I'm friends with the

monster

that's under my bed

Desprender-se do passado é uma tarefa difícil para a maioria das pessoas e Ryugan não era exceção. As memórias dolorosas ainda estavam frescas em sua mente, principalmente por não fazer muito tempo desde que os fatos ocorreram. Naturalmente, ele buscou maneiras diferentes de suprimir as emoções negativas advindas das lembranças. O seu papel como ninja de Iwagakure preenchia certa porção do vazio deixado em seu âmago, mas os momentos em que encarava o nada permaneciam recorrentes, mesmo que de forma reduzida se comparados à frequência de outrora. "Uma mente desocupada é a oficina do diabo." — Recordou uma das citações de sua mãe, típicas frases que as figuras maternas gostam de repetir para a sua prole, porém aquela em específico era bem aplicável para o Jūgo. Estava claro que precisava se ocupar com alguma coisa.

Aliando sua necessidade com sua própria vontade e também com a sugestão indireta de sua falecida mãe, decidiu que a melhor alternativa para resolver o seu problema, pelo menos por enquanto, seria simplesmente treinando e aprimorando suas capacidades em conjunto. Poderia parecer uma atividade óbvia e talvez trivial para a maioria dos ninjas de qualquer lugar do mundo, no entanto, o jovem não possuía esse costume. Em verdade, ele sempre dependeu de seu talento inerente da linhagem da qual fazia parte, nunca precisou se esforçar para chegar onde chegou. Soava até injusto, até certo ponto, todavia, um shinobi mais experiente sabe com toda a certeza que uma pessoa assim estava fadada a fracassar eventualmente. Não dá para confiar somente nas habilidades inatas, é preciso desenvolver novas aptidões ao longo do caminho, pois os demais o farão e, uma hora ou outra, o esforço irá superar o talento. Por mais que o poder bruto de seu clã fosse algo a ser temido, Ryugan era apenas uma maçã verde diante do que poderia se tornar; imaturo, seu potencial ainda estava muito longe de ser atingido.

O corpo musculoso, muito por conta de sua linhagem, era apenas um reflexo disso. Apesar de possuir uma resistência e vitalidade natural muito aquém do que se esperaria por conta do desleixo e falta de treino, sua força física era pífia comparada aos músculos que possui, digna de pena. Frustrava-se por não conseguir arremessar uma shuriken além da marca dos doze metros, seu recorde pessoal. Ao refletir sobre aquilo, percebeu que, mesmo que não fosse sua intenção, ainda era dependente do nome Jūgo neste aspecto. Como queria livrar-se da associação daquela palavra até limpá-la, viu um único meio de fazê-lo era o que havia decidido pouco antes. O primeiro passo em direção de seu próprio caminho era, em sua essência, fortalecer o corpo e mantê-lo saudável. Para tal, começaria com exercícios básicos, mas que não deixavam de ser extremamente importantes.

Os pés desnudos tocavam o familiar piso amadeirado de seu pequeno quarto, sentia-se mais confortável em se exercitar distante de olhos que poderiam julgar o seu desempenho. Ereto, inspirou profundamente, deixando o ar escapar pelas vias aéreas pouco tempo depois e, junto dele, qualquer distração. Estava focado no que estava se propondo a fazer. Olhando para baixo, dobrou os joelhos lentamente, agachando até que pudesse apoiar as palmas da mão no chão. Suspirou novamente, esticando não só os braços como também o tronco e todo o resto de seu corpo, mantendo-se razoavelmente rente em relação ao solo. Os medianos fios negros de cabelo estavam presos por uma fita na cabeça, assim não atrapalhariam os movimentos e nem a sua concentração. Efetivamente, estava empurrando o assoalho para continuar naquela posição. Até então, estava apenas se preparando.

Relaxou a parte superior com leveza, fazendo com que os cotovelos curvassem em um ângulo de quase noventa graus até que parassem, aproximando o seu rosto da superfície de madeira significativamente. Então, tencionou os músculos dos membros em que se apoiava para deixá-los retos outra vez. A primeira flexão não exigiu muito do ninja, o que era o mínimo a se esperar. A segunda repetição veio logo em sequência, executava movimentos idênticos aos anteriores sem muita cerimônia, embora tomasse uma pequena pausa entre as interações por não estar habituado com a dinâmica. Na terceira, já sentiu sua respiração alterar o ritmo involuntariamente. Na quarta, seus antebraços começavam a mostrar sinais que não eram dotados o suficiente para continuar por muito tempo. Na quinta, a primeira gota de suor escorreu pela testa. A partir da sétima, a arritmia assíncrona de seu fôlego com a movimentação mostrou-se um empecilho. Ofegante, o sopro que soltava pela boca era quente o suficiente para condensar as gotículas de água ao entrar em contato com o piso, deixando-o marcado com a umidade que agora fazia-se presente em um formato circular. Perpetuar a postura enquanto se exercitava tornava-se uma tarefa cada vez mais difícil.

Foi entre a décima primeira e a décima segunda arqueadura que as fibras musculares iniciaram a fraquejar, em especial as dos braços e antebraços que tremiam frente ao esforço no qual eram submetidos. Antes que pudesse terminar a flexão, os membros cederam, incapazes de permanecer sustentando todo o peso sozinhos. Além do arquejo proveniente de Ryugan, o único outro som que pôde ser escutado naquela exígua conjuntura de acontecimentos era o barulho de seu corpo chocando-se contra o chão. Mais uma vez, o sentimento de frustração com a própria adinamia se repetia, parecia ser incapaz de performar uma atividade que aparentava ser tão simples. Evidentemente, aquilo era fruto de seu conformismo. Contudo, o fracasso não faria com que ele desistisse. Não ainda. Como bem sabia, aquele era apenas o ponto de partida, teria que se dispor a sofrer muito mais do que aquilo caso quisesse chegar em algum lugar que não fosse mais uma falha. Usando de sua determinação que era alimentada por seu desejo de eximir a desonra que seu sobrenome carregava, encontrou forças para continuar, levantando-se com as mãos e voltando ao exercício.

Quando parou, o soalho estava escorregadio demais para prosseguir por conta do líquido incolor que escorreu em decorrência de sua transpiração. De novo, o som de Ryugan batendo na madeira podia ser ouvido. Estava exausto demais, sequer teve tempo para sentir as dores que viriam posteriormente. Depois que o efeito da adrenalina passou, seus olhos cansados pesaram como se fossem duas âncoras. Não teve outra opção senão dormir ali mesmo.

HP: 475/475 | CH: 575/575 | ST: 00/04

Considerações:

Armamentos: