Trabalho

• Biblioteca da Vila
— OHAYO, KUMOGAKURE! — A criança exclamou ao saltar do telhado para a rua. Luna estava se sentindo extremamente animada e energética hoje, visto que seu primeiro dia de missões após retornar da caça aos “fantasmas”. Foi correndo em direção ao prédio onde eram entregues as tarefas dos ninjas de Kumo, e lá mais uma vez encontrou com seu primeiro – e maior – arqui-inimigo: o balcão.

Luna mede exatamente um metro e trinta e quatro centímetros. O balcão, um metro e cinquenta. Ficou sob sua sombra, dando pulinhos para tentar ser vista.

— OI, OI, EU AQUI, OI! — Gritou para chamar a atenção da tia das missões.

Após um pequeno desentendimento sobre acharem que Luna era só uma criança perdida por ali ou querendo aprontar, entregaram suas missões. A primeira delas seria a mais emocionante possível: limpar a biblioteca.

— Mas não tem ninjas inimigos na biblioteca! — Ela protestou, mas acabou indo de qualquer jeito.

De cara emburrada, com as bochechas cheias de ar, a genin passou as próximas duas horas com um espanador em mãos, levantando uma nuvem de poeira das velhas estantes. Discretamente tentou chegar até a sessão reservada para os Jōnin’s, mas acabou sendo barrada pela bibliotecária, e então voltou a passar um pano para retirar o restante da poeira. Meia hora depois, foi liberada para sair.

• Ladrões nos Arredores
Após ter entregue o relatório de sua extremamente emocionante missão de limpeza (uhuuu!), Luna, depois de quinze minutos protestando, conseguiu uma tarefa mais interessante. Agora deveria caçar e eliminar um grupo de bandidos malvados que estavam atacando pessoas inocentes próximo da vila.

Bem, na verdade o pedido falava sobre “lidar com os ladrões”, não necessariamente “eliminar”. Mas como havia uma grande área cinza aí, a criança decidiu por resolver tudo da maneira mais divertida.

Partindo dessa vez cheia de empolgação, foi para as vilas que haviam feito os contratos, e lá falou com os aldeões em busca de pistas. Segundo eles, o grupo de malfeitores ficava em uma caverna ali perto – sabiam disso pois passaram a exigir que entregassem dinheiro lá para não serem atacados.

Saltitando (literalmente) Luna foi até essa caverna, e lá encontrou os caras maus – três, ao todo. Nenhum deles nukenin.

— Por que tem uma criança aqui? — A frase de um deles entraria para as “Famosas Últimas Palavras”.

— Ohayo! — Luna disse animadamente, acenando com uma mão. — Sayonara!

Então bateu com aquela mão no chão, e diversos espinhos de cristais cresceram do solo, empalando todos os três de uma só vez com o Crystal Release: Crescent Crystal Thorns.

Felizmente, depois constatou que eram mesmo os tais bandidos.

• Proteja a Entrega
Voltou para Kumo ainda com sangue na cara, sorrindo. Após ter sido forçada a se limpar, recebeu sua terceira missão: transportar um pergaminho contendo uma importante receita de dango tida como um tesouro nacional do País do Relâmpago até uma aldeia aliada não muito longe dali.

— Eu posso ler?

— Está selado com um fuinjutsu rank S, então não.

— Posso pedir pra um Jonin abrir pra mim?

— Não.

Triste, porém ao mesmo tempo empolgada, a criança partiu novamente para fora de Kumo. A tal aldeia ficava a poucas horas de viagem, mas a Luna foi alertada sobre o risco de ser atacada no caminho por nukenins ou ladrões comuns interessados na carga. Dito e feito, um pouco após a metade do caminho se deparou com uma árvore caída na estrada, e de trás dela surgiram dois jovens – eles estavam com os rostos mascarados, mas pela voz dava pra supor que não eram muito mais velhos que adolescentes.

— Eu sou Kyn! — Um deles declarou.

— E eu sou Jyn!

— E nós somos a dupla Kyn-Jyn! — Gritaram em uníssono. Luna aplaudiu.

— E eu sou Luna, mas não posso brincar com vocês agora, estou em uma missão muito importante.

Eles se entreolharam.

— Você não entendeu, isso é um assalto! Passe tudo que estiver carregando!

A criança suspirou, e em meio-segundo realizou o selo do Carneiro. O chão embaixo de Kyn emitiu um forte brilho, e antes que pudesse se dar conta do que estava acontecendo o meliante foi congelado em cristal.

— KYN!

— Sem tempo, irmão — ela disse, e enquanto Jyn ainda gritava espantado a criança saltou na direção dele, com a intenção de cortar sua garganta com uma kunai, mas o bandido fora rápido o bastante para se defender usando outra.

— Solte o Kyn agora! — Exigiu.

Luna sorriu de forma travessa.

— Mas é claro! — Então displicentemente deu um tapa na formação de cristais, que imediatamente se despedaçaram junto com o corpo lá dentro. — Ops, foi sem querer-querendo.

— KYYYYN!!!

— Como eu disse — Luna falou, nesse momento de distração perfurando o crânio dele com a lâmina de ferro (tendo sido necessário ficar em cima do tronco da árvore), partindo da parte inferior da mandíbula. — Sem tempo, irmão.

O restante da viagem decorreu sem maiores complicações, e após entregar o pergaminho (que não deixaram ela ler lá também), retornou para a vila enquanto brincava de perseguir as borboletas pelo caminho.

• A Procura
Já era praticamente noite quando a criança chegou em Kumo, esticando os bracinhos para se içar no balcão e olhar para a tia das missões.

— Acabei!

— Mais uma — ela disse com um sorriso, oferecendo um pergaminho. A criança se deixou cair sentada.

— Isso é escravidão!

— Não era você que estava toda animada? E essa é muito importante e de máxima urgência. Um dos alunos sumiu durante a excursão, a Academia precisa de ajuda para encontrá-lo.

Imediatamente Luna se recordou dos “fantasmas” sequestradores de crianças, e tomou o pergaminho com as informações da missão.

— TÔ INDO, TCHAU! — Gritou enquanto corria para fora, já desenrolando o papiro para ler a respeito.

Nada sobre fantasmas dessa vez, pelo que parecia. Apenas a localização do bosque onde ele havia se perdido, perto das minas. Luna foi naquela direção, e quando chegou lá juntou as mãos ao redor da boca para ampliar a voz.

— EEEEEI! MENINO DESAPARECIDO CUJO NOME POR ALGUM MOTIVO NÃO COLOCARAM NO PAPEL, ONDE VOCÊ TÁ?

Nenhuma resposta além de um esquilo a encarar como se ela fosse louca. Suspirou, pensando no que poderia fazer. Não possuía habilidades de sensoriamento ou um olho mágico, de maneira que, agora que parou para pensar, era a pessoa menos indicada possível para essa tarefa. Embora fosse criança, Luna tinha seu estilo totalmente voltado para combate, e não para reconhecimento.

Cruzou os braços enquanto caminhava, volta e meia repetindo os gritos. Estava perfeitamente consciente que se aquilo tivesse sido um sequestro alguém poderia atacar a qualquer momento, e era exatamente isso que ela queria. Mil vezes melhor enfrentar um sequestrador e torturar ele para dizer onde estava a vítima, do que ficar procurando às cegas. Mas nem isso aconteceu.

Foi então que, por um acaso, acabou alcançando o limite do bosque, que dava para um precipício. Despenhadeiros eram comuns em Kumo e seus arredores, já que a vila ficava literalmente nas nuvens.  

— SOCORRO! — Uma voz gritou lá de baixo.

Espantada, mas com a animação renovada, Luna se inclinou para olhar, e, para sua surpresa, enxergou o garoto ali, cerca de doze metros pra baixo em uma protuberância de rocha.

— O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AÍ?

— EU CAÍ!

— E POR QUE VOCÊ CAIU?

— SEI LÁ, PORQUÊ A GRAVIDADE EXISTE?! ME AJUDA, POR FAVOR!

A criança franziu o cenho, ligeiramente confusa.

— E POR QUÊ NÃO SUBIU DE VOLTA?

Ele corou, desviando o olhar.

— Eu ainda não sei controlar meu chakra — murmurou, de maneira que Luna quase não o ouviu. Ela, no entanto, abriu um largo sorriso, e, após infundir chakra na sola dos pés, começou a descer caminhando pela encosta do desfiladeiro.

— Me dá sua mão.

Ele a encarava espantado, mas esticou a mão, tremendo. Luma virou de costas e passou o braço dele ao redor de sua cintura.

— Eu preciso que você se agarre firme em mim, com os dois braços. Vou subir e levar você junto. Entendeu?

Ele assentiu, fazendo o que ela mandou. Por sorte tinha praticamente o mesmo tamanho que a genin e peso semelhante, mas ainda assim ela precisou se concentrar ainda mais na quantidade de chakra que enviava aos pés. Felizmente, Luna sempre teve um grande controle de sua rede de chakra, e conseguiram subir sãos e salvos.

Voltaram então para a vila, com ele não parando de agradecer, e Luna feliz por ter feito algo bom.


• Minas Subterrâneas - Resgate
Quando chegaram nos portões, o corpo de Luna implorava por um descanso. Antes que pudesse adentrar a vila, no entanto, sentiu um forte tremor agitando o solo.

“Pareceu com terra desabando”, ela pensou, franzindo o cenho.

— Veio das minas! — O guarda que estava em cima do portão gritou, apontando na direção da qual Luna havia acabado de vir.

— Um acidente? — Questionou, falando sozinha. Então, sem pensar duas vezes, disparou a toda velocidade.

Assim que se aproximou da entrada ficou claro que havia mesmo acontecido alguma coisa ali, pois vários trabalhadores estavam saindo do túnel cobertos de poeira e sangrando.

— O que aconteceu? — Perguntou.

— É muito perigoso ficar por aqui, criança — um dos homens falou, tossindo.

Luna cruzou os braços, colocando uma expressão séria no rosto.

— Eu não sou uma criança, sou uma genin! Eu estou aqui para ajudar.

Ele a encarou, parecendo só então notar seus equipamentos e bandana.

— Uma seção da mina desabou. Por sorte a maioria de nós estávamos longe de lá, mas acredito que pelo menos cinco pessoas tenham ficado presas, se é que ainda estão… Não, precisa ajudá-las, por favor.

A criança assentiu, batendo com uma mão sobre o coração.

— Não há problema que Luna não consiga resolver! — Declarou, arrancando um olhar do sujeito que poderia beirar o arrependimento, mas antes que ele mudasse de ideia ela já partiu para dentro do túnel.

— Ok, isso vai ser um problema — falou ao se deparar com a parede de escombros, uma mistura homogênea de terra e rochas. Seria arriscado, mas ela não via outra escolha além de tentar aquilo que tinha em mente.

Primeiro realizou os selos do Javali e do Carneiro, então encostou a mão no obstáculo à sua frente. Imediatamente a terra em linha reta começou a se cristalizar, com a matéria se convertendo em cristais para formar o Shōton: Hashō Kōryū. Antes que o dragão pudesse se mover – provocando um novo desabamento – Luna esticou as duas mãos na direção dele e com um forte grito as afastou para os lados, desfazendo o dragão e, através da pura manipulação dos cristais, formou uma película em volta do túnel, agora berto. Os cristais manipulados teriam o papel de manter o túnel estável, com ela tendo concentrado uma quantidade consideravelmente superior de chakra na parte de cima.

Embora tenha dado certo, ela podia sentir a pressão da terra ali, e sabia que não duraria por muito tempo. Felizmente os trabalhadores não estavam muito longe, e logo após alcançá-los e constatar que estavam todos relativamente bem, pediu para que a seguissem para fora dali. Luna acabou ficando por último, pois estava auxiliando um dos trabalhadores mais feridos, e quando estavam ambos quase atravessando de volta para o outro lado os cristais do teto começaram a rachar.

Sem nem ao menos raciocinar, a criança empurrou o homem para frente, salvando-o do novo desmoronamento. Quase no último instante ela juntou as mãos, formando o selo do Carneiro, e então tudo desabou.

Passaram cerca de meia-hora até a equipe de resgate de Kumo chegar ali e conseguir remover os escombros em segurança com a ajuda de shinobis especialistas em Doton. E o que eles encontraram embaixo de tudo aquilo, para a surpresa de todos e alívio de muitos, foi uma abóbada de cristal envolvendo o corpo da criança, que sorria e acenava alegremente para eles lá de dentro. Mais tarde, quando questionada, explicou que quando percebeu que não conseguiria sair a tempo, usou sua Kekkei Genkai para formar o Shōton: Kurenai no Kajitsu, cristalizando a primeira camada de terra que desabou em uma proteção, se salvando de ser esmagada.

— Agora eu posso dormir pelo amor de Raikage-sama?  

Informações: