Respirei fundo no momento que adentrei no grande salão. Assim que as terminei de empurrar a grande porta e no momento que minha vista se acostumou à luz tênue do ambiente, pude ver, com clareza, onde havia me metido. Opulenta, a sala de mármore ostentava dezenas, não, talvez centenas de estantes contendo incontáveis prateleiras, cada uma delas sustentando infinitos livros e tomos que se amontoavam como uma estrada de papel. Pela magnitude do espaço, não deixei de soltar um leve suspiro, um silvo que ecoou de maneira frágil e se misturou ao som do vento que insistia em empurrar as venezianas no canto do salão. Logo, deslizei os olhos pelo lugar e percebi que estava completamente desabitado, um ermo completo, à exceção de uma pequenina mesária que se encontrava por detrás do grandioso balcão de carvalho, compenetrada em sua leitura. Me aproximei com passos largos, tentando provocar o mínimo de ruídos em meu andar, e assim, olhei a mesária de cima a baixo. — Posso pegar alguns livros ali? — Enunciei, abaixando o tom. A mulher me olhou, e com os seus pequeninos óculos na ponta do nariz, assentiu com a cabeça, parecendo dar de ombros.

Uma vez que eu não havia sido impedido, segui para as prateleiras empoeiradas. Enquanto procurava, pensava no que levaria aquele lugar ficar tão desértico, sem qualquer resquício de que, um dia, alguém tomou posse de alguma obra dentre essa imensidão de livros, tomos e pergaminhos. O lugar era uma verdadeira vitrine do conhecimento, disponível para qualquer um que o quisesse, mas ninguém parecia o querer. Por fim, ignorei minhas indagações momentâneas e percorri o dedo indicador por entre os vários livros de uma dada estante, lendo os títulos que se distribuíam em ordem alfabética. Algumas observações sobre o deserto; Baladas e hinos do velho irmão Aeramas; Notas do beduíno Edwin Varese; Relatório diplomático do pais do vento; Viagem ao fim do mundo... Nenhuma dessas obras realmente me interessava. Deixei de lado essa prateleira e fui para outra. No fim, reproduzindo a minha mesma forma de busca, finalmente achei algo ao que eu pudesse dedicar a minha atenção. Armadilhas e armadilheiros: segredos do caçador Hendrik; Estudo da distância: a aplicabilidade das métricas no mundo ninja. Li os títulos em minha mente, feliz pelo achado.

O que se seguiu foi que, finalmente, me sentei em uma das mesas cobertas de poeira, aproveitando que todas elas se encontravam vazias. Confesso que nunca fui muito de estudar, mas lembro-me de Kiritsugu me ordenar por vezes e vezes para que eu me dedicasse ao estudo e mantivesse uma rotina diária, o suficiente para completar algumas poucas horas. Afinal, foi a partir dos seus ensinamentos que me matriculei na academia ninja e pude me tornar um Genin, e hoje, um Chūnin. Seguir o sonho de salvar a todos, independente da pessoa, requereria que eu estudasse. Logo, abri o primeiro livro e devorei o máximo de informações que eu conseguisse, aprendendo sobre como fazer armadilhas simples e complexas que se aplicavam no cenário de caças de animais selvagens. Apesar disso, me parecia ser um ensinamento proveitoso em situações de rastreamento de indivíduos. Depois de algumas horas, deixei a obra de armadilhas e abri a restante, me debruçando sobre uma álgebra complicada que demorei a entender. Passei muito tempo neste último, estudando sobre a aplicabilidade das métricas no que se referia o lançamento de objetos e a execução de técnicas ninjas, adquirindo dicas preciosas que ajudaram a aumentar o meu discernimento.

No fim, saí da mesa abruptamente e levantei uma fina cortina de poeira. Ansioso pelos conhecimentos que havia adquirido, fui rapidamente em direção à porta do lugar com um sorriso no rosto. No instante em que eu finalmente ia sair, a mesária manifestou-se com um arrastado chiado, dizendo em seguida. Faça silêncio, garoto. Disse ela, com as sobrancelhas franzidas. Arregalei os olhos, abri a porta com cuidado e retirei-me do espaço fazendo o mínimo de barulho possível, ainda sem entender o que tinha acontecido.

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