O dia estava calmo e o clima agradável, apesar do ar rarefeito como era de praxe naquele vilarejo enevoado. Os inúmeros lagos, rios e demais corpos d'água, junto à umidificação extrema do ar tornavam o oxigênio mais escasso e difícil de respirar, mas o que deveria ser uma desvantagem tornava-se uma benção.

Crianças nascidas e treinadas em Uzushiogakure adaptavam seus pulmões à baixa de oxigênio e, portanto, controlavam melhor sua respiração e tinham mais “fôlego” quando executavam alguma atividade que exigisse maior estamina. Além disso, qualquer atividade se tornava mais exigente; correr, saltar, batalhar. No passado, os ninjas da nuvem eram exímios guerreiros e o vilarejo era famoso por estar constantemente em guerra.

Talvez os vestígios do passado ainda refletissem nas gerações atuais. A fim de treinar minha velocidade bem como minha agilidade, desloquei-me pelo interior do vilarejo até um dos centros de treinamento, uma área espaçosa e pública onde poderia fortalecer meu desempenho e expandir minhas capacidades físicas.  

Como não estava em missão oficial pelo vilarejo, não portava minha bandana ninja e nem minhas vestes de costume; apenas uma calça preta e uma regata da mesma cor, e um par de sandálias básicas. Meu humor estava como o de sempre, um misto de calmaria e serenidade, estampava na face o sutil sorriso e um olhar atento.

—— Vamos começar. —— Murmurei.

Iniciei um pequeno alongamento, levando os braços de um lado para o outro e pressionando-os de maneira a sentir as fibras se soltarem por alguns segundos. Passando para as pernas, separei-as bem enquanto inclinava meu corpo para um lado e dobrava um joelho simultaneamente estendendo o outro. Permaneci nesse pequeno ritual por alguns minutos, até sentir meu corpo ligeiramente mais leve.

Ao fim, assumi minha postura de início, e a minha frente havia diversos obstáculos — para saltar, desviar, passar por baixo ou por cima. Era uma pista modificada pelo vilarejo para treinar seus ninjas. Inclinando meu tronco um pouco para baixo e encostando a ponta dos dedos no chão enquanto dobrava o joelho esquerdo próximo ao peito e encostava o direito no chão, respirei fundo dando início a contagem regressiva mentalmente.  

—— Ichi, ni, san... —— Contava em voz alta, ainda que em murmúrio.

O número três marcou a largada, e com um impulso da perna esquerda projetei meu corpo em uma diagonal crescente para dar início ao percurso. Os primeiros metros eram rasos, sem a presença de obstáculo, então tratei de acostumar o ritmo de respiração e mantê-la adequada. À medida que progredia lidei com diversos obstáculos, saltando por cima de um poço d’água, deslizando por debaixo de uma fileira horizontal de estacas de madeira, escalando paredes apenas com a concentração de chakra nos pés, desviando de shurikens e kunais.  

Quanto mais avançava, mais perigoso tornava-se o trajeto, e obviamente mais de mim era exigido. Além de ser extenso e, portanto, tinha que controlar minha respiração de maneira a poder concluí-lo, mas tendo a certeza de que ao final deste estaria mais veloz do que no início. Tive alguns problemas, como era de se esperar, sendo riscado por kunais e shurikens ou caindo ao encostar em um obstáculo. Mas minha motivação para superar meus limites me impedia de desistir, erguendo-me do chão e me concedendo forças para continuar a trilha.

Ao final, o suor escorria pela minha testa e corpo, molhando minhas roupas e colando alguns fios de cabelo no rosto. Meu fôlego já não estava dos melhores, estando ofegante e exausto físico e psicologicamente, mas pelo menos havia completado o treino diário.

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