Depois de deixar o seu gabinete, o clone estava pronto para voltar ao Departamento de Inteligência da vila. Fez os selos necessários para entrar no seu disfarce com o Henge no Jutsu e partiu em direção para o primeiro dia de trabalho. Chegava a ser um tanto quanto cômico, ter dois empregos na vila e estar tão próximo de algo que, supostamente, deveria comandar por cima. Ele gostava de colocar a mão na massa.

Contudo, chegando lá, deparou-se com um grande empecilho. Yamashita, o inspetor chefe da seção de interrogatórios, delegou um Subtenente para supervisionar de perto do trabalho de Watanabe Ren. “Droga… não vou poder usar o Sharingan, isso estragaria completamente o disfarce”. Pensou. Certamente, o trabalho daqui pra frente não seria tão fácil quanto o que teve em sua admissão no dia anterior. Não fugiu, nem fugiria, encararia o problema do jeito que tinha de ser.

— Qual é a situação aqui? — perguntou Senko ao subtenente, querendo um resumo para prosseguir com as perguntas. — A propósito, meu nome é Watanabe Ren, é um prazer. — Estendeu a mão.

O oficial fez o aperto de mão e deu as informações. — Prazer, Ren, meu nome é Masahiko Kimura. Bom, o que temos aqui são cinco suspeitos de realizar o roubo de um colar de pérolas de um parente do Daimyō. Eles batem com as descrições físicas das testemunhas e estão sob prisão provisória. O roubo aconteceu neste fim de semana, no domingo, por volta das três da tarde.  Identifique o culpado por meio das perguntas e o confronte, não podemos mantê-los aqui por muito tempo, infelizmente. Tente ser rápido.

Senko acenou com a cabeça e entrou na sala para o primeiro interrogatório.

O Uchiha se sentou na frente do primeiro suspeito. Seu nome Ayuru Okami. 23 anos, técnico eletricista, casado há 1 ano. Tem histórico de reclamações por agressões em bares, tem problemas com bebida. O Mizukage formulou perguntas em sua cabeça por um instante, encarando bem o suspeito enquanto mantinha o silêncio. — Bom dia, senhor Okami. Eu sou o Sargento Ren e vou fazer algumas perguntas para você, ok? — perguntou, buscando qualquer tipo de aprovação do suspeito. Ele mantinha-se calmo e apenas acenou com a cabeça, mexendo os lábios num sinal de “ok, tô nem aí”. — Bom, onde o senhor estava às três da tarde de ontem? — ele franziu a testa, mas respondeu rapidamente. — Eu estava com a minha família, senhor. — Sem pensar muito, Senko já rebateu com outra pergunta. — Interessante, o que vocês fizeram nessa tarde? — queria saber o nível de detalhe que ele empregaria em sua história e se hesitaria em algum ponto. Prontamente e sem gaguejar, Ayuru explicou como foi seu dia. — A minha sogra foi até a minha casa e fizemos um tipo de rāmen especial, à base de frango. Depois comemos e batemos um papo até ela ir embora. — A fala do rapaz parecia normal e despreocupada, não havia motivos para ter tantas suspeitas sobre ele, então Senko resolveu liberá-lo. — Muito bem, era só isso, peço desculpas pelo incômodo e desejo um bom resto de dia, senhor Okami. — Fez um sinal para o subtenente e liberou o primeiro suspeito.

Ainda na mesma sala, Senko pediu para que o próximo suspeito do crime viesse ao seu encontro. Akira Kojima, 27 anos, auxiliar de limpeza numa empresa que presta serviços para grandes corporações e residências de luxo, casado e pai de duas filhas. Mais uma vez, Senko fez o seguiu o script que tinha montado para averiguar a situação. — Senhor Kojima, pode se sentar, sou o Sargento Ren e só estou aqui para fazer algumas perguntas simples para si. — Apontou para a cadeira, convidando-o a se sentar. Akira olhava de maneira estranha para os lados, analisando a sala, e depois diretamente para os arquivos que Senko segurava. Como ele não disse nada, o Uchiha viu-se no direito de começar as perguntas. — Muito bem, primeira pergunta: o que o senhor fazia por volta das três da tarde de ontem, senhor? — fez a pergunta e viu que Akira demorou um pouco para abrir a boca, como se estivesse pensando em alguma coisa. — Er...  eu tava fazendo o que eu sempre faço, er... brincando com as minhas filhas depois do almoço. — A hesitação do homem incomodava um pouco, Senko continuou com as perguntas. — Ok... bom, você trabalha com limpeza, não? Sei que trabalha em algumas empresas, mas... trabalha em casas, também? — O roubo aconteceu em uma residência. O Mizukage já sabia que ele trabalhava em moradias, só queria ver se ele falaria a verdade ou tentaria esconder. — A-ah, sim, sim, trabalho na limpeza... Com certeza, a maior parte é nas empresas... — ignorou a parte em que o sargento falava sobre as casas, então Senko voltou a perguntar. — E nas casas, Akira? — tentou ser mais direto. Ele engoliu seco e respondeu, enfim. — S-sim, nas casas também. — Pela falta de clareza nas respostas, o sargento decidiu mantê-lo em standby. Interrogaria os outros suspeitos e só depois voltaria a falar com Akira, se fosse necessário. — É tudo, falarei contigo mais tarde. — Fez um sinal para o subtenente, que encaminhou o suspeito para uma das celas provisórias.

O terceiro suspeito que entraria pela porta da sala do interrogatório seria Tokimaru Hōki, de 22 anos, solteiro, trabalha com jardinagem no condomínio de luxo onde a o parente do Daimyō reside. Tem a ficha criminal limpa e parece ser um bom rapaz. Contudo, assim que entrou na sala e encarou o sargento, era possível ver suor escorrendo pelo seu rosto e suas mãos tremiam um pouco. Senko fez o sinal para que se sentasse a sua frente e ele acatou imediatamente, com movimentos bruscos. — Senhor Tokimaru, tudo bem? Quer alguma água ou algo assim? Fique tranquilo, só preciso fazer algumas perguntas para você e, dependendo da resposta, te libero sem problemas. — O suspeito balançou a cabeça com muita assertividade, mostrando que tinha entendido o recado. — Eu aceito uma água, por favor. — No mesmo momento, o subtenente foi até um filtro de água no canto da sala e trouxe um copo de água para Tokimaru. Depois de alguns goles, Senko começou a pergunta. — Ok, vou começar: onde você estava nesse último domingo? — perguntou no tom mais calmo que encontrou. — Na-na-na, no-no jardim do-do-do Mizukage. — Ele estava muito nervoso, ativou o modo gagueira. Foi nesse momento que Senko se lembrou de uma das licitações que assinou, contratando os serviços do rapaz. Com muito cuidado para não sair do disfarce depois de uma gafe dessas, Senko fingiu ler algumas coisas e fez a anotação da constatação do rapaz. — Tudo bem, está liberado Tokimaru. — O jovem suspirou aliviado, tomando um mais um gole de água. O subtenente conduziu-o para fora da sala.

Tatsu Noburi era o seu quarto suspeito do dia. 24 anos, trabalha como cozinheiro no condomínio onde o colar foi roubado. Não tem passagens pela polícia de Uzushio e nenhum registro de má conduta. Contudo, seu nome está sujo e tem dívidas enormes no banco. O sujeito entrou de maneira demasiado calma no recinto e esperou o comando de Senko para se sentar. — Muito bom dia, Senhor Sargento Ren — Ele lia a etiqueta na farda que o Uchiha estava vestindo. — Creio que vá me interrogar pelo sumiço do colar, não é? Estou pronto para cooperar. — Aquela disposição tirou um pouco das palavras de Senko, mas mesmo assim continuou o interrogatório. — Muito bem... bom, sendo assim, vou ser mais direto: onde o senhor estava nesse domingo, às três da tarde, meu rapaz? — perguntou e logo foi respondido. — Estava realizando meu trabalho, senhor, sou cozinheiro de diversas famílias. — A informação estava correta. Senko sorriu para ele e começou a analisar os papéis. Enquanto lia uma coisa, percebeu que Tatsu tinha um tique de arrumar os seus cabelos ruivos para o lado. — Tem algo mais que eu possa ajudar, senhor? — o suspeito perguntou. — Não, por enquanto é só, Tatsu. Obrigado pela colaboração. — Senko fez um sinal para o subtenente colocar Tatsu em observação. Algo não cheirava bem.

Já o quinto suspeito que foi apresentado ao sargento tinha um ar muito diferente dos demais. Enquanto os outros eram pacíficos, esse parecia bem hostil. Sem que o sargento dissesse alguma coisa, foi logo se sentando na cadeira e ele mesmo iniciou o diálogo. — Que palhaçada... vocês estão fazendo eu perder meu tempo aqui, tenho mais o que fazer. Quer saber? Vou processar vocês, vou processar todos vocês e ganhar uma grana ainda por cima. Isso é um absurdo! — Ele saia gritando e lançando gotículas de baba por toda a sala. Senko tomou as rédeas da discussão. — Muito bem, senhor... — Foi ler a ficha que nem teve tempo de ler. Tenzo Yamanaka, 32 anos, trabalha como encanador. Como era de se esperar, tinha em seu histórico algumas queixas por agressões em bares e já foi detido uma vez por agressão a ex-mulher, mas agora cumpre uma medida protetiva e, desde então, não foram registrados mais problemas. Contudo, o temperamento continuou igual. — Tenzo. Bom, não se preocupe, só vou fazer umas perguntas rápidas, espero a sua cooperação pra economizar o seu tempo, e o meu tempo também. — falou alto e num tom ríspido, conquistando a atenção do briguento. — Onde o senhor estava ontem, por volta das três da tarde? — perguntou, sem esperar muito dele. — Ora, que pergunta idiota, eu tava enchendo a cara e me preparando para enfrentar essa segunda-feira de bosta, sem saber que em vez de trabalhar eu estaria algemado tendo que responder as suas perguntas. — Senko ignorou a agressividade dele e preferiu tirar as suas informações do relatório do seu superior. No momento da prisão, o suspeito tinha claros sinais de embriaguez. Sendo assim, aparentemente ele falava a verdade e em momento nenhum hesitou ou tentou mascarar alguma coisa. O Mizukage não queria perder mais tempo e nem dar motivos para ele processar o Departamento de Inteligência, então o liberou logo. — Ok, vai lá pro seu trabalho, tá liberado... — Fez um sinal com a mão e o suspeito já foi saindo, todo apressado.

Depois de todos esses interrogatórios, Senko permaneceu na sala tentando decidir entre Akira e Tatsu. De certa forma, era suspeita a maneira com que o cozinheiro foi tão solicito e prestativo, parecia estar colaborando demais. Era fora do padrão. Por outro lado, o nervosismo e a hesitação de Akira, aliado à omissão de certas partes da história e falta de clareza nas respostas deixava aquilo tudo mais confuso. Felizmente, um dos oficiais do departamento de Inteligência trouxe uma das evidências encontradas na cena do crime para que Senko analisasse. — Não sei se ajuda, mas encontramos um cabelo ruivo na perto do cofre onde estava o colar. — No mesmo instante, Senko sorriu de canto. — Bingo.

Liberou Akira e pediu para que Tatsu voltasse para a sala. — Algum problema, Senhor Sargento? — perguntou o rapaz. O Uchiha foi direto. — Por quanto você queria vender o colar, Tatsu? — o homem se engasgou com a própria saliva, assustado, e começou a gaguejar qualquer coisa tentando se explicar. — Não se preocupe, não precisa gastar suas palavras tentando se explicar, eu sei que foi você. — Senko exibiu a amostra de cabelo para o cozinheiro e ele entendeu tudo. Tatsu abaixou a cabeça, aceitando a derrota. — Se me disser onde está e se for cooperativo como estava sendo, talvez eles reduzam sua pena... — jogou com ele. — Está num baú, enterrado no terreno baldio do lado da minha casa, logo ao pé de uma árvore. — Senko sorriu mais uma vez e pediu para que o algemassem. — Obrigado pela ajuda. Você está preso, espero que o crime tenha compensado... — O Mizukage deixou a sala enquanto Tatsu era conduzido a prisão novamente, mas, dessa vez, definitiva. O crime estava solucionado.

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