O dia começava cedo para Meni, desde a infância seu tutor lhe preparou para isso, com uma rotina extremamente regrada e com horários fixados. A alvorada, de mais um dia do verão, mal tinha se iniciado no céu de Uzushio e o garoto já estava sentado na cama começando a se levantar para mais um dia. Seu quarto era bem simples e pequeno, com um colchão no chão encostado na parede da direita de quem entrava pela porta, uma pequena janela que dava pouco acesso a luz do dia, um pequeno guarda roupa ao pé da cama e uma mesinha velha de madeira e uma cadeira igualmente antiga de madeira ao lado da janela, na mesinha ficava alguns Santos que o garoto gostava mais, principalmente a figura de Miguel e Santo Ivo, aos pés dos Santos estava seu terço de mão e ao lado da cama sempre o terço de pescoço.

Após uma longa e demorada espreguiçada o jovem pegou seu terço de pescoço ao lado da cama e o vestiu e levantou-se em direção a sua mesinha, lá olhando para janela tentando identificar como seria aquele dia quanto ao tempo, sentou-se na cadeira e enrolou seu outro terço na mão direita, segurando a cruz na palma de sua mão e cabeça baixa passou a rezar.

Como de rotina as preces de Meni começavam ao nascer do sol e terminava com o mesmo abrindo os olhos e percebendo seu quarto tomado por raios de sol. Ao final de seu clamor o garoto desceu rápido e faminto, mas não antes sem dar uma passada no banheiro.

“Louvado seja o Senhor que fome! Tomara que Sr. Nakamura já esteja de pé e tenha algo para comer”

Ao chegar a cozinha deu de cara com o Velho que terminava de preparar o café da manhã dos dois, como acontecia toda manhã, assim como o garoto chegar morrendo de fome sentando-se e comendo sem se quer dar bom dia, desta vez não foi diferente. Quando senhor Nakamura se virou deu de cara com pequeno Meni sentado à mesa debulhando toda comida.

- Garoto vai com calma senão você vai engasgar! Lavou a mão pelo menos!? Já rezou e agradeceu a Deus!?

Meni obviamente se quer deu ao trabalho de parar de comer para responder, apenas acenou com a cabeça positivamente para as duas perguntas, até porque seria desrespeitoso falar coma boca cheia, pelo menos era assim que tinham lhe ensinado.
Enquanto o jovem terminava de comer e começava a se ajeitar na cadeira de forma a ficar com coluna reta, o Senhora Nakamura começava a comer com a cara inconformada na velocidade que Meni havia comido, mas o mesmo não prestará atenção estava entretido em pensamentos, com seus olhos grandes vermelhos perdidos pela casa e após alguns minutos de silencio ele resolve quebrar o silencio que havia se construído no ambiente.

- Sabe... eu tava aqui pensado, no seu longínquo tempo de gloria. - Olha o respeito menino... Tome tenência! – ...como o senhor fazia para treinar e melhorar sua resistência, porque, se me lembro bem, você era bom nisso!

Ao ouvir as palavras do garoto Nakamura deu um leve sorriso enquanto olhava para baixo, afim de disfarçar para que Meni não visse, se recompondo levantou-se e enquanto caminhava até a pia começou a falar.

- Eu ainda sou bom nisso! Bem melhor que você inclusive, menino atrevido. Mas respondendo a sua pergunta, eu sempre gostei de correr longas distancias para melhorar meu condicionamento, sempre que podia dava uma volta na vila para curtir a paisagem enquanto corria.

Enquanto ouvia a resposta Meni mudava completamente sua feição, começou com cara triste e terminou com o sorriso de alguém que tinha sido agraciado com algo. Sem pensar e enquanto agradecia o Velho correu até seu quarto para se trocar, em poucos segundos estava na porta de sua casa pronto para sair, com uma despedida curta e apressada o garoto saiu pela porta pronta para correr por toda vila.

“Vou mostrar para esse velho quem é bom...”

Como toda pessoa inexperiente em corrida ou atividade física o menino pôs-se a correr como se não houvesse amanhã. Começou correndo alegre, curtindo a vista e a brisa fresca da manhã em Uzushio, observava os moradores saindo de suas casas para seus trabalhos, naquele começo de dia, enquanto outros abriam as portas de seus respectivos estabelecimentos. O tempo passou e o garoto nem percebeu, estava distraído e na adrenalina do momento ainda.

“Ahhh...acho que deveria fazer isso mais vezes, não é tão ruim assim."

Minutos mais tarde, com alguns metros percorrido a mais, os primeiros sintomas de fadiga, despreparo somados com inexperiência começaram a surgir no corpo do garoto. Primeiro uma dor lateral em seu abdômen, que rapidamente fora confundido com gases pelo menino, posteriormente foi a vezes das panturrilhas e canelas começarem a doer, mas Meni era insistente ele não iria parar sem tentar mais.

Com palavras de incentivos, pequenos objetivos traçados e até promessas o jovem Gennin seguia firme na corrida. Já havia completado alguns quilômetros, o vento que ora batia em seu rosto e lhe refrescava tornara-se uma brisa quente e ineficaz, as paisagens que ora lhe distraiam não lhe serviam mais, tudo estava ruim e só piorava a situação precária que se encontrava o garoto enquanto corria.

- Serio...acho que vou...morrer...não tô...nem conseguindo...respirar!

Enquanto tentava pronunciar essa curta frase se jogou aos pés ad primeira árvore que conseguiu ver com sua visão turva e exaustão, talvez nem uma árvore fosse aquilo. O garoto já tinha sido consumido por suor, seus olhos ardiam, sua boca parecia que estava cheia de areia e sua respiração era extremamente ofegante.

“Meu filho eu preciso de você vivo...Morto você não me serve de nada”

- Eu sei meu Senhor...mas é só o Senhor não me levar ainda!

Se passaram alguns minutos até que Meni conseguirá minimamente se repor sentado embaixo daquela árvore. Sua respiração estava normalizada, seu corpo já não era só suor e o mais importante...não parecia mais que iria morrer, mas suas dores continuavam e por alguns dias ainda continuariam, mas o garoto precisava se recompor pelo menos para parecer inteiro para senhor Nakamura, pois de forma nenhuma ele daria este gosto de parecer derrotado pela corrida ao velho senhor.

“Eu preciso me recompor antes de voltar. Preciso parecer inteiro quando chegar em casa e der de cara com o Velho. Vou voltar caminhando e quando tiver chegando perto de casa eu corro mais um pouco para disfarçar”

Devo admitir que o garoto havia corrido mais quilometro que pudéssemos imaginar e tinha cumprido sua missão com louvor, era justa sua voltar para casa caminhando, mas o caminho para se tornar um grande ninja era nitidamente longo ainda. Se o mesmo quisesse cumprir suas missões mundanas e ajudar seu “Deus” tirar um grande percurso pela frente.

Como planejado pelo garoto ao se aproximar de casa ele voltou a correr e pela janela, sem que Meni pudesse ver, lá estava Nakamura o vigiando, com uma cara de surpresa visualizou aquela cena do garoto correndo ainda entrar pela porta de casa, mas logo foi perguntando com uma voz meio petulante.

- Olha só, não é que você conseguiu voltar! Pensei que não iria conseguir nem dar a volta no quarteirão

Se o Senhor tinha sido petulante, com um sorriso irônico no canto da boca e mais petulante que nunca o garoto se prontificou em responde-lo a altura e sem pestanejar.

- Claro que voltei, foi fácil! Daria mais umas duas voltar pela vila!

Sem dar tempo de qualquer resposta o garoto com passos largos, mas com muita dor, correu para seu quarto e com a porta fechada se jogou ao chão e começou a grunhir de dor, enquanto apertava sua panturrilha e canela que ardiam em chama de dor.

Considerações: