Era o início da tarde, que aparentemente residia tranquila sobre os céus de Uzushiogakure, por mais uma vez. Observando as nuvens e a névoa que cobria o país através maior janela da casa, um leve sorriso se abria em meu rosto. Todos os dias eu me perguntava o que poderia haver além daquelas nuvens. Se nenhum homem fora capaz de atravessar os céus no passado, como verdadeiramente ter certeza do que se esconde por detrás do azulado? Permaneci assim enquanto tomava um copo de café, quando fui abruptamente tocado por Kiryu enquanto distraído, o que me fizera tremer por um instante. Virei meu rosto para ela e vi que carregava consigo um livro de histórias.

— "Lê uma história pra mim?" — Ela perguntou.

— "Hahaha! Como quiser...Vamos na sala, será mais confortável." — Respondi-lhe, pegando o livro nas mãos.

Aquele era um velho livro de histórias fantásticas o qual havia em posse desde quando me recordo dos tempos com o pai. Já se fazem anos desde que não abro uma única página do mesmo, então seria bom para relembrar os velhos tempos. Meu pai costumava contar as histórias deste livro todas as noites, e as vezes até chegava a inventar algumas. Sinto falta desses dias, e mesmo na época sendo extremamente pobre, eu ao menos não era triste e tinha algo pelo qual me dedicar, afinal. Abri as páginas empoeiradas do livro de histórias e sentei-me na poltrona singular, enquanto Kiryu sentou-se no sofá da sala. Felizmente, a luminosidade do sol era bastante forte e permitia uma leitura perfeita, além da fonte utilizada. Passei as páginas procurando por uma história que me fosse interessante, até que cheguei em uma que estava ao fim do livro, porém...Eu não me recordava de ter lido essa no passado. As páginas pareciam bem mais antigas que as outras e também não havia numeração. Seu nome era "Lágrimas do Dragão".

— "Desde quando essa história está aqui? As páginas não se fecham com a capa do livro...Que estranho, não me recordo de haver uma história sobre dragões neste livro, uma vez que é bem mais voltado para o público infantil. Vamos ver do que se trata, talvez ela goste desse tipo de coisa." — Pensei.

Os enormes olhos de coloração roxa de Kiryu pairavam sobre mim, e ela notava minha repentina mudança de expressão. Apresentava dúvidas sobre o conteúdo daquela história, a jornada ali proposta era muito estranha, mas mesmo assim resolvi contar. Antes que ela abrisse a boca para questionar o motivo de meu silêncio prolongado, levantei a cabeça, ajeitei as pernas e coloquei o livro em mãos, tossindo propositalmente para chamar sua atenção antes de iniciar a história. A desconfiança sobre a mesma estar dentre as páginas do livro me causavam uma estranha sensação, mas tentei me conter, pensando que poderia ser somente algo que meu pai evitou me contar no passado para que eu não  ficasse com medo.

— "Preste atenção, filha. O nome dessa história que irei contar se chama 'Lágrimas do Dragão', parece ser interessante. Se ajeite aí, por que essa aqui parece ser bem grande...Vai até o final do livro, pelo que estou vendo. Cuidado para não se perder no meio dela, tá bom? Não é canção de ninar, então se perder algo, pode acabar ficando confusa depois." — Alertei-a em bom tom e descontraído.

— "Tá bom! Mas...Por que a história se chama Lágrimas do Dragão? Parece ser algo triste." — Ela indagou-me

— "Talvez, quem sabe? Vamos começar, não iremos descobrir sobre o que se trata se não lermos, não é mesmo?" — Dei uma leve risada ao fim, então iniciando a leitura da fábula.

A Leitura se perpetuava por mais alguns bons minutos, e eu notava que o tema da história era ligeiramente mais profundo e sombrio do que eu imaginava, e agora era a minha atenção a qual havia sido chamada para com que esta história. Também percebi que Kiryu permanecia bastante atenta - Quase vidrada em minhas palavras, curiosa para saber o que acontecia depois. Era sobre um homem solitário e arrependido de seus pecados que vagava dentre um complexo de cavernas escuro, onde via pedaços de sua vida passando pela sua frente. Nesta  caverna, havia uma gigantesca sala cheia de ouro com um enorme dragão vermelho que dormia por debaixo das moedas. O homem, pecador, estava atraído pelo tesouro e queria tomar para isso, mas se quisesse cumprir tal desejo, primeiramente teria que dar cabo da criatura lendária que ali se escondia. O dragão era um símbolo de justiça e terror, há muito tempo usado pelo reino chamado de "Irythill" em suas guerras, e com tamanha força, fora capaz de trazer uma paz de 500 anos ao mundo. Em meio a história, o encontro entre o homem e o dragão se tornava cada vez mais próxima, e tanto a minha animação quanto a da garota estavam nas alturas, esperando pelo confronto épico. Apesar disso, ao virar uma das páginas, me surpreendi.

— "Mas o que? Ué?! As páginas estão todas em branco." — Disse, enquanto virava o livro para Kiryu. — "Por que as páginas estão em branco? Essa não deveria ser uma história pronta? Só não vá me dizer que isso era uma original que meu pai acabou não conseguindo terminar de escrever...Não, não é possível. Ele não gostava muito de escrita...Tem algo estranho acontecendo aqui. Hmpf." — Proferi, enquanto coçava meu pescoço.

A garota aproximou-se de mim e pediu para que eu baixasse a mão. Baixando-as para que ela pudesse visualizar as páginas branco, Kiryu optou por utilizar-se do seu Byakugan para verificar se não havia nada de irregular com o livreto. Foi aí que veio a surpresa. As páginas todas estavam escritas em chakra, e não era uma escrita de fábula. Agora, tudo o que se encontravam nas páginas eram a repetição dos números "N 78'34, O 21'94, E 55'67, S 12'70". Kiryu não compreendia absolutamente nada do que aqueles números queriam dizer, mas eu sabia exatamente o que eram. Tomei os livros da mão da garota e anotei os números com uma caneta real na página, marcando suas informações. Após tal, levantei a voz para a menor. — "São coordenadas. Elas estão levando a algum ponto ao extremo norte daqui." — Confirmei a teoria. Coordenadas disfarçadas a meio uma história fantasiosa sobre um gigantesco réptil alado que levava a um enorme pico a norte de Uzushiogakure, assim como na história. Tudo parecia estar muito bem armado para este momento, o livro não fora encontrado por acaso, e estas páginas também não existiam no passado. Não sabia responder qual o significado de tudo isso, talvez alguém tenha posto estes pontos no livro há muito tempo atrás, quando deixei-o guardado na gaveta da casa há muito tempo atrás. Teria sido Kanao? Não sei, mas agora eu sentia que deveria investigar a fonte de todo o mistério. Levantei a cabeça e mais uma vez olhei para o céu através da janela maior. O pico se encontrava acima das nuvens. Suspirei, e enfim, levantei-me da poltrona. Eu não poderia ficar parado agora, não enquanto as dúvidas permanecessem a atormentar meus pensamentos.

Por que coordenadas? Eu não sabia, mas deveria ir até o local. Me sentia mal por isso, eu tinha a sensação de que poderia morrer ou até acontecer diversas desgraças com minha tão amada e pequena Kiryu. Disse para ela ficar em casa, e assim a garota fez. Mesmo sendo uma shinobi de patente mais alta que a minha, ainda respeitava todos os meus comandos como se fossem verdadeiras ordens. Era algo que eu nunca me acostumaria com, ela levava esse tipo de coisa a sério demais. Colocando as devidas vestimentas e embainhando minhas espadas duplas nas costas, cruzadas em formato de "X", disparei para fora dos portões do vilarejo em direção ao extremo norte, com o pedaço rasgado de papel referente a onde anotei as coordenadas em mãos. Seguia a trilha com bastante cuidado, pois sabia dos perigos que ela poderia representar. Seria aquela história uma mera fábula, ou real?  ~ Não, talvez fosse uma espécie de metáfora com algo relacionado ao sobrenatural, pensei. Eram muitas possibilidades, mas não conseguia encontrar uma resposta definitiva para o problema o qual estava a encarar no momento. O que diz respeito a quem colocou as páginas adicionais no livro, parei de questionar tal ponto. Era irrelevante a essa altura, e tudo o que eu deveria fazer no momento era descobrir o que havia nesta localização demarcada e assim desvendar o mistério por trás das lágrimas do dragão. A vista por debaixo das nuvens era incrível, com o sol raiando aos céus com poucas nuvens e nebulosidade, uma situação rara em Uzushiogakure. As plantas ao redor gozavam de vida, com verdes radiantes e reflexos belíssimos. Observa tudo o que conseguia no caminho para me distrair, mas ainda me focava por completo no objetivo quando me fosse verdadeiramente necessário. Pisava com mais força e os pés se aceleravam ainda mais, eu não tinha tempo a perder, afinal de contas.

— "Fique bem, Kiryu. O papai já vai voltar...Não precisa ficar preocupada." — Disse em tom baixo para mim mesmo. — "...Preciso descobrir o que por trás daquele monte, isso não pode ser só uma mera  brincadeira. Eu sinto que existe algo, mas por dentro..Eu sinto que sou incapaz de fazê-lo. Eu deveria desistir disso, afinal? Talvez sim, não estou muito seguro de subir aquele monte por conta própria, e não sei nada sobre ninjutsus médicos...Que droga! Mais uma vez, eu me provo um fracasso a mim mesmo. E se algo acontecer? N-Não...Não posso ficar pensando nessas coisas...Foco, Kagaya..." —

Os pensamentos confusos continuavam a me atormentar, não conseguia me concentrar muito sem pensar que alguma desgraça ocorreria a mim. Mesmo assim, lembrei-me de ter jurado a sempre seguir em frente, sem hesitar e até o final. Sendo assim, abri um sorriso leve no canto direito da boca e fechei os olhos, gravando estas palavras na minha mente por mais uma vez. Eu não poderia recuar, nunca mais. Seja por um sonho, uma missão, uma pessoa...Sempre seguir em frente e levar a vida de cabeça erguida, era o que eu prometi a mim mesmo, independente das adversidades e situação. Com o pensamento em prática, suspirei e continuei seguindo rumo ao desconhecido, somente para descobrir o segredo por detrás das coordenadas misteriosas.

Era enorme, não conseguia acreditar no tamanho de tal montanha. Seu pico passava através das nuvens, coisa que talvez nem mesmo meu Byakugan pudesse enxergar, se fosse por perspectiva. Impressionado com tal criação da natureza, retirei as espadas embainhadas na costas em formatos de X com braços opostos, fazendo com que a retirada também se desse em um formato de X, o que era bastante estiloso, Coisa que eu definitivamente apreciava em qualquer situação. Cravei as lâminas das katanas gêmeas na base da montanha e então iniciei a escalada, na direção do topo daquele monumental figurão natural. As rochas eram sólidas e os ventos eram bastante fortes e frios, mas eu não deixava me abalar por tais. Por alguns momentos, pensei que fosse cair e simplesmente morrer esquecido e sozinho, mas me livrei dos pensamentos negativos ao recordar-me das palavras que disse a mim mesmo há alguns poucos minutos atrás, pois sabia que o sol brilharia para mim por mais uma vez. As nuvens obscureciam os segredos ocultos do pico nevado da enorme montanha do País da Água. Olhando para trás, era possível enxergar toda a vila oculta no horizonte e diversas outras menores ao redor, além de florestas e lagos. Algo verdadeiramente incrível, eu abri um grande sorriso ao ver tudo aquilo, me esquecendo dos medos. Porém, como sempre, algo tinha que me desconcentrar. Na escalada, dei uma breve parada para coçar meu pescoço por mais uma vez, o que quase me fez desequilibrar do ponto em que estava, mas por sorte consegui me segurar na empunhadura da espada livre por mais uma vez. Suspirando, eu conseguia sentir que algo estava próximo, uma vez que a textura rochosa da montanha se tornava cada vez mais lisa e difícil de se escalar, o que me levava a pensar que havia algum tipo de estrutura modificando o tipo de rocha que constituía o topo da montanha, a qual não era mais sedimentar. Além disso, a espada tinha um pouco de dificuldade de perfurar as rochas inteiras, e isto de fato não era algo natural.

— "Estou próximo, essa é a única explicação. Ah...Essa vista é maravilhosa, quem dera eu pudesse vir aqui todos os dias. Vendo o além através desta montanha, me sinto tão livre...Por que ter medo disso? Como fui tolo...Esta é uma sensação única, quase divina. A sensação de estar nas alturas, sobre tudo e todos, observando...Livre, como um pássaro. Heh, me pergunto o motivo disso não acontecer na sociedade, de fato." — Dizia, sorridente.

Após tal, continuaria a subida na montanha, procurando por um ponto onde pudesse cravar a espada com firmeza e subir em uma espécie de entrada secreta ou coisa do tipo, visto que as coordenadas já estavam batendo. Tentava deduzir o que fazer, tateando as pedras enquanto preso às rochas e até mesmo pensando em ativar o Byakugan. Mesmo assim, não recorreria a tal solução tão cedo, visto que eu estava me divertindo bastante com tudo isso. Liberdade e felicidade genuínas...Algo tão raro em minha vida, afinal.

O Objetivo enfim havia sido alcançado, quando a lâmina cravou-se em uma curvatura. Olhando para baixo, percebi que estava acima de algumas nuvens e que a névoa já não mais conseguia impedir minha visão, que clareou-se diante da glória do astro-rei. Observei a vista por quase 30 segundos inteiros, sorrindo abertamente enquanto observava o mundo ao meu redor. Após a contemplação alongada do terreno, subi para verificar o conteúdo de tal escalada, percebendo uma porta de entrada à caverna que já estava há muito tempo destruída. Adentrei na escuridão, iluminada pelos poucos raios de sol que ainda conseguiam esgueirar-se pela entrada, vendo que se tratava de um corredor, com outra abertura ao fundo. Era ligeiramente mais claro que a entrada, mas não o suficiente. Após ter noção de que a sala a qual estava entrando era muito mais larga que a anterior, logo notei a presença de enormes pilares na forma de espirais que seguravam o chão e teto da caverna. O chão era completamente liso e vazio, com um único baú ao centro. Lembrei-me das frases do livro: "Dentre um mar de tesouros, um dragão jazia dormente. Jamais conseguiria tomar as riquezas para si, sem antes dar cabo do réptil lendário". Quando isto me veio à mente, quase surtei. Onde eu estava me metendo, afinal? Guardei as espadas em suas respectivas bainhas localizdas nas costas em formato de X e desci a escdaria improvisada que ali possuía, andejando lentamente até o baú do local. Observei-o por alguns instantes antes de abrir sua tampa na base da força com uma das kunais que ali possuía no momento e assim verificar seu conteúdo. Moedas e mais moedas de ouro...Um tesouro inestimável para os tempos antigos, mas que hoje não valem mais nada. Enfiei meu braço no meio dos tesouros e percebi a presença de uma tabuleta no local, retirando-a enquanto as moedas eram atiradas ao ar. Empoeirada e anciã, soprei a sujeira para longe enquanto verificava as formas cravadas na pedra retangular.

— "Que língua é essa? O que essas figuras significam..? Isso é um rosto de dragão, afinal?" — Me questionava, virando a tabuleta e percebendo que ali havia uma espécie de fechadura a qual deveria ser aberta por meio de uma kunai. Sacando a mesma de antes por mais uma vez, forcei a fechadura, fazendo com que a tabuleta fosse partida em três pedaços, caindo ao chão e se desfazendo. As runas ali encrustadas fizeram sua parte e brilharam em um azul extremamente radiante e intenso, revelando o conteúdo ali escondido. Um enorme pergaminho rolou, se abrindo. Com diversos nomes e assinaturas, era como se me chamasse. Me assustei e dei um salto para trás, guardando a kunai e colocando as mãos nos cabos das espadas, pensando que se tratava de algum tipo de armadilha. Nestes tempos, não dá para confiar em nada, afinal de contas.

O pergaminho me fez saltar de susto, e por um momento pensei que fosse o fim de tudo. Meus olhos escureceram por um momento, e logo encontrei-me atirado ao chão, com coração pulsante. Eu estava extremamente tenso, com medo de uma morte impossível. A Melancolia e traumas que guardava de meu passado obscuro me fizeram temer até os mínimos detalhes, e eu deveria lutar contra isso. Engoli a ofegação e levantei-me por mais uma vez, me aproximando do pergaminho e visualizando seus nomes ali escritos. Haviam diversas pessoas que por ali haviam colocado suas marcas, mas não entendia o motivo para tal. Pensativo, observei que todas as escrituras baseavam-se no usuário descrever a própria nomeação com sangue no papiro, que algo possivelmente aconteceria.

— "Isso me cheira a Pacto de Sangue. Será mesmo que essas criaturas existem nesse mundo? Bom...Se isso for me fortalecer para que eu consiga trazer a paz para toda minha família e Kanao de uma vez por todas, estarei disposto a pagar o preço que for preciso. Eu não posso falhar e nem recuar! Prometi essas coisas a mim mesmo, não posso desistir agora!" — Pensei comigo mesmo, mordendo o dedão.

Após tal, me aproximei do enorme espaço em branco do pergaminho e escrevi meu próprio nome com o sangue que escorria do dedo, observando para ver o que acontecia após a escritura ser finalizada. O sangue brilhou em um vermelho claro intenso antes de gravar-se para sempre no papel, fazendo com que o pergaminho se enrolasse por mais uma vez, diminuindo seu tamanho e desaparecendo ao ar. Após isso, diversas marcas negras surgiam do chão, e então, uma gigantesca nuvem de fumaça cobriu o meio do local, fazendo toda a estrutura interior abalar-se diante do choque. Me afastei com um pulo para trás, indo diretamente às escadarias para observar o que acontecia depois. Seria uma armadilha, afinal de contas?

Definitivamente não conseguia acreditar no que estava vendo. O que surgiu por detrás daquela nuvem era colossal: Um réptil com um par de asas enormes com mais de seis metros de altura que eu mal conseguia acreditar que poderia existir neste mundo. Com escamas vermelhas e olhos brilhantes enquanto fumaça saía de sua boca por tamanho calor que ali se encontrava concentrado...Era um dragão: Um verdadeiro. O medo da morte surgiu em minha espinha por mais uma vez, e eu nada consegui fazer além de me ajoelhar e desistir de tudo, cobrindo a cabeça com as mãos enquanto as vezes coçava o pescoço, me desconcentrando mais uma vez. Mesmo assim, palavras fundas gritavam para mim. — "Não desista! Não Desista! Não Desista! Kagaya, acorde! Acorde!" — As palavras se ecoavam, eram diversas vozes sobrepostas que me eram familiares. Fechei os punhos e afiei os olhares, me levantando e sacando as espadas gêmeas com um X, preparado para enfrentar a fúria daquela criatura lendária, a qual julguei que estava selada há muito tempo no pergaminho e que agora liberta por um erro meu. Uma lágrima escorreu de meu olho esquerdo.

— "Se hoje for o dia de minha morte, saiba que eu te amarei em qualquer lugar em que esteja, Kanao. Se renascermos neste mundo, desta vez irei te proteger. Vou enrolar aquele cachecol em você quantas vezes quiser...Não posso permitir que você sofra por mais uma vez com meus erros...É tudo o que posso fazer para tentar corrigir esta mancha sangrenta na minha existência insignificante...Por favor, me perdoe por tudo..." — Disse para mim mesmo, enquanto chorava ao mesmo tempo que colocava cada vez mais força na empunhadora das espadas, saltando as veias e se preparando para o combate conforme a criatura se aproximava. Eu estava pronto para tudo, matar e morrer por aqueles que desejo proteger. Kiryu cresceria para ser forte, e não sofreria por minha culpa. Quantos pecados carrego nesta vida? Talvez este seja meu julgamento final...Eu não conseguia pensar direito naquela situação, muitas coisas se passavam pela minha cabeça...Com um objetivo único. A respiração era pesada e os olhares mortais, com olhos avermelhadas pelo fluxo sanguíneo. Os dentes rangiam conforme a aproximação da criatura, e enfim...Os dois corpos estavam próximos, iluminados pela luz do sol. Isso permaneceu, por mais alguns instantes, até que...

Ambos se encaravam a uma distância curtíssima, e tudo o que eu conseguia pensar de frente para aquele monstro era que eu daria de tudo antes do fim chegar. Não havia condições de um humano enfrentar tal criatura, disso eu tinha certeza. Apesar disso, quando me preparava para iniciar a sequência final de golpes, o dragão baixou sua cabeça e eu pude observar o olhar entristecido em seus olhos. Paralisei ao ver tal cena, não entendendo o motivo de tal atitude da criatura. Ele parecia querer falar algo, mas não conseguia. Aproximando suas enormes garras de meu corpo, ele segurou-me com força e me colocou em cima de sua cabeça, então cusparando uma enorme rajada de fogo que derreteu e abalou grande parte do esconderijo do topo da caverna, permitindo sua passagem.

— "Por favor, não me deixe..." — O dragão disse.

Eu não entendi o que ele quis dizer com aquela frase, parecia ter medo de algum tipo de abandono. Minha cabeça girava enquanto o mesmo atravessava os céus com suas asas abertas e viajava dentre as nuvens, como um verdadeiro deus. Observava o mundo abaixo de meus olhos e abria um sorriso, também conseguindo observar Uzushiogakure de cima...A vila parecia tão linda e pacífica, eu não conseguia não sentir felicidade por aqueles momentos. Me acalmei um pouco e cocei o pescoço, até chegando a me desconcentrar por conta de tal. O dragão continuava com os ruídos de choro, esperando uma resposta.

— "Não lhe deixarei..." — Proferi, como forma de acalmá-lo.

Ele não parecia ser uma criatura malígna, e os ruídos pararam após minha frase. Então, ele passou a diminuir a velocidade de voo e baixar as asas, aproximando-se do solo, para pousar próximo a Vila Oculta do Redemoinho. Eu sabia que ele queria me deixar no local em segurança, o que significava que agora eu possuía um laço com tais criaturas? Quantas mais existem? Minha curiosidade me deixava angustiado, mas ao menos sabia que mais aliados haviam surgido ao meu lado. Fechei os punhos enquanto aguardava pelo pousar do dragão.

Quando a criatura pousou sobre o solo próximo a vila de Uzushiogakure no Sato, eu sabia muito bem o que ele queria com tal. Deixou-me descer pela sua cabeça e expressava um leve sorriso em seu rosto. Um ser com tamanho poder, implorando para estar junto a mim? Eu não tinha noção de onde estava entrando com isso, mas sentia empatia por aquele dragão. Passei a mão em suas escamas como forma de carinho e o mesmo fechou os olhos. O medo da morte deixou completamente minha mente, os pensamentos negativos apenas me atrapalhariam no futuro, e hoje aprendi que nem todo o desconhecido é necessariamente malígno. Continuei a passar a mão pelo dragão até que o mesmo se desfez em uma enorme nuvem de fumaça, retornando ao seu plano terreno próprio. Baixei o braço novamente e dei as costas, disparando na direção da vila, pensando em logo retornar para a casa. O Pacto de Sangue havia se formado por completo, e agora a essência do Reino Lendário dos Dragões fazia parte de minha própria alma, conectados por um laço invisível de confiança e espiritual. Me aproximava em uma velocidade relativamente alta, com objetivo de logo alcançar a moradia.

— "Agora eu entendi...Droga, como fui fraco. Me deixei ser tomado por sentimentos negativos e um medo extremo da morte...Eu sou um merda...Não posso continuar minha jornada dessa maneira, como um verdadeiro covarde. Vou mudar minha postura e honrar todos aqueles que amo. Não deixarei que eles se decepcionem comigo, eu fiz uma promessa e irei cumprí-la. Não posso recuar a esta altura!" — Pensei comigo mesmo, suspirando enquanto levantava os ânimos.

Alcancei minha casa em pouco menos de quarenta minutos, uma vez que o dragão pousara a cerca de quatro quilômetros do vilarejo, além de toda a dificuldade de adentrar da vila por mais uma vez sem ser pego e acusado de sair de maneira ilegal. Apesar da demora, foi um grande sucesso. Me esgueirando dentre as sombras da aldeia e alcançando minha casa, suspirei em alívio ao abrir a porta da moradia de dois andares, sendo alegremente recebido por Kiryu, que me abraçou logo na entrada. Vendo que minhas roupas estavam sujas e minhas mãos com um sangramento bem leve pelo esforço e pressão na empunhadora das espadas, ela perguntava sobre como havia sido a experiência e o que aconteceu.

— "O que aconteceu lá..Foi surreal. Sabe, eu nunca pensei que essas histórias realmente poderiam significar algo neste mundo. Minha filha, eu vou te mostrar uma grande surpresa mais tarde, na madrugada. Te levarei até o campo de treinamento, e lá lhe mostrarei o que significa poder e intimidação. São criaturas belíssimas, ainda que extremamente intimidadoras. Meus olhos não conseguiam acreditar...Mas agora os tenho ao meu lado. Irei lhe mostrar isso tudo quando a hora chegar, mas não se preocupe, eu estou muito bem. Heh...É isso." — Disse.

Agora eu estava confiante em minhas próprias ações, estava sorridente por ter superado meus próprios sentimentos negativos e ido além da barreira do medo. Eu já não era mais o mesmo de antes, não mais um covarde. Eu entendia meu propósito neste mundo, mas apenas agora finalmente pude superar a última barreira que me impedia de seguir em frente - De verdadeiramente avançar nesta jornada. Após o fim da jornada, deixei as espadas cruzadas em cima da mesa e subi as escadas, partindo para tomar um banho e contar a história de minha jornada até o topo da montanha para a infante quando retornar. Havia sido um dia inédito...Para sempre cravado em minha memória.