Tinha que admitir, que, apesar de eficientes e definitivamente funcionais, os métodos de tortu- erm, treinamento de Tanki eram... Um tanto arcaicos. Punições, metas e objetivos demasiadamente exagerados e difíceis, um nível de dificuldade nada menos que extremo...

...Mas, pensando bem, essa era a vida de uma Shinobi. Sempre arriscando a vida, sempre entrando em situações onde a morte estava a poucos momentos de distância... Sempre sofrendo com um tutor que lhe dá objetivos muito além da sua capacidade atual. Pelo menos, eu podia admitir com certeza de que, no fim, todos os treinamentos estavam sendo eficazes.

Eu estava me limpando após mais um longo banho, tentando remover o cheiro de urina de gato (Agora descobri o que era) da minha pele e meus cabelos. Eu teria minha vingança, sim, um dia, mas o restante do dia seria aproveitado para descansar e aproveitar a vida...

...Isso, é claro, se um pergaminho não houvesse sido arremessado pela minha janela da sala, estilhaçando-a em centenas de pequenos pedacinhos. ‘Eu acabei de polir e limpar... Qual o problema desse cara?’

ANBU, Mensageiro ou Departamento de Inteligência? Ainda não sabia, mas logo iria descobrir. Tanki era uma pessoa cruel e quase sem limites, ainda mais com o espaço pessoal de outras pessoas, mas ele sabia que não era uma boa ideia danificar o meu apartamento... Minha vingança viria como um raio. Repentino e absoluto, sem chance de fuga ou vitória.

Mas, não me importava com a pressa deles no mínimo, ainda mais se não são capazes de simplesmente bater em minha porta... Me sentei, calmamente, e tomei o meu chá. Teria meu descanso, antes de mais nada.

Merda, Merda, Merda! Devia ter prestado atenção no pergaminho, tinha que ter uma razão pra ele ter sido arremessado pela minha janela daquele jeito... Não me entenda errado, eu ainda vou arrastar a cabeça do filho-da-mãe que arruinou minha janela contra o asfalto, mas agora não era hora para tais pensamentos, era hora de correr.

Pulei por uma das janelas distribuídas na ‘Zona Limpa’ do departamento de inteligência, ou melhor conhecida como a ‘Área onde não torturamos ninguém.’ Saltando para dentro do cômodo, me dei de cara com um dos outros responsáveis do departamento de inteligência, este não sendo nem Tanki nem o Administrador, mas outro Investigador de renome.

- “Nora, está atrasada.” – Bradou o homem, mas antes que eu pudesse me desculpar ou falar qualquer coisa, o homem continuou a falar. – “Recebemos relatórios sobre um homem estranho cruzando a fronteira. Seus papeis estão todos em ordem, mas algo aparenta estar errado. Ninguém conhece o homem, e ele diz apenas estar ‘em passeio’. Além disso, sua assinatura de Chakra é potente... Diria que se assemelha á de um Tokubetsu Jonin, igual a você. Sua missão é encontrar o homem, rastreá-lo, e descobrir o que ele realmente é.” – Finalizou o homem, arremessando um pergaminho em minha direção que eu colhi agilmente. – “Boa sorte, e aja rápido. Dispensada, soldado!” – Ordenou o homem, e eu apenas acenei a cabeça e saltei por onde eu entrei. Direto ao ponto, e sem nenhum insulto desnecessário... assim que eu gostava.

Destramente abri o pergaminho, enquanto andava pelos telhados em direção aos portões de Kumo – Meus equipamentos já estavam todos em ordem, eu só precisava partir. Lí outras ordens e informações relevantes registradas no pergaminho, indicando sobre o paradeiro do homem em uma pequena cidade turística, próxima a fronteira, três dias atrás.

Parece que podemos ter um infiltrado em nossas mãos, pelo que me dizem... Hora de descobrir de onde esse filho da mãe é.

A Viagem até o pequeno vilarejo foi plenamente simples – Cheguei lá em questão de horas, seguindo as rotas mais diretas. Apesar de ser próximo a fronteira, o caminho até o lugar era basicamente uma linha reta, sem quaisquer interrupções...

Porém, chegando ao lugar, coçava minha nuca. ‘Onde será que esse cara se enfiou?’ Pensei para mim mesma, vasculhando as ruas populosas com meus olhos. O homem que eu procurava realmente se vestia de maneira excêntrica: Cabelos roxos, terno branco com detalhes rosas, altura de dois metros e dezenove centímetros... Em outras palavras, um canhão em um palheiro.

Ainda assim, o homem permanecia elusivo. Perguntava aos moradores locais sobre o homem – é claro, não podia indicar que eu estava a busca dele por motivos oficiais, então tinha que disfarçar minhas intenções. Nada que um pouco de conversa furada não resolvesse, fazendo-os comentar sobre pessoas interessantes que haviam visto pelos arredores, me fingindo de moradora também...

Mas, após um longo dia de procura... Ainda nada. ‘Será que ele já saiu do vilarejo...? Ou talvez a inteligência esteja errada?’ Lá no fundo, não rejeitava a ideia de tudo isso ser uma jogada de Tanki para experimentar minhas habilidades... Mas também sabia que apesar de cruel e com métodos bizarros, o homem tinha extrema seriedade com sua função. Logo, joguei fora essa hipótese, e continuei vasculhando as ruas noite afora, procurando pelo misterioso indivíduo.

Finalmente, pistas. Bom, estavam mais para migalhas, mas eu as tinha em mãos. Um velhote qualquer do vilarejo havia avistado o homem – este marcado com cicatrizes e calos que indicavam uma longa vida no campo de guerra. Fazia sentido que esse velhote seria o homem que teria notado a presença de um ‘homem estranho’.

Enfim, a dica do velho era de que o homem que eu estava procurando estava limpando todos os cassinos do vilarejo – o ódio dos donos e guardas era real, pois não conseguiam provar que o homem estava roubando ou trapaceando em seus jogos, e quando viam ele dentro do estabelecimento, ele já estava colhendo sua recompensa. ‘Um mestre em infiltrações... Só a minha sorte.’

Enfim, aquele era meu destino – Como era uma cidade composta em grande parte por um comércio virado á turistas, a quantidade de cassinos e casas de jogos era alta. Tão alta, que não iria conseguir visitar todas em um único dia. Tive que alugar um quarto de hotel durante a noite naquele dia, e não reservei esforços para completamente barricar o local durante a noite.

No dia seguinte, a busca se continuou – Nada do homem, em nenhum lugar. Perguntando a clientes e funcionários das empresas, alguns comentavam que o homem era um ‘Paspalhão trapaceiro!’ e que ‘Ele está banido permanentemente daqui’. Interessante, mas nada indicava para onde o homem teria ido...

Tarde da noite, próximo a meia noite, decidi parar de vagar sem rumo e sem fazer nada, e decidi finalmente sentar-me em uma das mesas – Poker, um jogo simples de sorte, para mentes dedicadas. Comecei com um maço de 100’000 Ryous, e entrei no jogo com uma pilha decente de fichas – Hora de ver se a fortuna também estava comigo nos jogos.

Algumas rodadas foram jogadas – eu, com minha feição inabalável, conseguia blefar meus oponentes com demasiada facilidade, mas lá no fundo, não estava realmente me sobressaindo. Havia aumentado minha pilha, mas não estava indo tão bem assim.

Uma nova rodada começou, sete pessoas na mesa, além do Dealer. Três mulheres, contando eu, e cinco homens. A partida começou fraca – minha mão não era das melhores, mas tinha um rei e um valete de ouro. As três próximas cartas que saíram não montavam jogo, mas tinham mais duas cartas de ouro... havia uma chance pouco menor de 50% de sair mais um ouro, e com um Flush, a vitória era quase garantida...

Mas então, do canto do olho, vi um pequeno brilho rosa... Calmamente virei minha cabeça, e meus olhos deram de encontro com a feição elegante e bela, cabelos cacheados pintados de roxo, e terno fino branco. ‘Esse cara não estava ai á dois segundos atrás!’ Exclamei para mim mesma, tentando manter a mesma feição calma e coletada, devolvendo o sorriso que o homem me mostrava. – “Estou apostando tudo.” – Falou o homem, agora com um sorriso presunçoso no rosto.

Olhei para minha mão... Não, não iria valer. – “Estou fora” – Falei, enquanto todos os outros da mesa faziam o mesmo... O sorriso do homem cresceu, ele coletou as fichas, se virou, e partiu, deixando o ar com uma sensação... Fria? Estranha? Quem será é esse cara...?

Bom, pelo menos agora sei quem é meu alvo, agora só tenho que manter ele na mira.

Quase arranquei meus cabelos quando perdi o homem de vista, mais uma vez. Nada era tão fácil quanto parecia, afinal. Mesmo tendo encontrado o homem, ele era... Extremamente elusivo. De alguma maneira, conseguia desaparecer nos instantes que eu piscava os olhos! Era inquietante.

Logo após o jogo de poker, ele se retirou da mesa e partiu para recolher suas fichas. Eu, decidindo cortar minhas percas e progredir com a missão, imediatamente fiz o mesmo. O homem permaneceu completamente quieto durante a transação, e nem sequer me olhou... Mas algo me dizia que ele estava plenamente ciente da minha presença logo atrás dele.

Saindo do estabelecimento, o homem começou a calmamente percorrer as ruas do vilarejo, passeando na área central da cidade, que mesmo á tarde da noite, ainda era extremamente movimentada devido a natureza turística da cidade. O movimento deixava difícil seguir o homem, mesmo com sua aparência tão inusitada...

...E o mais estranho, é que parecia que ninguém notava a presença estranha do homem. Ele esbarrava contra pessoas que nem sequer viravam os olhos para ele... ‘Que raios d’água está acontecendo aqui!?’ Perguntava a mim mesma.

Bom, a partir de então, o homem apenas continuava a ficar ainda mais difícil de seguir. Virava em becos estranhos, subia escadarias e descia em túneis, passava por aglomerações, trançava ao redor de lojas... E constantemente desaparecia de vista, para logo reaparecer alguns minutos depois.

- “Quem será que você é...?” – Perguntava a mim mesma, curiosa sobre a natureza do homem que eu perseguia...

Havia continuado a perseguir o homem, percorrendo toda a área central da cidade, enquanto ele visitava, conversava e comia, mas de alguma maneira, parecia que nunca conseguia me aproximar – Não podia ser vista, afinal, então tinha que me relegar a me esconder nas sombras, e seguir de longe.

Finalmente, após longas horas, parece que o homem decidiu parar de perambular pela cidade, e arrastou uma cadeira para a bancada de um bar. Em poucos momentos, estava tomando grandes goles de uma taça com chopp, desatento dos seus arredores, apenas aproveitando a noite... ‘Meu momento de sorte!’ Estava extásica, e esperando para que o homem estivesse desatento, rapidamente me aproximei, entrando no estabelecimento sorrateiramente, e então coloquei uma mão sobre seu ombro, o agarrando.

- “Senhor, vou precisar que o senhor venha comigo!” – Exclamei, já agarrando o homem e o puxando para fora do estabelecimento, mas algo... estava... estranho...? Me virei para o homem que eu agarrei, e... – “Espera ai, você não é a pessoa que eu estou procurando!” – Nem sequer tinha os cabelos roxos, e era quase quarenta centímetros mais baixo...!

O homem, sendo arrastado para longe de seu copo de cerveja por nenhum bom motivo, logo se mostrou agitado: – “Me larga então, Guria! Não enfia o teu nariz onde não é chamada!” – Gritou, me empurrando e voltando para seu lugar, não antes de virar olhos raivosos para mim mais uma vez, e cuspir em frente aos meus pés... Fantástico.

Mesmo assim, algo estava errado – Eu o tinha em minhas mãos! Ele estava em minha frente... Ele realmente estava! Como será que ele conseguiu desaparecer...? Eu acho que continuará sendo um mistério... Não é algo que eu possa resolver, e realmente, não tem ninguém em Kumo que irá conseguir consertar isso. É melhor eu desistir e voltar pra casa...

...Espera... O que... Desistir? Eu não desisto tão fácil... Mas que coisa... É essa...? Meu Chakra...? Estranho... AH, CARALHO!

- “GENJUTSU: KAI!” – Exclamei, no topo dos pulmões – e, neste único momento, senti duas sensações distintas: A primeira, o esforço e gasto de chakra necessário para resetar meu fluxo de Chakra, e a segunda, uma enorme claridade de todos os eventos que haviam acontecido, nos últimos dois dias... ‘Esse filho da mãe me colocou em um Genjutsu no momento que eu entrei na cidade!? Como que eu não percebi antes!’

De fato, toda a perseguição, todas as perguntas, todas as dicas até agora... Deixadas diretamente pelo homem. Ele que fez todo meu trajeto, estava apenas-

- “Jogando um jogo com você?” – Escutei a voz, vindo de um beco. Olhei para a escuridão, vendo apenas dois olhos roxos me olhando do vazio. – “Mas é claro, bonitinha... Você parece bem divertida, e eu também já quero mandar uma mensagem pros toscos lá da sua vilazinha.”

A voz do homem era alegre e animada, mas o desprezo de sua voz quando se dirigia a mim ou a Kumo era palpável... – “Quem é você? O que você quer?” – Perguntei ao beco escuro.

- “Acho que está bem óbvio, eu quero jogar...” – Falou o homem, com voz melada. – “Quanto ao Nome, por que não vem aqui e descobre?”

E com isso, senti mais um forte empuxo em minha mente, tentando me arrastar para dentro do beco... Sai fora! – “Genjutsu: Kai!”

- “Ah, então vai ser do jeito difícil.” – Falou o homem, e foi só isso que eu escutei antes de uma Kunai cintilante e polida atravessar o ar em uma rajada de vento – ‘Rápido!’ – Pensei, evadindo a lâmina afiada por meros milímetros, forçando meu corpo a realizar um Shunshin. – ‘Valeu, Tanki...’

E, com isso, o invasor desapareceu mais uma vez – não estava mais no beco, e eu não escutava sua voz. Rangi meus dentes... Parece mesmo que vai ser do Jeito difícil.

O homem mostrava ser um verdadeiro espinho na minha carne. Como um fantasma, um gato da noite, desapareceu como uma sombra, e a cada instante que se passava buscando traços do homem, o seu rastro ficava ainda mais frio.

Devido aos momentos anteriores, sabia que não podia abaixar minha guarda – Meu Chakra fluía de forma uniforme, e qualquer alteração notada seria lidada com uma rápida e potente utilização do Kai, e mesmo que ele conseguisse me capturar dentro de um Genjutsu... Eu saberia que estava presa em um.

Era esse pequeno conhecimento de que eu estava preparada para as ilusões do homem que me mantinham percorrendo a noite quase sem medo ‘É claro, além da imortalidade e tudo mais...’ Mas, mesmo assim, eram apenas migalhas, pequenos rastros que o homem deixava, e com minha mente agora sã... Tinha absoluta certeza de que era proposital.

Sim, de fato, o percurso que eu estava percorrendo seguindo essas pequenas deixas – areia no chão, poeira, pegadas, movimento estranho, pequenos feixes de roxo... Tudo me trazia até a borda da cidade, onde terminava em um grande campo de florestas coníferas.

Eu sabia que ele estava me levando para algum lugar, e também tinha quase plena certeza de que ele também estava ciente disso. ‘Que pena.’ Notei, descartando a ideia de uma armadilha inusitada. Infelizmente, não poderia confiar apenas na minha habilidade neste momento – teria de deixar com que a minha fortuna me desse favor nesse momento, também.

O rastro finalmente cerrou completamente em um campo vazio, cercado de um lado por pavilhões e armazéns e pelo outro, das florestas mencionadas. Nada. Nem sequer um rastro... Merda. O homem certamente conseguia cobrir seus rastros quando queria...

...Mas eu também não era uma investigadora por qualquer motivo. Ainda não era a melhor rastreadora... Mas podia observar os movimentos da grama, os pequenos insetos se movimentando, os movimentos dos pássaros noturnos logo acima, o fluxo do vento...

...E com tudo aquilo, minha intuição estava plena. Abri os olhos, e me levantei, sacando minhas duas Chakura To dos meus pulsos. – “Atrás da quinta árvore, na esquerda. Após a rocha. Pode se mostrar.” – Declarei para a escuridão, fixando meus olhos naquela posição. Alguns instantes se passaram silenciosos... E então palmas lentas iriam ecoar pela clareira.

- “Garota esperta!” – Falou o homem de cabelos roxos, se mostrando, com um grande sorriso no rosto. – “Parabéns... Como recompensa, vamos dançar.” – Concluiu, bradando sua própria Kunai. Vamos ver quem é o melhor, então, mocinho...

Ficamos nos encarando ali, armas empunhadas, por alguns momentos... Como em um Impasse de Faroeste. Uma folha caiu da árvore próxima a ele, e quando ela tocou no chão... Tudo aconteceu, em meros instantes.

A velocidade do conflito era realmente rápida demais para eu fazer sentido de tudo que estava acontecendo – apenas o mais crítico registrava em minha mente. A velocidade do homem era tremenda, e em alguns momentos, eu nem sequer conseguia acompanhar seus movimentos... Mas eu sabia que estava se aproximando.

Com um breve selo de mão, ergui um feixe de água visando perfurar o homem em seu peito – “Suiton: Suiten Hōfutsu!” – Havia exclamado, mas o homem realmente se mostrava muito mais rápido – Deslizou por baixo do feixe, e continuou avançando.

Kunai bradada, o homem estava a menos de dois metros de mim, e parecia que estava indo direto para a garganta. – “Suiton: Suijinheki!” – Invoquei, conjurando um paredão de água utilizando os restantes dá última técnica, protegendo-me do avanço do homem... Que por sua vez, apenas ergueu as mãos e fez a barreira cair, inofensivamente. ‘Que técnica será que é essa!?’

Me joguei para trás, dois metros, com um Shunshin, evadindo um golpe que seria tipicamente letal. Pulsei meu Chakra pelo meu corpo em um breve momento de contato visual – “Kokuangyo no Jutsu!” – Exclamei, tentando por o homem em um mundo de trevas, e utilizei o mínimo instante em que ele estava cego para me proteger do golpe que veio em seguida, levantando minhas Chakura To e fluindo Chakra Suiton por elas.

Para a surpresa do homem, sua Kunai foi partida ao meio, quase sem resistência... De fato, as Kunais do homem aparentavam ser customizadas, mas não eram nada quando comparadas a minhas Chakura To. – “Gostou!? Tem mais!” – Exclamei, dessa vez levando a minha própria rajada de golpes contra o homem desarmado...

Mas ele continuava sendo mais rápido. Meu Genjutsu já havia se mostrado inefetivo a este ponto, e eu sabia que precisava de um auxílio pra superar ele. Tentei bater os dedos nos brincos, mas ele foi mais rápido... Dois dedos vieram contra minha testa, e eu não consegui reagir a tempo.

...Quando eu acordei, no dia seguinte, o sol do meio dia já brilhava.

Lá no fundo, estava surpreendida, apesar de uma forte sensação de erro e derrota percorrer meu peito. Estava em plena posição para ser assassinada, ali e então... E ele me deixou viver. Quem, afinal, era esse homem, e o que ele queria?

Me ergui dali, notando que não estava em estado pior do que estava ontem, mas uma coceira no canto do olho... Indicava que havia uma longa senbon enfiada diretamente contra meu cérebro. Retirei-a, calmamente... Então ele havia tentado me matar...

Antes de poder formular uma estratégia contra um oponente que acreditava que eu já estava morta, encontrei um pequeno bilhete escondido no meu colete... ‘Eu Sei’, ela indicava, e logo abaixo, um endereço, em uma vila próxima...

Suspirei profundamente... Logo minha sorte.

Não havendo mais nenhuma pista ou direcionamento óbvio, e sabendo que o homem não era um risco só para meu país... Mas também para mim mesma, eu determinei que a solução mais direta era a mais óbvia – Seguir as pistas do homem, e ir até o local em que ele me direcionou.

Eu reconheci o nome do vilarejo de tempos passados na biblioteca do vilarejo, analisando os livros sobre as mais importantes cidades e rotas comerciais do país dos trovões. Essa vila era certamente pequena, mas tinha um pouco de destaque sobre as outras – vulgo, era um centro Religioso entre os povoados ao redor.

Não imaginava, quando cheguei próxima, de que agora seria um centro Religioso para Jashinistas.

Os símbolos eram marcados nos muros, nas casas, no chão. Pessoas vestiam o símbolo Jashinista orgulhosamente, andando pelas ruas como se fossem donos do lugar, sem qualquer preocupação...

Eu, por minha parte, sabia que essa não era uma situação que eu queria me envolver. Antes mesmo de me aproximar do local, me retirei para uma alcova próxima, e escondi todos meus equipamentos Shinobi, muito similar a maneira com que eu fiz em Uzushiogakure, mas dessa vez, sem a maquiagem... Esperava que ficar de cabelos soltos fosse suficiente para não ser identificava, pois meu nome já percorria alguns círculos.

Lá dentro... Fiquei surpreendida ao descobrir que não precisei procurar pelo homem. Foram meros minutos andando pelas vias principais, e o encontrei, encarando-me, sentado na área externa de um bar... Apenas me fitando com seus olhos, e indagando para que eu aproximasse.

Ao mesmo momento, senti uma profunda alteração no meu fluxo de Chakra... Era estranho. Tentei dissipar com apenas minha mente, sabendo que era algum tipo de Genjutsu... Mas não conseguia. Meu chakra simplesmente não me obedecia. Como se meu controle não fosse mais suficiente. Levantei meus olhos para a feição do homem, e apenas via seu grande sorriso, com um mundo vazio ao redor. Não querendo chamar a atenção, calmamente, lentamente, juntei as mãos em um selo, e tentei mais uma vez, dessa vez, tentando estabilizar meu Chakra de forma mais potente. O pulso de chakra era quase palpável no ar...

E funcionou. O homem continuava sorrindo. Eu, continuei me aproximando.

Não parei de me aproximar. O homem, realmente parecia que tinha algo a falar para mim. Infelizmente, minha aproximação era constantemente perturbada por ilusão, atrás de ilusão...

- “Moça, você tem que ir pra casa, você tá bêbada... vem comigo, eu te levo” – Falou um homem, este, também, bradando o símbolo de Jashin, estando um pouco embriagado, tentando colocar a mão em meu braço. Eu, como de costume, apenas rebati a mão do homem e continuei andando em direção ao bar. – “É apenas o calçado novo, moço, to aprendendo o equilíbrio ainda. Não precisa se preocupar.”

Como esperado, o homem se mostrou zangado, pensando ter uma chance fácil comigo... Nem em um milhão de anos, Herege nojento. Deixei os pensamentos odiosos de lado pelo momento e me foquei na realidade – A cada poucos segundos, Genjutsu Kai, Genjutsu Kai, Genjutsu Kai... Eu continuava quebrando-os, e a cada um que eu quebrava, as sobrancelhas do homem ficavam cada vez mais altas em seu cenho.

- “Ora ora, pequena Nora. Você é realmente surpreendente...” – Falou o homem, acenando com o braço para o assento vago em seu lado... Como é que ele sabia meu nome... – “Você deve estar se perguntando como eu sei seu nome.” – O que? – “Bom, pequena Nora, nós já nos conhecemos... A um bom tempo.”

Como assim...? – “O Administrador mandou você me testar? Quem é você?” – Indaguei ao homem, me sentando e cruzando meus braços, notando que a barragem de ilusões parava momentaneamente. Aproveitei o momento para tecer uma ilusão própria – tentando distorcer o mundo do homem com o Cajado.

O homem, simplesmente riu, estilhaçando a ilusão com um estalar dos dedos. – “Administrador? Nem sei quem é esse cara... Não, Norinha, eu viu aqui por você... E trago uma mensagem!” – O homem falou. Uma mensagem?

- “Deixa eu ver... Se não me engano, foi assim que ela falou: Aaah, aaah, me tira daqui, não me machuca... eu imploro... buaaa...” – Falou o homem, com uma voz mais aguda e tom de zombaria, antes de dar uma gargalhada... Mas que merda? – “Você tem os olhos dela, sabe?”

Meu corpo agiu quase por si próprio. Pulei como uma mola solta em direção ao homem – Mas mais uma ilusão tomou controle do meu corpo. Ele me agarrou e me abraçou, rodou comigo... Quem esse filho da mãe acha que é!?

- “Ah... Norinha... Você não quer fazer uma bagunça por aqui, quer? Olha só todo esse pessoal... Eles não gostam nada de Shinobis. Você não quer deixar seu segredinho vazar, quer?” – Indagou o homem, me soltando, permitindo que eu desfizesse a ilusão.

Em meu rosto, o mais puro ódio. – “Onde. Está. Minha. Mãe!?” – Perguntei, atrás de dentes cerrados. O homem apenas gargalhou mais uma vez. – “Nora, Nora! Só trabalho, trabalho... Não pensa em se divertir, as vezes?” – Falou gesticulando para os arredores. – “Não está cansada de agir como eles querem? Você não tem vontade de se soltar? Eu sei como você pensa, Norinha, eu também penso assim... Por que se curvar para os mais fracos, quando você pode dominá-los...?” – Antes que eu pudesse falar mais algo, levantou a mão, e me interrompeu. – “Antes de mais nada... Minha cara Nora, Um jogo?”

Olhei para a mesa. Xadrez. O jogo dos reis.

- “...Por que não?”

Não era apenas um jogo de Xadrez... Não. Era um campo de guerra psicológica. Cada movimento, cada passe, cada captura... Era espelhada e igualada por uma ilusão.

Para o mundo afora, não parecia nada mais do que um casal jogando um jogo de Xadrez na mesa de um bar. Mas o segredo é que dezenas de ilusões, das mais simples, as mais complexas, as mais sutis, estavam constantemente sendo lançadas, de frente a trás... E nós dois permanecíamos implacáveis para o resto do mundo.

O sorriso dele, presunçoso, era espelhado pelo meu, cruel. Era um duelo mental do mais alto calibre...

- “Então, Nora, como passou esses últimos anos?” – Perguntou o homem, ao mesmo tempo que tentava trazer memórias do meu passado turvo ao centro da minha mente... Rebati a ilusão facilmente, e com o Cajado, lancei uma própria, mostrando para ele duas gargantas que eu havia rasgado.

- “Ótimo. Melhor do que jamais estive. Aprendi alguns novos truques...” – Respondi. O homem descansou a mão na mesa, lançando outra ilusão. As peças perderam coesão, e um mundo vazio tomou conta... Rebati essa ilusão também.

- “Meus parabéns. Você está bem longe daquela pirralhinha fedorenta que eu conheci...” – Respondeu o homem, com olhar adoecido, devido a ilusão de larvas comendo sua carne que eu havia lançado. Essa, também, parecia ter sido rebatida com facilidade.

Mais uma ilusão retornava a mim, a figura de Jashin, me partindo ao meio... Fácil de desfazer. – “Você ainda não me contou seu nome, nem o que quer.”

O homem, simplesmente gargalhou – “Nora, ainda não aprendeu? Tudo em seu devido tempo... Mas vou te contar por que estou aqui.” – com um balançar da mão, senti todos os músculos do meu corpo contraírem, e tive que resistir a vontade de gritar em dor... Selo de mão, e com mais uma utilização do Genjutsu: Kai, estava livre. – “O que você acha? Estamos apenas tirando uma ameaça do caminho – Ainda bem que você teve a boa-vontade de mostrar a cara para o mundo novamente. Achou que nós nunca iriamos voltar?”

- “Jamais fiz nada a vocês” – Proclamei, fitando o homem com um olhar mortífero. – “Quer vingança pelos amiguinhos seus que eu matei? Ótimo. Mas eu digo que é algo bem merecido... E você logo vai se juntar a eles, também.”

- “Ahhh, Nora, Sua arrogância e prepotência é muito, muito animadora. Tão jovem, tão cheia de si... Vai ser ainda mais divertido quebrar você do que foi quebrar sua mãe e sua irmã.”

Rangi os dentes... Esse cara... Esse cara vai morrer. Joguei o copo para frente – E ele levantou a mão e pegou, sem derrubar uma única gota... Mas, com esse único momento de distração, e rebati a mão nos brincos. Agora é hora de jogar, então.

- “Cavalo para F-6. Faça sua jogada.”

Por um instante, parecia que o homem não estava mais tão confiante em si mesmo...

A Primeira ilusão que o homem teceu contra mim, após a ativação dos brincos... Percebi quão potente era ela. Também, imediatamente, notei quão fácil ela era de quebrar... Aquele pequeno salto, aquele pequeno pulo intelectual... E eu já não era mais afetada por tal cosia. Um estalo de dedos, e a ilusão foi rompida, fácil assim.

- “Que porra é ess-“ – Ele tentou falar, mas não havia tempo para agir. Não mais, devia ter me matado quando teve a chance...

- “Rainha para B-6. Vamos, faça uma jogada... Yosue, certo?” – Falei, olhando nos olhos do homem. Pouco ele sabia, eu já estava infiltrando a mente dele, caçando tudo que estava na superfície. Seus olhos, quase saltaram das órbitas.

- “Como voc-!?” – Levantei minha mão, o impedindo. – “Ora ora, Pequeno Yosue. Não quer começar uma bagunça aqui, né...? Olha quantos jashinistas... Ouvi falar que eles não gostam de Ninjas.” – Continuei falando, imediatamente rebatendo todos os movimentos do homem no tabuleiro com um ainda melhor.

Senti mais uma vez um empuxo contra meu sistema de Chakra. Hah, estava tentando manipular meus movimentos... Homem bobo. Nem precisava quebrar essa ilusão. Apenas sorri e pisquei para ele, mais uma vez, manobrando ao redor das sugestões psicológicas. – “Uma ilusão desse nível não funcionará comigo, Yosue-chan” – Movi mais uma peça no tabuleiro, estava próxima.

Suor frio pingava do cenho do homem. Ele sabia que poderia lutar e correr, fazer uma grande distração para fugir... Mas seu ego e seu orgulho não iriam deixar. Ele havia encontrado uma oponente ao seu nível... Mas pouco sabia, não iria ser hoje seu dia de glória. – “Xeque. Seus movimentos estão ficando fracos, está precisando de uma ajudinha? Não se preocupe, Yosue-chan, após eu arrancar onde estão minha mãe e irmã de você, eu te ensino como jogar.”

- “Silêncio, sua pivete!” – Ordenou o homem. Eu, por minha vez, agora assistindo as mesas estarem viradas, apenas ri. – “Eu vou ter grande prazer em arrancar cada dente da sua boca...!”

- “Será?” – Perguntei ao homem. Nossos olhos se encontraram. Eu pulsei meu Chakra. Um sorriso cruel, cruel em meu rosto...

Teci a mais potente ilusão da minha vida. Questionar tudo que o homem jamais havia visto. Destruir sua mente, acabar com sua integridade mental. Mostrar para eles, terríveis terrores, além da compreensão... Nada que eu não houvesse visto em primeira pessoa, é claro. Não seria uma morte cerebral... Mas ele jamais seria o mesmo depois disso. Apenas um fantoche...

- “Você pode ter ajudado a destruir minha família... Mas seu crime hoje foi outro, muito maior. você me subestimou, Yosue. Por isso, o preço é sua vida e sua liberdade. Xeque... Mate.” – Anunciei, derrubando o Rei Branco. Os olhos do homem começavam a pulsar em suas órbitas, vazios... Saliva branca e viscosa caia de sua boca. Ele não iria mais ser um problema. Nunca mais.

Não pensava que hoje seria o dia que eu estava mais próxima da minha vingança.

O Retorno para Kumo ocorreu brevemente após nosso embate. Minha ilusão teve o efeito pretendido – Imagens traumáticas destruíram a mente do homem. Estava em pleno estado de Catatonia... E foi fácil carrega-lo em cima dos ombros após vencê-lo. Tive que fazer algumas manobras e responder algumas perguntas difíceis, saindo da cidade, mas não havia nada em meu caminho para me impedir, em toda a realidade.

Esse homem havia assinado seu atestado de óbito o dia que decidiu pisar dentro do país. Agora, sua eventual morte seria garantida – Estava lacrada nos mais profundos calabouços do departamento de inteligência... E eu teria um bom dia de trabalho, futuramente, terminando de arrancar tudo que eu podia do homem.

Agora, estava sendo ‘interrogada’ pelos meus superiores. O Administrador, Tanki e o outro investigador, o qual eu ainda não sabia o nome, estavam ao redor da sala.

Tanki, como sempre, corria sua boca em tangentes, preenchidas de insultos, me criticando pela performance e pelo o que eu havia feito com o homem – de fato, quando eu falei que ele havia me desmaiado na noite anterior, o homem quase teve um derrame, e jamais tinha visto seu rosto tão vermelho... O outro investigador apenas levantou uma mão e o aquietou, e se pronunciou: - “Me explique novamente, Nora, o que aconteceu...?”

- “Em resumo, Yosue Getarou, Nukenin Rank B, Especialista em Genjutsus e em Infiltração, invadiu o país dos trovões com o objetivo de me encontrar, por algum motivo que eu ainda não conheço, mas provavelmente para me matar. Tentou me subjugar com suas ilusões, mas eu provei mais forte em minha convicção, e então eu o coloquei em choque catatônico, através de uma ilusão.” – Repeti, afirmando, pela terceira vez, os eventos dos últimos dias. – “Ele estava lá, no dia em que meu povoado foi aniquilado... Não irei aceitar nenhum comentário sobre minhas ações. Não irei admitir que fiz algo de errado. Por tudo que eu creio, este homem devia ter sido esquartejado onde eu o encontrei.”

O Administrador se afastou da parede, e saiu da sala. Sem nenhum comentário, além de um aceno positivo da cabeça. Conhecendo o homem, isso era basicamente uma forma não verbal de dizer ‘Por que eu estou aqui?’, ou, em outras palavras, ele não acreditava que eu havia feito nada de errado para necessitar sua presença.

Tanki ainda era a pessoa mais rabugenta que eu conhecia, mas nem ele poderia contrariar o Administrador. Ele também apertou os ombros e saiu da sala, batendo os pés. Teria que aceitar minhas ações.

- “Certo... Creio que isso conclui nossa conversa de hoje, Nora. O Saldo da missão será depositada na sua conta...” – E, com isso, eu ligeiramente me curvei e comecei a sair pela porta.

- “Ah, Nora?” – Continuou o homem, logo antes deu sair. Me virei para o homem, acenando positivamente para mim, com um sorriso de canto de boca. – “Bom trabalho.”

Devolvi o sorriso, e continuei caminho afora. Mais um dia, mais uma missão completa.