Até poucos momentos atrás, estava em meu apartamento, raciocinando sobre minha situação atual... ‘Bom, não sou fraca, pelo menos eu creio... Mas se ele pode com tanta facilidade me manipular e me distrair, até mesmo proclamando que apenas jogava um jogo comigo, eu ainda não sou forte o suficiente.’ Era o sumo dos pensamentos que cruzavam minha mente. De fato, eu havia praticamente sido derrotada pelo homem... Eu sair no topo no final foi apenas resultado dele cometer um erro crítico: Me subestimou no final. Perdeu sua vantagem... Eu não poderia depender na estupidez dos meus inimigos para vencer todas as minhas lutas, afinal. Tinha que poder garanti-las mim mesma.

Então, em um rotineiro passeio pelo quadro de missões, um pergaminho entre vários outros, me chamou a atenção... A missão, em total honestidade, não era nada especial, apenas lidar com alguns mercenários barra renegados foragidos – Mas para mim, era uma grande oportunidade... Aqueles nomes me eram familiares, de algum lugar, e eu sabia que poderia obter algo dali. Afinal, se um dos escravistas que estava envolvido em minha captura a tantos anos atrás estava aqui em Kumo, o que impedia que outros não estivessem?

Estes, porém, não eram unicamente escravistas – aparentava ser um grupo de mercenários especializados em transportes de valores e trafico de substâncias e itens ilícitos. E, em conformidade, haviam sido percebidos navegando pela costa norte-leste de Kumo, em uma praia rochosa e desabitada.

Eu, por minha parte, não iria deixar essa oportunidade passar. Recolhi meus equipamentos, todos, organizei e poli minhas armas e bradei meu cajado próximo ao corpo. Basicamente ordenei ao Chunin responsável pelo quadro de missões que me entregasse aquela missão especificamente – Reconhecendo um pouco de minha fama dentro do vilarejo e minha afiliação com o Raikage, não demorou para concordar.

Em questão de horas eu já estava partindo – Kumo era apenas mais um pequeno ponto no horizonte, e eu era uma tempestade navegando pela atmosfera.

Poucas pistas eram dadas no pergaminho da missão. Apenas citações de alguns avistamentos, e um local aproximado. Isso, porém, não era problema para mim: Sabia que era parte dos trabalhos de uma investigadora agir e trabalhar com menos informações do que são suficientes, e apenas preencher as lacunas com o que eu precisava.

Esse caso, não era nada diferente. O Primeiro passo nessa missão seria de me deslocar até a costa noroeste do País dos Trovões. O terreno, como sempre, era extremamente irregular e de difícil navegação – Mas com já meia-década vivendo nesse lugar e atuando pela região, não era nem sequer um contratempo para mim.

Cheguei na região designada após cinquenta-e-duas horas de viagem, tomando dois intervalos de seis horas durante o percurso, para dormir, descansar, comer e me localizar. Meu primeiro destino era uma pequena cidade costeira com menos de quinhentos habitantes – Iria perguntar para os habitantes se haviam notado alguma coisa fora dos conformes.

É claro, a cidade também estava infestada pelos Jashinistas hereges que seguem as palavras do Pastor. Minha vontade era mata-los todos ali mesmo... Mas isso não seria produtivo, no momento. Apenas coletei meus pensamentos obscuros e continuei a vasculhar pela presença dos meus inimigos – Pelo menos os Jashinistas pareciam mais aptos a contribuir quando mencionava que estava na busca de potenciais escravistas para assassiná-los.

Nesta cidade, coletei algumas informações críticas para minha procura, e parti diretamente ao norte, vasculhando as praias por qualquer sinal de movimento atípico – Afinal, o próximo povoado ficava a quase cinquenta quilômetros de distância dali, e todo aquele espaço entre as duas cidades jamais via sequer algum movimento.

Utilizando as informações obtidas e que eu já possuía, deixei minha intuição me carregar o restante do caminho, e ela estava plenamente correta.

Não podia depender de pegadas para localizar meus alvos, pois as praias rochosas não permitiam isso, mas a maneira em que algumas das rochas haviam sido deslocadas, e como havia um pequeno rastro de umidade onde normalmente não teria... Foram as pistas que eu precisava.

Fiquei na espreita pela região e finalmente, após quase doze horas de observação, notei um bote se aproximando no horizonte, nos mares turvos. Minha mente rapidamente rebateu para eventos de alguns dias antes, onde me deparei com uma técnica extremamente útil... – “Meisagakure no Jutsu” – Suspirei, ainda me escondendo entre a vegetação costeira e rochas pontiagudas, me tornando completamente invisível ao olho nu. Agora, a vantagem era completamente minha.

Utilizei a invisibilidade visual garantida pela técnica para me espreitar para uma posição mais vantajosa, onde pudesse observar o bote se aproximar. Conforme ele se aproximava, mais detalhes poderiam ser observados, entre eles, o fato de estar sendo tripulados por três pessoas mascaradas, e dois barris, além de outros pequenos pacotes, também estavam a bordo.

Agilidosos, o seu percurso demorou menos de 10 minutos – Do avistamento no horizonte até o desembarque na praia. Observando de longe, notei que alguns dos sinais que eu havia notado eram causados pelo fato de que eles afundaram o bote após aterrissar, prendendo-o debaixo d’água com várias rochas, para não ser notados. Isso explicava as manchas de umidade e as pedras fora de posição.

Invisível e distante, continuei a observá-los por cima do terreno rochoso, e continuei a rastreá-los até onde levavam aqueles suprimentos.

Não esperava que seria tão fácil assim encontrar a base de operações desses criminosos – Creio que estavam já acomodados com sua situação ou eram tremendamente inexperientes... Mas meu ego me dizia que eu era simplesmente uma boa Shinobi.

Supervisionava os movimentos que ocorriam logo abaixo. Não era uma operação muito grande, mas certamente parecia ser bem organizada, e o local que escolheram seria ideal – Ficava em uma alcova entre dois morros, em uma espécie de vale, abaixo de uma Saliência rochosa. Seria difícil de ver até mesmo se eu pudesse voar, mas do nível do chão, não era tão complicado.

Havia, porém, um grande número de oponentes. Não reconhecia o nível de habilidade deles, mas poderia deduzir, pelas vestimentas, pelos equipamentos e pelo condicionamento físico que provavelmente não passavam do Rank Genin, com algumas exceções. É claro, estava em uma desvantagem numérica de vinte a um, pelo que eu podia contar até então... Mesmo tendo certa confiança em minhas habilidades, não desejava ver se elas iriam me carregar hoje. A fortuna me favorecia, mas o objetivo a longo prazo é não precisar do favor da fortuna.

Enfim, me sentei. A noite aproximava já, e decidi que seria um bom momento para apenas observar e descansar, até o nascer do sol – Manteria meu foco por aquele tempo... Essa seria a hora em que eu descobriria quanto tempo, afinal, eu conseguia passar sem dormir.

Enfim, meu objetivo pelo dia, como estava em plena desvantagem numérica... Seria de identificar as rotinas e os hábitos de operação desses criminosos. Reconhecimento, absorver informações e descobrir como eles se distribuíam pelo acampamento.

[...]

Horas mais tarde, com um novo nascer do sol se aproximando, marcando o início do terceiro dia seguido que permanecia alerta e atenta, decidi que era uma boa hora para encerrar minha observação. Durante todo aquele tempo, permaneci quase imóvel, silenciosa, com minha técnica de invisibilidade ativa.

As informações que havia extraído furtivamente durante aquele período seriam todas plenamente úteis – Descobri que o horário de saída deles para suas ‘entregas’ aparentava ser noturno, saindo antes do pôr do sol até durante a madrugada. Algumas divisões partiam por bote, e outras partiam por terra. Parecia que os navegantes traziam as mercadorias e os ambulantes levavam-nas para potenciais revendedores – mas não tomei a diligência de pesquisar onde estavam levando-as, isso, eu logo iria descobrir.

Também notei que estavam todos quase sempre de volta ao acampamento pelas seis horas da tarde, quase o mesmo horário em que havia identificado os indivíduos que eu rastreei. Sempre haviam nada menos que sete guardas em posto que nunca saiam do acampamento, mas pareciam não levar seu trabalho muito a sério. Também havia um outro indivíduo mais vestido como Shinobi, que logo notei que aparentava ser o líder da operação, e não saia muito de sua tenda, fora para ordenar e organizar os outros criminosos.

Decidi que iria agir durante a noite, enquanto se arrumavam para descanso, tomando grande nota do fato em que a janta era o momento em que pareciam estar mais desatentos para o que ocorria ao redor deles.

A Noite finalmente caiu sobre o acampamento. Sorridentes e alegres, os criminosos pouco sabiam que a morte era a única coisa que aguardava eles em breve sequência.

Foquei, respirei, me alertei. Evitei de fazer barulhos, mas já faziam quase sessenta horas que eu permanecia acordada sem descanso, apesar de manter meus movimentos mínimos e apenas me atentar a eles.

Aguardei o momento mais oportuno, e, como uma víbora... Dei o bote. Estapeei os brincos, acelerando meu corpo. Flui Chakra Raiton pelo meu corpo inteiro, acelerando meus reflexos e meus movimentos, e mantive o Meisagakure ativo por todo esse tempo. Com passos suaves, deslizei pelo paredão de rocha. Em menos de cinco segundos estava de frente com três homens, já um pouco embriagados e cansados de um longo dia de trabalho.

Nenhum deles nem notou quando eu rapidamente cortei suas gargantas e larguei-os ao chão, um atrás do outro. Minha Chakura To era banhada em sangue e Chakra Suiton. Em meros instantes, estavam desfeitos. Era importante eliminar esses três, primeiro, pois sua chegada seria o alerta da troca de guarda.

Falando da troca de guarda, os observadores estariam agora apenas prestando atenção na chegada da sua reposição. Não chegaria para eles, porém, pois um-a-um, eu cortava suas gargantas e cuidadosamente deixava seus corpos ligeiramente escondidos. Sem guardas, sem alarme.

Um a um, o restante dos homens saia da congregação, havendo consumido a janta, e se preparando para dormir. Com corpos mortos espalhados pelos cantos do acampamento, fiz questão de rapidamente eliminá-los antes de poderem virar os cantos – É claro, tudo usando o conhecimento das suas rotinhas que eu havia obtido durante o dia anterior... Tudo de acordo com o plano.

Você realmente percebe a fragilidade da vida quando consegue eliminar, permanentemente, mais de duas dúzias de pessoas em meros minutos... Que bom que eu não tenho tal vulnerabilidade. O cheiro de sangue no ar era opressivo, mas trazia certa forma de conforto para mim, em alguma parte da minha alma.

Com todos os homens mortos, deixados onde mais conveniente, com sangue escorrendo em grandes poças pelo chão... Sobrava apenas mais um. E se eu estivesse correta, ele iria aparecer pela porta em três, dois, um...

- “...Boa noite.”

- “Que P-?”

Não teve a mínima chance de reagir antes de já estar inconsciente ao chão, preso em minha ilusão.

A manhã se aproximava. O céu ficava claro e as nuvens da manhã eram iluminadas pelo suave brilho dourado do sol. Em minha frente, o ‘chefe’ dessa operação, inconsciente. A cabeça do homem tilteava... Balançando de lado a lado enquanto ele lenta, lentamente retornava ao mundo consciente.

Desta vez, é claro, com menos armas em sua posse e imobilizado contra uma cadeira por vários fios de aço. Não precisava tomar nenhum risco, e não iria começar agora.

- “Bom dia! Bem vindo ao mundo dos vivos.” – Falei para o homem semiconsciente, que imediatamente pareceu ficar mais atento com minha voz ecoando pelo vale. – “Seus meninos tem sido garotos muito levados... Mas não se preocupe, eu já lidei com eles.” – Falei, levantando uma estaca onde descansava fresca uma das cabeças do homem que havia assassinado á meras horas atrás. Aquilo pareceu chamar a atenção dele de verdade.

- “G-Gh! O que você fez, sua vadia!? Quem você é!? Me solte daqui!” – Ordenava o homem, gritando suas baboseiras... como se ele não soubesse o que estava acontecendo aqui.

- “Vamos, vamos, meu caro... Não precisa usar esse tipo de linguagem. Somos pessoas civilizadas...” – Falei, bradando a navalha da minha Chakura To, observando meu reflexo no metal polido. – “...Mas é claro, eu posso me rebaixar ao seu nível, sem problemas.”

Encarei o homem por alguns instantes. Estava aterrorizado! Pobre criança, heh.

- “De volta ao assunto em questão. Meu nome é Nora Kumori, e fui enviada por Kumo para dar um fim a sua operação... Agora, me conte tudo que eu quero saber, ou seu dia vai ficar muito, muito pior... Jigyaku no Jutsu!”

É claro, eles sempre escolhem o caminho dos teimosos. Podia morrer com dignidade, mas não... Preferiu sofrer antes. Não que eu me importasse em levar o lixo do mundo para fora, é claro. Tudo em um honesto dia de trabalho.

Com o homem em minha plena mercê... A missão estava praticamente completa. Minha observação dos movimentos deixou eu bem alerta para qualquer coisa que estivesse fora do normal, e após eu começar a torturar ele com a técnica das duas colheres de chá e um saca-rolhas, ele começou a piar igual um canário.

Infelizmente, não havia adquirido aquilo que eu estava procurando... Mas talvez algo ainda melhor. Agora, de volta em Kumo, poderia fazer meu relatório calmamente... É claro, somente após eu tomar uma noite para descansar e me recuperar – Não aguentava mais ficar acordada.

Enfim, assim que acordei, destruí o que restava do acampamento e queimei os corpos e contrabando em uma grande pilha. Em seguida, disparei de volta para Kumo, e me dirigi até o quadro de missões, devolvendo o pergaminho e entregando prova da missão completa.

- “Nora Kumori, Tokubetsu Jonin, Número de registro 602413, se apresentando para entrega de relatório de missão. Parti em direção a costa noroeste do país em busca dos alvos, visitei uma cidade brevemente para adquirir informações, e em seguida, segui os rastros até um grupo dos traficantes, os quais eu segui até o acampamento. Vendo que eu estava em desvantagem numérica, observei os movimentos e rotinas de todos eles por dois dias até bolar um plano de ação para eliminá-los todos de uma única vez. Assim que agi, matei todos os traficantes, exceto o líder, em dez minutos.” – Afirmei, enquanto jogava o pergaminho com uma versão mais completa dos eventos até o responsável pelo quadro. – “Capturei e interroguei o líder. Descobri de onde recebem as drogas, e também para onde as revendem. Descobri também que eles possuem um contato importante aqui no país, que precisa ser eliminado... Estarei aguardando o depósito em minha conta assim que conveniente. Passar bem.”

Sem mais nenhuma palavra, minha missão estava completa – E eu realmente precisava de um banho. Sangue não sai fácil da pele.