Ninshu. A crença ninja. Uma religião que a muito tempo estava desamparada, sem nenhum seguidor ou instituição para manter as crenças originais. Supostamente criada por uma antiga lenda do mundo ninja – O sábio dos seis caminhos – era para ser uma maneira de unir as energias espirituais de diversos indivíduos a fim de promover a paz e harmonia, e foi o precursor do Ninjutsu.

Bom, infelizmente para o sábio dos seis caminhos, seus ensinamentos agora tinham por completo outra finalidade. Através da meditação e do conhecimento de sí mesmo, um Ninja agora era capaz de focar e afiar seus sentidos, pois ao conhecer seu próprio Chakra, ele iria conseguir conhecer cada direção de fluxo, cada natureza, cada gota de poder, e assim poder redirecionar cada um destes para fortalecer seu Chakra.

O treinamento do Ninshu porém era algo meio vago. Não haviam detalhes explícitos sobre como estudar o Ninshu para aperfeiçoar seu Ninjutsu – bom, pelo menos nenhum método era explicado em algum dos mais de cinquenta pergaminhos, livros e tomos que me cercavam agora na mesa da biblioteca. Lendas de dois mil anos atrás poderiam ser úteis em algum momento, mas este momento certamente não era este, e neste momento eu queria me tornar mais forte – Deixar meu Sensei orgulhoso, fazer Kumo me respeitar, me tornar uma Lenda do mundo ninja. Essas coisas, sabe?

Então não era algo difícil de se acreditar que eu me encontrava terrivelmente frustrada no momento atual, e mais do que um pouco de raiva – nem a Bibliotecária que já trabalhava neste mesmo lugar á sabe-se quantos anos sabia de algum outro tomo que poderia me ajudar em meu objetivo atual, pelo menos nenhum que poderia ser dado para uma Genin. E, acredite, eu perguntei. Só não me levei a fazer um suborno ou a implorar de joelhos, eu ainda tenho dignidade.

Enfim, com um suspiro profundo e alto, comecei a armazenar e guardar todos os livros de volta em seus devidos lugares, e logo saia da biblioteca... Bom, parece que eu teria que aprender por própria iniciativa.


Logo, eu me encontrava em um dos campos de treinamento de Kumo, um dos mais quietos e inutilizados – aparente pelo excesso de vegetação que crescia entre os postes e alvos. Era um espaço relativamente pequeno, sendo adjacente a um dos paredões das montanhas ao redor de Kumo, mas para mim já era mais do que suficiente.

Foquei meu chakra em meus pés, subi no paredão, ficando alguns 30 metros acima do chão. Se ninshu se tratava de compreender o próprio Chakra, suas naturezas e seu fluxo natural, qual a melhor maneira de aprender a técnica se não pela própria utilização do Chakra? Saquei uma Kunai de meu bolso, e com o Chakra Nagashi, comecei a fluir meu Chakra pela lâmina da arma. Descobri que meu Chakra era da natureza Suiton há um bom tempo atrás, então foquei nessa natureza, observando como o Chakra Suiton criava um brilho ondulado sobre a superfície da lâmina, quase igual ao efeito que a luz faz sobre a água de um lago.

Nesta posição eu fiquei por algum tempo, utilizando o Chakra para me manter presa pelos pés ao penhasco, e com ambas as mãos segurando a Kunai, focando minha Natureza elemental. Eu sentia meu chakra fluir pelo meu corpo – das pontas dos pés até as mãos. Quando me acostumei com a posição, peguei outra Kunai, segurando uma em cada mão, e repeti o exercício. Conforme o tempo passava, eu dificultava o exercício – Subia um pouco mais alto no penhasco, me pendurando por apenas uma perna. Ao invés de segurar as Kunais, eu as prendia com o Chakra, ficando de palmas abertas, mas ainda mantendo o Chakra Nagashi. Prendi mais Kunais, uma ao centro de meu peito, e uma em minha testa.

Por ali fiquei por várias horas – me sentia um pouco desidratada e cansada, mas a sensação do Chakra fluindo constantemente pelo meu corpo era... acalmante. Fechei meus olhos, respirei fundo, e comecei a focar na sensação do fluxo ao redor do meu corpo. Era um calor frio, agradável. Como a água do chuveiro depois de um longo dia de trabalho. O conforto que esse exercício me trazia era... Incrivel, como algo que eu nunca tinha sentido antes.

Por ali fiquei, horas e horas refletindo o momento atual, sentindo o meu Chakra se mover cada vez mais lentamente pelo meu corpo conforme eu me acostumava, até eu quase não poder sentir mais o seu movimento... Lembrei das lendas que falavam do sábio dos seis caminhos, e formei minha própria conclusão sobre o assunto. Ali percebi que o Chakra não era apenas uma ferramenta, uma fonte de poder para ser usada e abusada. Não, o Chakra era uma parte de você, como sangue que corria por suas veias, como a carne e o musculo e o suor e os ossos e tudo. Nossos Chakras eram, de certa forma, nossas almas, e ao cuidar do estado de nossas almas, poderíamos nos tornar cada vez mais fortes – não fisicamente, não na questão de poder bruto, mas sim mentalmente, espiritualmente.

Quando abri os olhos novamente, já era noite. Em meu estado de paz e meditação, nem senti o tempo passar. As luzes das habitações de Kumo atrás das nuvens já não podiam mais ser vistas, e apesar de ter ficado por horas a fio ali fora, me senti completamente descansada. Guardei meus equipamentos em seus devidos lugares, desci do penhasco, e fiquei por alguns momentos parada no centro do campo de treinamento. Sentia meu Chakra lentamente fluir pelo meu corpo, como água em um rio. Suspirei profundamente.

Paz interna, Foco, Concentração, Determinação. Aquilo era o Ninshu – não mais uma religião, mas um modo de ser, um estilo de vida. A crença de que ao alinhar seu espirito, sua mente e seu corpo, você irá poder chegar onde quiser.