de aproveitar a calma e o descanso por um pouco de tempo a mais... Mas o dinheiro extra na conta e o reconhecimento pelos meus feitos era sempre muito bem-vindo. O Tempo não parava, afinal. Era sempre uma corrida.

Saltei pelos tetos e paredes das habitações e montanhas de Kumo, e em pouco tempo, pergaminho de missão em mãos, saia do vilarejo.

O pergaminho contava com todas as informações adicionais que eu pudesse necessitar – Mas em toda a realidade, não havia nada que eu não soubesse. Afinal, quem conseguiu obter todas essas informações havia sido eu, e elas ainda estavam muito claras em minha mente.

Meu destino era uma das cidades mais afluentes e decadentes do país dos trovões – e por ser tão grande, havia demasiada presença dos Jashinistas do Pastor... Malditos hereges, estão por todo lugar! Hmph. Enfim, me desloquei até essa cidade, em uma viagem que foi ainda mais curta do que a necessária em minha última missão. Estava lá antes do pôr-do-sol, e esse seria o melhor horário para agir.

Havia algumas informações sobre meu alvo – Um homem de idade mais avançada. Cabelos grisalhos, mas não completamente brancos. Corpulento, bem exercitado. Rico, e se veste dessa maneira... Quase sempre acompanhado por dois guarda-costas, de força ou habilidade equivalente a Chunins – as vezes até mesmo Chunins de verdade, se ele tivesse o dinheiro ou a oportunidade de contratá-los.

Infelizmente, os contatos feitos entre este homem e o criminoso que eu havia eliminado o dia anterior eram quase sempre feitos á distância, através de correspondência com código, ou sempre em locais diferentes, ou pelos seus subordinados – Infelizmente, só sabia que ele estava, com completa certeza, nessa cidade, e que teria companhia.

Sabendo disso, ativei mais uma vez o Meisagakure no Jutsu, me tornando invisível ao olho nu, e comecei a percorrer os telhados da cidade, com olhos e ouvidos abertos, tentando avistar o homem, ou escutar sobre fofocas que talvez me levassem ao encontro do homem.

Minha busca pelo homem continuava a se estender noite a fio, sem nenhum rastro. Mas, isso já era de se esperar – se o homem estava envolvido com círculos de traficantes e criminosos, e já está a tanto tempo assim no mercado, deve ter uma cabeça formada em seus ombros, e está ativamente evitando chamar a atenção... Mas ainda assim, estava envolvido com a alta-vida e o crime organizado, então certamente teria um certo nível de presença nos círculos mais decadentes, ou nos círculos mais depravados.

Reconhecendo este fato, comecei a me deslocar pelos poucos lugares dentro de um vilarejo que se encaixavam dentro desses parâmetros – Os distritos da luz vermelha assim como as áreas de jogatina, cassinos e comércios envolvidos na utilização de drogas, como casas de ópio. Todas as vilas as tinham, até mesmo as mais limpas e salubres- era apenas uma questão de descobrir como encontra-las, e, bom, para mim, não era uma tarefa muito difícil.

Com observações bem direcionadas, ao topo dos vários telhados das habitações luxuosas que ficavam nessa área da cidade, comecei a vasculhar as partes mais internas desses distritos semi-ilicitos. Avistei alguns indivíduos que quase se encaixavam na descrição do meu alvo, e rastreei-os até poder confirmar que não eram, de fato, o contato do criminoso.

Próximo à meia-noite, finalmente avistei o homem, vestido em um luxuoso terno preto, sendo acompanhado por duas belas mulheres, abraçadas a cada braço dele, com dois brutamontes, também vestidos em ternos finos, mantendo vigia e dando maus-olhares para outros pedestres. Do momento em que eu o vi, tinha certeza absoluta de que era ele... Agora, vamos ver onde é sua casa.

Daquele momento em que eu avistei, eu comecei a rastrear o homem. Não seria bom o suficiente apenas atirar uma senbon contra a base do seu pescoço e mata-lo, não, eu precisava aniquilar toda a operação do homem, e retirar dele todas as informações que eu precisava... Para isso, precisava descobrir onde era a base de operações do homem. Os documentos que ele guardasse consigo seriam extremamente úteis... Não só para Kumo, mas para mim também.

O homem realmente parecia adorar seu estilo de vida decadente e afluente, vivendo nas bordas menos apreciadas da sociedade. Em uma espécie de setor restrito do vilarejo, se encontrava uma espécie de distrito da luz vermelha, jogatina, e uso de drogas. Era realmente inteligente o que eles haviam feito, restringindo uma área do vilarejo fora do alcance dos militares e dos policiais para que os indivíduos mais afluentes pudessem aproveitar seus vícios da maneira que desejassem... E este homem parecia realmente aproveitar isto. Saia de uma casa de drogas, ia para um puteiro, saia de lá com uma mulher presa ao seu braço, entrava em um cassino, e o ciclo se repetia – mas podia-se ver que ele sempre mantinha sua cabeça presa aos seus ombros, não deixava cair aos vícios, e continha suas vontades mais extremas.

Ainda assim, era apenas uma questão de tempo para que ele deslizasse – e ela finalmente chegou. Com uma mulher que poderia ser uma modelo presa ao braço, se aconchegando abaixo de seu queixo, o homem pareceu desistir da farra do dia e retornar para sua residência, um belo edifício de três andares mais próximo ao centro do vilarejo.

As janelas estavam todas fechadas... Mas um cadeado é só uma medida de manter pessoas honestas, honestas. Com uma senbon enfiada nos feches, foi apenas uma questão de segundos, e eu pisava, silenciosa, dentro da casa do homem. Hora da festa...

Agilmente espreitando pela janela arrombada e pisando suavemente dentro do cômodo, me encontrei em uma espécie de sala de estar – Uma entre várias, imaginava, devido ao tamanho excessivo da habitação. O local estava muito escuro... Isso não iria bastar. Retirei um pergaminho do meu colete, e, revendo os conteúdos, ativei uma técnica com um selo de mão – ‘Nekokaburi!’ – Emiti, em minha mente.

Em instantes, meu corpo estava coberto por uma fina camada de Chakra – Pelo menos, deveria estar, se eu ainda não estivesse fazendo bom uso dos efeitos do Meisagakure no Jutsu. Senti meus músculos se fortalecendo, e minha visão se tornava um pouco mais nítida. Perfeito.

Caminhei – com passos de gato – pela residência. Fiz nota de todos os lugares de interesse, e era realmente um local muito bem construído... Que pena que eu já havia decidido queimar o lugar, para cobrir meus rastros. Alguns lugares estavam iluminados – Um quarto onde escutava pequenas risadinhas, de um homem e de uma mulher, e o térreo, onde escutava um jogo de cartas em progresso... Ótimo.

Desci até o térreo. Segurei meu cajado firmemente, com as duas mãos... Virei o canto, e ví, no lado mais distante da residência, os dois guardas que eu havia avistado antes, jogando algum jogo de cartas. – “Psiu” – Falei, silenciosamente, ao mesmo tempo que desativei minha invisibilidade. Os dois levantaram os rostos e olharam direto para mim, atentos – Mas infelizmente para eles, foram de encontro com os olhos brilhantes do cajado, que eu segurava em minha frente... Completamente paralisados no lugar, poderiam apenas ver eu me aproximando, sem fazer um único som, e com muito cuidado, perfurando a base da nuca com uma senbon, calmamente rompendo os nervos que uniam o cérebro com o resto do corpo, imediatamente matando-os...

Foi tão eficiente que eu estava até surpresa comigo. E nenhum único ruído... Sorridente, caminhei até o andar superior, e me preparei para lidar com o meu alvo.

Próxima á porta onde o homem se tornava confortável com sua companheira noturna, eu foquei... Escutava os sons e os ruídos, e criava um pequeno mapa mental do que o quarto poderia ser. Deduzia, que estariam de cinco a sete metros da porta, mas não teria certeza. Efeitos acústicos não eram minha especialidade, afinal...

...Mas algo que era, de fato, minha especialidade, era Genjutsu. Com um sorriso no rosto e um breve selo de mão, me transformei em um dos dois guardas. Brevemente limpei a garganta com um ‘Há-hum’, Já me posicionando em frente a porta do homem, e com duas breves batidas na porta, me anunciei.

- “Chefe... Er... Desculpa incomodar, mas tinha alguém na porta que queria falar com o senhor.” – Falei pela porta. As risadinhas cessaram e o homem resmungou sobre algo, baixinho. – “Quem é que é!? Já falei pra não me encher o saco!” – Gritou o homem do outro lado. – “Chefe, falaram que eram oficiais de Kumo, pediram pra mim deixar isso com você... Parece urgente.” – Falei, puxando qualquer pedaço de papel dos bolsos ao mesmo tempo que me forcei pela porta, encarando o homem com meu disfarce. O homem estava profundamente ruborizado, e a dama que acompanhava ele parecia estar bem desconfortável, também... Mas apesar de parecer querer gritar comigo, entendeu que uma nota de um oficial de Kumo realmente era algo importante.

- “Então!? O que diz a nota!?” – Perguntou o homem, e eu flui meu Chakra pela pequena folha de papel... Genjutsu Shibari. Assim que eu entreguei o papel ao homem, vi ele completamente paralisado. Um sorriso no canto da minha boca se ergueu. Pulsei meu Chakra pelo cajado, e a mulher instantaneamente caiu no sono. Me aproximei do homem paralisado, e ri em sua cara. – “Nora Kumori quer falar com você.”

Levantei meu cajado e encostei ele contra a cabeça do homem, que agora estava suando... – “Me conte... Quem mais você conhece com o sobrenome Kumori...?”

Não demorou muito, em minha interrogação, para que eu descobrisse três coisas: A Primeira, esse homem era uma fonte de conhecimento sobre o lado negro de Kumo inestimável, estava envolvido em tantos círculos de traficantes, criminosos e políticos corruptos que ficava difícil de contar...! A segunda, ele não fazia a mínima ideia de quem ou onde estavam minha mãe e minha irmã... E eu vim aqui logo por isso. A terceira, é que cada segundo que eu passava aqui, era um momento que eu estava mais próxima de ser descoberta pelos lacaios do homem, e então eu não estaria em uma situação tão vantajosa...

Pelo que a língua do homem redizia, eu tinha menos de trinta minutos para sair dali, e trinta minutos não era tempo o suficiente para tirar dele todas as informações que eu precisava... Droga, seria um sequestro, então.

Comecei a pensar nos melhores métodos de agir, nessa situação... Fazer com que o homem simplesmente desapareça será muito óbvio. Não, eu precisava de um álibi e um motivo... Um olhar ao lado, para a mulher que inconsciente permanecia, me dava uma ideia.

Deixei o homem inconsciente, golpeando-o atrás da Nuca com o punho da minha Chakura To. Amarrei seus braços e pernas, cobrindo-o com um lençol de cor mais escura que eu havia retirado dali – Minha fuga seria muito mais complicada a partir daqui...

Preventivamente, estapeei meus brincos – O fluxo de energia ao meu cérebro e meu corpo era palpável. Estava pronta para agir. Sacudi a mulher, e da mesma maneira que fiz com o homem, induzi um potente Genjutsu nela – E eu realmente coloquei grande foco nesse Genjutsu. Fiquei quase um minuto inteira, imóvel, tecendo um complexo e potente Genjutsu... Assim que estava completo, agarrei o rosto da mulher, olhei nos olhos dela, e perguntei: - “O que aconteceu?”

Assim que a mulher piscou sua confusão para o lado, deixava seu queixo cair. – “Ele me chantageou... ele estava me ameaçando... eu me defendi... a casa pegou fogo... alguma coisa explodiu...” – Ótimo, pensava. Golpeei a mulher na nuca, minha lavagem cerebral havia dado certo... E mesmo que o Genjutsu perdesse a eficácia no futuro, ela já estaria presa nos mais profundos calabouços dessa cidade pelo crime que supostamente haveria cometido.

Com isto feito e falado, abri dois pergaminhos que guardava em minha pessoa – Duas dúzias de papeis explosivos em minhas mãos. Espalhei eles por alguns pontos estratégicos da casa, a fazer como se fosse um incêndio que se tornou uma explosão de gás... Arrastei a mulher inconsciente para perto de uma das portas. Ela iria acordar com a explosão. Em pânico, mas iria acordar...

Já o homem, eu jogava sobre meu ombro – “Filho da mãe pesado!” – Resmunguei, tendo um pouco de dificuldade para levantá-lo, mas felizmente, podia fazê-lo e me movimentar ainda sem muita dificuldade.

Aproveitando o véu da noite escura, comecei a saltar pelos telhados, rumo a Kumogakure no Sato... – ‘Kaboom.’ – ...E atrás de mim, uma enorme bola de fogo, onde a residência do homem uma vez já foi.

Cruzei os vales, picos e terreno selvagem entre Kumo e minha cidade de destino, evitando as rotas principais – algo que adicionou considerável tempo á minha viagem de retorno... Mais uma vez, já estava acordada a mais de vinte-e-quatro horas, e o céu do novo dia brilhava com o sol do meio dia... Exausta e ofegante, trafeguei pelas áreas menos movimentadas de Kumo da maneira mais sorrateira possível, tomando uma rota secreta pelos esgotos, até chegar em meu verdadeiro destino final: Os Calabouços do Departamento de Inteligência.

Este homem seria levado até as mais profundas celas – não haveria questão de que ele seria torturado e manipulado para extrair cada última gota de informação que ele tinha... E, é claro, trazer mais ordem e justiça a Kumo através desses conhecimentos. Para mim, o lado bom seria se ele soubesse sobre qualquer pessoa que pudesse estar envolvida com os escravistas que me atormentavam na infância... E então o jogo iria realmente começar. Teria a cabeça daqueles filhos-da-mãe em estacas antes do final do ano, marque minhas palavras.

Mas, enfim, com o homem retirado da minha ‘guarda’, poderia finalmente descansar meu corpo e minha mente – Os dias mais recentes haviam sido bem tumultuosos... E eu tinha um pressentimento de que as coisas ainda não estavam prestes a ficar melhores.

Após deixá-lo na guarda dos outros operativos do departamento, retornei até a superfície e me apresentei ao quadro, onde entreguei o pergaminho lacrado da missão para o responsável, redigindo um breve relatório da minha missão - espelhando o que estava escrito em tal - e avisando sobre o fato de que nosso alvo havia sido retirado em relativa segurança, para posterior interrogação.

...Agora, vamos descansar estas pernas latejantes.