ㅤㅤOs incessantes cortes já estavam o exaurindo. O úmero fino e pontiagudo que segurava já havia colidido com a árvore a sua frente quase duzentas vezes, estou melhorando, na semana passada não conseguia sequer cinquenta. Eru sabia que aumentar suas capacidades físicas aumentaria também seu controle psicológico. Na noite anterior o Outro havia feito uma pequena tentativa, sussurrando provocações desconexas, tentando tirar o sono do jovem, mas sem sucesso. Quanto mais treino menos medo eu tenho dele.

ㅤㅤOs cortes deram espaço para uma sequência de chutes, todos no limite da altura que Eru alcançava, realmente estou me aprimorando, meu corpo esta respondendo aos estímulos, posso sentir isso. Estava perplexo ao mesmo tempo que obstinado a aperfeiçoar ainda mais sua performance corporal. De fato não conheço as capacidades físicas que minha kekkei genkai possui, mas irei descobrir. O médico que visitava-o todos os dias estava particularmente interessado nas capacidades físicas incomuns que o jovem Kaguya possuía, eu também estou, quero saber quais os limites desse meu dom inato.
ㅤㅤNo trigésimo chute seguido o corpo, a mando de Eru já foi para baixo em uma série de flexões, cem, tenho que conseguir cem. Os músculos de ambos os braços estavam saltados, o garoto estava se esforçando, se levando próximo a exaustão total.

ㅤㅤ– Nov-Noventa e seis... – A voz já começava a falhar. – Noventa e sete...Noventa e oito... – Concentrou-se nas duas últimas, lembrando-se do porque fazia aquilo, nunca mais ninguém vai fazer pouco de mim... Nunca mais serei uma peça descartável na vida de outra pessoa. Aquele pensamento incendiou-o dando-lhe a força necessária para continuar até o final. – Noventa e nove e CEM! – Descansou as mãos e automaticamente foi ao chão por completo, a respiração ofegante e o suor eram visíveis. O céu nublado de Kirigakure observou o esforço exercido ali pelo jovem. De relance viu o brutamontes de cabeça raspada escondido atrás de uma das árvores daquele bosque. Eles não me deixam nem mesmo treinar em paz. Eru preferiu fingir que não havia visto o ninja, deixe-o acreditar que conseguiu me vigiar sem chamar minha atenção. Tudo o que queria agora era reaver o fôlego. Passou vinte minutos deitado sobre a relva até pode ser levantar, ainda oscilante. O individuo de cabeça raspada permanecia no mesmo lugar, só que agora menos atento, entretendo-se com alguma outra coisa presente do bosque que não Eru. Idiota...

ㅤㅤ– Você não devia prestar mais atenção? – Indagou deixando o homem alerta. Fitou-o ficar nervoso enquanto notara que sua presença já havia sido percebida. – Eu poderia ter ido embora sem que você nem tivesse visto e o qual explicação você daria para seus superiores? – O ninja revelou-se detrás do tronco de madeira e devolveu zombeteiro:
ㅤㅤ– Os outros encontrariam você. – Outros..? Ele se perguntou.
ㅤㅤ– Não seja mentiroso, aposto que só você e seu amigo magricela estão por aqui. – Encararam-se. – Mas fique tranquilo, não tenho intenção de fugir, por enquanto...
ㅤㅤ– Você é arrogante garoto, não devia nos subestimar. – Ele estava certo, da ultima vez sua presunção lhe presenteou com um chute bem encaixado e o rosto no chão junto com seu orgulho.
ㅤㅤ– Hmpth, estou indo comer alguma coisa. – Avisou enquanto apanhava suas coisas e rumava para o centro de Kiri. Seu guarda-costas não demorou para segui-lo.

Notas:

ㅤㅤA água era fria, mas ele não se importava. Livrou-se das roupas antes de entrar naquele riacho, colocou a ponta do dedo dentro da água e titubeou, isso não é nada, disse para si enquanto avançava para dentro. Os calafrios apareceram mas ele logo os conteve, porém o vermelho de sua pele e rosto ele não conseguiu disfarçar. A água gelada lembrava-o de um momento conturbado; sua infância. Lembrava-se da diversão que eram os banhos de rio e de praia com seu irmão, mas a infância era uma época que ele não queria lembrar, ela não existiu para mim, alguns momentos felizes não podem mudar isso. Mergulhou a cabeça e logo estava totalmente submerso, em volta nem mesmo os pássaros ousaram cantarolar e atrapalhar o silêncio que se instaurou. O céu estava azul mas um fino manto de névoa acinzentava-o. Era verão, mas os nevoeiros não davam trégua em Kirigakure.

ㅤㅤJá estava a quase dois minutos submerso quando ergueu a cabeça, os cabelos escuros caiam sobre seu rosto agora pálido. Os passos para fora da água foram lentos e pesarosos, o frio não é meu inimigo, dizia novamente para si. Ainda completamente nu foi pego por uma rápida sensação de estar sendo observado. Quem será que foi designado a me vigiar hoje? Espero que não tenha sido aqueles dois idiotas da última vez. Ele decidiu provocar, ainda despido observou o perímetro procurando pelo rastro de alguém, mas nada encontrou, esse se esconde bem. Eru parecia estranhamente a vontade ali sem suas roupas, ao contrário do que se esperava ele não parecia vulnerável e sim imponente, com seus um metro e oitenta e dois e um corpo proporcional e inteiramente definido, quem quer se aproximasse não o acanharia de forma alguma. Bom, tenho outras coisas para fazer.

ㅤㅤVestiu-se e se dirigiu a trezentos metros a oeste do riacho, lá uma árvore folhosa lhe serviria para seu intento. Não tinha o tronco tão grande, mas as folhas eram abundantes, vai servir. Cobriu os olhos com uma venda, certificou de que estava bem amarrada antes de prosseguir. Com a perna direita efetuou um chute que fez chacoalhar o tronco e desmoronar uma chuva de folhas; agora começaria seu treino. Impulsionou-se ao redor da árvore tentando apanhar o máximo de folhas que conseguisse, elas estavam caindo a um metro por segundo de uma altura de dez metros, o que significava que Eru tinha plenas condições de apanha-las antes que tocassem o chão.


ㅤㅤO desafio principal era a velocidade, mas ele também tinha que ter um pouco de sorte para adivinhar onde as folhas cairiam, e a sorte não é certa. Quando retirou a venda pela primeira vez nove folhas conseguiram alcançar o solo, foi melhor do que da última vez, mas ainda consigo pegar mais do que isso, tenho certeza! Novamente colocou a venda, dessa vez com um soco no caule da árvore ele balançou as folhas e elas choveram sobre ele. Um rápido movimento circular o levou a percorrer completamente o raio da árvore mais de uma vez. Sentiu as folhas tocando seu corpo várias vezes enquanto completava cinco voltas, dessa vez menos folhas estarão no chão, sei disso. E ele veria o resultado... Lentamente puxou a tira para cima dos olhos e olhou para o chão.

ㅤㅤ– Uma, duas, três, quatro... – Revirou os olhos de um lado para o outro e encontrou mais uma. – Cinco. – Tinha conseguido deixar menos folhas no chão do que na vez anterior. Permitiu que um singelo sorriso aparecesse no canto de sua boca, eu estou conseguindo, da próxima vez nenhuma folha chegará ao chão.

ㅤㅤO ninja que estava em seu encalço agora revelara-se, na copa de uma das árvores circundantes a de Eru. Ele esbravejou.

ㅤㅤ– Que treino estranho esse seu. – O jovem Kaguya se assustou num segundo, olhando na direção que a voz era emitida. – O que pretende melhorar pegando umas folhinhas de uma árvore? – Quando avistou o ninja lançou um olhar desafiador para ele. O estranho parecia ter a idade próxima a de Eru, os cabelos eram um tom de verde escuro quase musgo, tinha os olhos desdenhosos e uma estatura aparentemente menor do que a do protagonista.
ㅤㅤ– Não vou te responder. – A tensão entre ambos aumentou. – Não te conheço. – Eru era incomparavelmente irritante quando queria. – A quanto tempo está me vigiando?
ㅤㅤ– Desde que você saiu da vila, idiota. – Então ele viu tudo... Será que ficou intimidado, hehe? Um escarnio inofensivo emanou de Eru, agora que sabia dessa informação não tinha porque temer aquele ninja.
ㅤㅤ– Como chamam você? – Perguntou em tom tênue e firme.
ㅤㅤ– Meu nome é Teri, Kaguya Eru. – O tom de voz ainda era ríspido, então ele sabe meu nome...
ㅤㅤ– Teri. – Repetiu. – Por quê está me vigiando?
ㅤㅤ– Recebi ordens para ficar de olho em você, mas não entendi por- Ei, onde você está indo? – Percebeu que o púbere de madeixas escuras deu as costas enquanto ele falava.
ㅤㅤ– De volta a vila, já conclui meu treinamento.
ㅤㅤ– Mas eu ainda estava falando, droga!
ㅤㅤ– Continue, estou ouvindo. – E continuou andando. O imberbe de cabelo verde estava irado, saltou para o chão e foi seguindo Eru. – Bem que falaram que você é muito arrogante.
ㅤㅤ– E você não? – Retrucou.

ㅤㅤE foram discutindo por todo caminho até a vila...

Notas:

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