Depois de um maravilhoso festival que se fez presente antes, durante e depois do Chūnin Shiken em Kumogakure no Sato, o Mizukage Senko estava de volta a casa. Quando chegou em Uzushio, não podia parar de pensar em todos as suas responsabilidades, mas também não conseguia esquecer todas as coisas novas que viu no País do Relâmpago. A vila da Nuvem era de fato muito linda e especial, e a receptividade dos seus habitantes foi formidável. Mas onde estava Akira? Estava bem? Aquela conversa de problemas de saúde era mesmo real? Senko só podia esperar pelo melhor e continuar fazendo o que sempre fez: cuidar de si e da sua vila.

No primeiro fim de semana após o evento, o Mizukage passou o sábado e o domingo inteiros a praticar as suas técnicas no quintal da casa que compartilhava com a sua família. Depois de um saboroso almoço feito por sua mãe e assistente Harumi, o garoto conversava com a sua avó enquanto fazia selos e realizava jutsus ao ar livre.

— Então, como anda o manejo do seu glorioso leque, Senkinho? — Makie, a viúva do ex-dono da Gunbai, perguntava ansiosa para saber como estava sendo o progresso do neto.

— Hm... vai bem, eu acho. Pude notar que ela é bem resistente, tive que parar um dos meus ninjas durante o combate com ela. É impressionante o jeito que ela aguenta um bom impacto. — Senko contava entusiasmado, enquanto tirava Gunbai das costas, admirando-a.

— Sim, ela é uma ótima arma para a defesa, para a canalização da tua natureza do vento, certamente... mas e a kama na outra extremidade? Você tem a usado bastante? — indagou, vendo que o menino mantinha a foice afiada ainda presa ao leque, sem usar o potencial completo da arma.

— Ué... ér-ah-uh... o que que tem? — tentava se fazer de desentendido, percebendo onde a avó queria chegar com aquela pergunta. — Sim, sim, tenho a usado sim... — mentiu.

— Sei... então me mostra aí. — A senhora confrontou o garoto.

Senko exibiu um sorriso amarelo para Makie, tirou a kama das faixas que a prendiam à Gunbai e segurou-a com a mão esquerda, enquanto mantinha o leque dos Uchiha na mão direita. A avó então auxiliou o neto com a demonstração, jogando discos de treino para que o Mizukage mostrasse a sua perícia com o armamento. Ao tentar usar as duas partes da arma ao mesmo tempo, o Matsuda se atrapalhou todo, foi um desastre total. De dez discos, Senko acertou apenas dois. Alguém tão habilidoso quanto ele não exibiria uma desgraça daquele tamanho. Makie logo entendeu a mentira do neto e foi direito ao ponto. — Bom, então você não a usou porcaria nenhuma, né, Senhor Senko? Bonito...

— Eu posso explicar! — protestou — A Gunbai já é pesada pra caramba, sem contar que usar uma parte em cada mão é bem inconveniente. Se fosse mais leve, eu conseguia usar tranquilo, mas eu sinto que sempre fico com o corpo desbalanceado quando uso a kama juntamente com o leque, não dá!

— Bobagem. Não dá porque você não está acostumado.

— Aaaah, nem vem, você já tentou usar no meio de um combate ou num treino? Eu já, não é nada fácil. Se é tão simples assim, por que você não vem aqui e usa? — Ele tinha um ponto.

— Não sou eu quem tem de proteger a vila, é você. Dê o seu jeito. — Ela tinha uma reta inteira. Makie se levantou e deixou o quintal. — Use os lançadores automáticos, eu vou descansar, ok? Espero te encontrar acertando onze dos dez discos quando eu voltar. Entendido? — A anciã colocou o Mizukage nos eixos e partiu para seus aposentos. Senko nem teve chance de negociar ou pensar em qualquer alternativa.

Então partiu para o treino. O objetivo era ter cem porcento de acerto ao acertar os discos que a máquina arremessadora ia projetar contra a Sombra. O sentimento de segurar as duas partes da Gunbai era interessante, engraçado e, de certa forma, frustrante. Nem todas as armas possuíam duas extremidades como essa e o ensino básico na academia ninja não era o suficiente para cobrir essa diferença. Se quisessem, os ninjas teriam que aprender na marra. Senko sentia exatamente o que tinha relatado à sua avó: desequilíbrio. Quando o garoto colocava atenção demais na kama, sentia que sua Gunbai ficava imprecisa; já quando colocava empenho demais na Gunbai, a kama ficava sem força. Como haveria de balancear as duas armas? Simples: apenas teria que reduzir o seu próprio nível para o fundamento mais básico, evoluindo pouco a pouco com as duas armas como se estivesse reaprendendo a mexer com armamentos.

Começou a fazer movimentos lentos com as duas partes, desenhando formas geométricas no ar com as armas. Esse exercício estranho era só para aprimorar a sua finesse, prestar atenção aos movimentos finos que tinha que fazer. Uma arma completava as retas da outra, iam tocando as arestas de uma grande constelação de formas e desenhos. Depois, Senko começou a treinar a força de cada uma delas. Primeiro, quebrou dez discos com a kama; depois, quebrou dez discos com a Gunbai. Fez isso repetidas vezes, essas séries com mais de dez vezes. Já estava completamente suado, um pouco cansado por carregar aquelas armas pesadas por todo esse tempo. Como próximo exercício, o garoto começou a alterar a arma que usaria para quebrar os discos: um golpe de kama e outro golpe de Gunbai. Numa série, seriam vinte golpes. Fez vinte séries. De tanto quebrar discos com tanta precisão e velocidade, o Mizukage já estava cansado, já havia se passado algumas horas e nem sequer parou para descansar. Queria mais. Foi até a máquina e aumentou ainda mais a velocidade dos disparos. Foi até o seu limite.

No fim do dia, depois de Makie descansar, foi ver o desempenho do neto. Senko estava sentado em uma das almofadas de descanso que eles tinham no quintal, segurando a Gunbai e a kama com ambas as mãos enquanto observava o pôr do sol. A avó veio silenciosamente, pegou três discos da máquina e jogou na direção do neto, que estava de costas para ela. Senko ouviu o barulho dos discos cortando o ar e, instintivamente, ergueu a kama para parar os discos.

— Humph, eu disse, era só questão de costume. — Soltava umas mini-gargalhadas.

Senko ia dizer algo, mas desistiu. Sua avó estava certa.

Leia as considerações: