Uma estação passou-se desde o término de vossos serviços em meio ao inferno que se escondia por debaixo das águas de Uzushiogakure. Neste período de tempo, pude colocar minha mente no lugar e relembrar-me de quem verdadeiramente sou. Cercado por almas condenadas, vagantes perdidos, deixei-me dominar pela fúria que residia em meu coração, submetendo-me a nada mais do que um mar de terror. Tantos sentimentos perversos que ali me consumiram, agora me faziam baixar a cabeça e repensar minhas atitudes. Após me reencontrar com Kiryu, quase não tive coragem de abraçá-la. Não sabia se aquilo se repetiria de novo, quase caí em perdição. Após retornar para a casa com o senso de dever cumprido, ainda sentia que não era o suficiente...Não estava nem perto de ser o suficiente para saciar o demônio que agora se acomodava dentro de mim. Mesmo tendo lutado contra eles, ainda sim...De alguma forma aquele lugar parecia me pertencer. Era como um refúgio do mal, inexplicável por palavras. Os dias seguiram como de costume, não pensei muito em mim mesmo durante o tempo em que permaneci em casa, parecia que eu tinha olhos apenas para minhas espadas e para a garota. De alguma forma, duas almas lutavam pelo controle de um só corpo. Mas eu poderia estar apenas perdendo a linha. De fato, os anseios de me tornar mais forte surgiram em pouco tempo, quase que como um objetivo supremo de vida.

— "Hattori Shion e aqueles outros...O poder deles está além do de qualquer humano...Que patético eu sou. Somos nada além de insetos em seus olhos, no final de tudo? Eu não vou permitir isso. Eu irei fazer de tudo para me fortalecer até o ponto que nem mesmo o próprio criador poderia me vencer. É isso, eu vou me tornar um deus. Vou fazer todos se ajoelharem, eu serei a justiça desse mundo. Vou julgar tudo e todos...Eles verão quem é o verdadeiro homem digno de ser chamado de "Lorde" nesta terra." — Dizia, rangendo os dentes.

— "P-pai? Tudo bem?" — Kiryu me puxava a atenção, com olhos arregalados e confusa.

— "Oh..? N-não é nada! Esqueça isso, ok?" — Tentava disfarçar.

Aquele comportamento cada vez tornava-se mais comum. Os treinos que realizava eram pesados e bastante perigosos, diga-se de passagem. A quantidade de vezes que me acidentei com o poder de minhas próprias espadas por tentar fazer coisas além de minha habilidade era assustadora. Mesmo assim, eu tinha cada vez mais vontade de continuar. A cada queda, um novo recomeço. Iria alcançar um nível que nenhum deles poderia sequer imaginar que este genin poderia chegar. Superando o nível de um kage...Indo para além de um humano: Me tornar uma divindade. Meu objetivo seria alcançar o poder dos Hattori. Aqueles ali já não mais pareciam-me aliados, e sim rivais a serem superados a qualquer custo. O tempo passou-se e minha mente cada vez mais parecia tender para o lado da submissão ao poder e fúria, mas era algo que eu mesmo tinha dado como inevitável após o domínio completo sobre a marca amaldiçoada. Tudo o que eu tinha em mãos eram artifícios da destruição, eu deveria construir o paraíso sobre os cadáveres daqueles que se opuserem a minha mão. Kiryu percebera a mudança de comportamento que eu tive, e por mais que continuasse atencioso e bastante carinhoso com ela, ainda sim a agonia para sempre estar em treinamento e aumentar minhas próprias capacidades era notória. Mal conseguia ficar dentro de casa por algumas horas sem pensar em novas estratégias de batalha ou maneiras de manipular os ventos. Como eu poderia alcançar o nível daqueles homens, afinal de contas? Tudo resumia-se a alcançar um patamar de poder acima do que qualquer um jamais imaginaria em alcançar, mesmo que eu tivesse que pisar em meus próprios companheiros para isso. Naquele momento em que pisei no inferno, eu pude perceber o quão fraco era. Tinha confiança nas minhas habilidades, mas elas não passam de lixo perto de um poder que beirava o divino daqueles. Aquilo me fazia sentir vergonha e nojo de mim mesmo, mas não era como se eu fosse simplesmente deixar-me abalar por tais circunstâncias.

— "Vou expor o quão fraca é a justiça deste mundo, vou mostrar para eles quem eu  verdadeiramente sou. Já chega, eu não aguento mais me esconder por debaixo das asas dessa vila. Eu me sinto tão pequeno...Por que? Isso é tão patético...Não vou permitir que assim continue!" — Pensava.

Talvez estivesse cego por poder, inveja daqueles que são mais fortes. Mas mesmo assim, eu continuaria seguindo este caminho nojento e sanguinário até o último dia de minha vida. Para tornar-me forte, nada mais justo do que renegar meu passado e focar-me apenas no presente e em um futuro incerto. Me tornar um deus? Era algo absurdo, mas ainda mantinha esta ideia sustentada. A justiça era falha e fraca, então eu a faria do meu próprio jeito. Se o mundo não conseguisse endireitar-se por conta própria, então faria com que ele girasse ao meu redor. Por mal ou por bem, todos conheceriam meu nome. Temendo ou admirando, eu seria alguém acima do nível de um mortal. Ascenderia aos céus, e com minhas mãos, faria com que todos, até mesmo os Hattori, se ajoelhassem em minha frente. Aqueles seres estão há muito tempo no topo...Já é hora de alguém desbancá-los. Me chamem de louco, de criminoso, todos aqueles que forem contra minha justiça e ideais pagará com suas vidas, e sem hesitação, queimarei os hereges e maldosos deste mundo. Eu não seria apenas um homem, eu seria um caminho: Seria a própria verdade, inquestionável. Todas as manhãs, acordava com sede de batalhas, e então perceberia que já era a hora de eu fazer algo a respeito disso tudo. E todos aqueles que se prestaram a mim poderiam finalmente ver que eu sou a justiça.