Uma atípica branda chuva escorria pelas nuvens. A neblina típica da vila deixava uma umidade refrescante no ar, uma sensação que alivia o corpo. Tardava na vila, um crepúsculo sobre a luz do luar, com arcos celestes de constelações da cor da prata esterlina, reluzindo tanto quanto as luminárias das casas nos arredores do centro da vila. Naquela tarde convenientemente relaxante, um shinobi apresentava-se caminhando inquieto nas ruas da aldeia. Naquele horário, haviam poucas pessoas no calçamento, algo a chamar a atenção pela inconstância. Não estava nem tarde o suficiente para que todas as pessoas estivessem em suas casas, mas também não cedo demais para o contrário, o que trazia um questionamento a respeito do porquê do shinobi naquelas ruas já orvalhadas. Aquele jovem shinobi, Jyu Viole Grace, atravessava a noite como um cavaleiro errante, e talvez com o semblante de um, pois havia sido chamado pessoalmente para o que acreditava ser uma reunião entre alguns shinobis também da graduação chūnin. Ele havia recebido poucas informações, segundo os próprios, para poupar--lhe de detalhes desinteressantes. A reunião seria um encontro informal, mas com certa relevância, já que o convite possuía a grafia correspondente aos pergaminhos de missões da aldeia.

De qualquer forma, o shinobi deveria atender a suas obrigações e portanto, decidiu comparecer. Talvez estivesse protegendo-se da chuva, ou simplesmente ignorando-a, mas de qualquer forma, ela tornava um tanto complicada a localização do endereço correto. Ao chegar, o sinobi provavelmente espantou-se, afinal, todo o lugar parecia completamente fora do padrão de excelência. Na realidade, o lugar todo parecia ser apenas uma estúpida brincadeira de mau gosto. O endereço presente na carta levava a uma pequena casa na praia, bem próxima ao oceano que cerca toda a aldeia. Jyu poderia até mesmo olhar em seus arredores e nas casas vizinhas, mas tudo parecia levar exatamente para aquele lugar, uma casa na praia. Observando a situação com frieza, seria uma oportunidade perfeita para uma emboscada, considerando o poder oculto dentro do shinobi, que facilmente gera cobiça, mas tudo parecia tão estranhamente silencioso que gerava um certo desconforto. Se não fosse por essa chuva, esse lugar talvez nem pudesse ser percebido tamanha a quietude que emana da fresta da porta e das janelas. Jyu sentia-se atraído. De certa forma, aquele silencio era um tanto prazeroso, mas talvez não para ele em pessoa, mas sim para a criatura que habitava seu corpo. O que poderia ser feito? Entrar em um lugar assim, em um horário tão convenientemente suspeito e em um lugar tão convenientemente isolado, apenas para satisfazer um desejo interior? De qualquer forma, o jovem shinobi deveria decidir o que fazer.

Considerações:

O shinobi decidi adentrar aquele recinto. Ao abrir a porta da casa na praia, surpreendentemente não há nada, apenas um grande vazio e uma escuridão, com luzes vagamente visíveis, como pequenas labaredas de velas que já se apagam. Assim que o shinobi solta a maçaneta, percebe que os arredores dela tornaram-se protuberâncias que, ao analisar de perto, são pequenos corais unidos. Quando Jyu da alguns passos dentro do lugar, a porta atrás dele fecha-se rapidamente. Mesmo que ele tenta abri-la, é incapaz, como se ela estivesse lacrada por um poderoso selo. Após a porta fechar-se bruscamente, as velas, antes vagamente acesas, parecem alimentar suas próprias chamas, tornando-as mais vivas e iluminando melhor aquele pequeno espaço daquela casa na praia. No final do corredor, há um homem sentado, de aparência senil, com um chapéu de palha sobre a cabeça e vários sinos de vento atados no contorno da palha. Ele está com as pernas cruzadas e com a palma das mãos em cima dos joelhos, ao lado de alguns incensos, que emanam um aroma com uma fragrância peculiar, muito sedutora. O homem parece sussurrar um cântico harmonioso, um louvor a uma estátua a sua frente. A estátua representa uma criatura semelhante a uma tartaruga, com um casco gigante, uma carapaça tão resistente quanto o aço. Estar nesse lugar causa ao shinobi uma sensação semelhante ao que sentia do lado de fora, um conforto incompreensível, quase como sentar-se em frente a uma lareira. Mesmo que Jyu ficasse longos minutos em silêncio apenas num dos cantos da casa, nada aconteceria, como se sua presença nem fosse notada. O que Jyu fará? Conversar com um estranho ou forçar sua saída?

Considerações:

O homem levanta-se com um badalar harmonioso dos sinos atados sobre a palha de seu chapéu. Eles ressoam como o som das ondas do mar, e após aquela figura erguer-se, ainda de costas para Jyu, os incensos emanavam uma fragrância  semelhante ao cheiro da maresia. Ele caminhou em direção ao garoto, trajando um quimono aberto, com seu peito exposto. Uma grande faixa estava atada em sua cintura, com a bainha de uma grande espada, entretanto, sem a espada embainhada. O homem aproximou-se do shinobi, com passos vagarosos, mas fundos, com força suficiente para ouvir-se o piso de madeira resistir, rangendo. Ele chega bem perto de Jyu, fazendo-o conseguir sentir sua respiração. O homem não era alto, na realidade, era mais baixo que ninja de Uzushiogakure. Ele parece observar os detalhes de seu rosto com cautela, e em seguida, abre sua boca, esperando alguns vários segundos antes de proferir alguma palavra, num intervalo de tempo capaz de causar desconforto: — Com certeza é você... Você... Você cheira a humanidade... Que infortúnio, estou incrédulo, está fedendo a humanidade... Ainda não tornou-se um com os mares... Eu, Iyashi Nomizu, vou te mergulhar nas águas mais puras... — Diz o homem, com uma fala remansosa, fraca, num tom vocal tão baixo quanto um sussurro. Ele coloca sua mão sobre a barriga de Jyu, alisando-a, com um olhar de simpatia: —  Homens... Sujam as águas dele... Eles são tão ignorantes, suas mãos tão destrutivas... Mas ele não os faz mal... Você não o faz mal também... Eu, Iyashi Nomizu vou fazê-lo aprender... Você é um peixe que não sabe nadar... Mas vai nadar, vai nadar contra as correntezas mais vorazes... — Prossegue Iyashi. Novamente ele se vira, retornando para aonde estava sentado, inclinando-se para a direita e abrindo um espaço no carpete do chão, apalpando-o, sinalizando que gostaria que o garoto acompanhasse-o e que se sentasse também: — Sente, homem que controla a Tartaruga Gigante... Vou ensinar-lhe a nadar... Para não afogar-se... Ó peixinho desprovido do saber... Vai nadar como a Tartaruga Gigante... — Diz Iyashi, cerrando suas pálpebras e novamente louvando a estátua a sua frente num cântico incompreensível.

Considerações:

Ao sentar-se ao lado daquele homem, ele ajeita a postura de Jyu, corrigindo sua posição tornando seu tronco ereto e colocando ambas as pernas cruzadas. O shinobi acaba copiando seus movimentos atentamente, cerrando sutilmente seus olhos para continuar fitando seu instrutor. Ele inspira, puxando o ar para si e estufando demasiadamente seu peito, para posteriormente soltá-lo aos poucos. O ar que toma a sala possui uma fragrância típica de peixe recém-pescado, como frutos do mar: — Para meditar, é preciso silêncio... Silencie sua mente e corpo... Ouça o batuque do mar, ele o chama... Ó garoto que desejas nadar... — Diz Iyashi, respondendo o que foi dito pelo próprio Jyu assim que o mesmo decidira sentar-se a seu lado. A passagem de tempo deixou de ser sentida. Não havia qualquer coisa que pudesse sinalizar o horário atual ou a quanto tempo ele esteve dentro desse recinto, mas pode-se deduzir, sem acurácia, ao menos dois minutos. Aos poucos, com foco no exercício de relaxamento corporal, Jyu consegue ouvir a batida de uma onda na superfície de areia da praia. Mesmo que pudesse ouvir, não pode definir de onde vinha. Talvez fosse da própria praia de Uzushiogakure. Mais alguns instantes e novamente ela é ouvida. Concentrar-se na meditação começa a dar frutos, e a partir de alguns vários minutos em completo silêncio, apenas ouvindo a maré e sua própria respiração circular por seu corpo, o shinobi começa a sentir-se estranhamente bem. Subitamente, sua roupas parecem não tocarem seu corpo, como flutuando. Seus cabelos começam a flutuar em mesma cinesia. Sua pele parece roçar alguma substância. Ele sente-se submergindo. Seus entornos, mesmo com os olhos fechados, parecem luminescentes, Jyu não era mais capaz de abrir seus olhos, como estando com suas pálpebras pesarosas. Algo parecia chamar-lhe ao fundo, uma voz irreconhecível: — Estamos nos mares da Tartaruga Gigante... Tenha cautela, pois devemos nos aproximar dela... Só assim você nadará... Terá forças vindas da maior criatura de todos os sete mares... — Prossegue Iyashi, que lhe segura pelo pulso e parece puxá-lo para cima. Jyu levanta-se e começa a flutuar também, como genuinamente estando debaixo d'água. Conseguia sentir a resistência da água ao abrir seus braços, sentia a mesma lhe arrastando com uma forte correnteza, era como estar no fundo do rio mais doce: — Estarei em seu lado nessa jornada... Mas deverá guiar o caminho... Você consegue ouvir, não?... A Tartaruga Gigante chama por ti... Vá até ela... — Finaliza Iyashi, pedindo-lhe que siga em frente e que nade até onde consegue ouvir a voz ecoar, uma tarefa difícil, mas não impossível.

Considerações:

Jyu começou então a nadar, cada vez mais fundo. O chamar daquela criatura, a Tartaruga gigante, lhe deixava calmo, era um contato direto com a besta, que desejava ceder-lhe suas forças, uma simbiose. As águas, que antes apresentavam certa resistência, quanto mais aproximava-se daquela criatura, com maior leveza seu corpo flutuava. Nadar tornava-se mais fácil, assim como foi dito pelo próprio Iyashi. O chamado agora tornava-se claro, era um chamado de uma grande silhueta, cuja bioluminescência assemelhava-se a luz do sol. Ela era gigante, como podendo ocupar cada canto do mundo inteiro ou abraça-lo com suas nadadeiras. Pouco importava se Iyashi estava ou não presente, o caminho não era mais pedregulhoso, era calmo e simples como andejar numa planície. Ao chegar mais perto, cada vez mais perto, numa distância onde conseguia-se tocar seu casco, algo parece de repente prender seu corpo como num estado de paralisia, finalmente aliviando o peso de suas pálpebras. Quando Jyu abre seus olhos, ele contempla uma grande criatura, com uma casca semelhante a de um caranguejo, com espigões espalhados por todo o seu corpo, e três caudas, que balançavam as águas com tamanha ferocidade que criavam tornados. Ele fitava o rosto do shinobi, com um de seus olhos fechados. Em seguida, ele parece levantar seu braço direito e com um toque em seu abdômen, empurra o shinobi para trás. O toque arremessou o shinobi para trás com grande força, fazendo-o cortar a água por onde percorria. Seus entornos obscureceram-se até que por fim, Jyu abrisse novamente seus olhos e agora, estava novamente sentado ao lado de Iyashi: — Meus parabéns, ó peixinho clarividente, agora sabes nadar como ele... A tartaruga lhe guiará nas encruzilhadas... Mas o restante do caminho apenas você será capaz de traçar... Lhe desejo prosperidade, que a Tartaruga Gigante faça-o bem... Diz o homem, levantando-se e abrindo a porta: — Agora está na hora de partir... Não preocupe-se em voltar, não há mais nada que possa ensinar... Adeus... — Por fim, finaliza o homem, estendendo-lhe a mão para despedir-se com um cumprimento.

Considerações: