O confronto contra o chunnin após seu despertar, embora curto, havia sido bastante instrutivo. Agora a garota sabia que ainda guardava as lembranças sobre suas habilidades e como usá-las, embora fosse, no final de tudo, apenas memória motora.
Sentada sobre o galho mais alto de uma sequoia, mordendo a ponta do dedo indicador de sua mão esquerda, a pequena kunoichi refletia sobre o que fazer em seguida. Ela havia gostado de testar seus poderes, mas gostaria de entender mais sobre eles.

Para tanto, havia entrado escondida na biblioteca e levado um punhado de pergaminhos, que agora repousavam dentro de uma bolsa ao seu lado. Talvez notassem a falta deles em algum momento, mas até lá ela já esperava ter conseguido saciar sua curiosidade.

Sacou então um dos pergaminhos e o desenrolou, passando os olhos, que brilhavam, por seu conteúdo. Era um tomo que falava sobre chakra, em uma escrita de aparência antiga feita por alguém que dissertava longamente sobre suas utilizações.

O primeiro foco era a Keitai Henka, a Transformação da Forma, que, em resumo, se consistia em liberar chakra e então moldá-lo fisicamente. Tendo papel fundamental na criação de jutsus, a Keitai Henka agia na mudança de tamanho, alcance e a função da habilidade.

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O próximo nível, segundo o autor daquele texto, era a Seishitsu Henka, a Transformação da Natureza. Iniciando com uma longa dissertação sobre as naturezas de chakra, o escritor falava sobre os cinco elementos básicos: Katon, Futon, Suiton, Doton e Raiton. Por via de regra, todas ascriaturas portadoras de chakra pareciam nascer com uma afinidade natural em algum desses elementos, tornando-se aquele que ela mais tem controle e força. E, contrapondo a regra, haviam os casos excepcionais, onde uma pessoa poderia nascer com duas afinidades que, combinadas, resultavam em um elemento secundário. A isto ele dava o nome de Kekkei Genkai Elemental.

A pequena garota contemplou sua palma aberta, achando ter finalmente matado uma parte da charada. Pelas descrições no pergaminho a habilidade usada por ela não se enquadrava em nenhuma das transformações comuns de natureza, sendo, portanto, um poder singular. Seu pressentimento então não estava errado, ela constatou com um sorriso convencido. Por um tempo temeu que tivesse apenas enfrentado um adversário fraco demais, mas, talvez, ela fosse mesmo um pouco forte. No mais, não via a hora de ter outra oportunidade de testar sua força. E dessa vez, quem sabe, gostaria de enfrentar alguém que contra ela dure mais do que dez segundos.

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A pele da garota formigava de empolgação, com sua vontade dividida entre continuar lendo e sair para procurar alguém para enfrentar. Mas sua ânsia por conhecimento ainda não havia sido completamente saciada, de maneira que se conteve e permaneceu fiel ao texto.

Ainda no assunto da Seishitsu Henka, o pergaminho falava sobre um conceito chamado Sōsai no Ri, a Lógica da Contrabalança. Este conceito exemplificava que, em um confronto de dois shinobis com técnicas de poder equiparáveis, uma sempre iria anular a outra. Entretanto, caso uma delas tenha poder superior, irá se sobrepor a do adversário, consumindo a dele e o atingindo.

Pensando sobre isso a garota se lembrou novamente de seu curto embate horas atrás, e de como o seu ataque havia atravessado a técnica defensiva do ninja inimigo. Sem sofisticação, ambos haviam se enfrentado usando apenas poder bruto, e o dela se saiu superior. Era este, afinal, um ótimo exemplo daquilo que estava lendo.

Com um sorriso alegre, a garota olhou para o céu, agradecendo aquele garoto por ter sido tão útil em sua experiência. Tendo experimentado seus poderes, e agora conhecendo mais sobre a teoria, a garota se sentia mais confiante para ir ainda mais além. Aquele, afinal, não parecia ter sido seu potencial máximo. Sendo esta sua vontade, ela seria capaz de dominar completamente o uso do Ninjutsu? E se sim, até onde sua força poderia chegar?

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Recapitulando tudo que havia aprendido nos pergaminhos, a garota poderia dizer que o uso avançado de Ninjutsu se divide entre duas transformações: Forma e Natureza.  A combinação de ambas é o que dá vida aos ninjutsus mais avançados, cujo poder pode beirar o incalculável. Entretanto, isto já não era exatamente o que a pequena ninja fazia? Mesmo inconscientemente, movida por memórias que não conseguia acessar, ela liberava seu chakra e o transformava em cristais, que então tomavam a forma que ela bem quisesse. Ou seja, ela já estava mais adiantada do que havia suposto.

Chakra... Este parece ser o poder mais forte do mundo. Refletindo sobre a natureza de suas habilidades especiais, um pensamento fugaz transbordava pela mente da pequena garota:
"E se eu pudesse tornar meus cristais ainda mais resistentes?"

De pernas cruzadas, olhando para o céu acima de si, ela desejou que aquilo fosse possível. Seus olhos, inocentes como os de uma recém-nascida, refletiam o brilho dos astros celestes, enquanto o coração palpitava de emoção. Foi quando, como um presente do destino, algo chamou sua atenção. Olhando para baixo pôde ver duas pessoas que se aproximavam, se movendo por entre as árvores como se procurassem por algo. Pelas suas roupas, não haviam dúvidas: eram shinobis.

— Eu estou dizendo, ele deveria ter voltado já tem três horas — um deles falava, sério.

— Aquele idiota. Estamos com uma guerra às nossas portas, e ele fica sumindo dessa forma.

Com um sorriso se alargando naqueles lábios travessos, a garota passou a mão esquerda por sobre o rosto, onde, usando do Shōton: Sōzō-sei, fez com que, das moléculas de água presente no ar, se cristalizasse uma máscara felina. Sem pestanejar, saltou para o chão, pousando atrás da dupla. Tal como era sua intenção eles a notaram, se virando rapidamente para encará-la.

— Mas o que...?

Assim que seus olhares se cruzaram, a garota em corpo de criança concentrou toda sua empolgação e liberou na mais pura e cristaliza intenção assassina, manifestando seu Sakki.

— Eu preciso aprender a controlar meus poderes. Se importam em me ajudar? — Ela disse, com uma voz meiga.

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Por instinto, os dois homens saltaram para longe da garota, erguendo suas guardas.
— Cuidado, Rokushi-san! — O mais alto deles alertou.

— Não precisa dizer. Esse Sakki já fala por si só — o outro disse, puxando uma kunai da bolsa em sua perna. — Ei, quem é você?

A garota esboçou um sorriso ainda maior.

— Se vocês não sabem, então não podem me ajudar a descobrir — ela ergueu o braço direito, onde formou uma lâmina de cristal usando do Shōton: Suishōtō. — Mas ainda podem me ajudar a melhorar minha técnica.

Ela avançou então para cima do que estava mais próximo, visando um golpe contra seu rosto. O shinobi aparentava ser mais habilidoso do que ela em taijutsu, conseguindo se mover a tempo para tentar se defender com sua kunai. Entretanto, para seu azar a lâmina não seria capaz de segurar o impacto daquela da garota, que a partiu ao meio e abriu um rasco em seu olho, perfurando o olho esquerdo do homem no processo.

Seu grito de dor veio acompanhando de várias maldições, mas antes que ela pudesse atacar novamente o outro surgiu entre ela e ele, e com uma rápida sequência de selos amassou chakra no estômago e expeliu pela boca no formato de um lança-chamas.

Constatando a impossibilidade de uma esquiva, a garota manifestou seu desejo de se proteger, concentrando-se em reforçar ao máximo aquela sua técnica. Então, quando as labaredas a engolfaram, ela sequer sentiu o calor, com as chamas lambendo inofensivamente sua armadura. Era a Kesshō no Yoroi, seu exoesqueleto de cristal, tão fino que era praticamente invisível aos olhos, mas detentor de uma resistência absurda.

— Mas... Como...? — Ele exclamou, espantado por ainda vê-la ali em pé, ilesa.

— Acho que agora é minha vez — ela disse, com uma postura de guarda totalmente aberta, os olhos arregalados como uma maníaca.

— Vamos sair daqui, rápido! — Aquele que deveria se chamar Rokushi teve uma ótima ideia, e ambos tentaram fugir de volta para a zona povoada da aldeia.

A garota, entretanto, ainda não havia terminado de brincar. Decidida a testar suas habilidades e aplicar seus novos conhecimentos em suas técnicas, enquanto a dupla tentava escapar a pequena kunoichi concentrou-se em sua própria rede de chakra, buscando sentir a energia fluindo dentro e através de si. Com um comando, então, liberou seu poder em um ataque em área, no mais terrível de seus ninjutsus até então.

Sem aviso, com poucas ou nenhuma chance de defesa, os dois shinobis foram pegos pelo Shōton: Kesshō Gokakurō, e tiveram seus corpos cristalizados até a última célula. A própria inércia de sua velocidade fez com que tombassem, para então serem reduzidos a poeira cristalina.

Com aquele mesmo sorriso e olhar maníaco, de quem não demonstra um pingo de remorso por ceifar duas vidas, a garota olhou para sua mão. Estava satisfeita com o resultado, afinal. E sentia ter dominado tanto a teoria quanto a prática.

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