O começo mostra-se a parte mais difícil de uma jornada. Haveria de ser uma kunoichi, sim, mas por qual caminho ela deveria começar? Seyse não sabe, seu primeiro objetivo será descobrir. Encerrou seu banho rapidamente desta vez, embora fosse comum demorar mais alguns minutos. Caminhou em passos largos, quase apressados, até o Campo de Treinamento. Se quisesse bons resultados, seria interessante começar o mais rápido que pudesse.

Mas por onde começar?!

Gargalhou, por tamanha a sua estupidez. Percebeu que não sabia nem ao menos o que estava fazendo. Mas decidiu que descobriria, naquele momento. Contemplou o ambiente, tentou raciocinar além do seu raciocínio fraco e decidiu: ”Irei correr, pular, rolar, dar cambalhotas, fingir ser uma ninja. Talvez dê certo. Talvez não dê. Tenho de tentar”

Não tinha disciplina o suficiente para montar um cronograma de treino eficiente. Muito menos discernimento para saber o que precisava fazer, mas Seyse Uchiha lembra do que deseja para si. Não podia ficar parada, precisava fazer algo, por pior que fosse a sua tentativa. Aqueceu-se brevemente, para resguardar a si mesma de uma possível distensão. Terminados os seus alongamentos, poderia esboçar seu treino sem maiores preocupações além dos seus resultados.

Testou os limites do próprio corpo, correndo o mais rápido que conseguiu pela maior quantidade de tempo que poderia. Não era a mais rápida kunoichi que conhecia, apesar de não ser tão lenta. E muito menos a mais resistente, apesar de não ser molenga. Mas quando fez isso, não quis tornar a si mesma mais veloz, apenas avaliar a sua resistência. O resultado não foi como esperava. Queria ser capaz de durar mais, caso fosse necessário.

Alguém que queira perseguir um sonho, não deveria se cansar tão rápido.

Testou fazer flexões, abdominais, saltos, polichinelos e até mesmo girar ao redor de si mesma. Suas primeiras tentativas foram deprimentes, até mesmo frustrantes. A exaustão a perseguia sempre que estendia por mais do que suportava. Queria ultrapassar os próprios limites, mas romper aquela barreira parecia impossível. Quis desistir, mas faltava-lhe a força para dizer a si mesma que era incapaz. Então ela tentou, de novo e mais uma vez. Novamente, e depois consequentemente. Exercitou-se até que pudesse fazer mais flexões do que sua mente fraca poderia contar. Ou o seu abdômen suplicar para que se exploda, mas não antes de oferecer o melhor desempenho de todos.

Estava progredindo, aos poucos, apesar de desejar que aquilo tudo acabasse o mais rápido possível. Treinar era entediante, detestava fazer as mesmas coisas por diversas horas seguidas. Não se sentia viva quando estava agindo de forma tão sistemática, preferia ser espontânea. Era uma mulher espontânea, queria que as coisas se encaixassem em si perfeitamente. Mas o mundo era deste modo, como um quebra-cabeça sem encaixes perfeitos. Fez um breve intervalo, nem mesmo com toda a sua determinação poderia treinar para sempre, a sua vontade era de ferro, mas seu corpo não era.

Após sua pausa, recomeçou lentamente outro aquecimento. Os seus cabelos estavam úmidos de suor, algumas gotas escorreram teimosas por sua testa. Quando pudesse, faria algum treino capaz de fazer com que o suor diminuísse, Seyse considerou algo útil a se fazer. Recomeçou o treinamento de forma similar ao começo do seu turno, simplesmente avançando com o máximo de fôlego pelo Campo de Treinamento, permanecendo no ímpeto até seu limite ser atingido. Dessa vez, notou durar por mais instantes que a sua primeira tentativa. O primeiro progresso notório.

Não deixou o seu sucesso momentâneo subir a cabeça, estava longe de ser realmente uma boa kunoichi. Dessa vez, refez as flexões, abdominais e polichinelos com maior intensidade, dividindo cada turno em 50 sessões, duplicando a sua quantidade anterior. Desta vez teve ainda mais dificuldade, precisando de leves pausas até que estivesse apta para recomeçar e tentar novamente, cansando-se antes de finalizar as sessões. Bebeu um pouco de água enquanto esperava o seu fôlego ser restaurado, o odor do suor estava levemente acentuado. Por um instante, sentiu uma fúria descontrolada. Precisava de um banho.

O banho terá de esperar, Seyse, você não pode desistir apenas por estar suja!

A sua fúria colaborou com o restante de seu treinamento. Por mais irônico que fosse, querer um banho era mais motivador para Seyse Uchiha do que uma trajetória como kunoichi. Seriam suas motivações tão vazias a tal ponto? Talvez, mas não possuía tempo para mais distrações. Dessa vez fez 75 sessões de flexões e abdominais, 50% a mais que o planejado. Quando atingiu a meta, decidiu dobrar, recomeçando mais um ciclo com 150 sessões de meta em suas flexões, abdominais e polichinelos.

Até mesmo motivada pela expectativa de tomar um banho o mais rápido possível, Seyse sentiu uma dificuldade quase insuperável. Era como se uma barreira estivesse imposta em seus músculos, impondo uma limitação extrema a si mesma. Notou que estava exausta após os turnos anteriores e nem mesmo um novo intervalo auxiliou com a mesma efetividade de outrora. Assumiu a si mesma, não conseguiria ultrapassar o máximo dos seus limites agora, mas seria capaz no futuro, caso continuasse indo bem.

Antes de cair de exaustão no chão áspero do Campo de Treinamento, Seyse ainda conseguiu realizar três turnos com sessões de 130 a 140 flexões, abdominais e polichinelos, além de mais uma breve corrida que dessa vez resultou em um tropeço embaraçante. O banho iria esperar, a sua prioridade agora era tirar um pequeno cochilo, havia sido o suficiente para si mesma.

— Quando estamos dormindo, nosso cheiro não importa — disse, a voz fraca demais para que fosse escutada.

”Observações”: