Seyse acordou disposta a colaborar com a sua vila, embora suas capacidades atuais não fossem suficientes para realizar grandes feitos. O sol estava radiante, sentiu o clima seco, mas levemente ameno, a partir da umidade baixa da primavera. Precisaria estar habituada ao suor naquele dia, pois a Uchiha faria trabalho manual perante o ar livre. Após o inverno duro de Iwagakure, as obras de infraestrutura da vila seriam recomeçaram, e a jovem Genin decidiu estar apta para auxiliar de alguma forma. Caminhou em passos largos em direção ao canteiro de obras, aguardando as instruções a serem designadas pelo Mestre de Obras
Estava devidamente equipada para a ocasião, trajando uma jaqueta curta de linho azul e nenhuma camisa por baixo, apenas a cota de malha, servindo para ocultar os seios e gerar certa proteção para compensar as roupas leves. O seu abdômen estava desnudo, para transpirar melhor e gerar conforto. A coloração de sua saia era similar a jaqueta, tão curta quanto, embora estivesse utilizando um short de tom mais claro, gerando contraste e prevenindo ventanias desagradáveis que poderiam expôr demais de si. Ambos os braços estavam equipados com bandagens, enquanto ambas mãos estavam cobertas por luvas longas, cujo intuito principal era prevenir machucar suas mãos enquanto trabalhava. Finalizando o seu traje, um par de meias longas eram utilizadas, cuja coloração remetia às suas luvas, dando suporte para a sua sandália, equipada com um salto de cano curto, dando mais alguns centímetros para si, embora não muitos.

Se Seyse chamou atenção com suas vestes? Ela mesma não conseguiria responder, afinal, estava focada em receber os comandos do dia. Mas alguns olhares, distantes ou de soslaio, talvez chegaram até sua silhueta. Era típico de operários ou funcionários do cunho comentarem acerca de futilidades para descontrair a rigidez do ambiente de trabalho, caso suas curvas tenham virado pauta, a mesma não suspeitaria. Não era comum uma mulher oferecer a si mesma para trabalhar em conjunto homens em atividades manuais, a mera presença da Uchiha no local ocasionou murmúrios e falatório.

— Jovem! Não sei o que pensa que está fazendo aqui, mas deixo você avisada de que não é um lugar para mulheres. A floricultura está pra aquele lado — o homem de voz áspera, aspecto musculoso e barba espessa apontou, mantendo o olhar fixo em Seyse, para a direção da Floricultura da Vila — Mas caso queira fazer uma massagem enquanto aproveito meu intervalo, serei eternamente grato — ele riu.

— Sou uma Kunoichi de Iwagakure — apontou para a bandana em sua testa — Estou aqui para cumprir uma missão e ajudar na reforma da vila.

— Lembro que na missão pedimos UM jovem, não UMA — respondeu, dando ênfase na diferença entre os gêneros — Onde estão todos os machos dessa vila? Não se fabricam mais ninjas como antigamente.

O comportamento dos cidadãos de Iwagakure era severo, duros e rígidos como pedras. Na concepção deles, uma mulher, por mais apta que fosse para a função, não poderia desempenhar tarefas historicamente realizadas por homens. Seyse não havia nada a dizer sobre isso, por um instante sentiu imponência e até mesmo inexperiência em lidar com uma situação tão controversa. Precisaria estar habituada ao mundo dos ninjas, diferente em todos os aspectos ao mundo doméstico, para isso iria requerer força de vontade e determinação.

— Eu farei alguma coisa, não importa o que seja — reuniu coragem e respondeu-lhe, irredutível.

— Huh. Que assim seja, então — algo no olhar do homem mudou, menos inquisidor. Dessa vez, estava analisando a Uchiha como se estivesse equivocado, em partes — Olhando para os seus bracinhos de moça, você não aguenta carregar sacos de areia, rochas pesadas e muito menos ajudar na escavação. Sinceramente, não teria realmente nada que você pudesse fazer... Exceto... — pôs a mão sob o queixo, pensativo — Você pode pintar todas os muros e cercas que levantamos até agora na vila, além dos antigos que ainda estavam por aí. É tudo que posso oferecer por agora, enquanto você não come mais feijão — Seyse sorriu, satisfeita.

Com o auxílio de um carrinho de mão, para carregar todos os baldes de tinta que seriam necessários, Seyse Uchiha partiu para a conclusão de sua missão de pintar os muros e cercas da vila. Eram tão diversos quanto casas, mas iria concluir a sua missão com orgulho. As tintas eram predominantemente brancas, talvez por ser uma cor mais barata, dado ao momento econômico da vila. Pintou cuidadosamente os muros, mantendo técnica e foco para que cada centímetro fosse completamente coberto de tinta. O suor escorria por sua testa enquanto focava nas atividades, e depois de pintar algumas vezes sentiu um leve desconforto. Era mais cansativo do que aparentava.

Alguns moradores viram os seus esforços. Os mais conservadores, julgaram, principalmente mulheres mais velhas que questionaram a atitude “descabida” da kunoichi, enquanto outros consideram o gesto nobre. Seyse conversou com quem fazia perguntas ou até mesmo questionava suas atividades, embora em nenhum momento perdeu a concentração ou parou de pintar. Recebeu alguns flertes, outros pediram para que desse um retoque na pintura de suas casas e até mesmo algumas ofensas, pelos mais variados motivos, mas o consenso geral era por estar quase sem roupa.

— O dia está quente. Uma roupa não define o caráter de ninguém — retrucou aos mais ranzinzas, apesar de não estar realmente utilizando roupas tão chamativas, apenas trajes leves para a ocasião.

Pintar as áreas cercadas era mais tranquilo, pouco fluxo de pessoas e em quantidade um pouco mais reduzida. Cercas eram voltadas ao âmbito de impedir a fuga de animais ou proteger plantações de invasões, áreas habitadas geralmente preferiam utilizar muros, por serem mais altos e resistentes. Limpou o rosto úmido de suor com a jaqueta, com alguns salpicos de tinta da qual precisaria se preocupar na hora da lavagem. Preferiu permanecer sem a peça pelo restante do dia, para evitar que as costas ficassem tão suadas e o odor desagradável acumulasse. Com o passar das horas, acostumou-se com a pintura e, ao fim do dia, quando enfim finalizou todas as suas funções, estava satisfeita.

Seyse retornou para o canteiro de obras, com o intuito de devolver o carrinho de mão e os resquícios de tinta, assim como requisitar a sua recompensa. Os cabelos estavam tão molhados por suor que aparentava ter tomado um banho, e o odor tão desagradável que precisaria de um banho demorado. Havia sido uma longa tarde, tão cansativa quanto a atividade requeria, mas não fraquejou por nenhum momento. Dessa vez pôde reparar em olhares, principalmente por conta do seu aspecto “sujo”. As vestes imundas de tinta e suor eram o que mais chamava atenção, assim como algumas partes de seu corpo. Estranhamente, Seyse sentiu-se bonita com marcas de tinta, talvez por orgulho de ter conseguido concluir.

Após finalizar o cronograma para o dia, apressou o passo para que pudesse tomar um banho. Escolheu as Fontes Termais, permanecendo no recinto até que se sentisse disposta a sair. As vestes sujas de tinta e o seu aspecto chamaram atenção, mas não se importou com os detalhes. Aos poucos, apesar de estar fazendo atividades simples, pensava cada vez mais sobre ser uma Kunoichi da Pedra.

HP: 825 / CH: 1075 / ST: 00/07

”Traje”:

Considerações: