Abruptamente fui chamado a atenção por algo bastante inconveniente logo à calada da noite: Um bater na porta. Deixando Kiryu descansar em paz, fechei a porta de seu quarto e arrumei meu elegante quimono de coloração preta, lentamente descendo as escadas com passos lentos. Vendando meu próprio rosto e deixando um espaço aberto apenas para o olho direito enxergar o que se passava, tinha certas preocupações sobre quem e o que poderia ser. Além da porta, muita coisa passou pela minha cabeça antes de a abrir para verificar o objetivo da chamada, mas mesmo assim fui tentado a girar a maçaneta. Abrindo lentamente a porta da moradia e me preparando para sacar uma kunai para caso algo viesse a acontecer, fui surpreendido quando um homem vestindo roupas acinzentadas e com uma máscara a qual possuía uma forma e pintura que relembrava um pássaro me abordou. Sem falar uma única palavra, ele deixou uma carta em minhas mãos e desapareceu em um piscar de olhos, como se nunca estivesse ido até ali. Sem entender e bastante confuso eu realmente fiquei, mas decidi abrir o envelope entregue para verificar do que se tratava. Observando os letreiros e a informação a qual havia sido me dada, verificando o conteúdo que ali estava contido de maneira bastante cuidada. A missão que havia sido repassada a mim era relativamente simples, apesar de parecer ter alguns obstáculos bastante complicados no caminho. Aparentemente, o uso de técnicas ninja durante a missão era estritamente proibido, mas não sabia o motivo. Era uma missão para investigar uma antiga casa que há muito tempo veio ser abandonada, em uma época que Kiri ainda era existente. Esta casa, pelo que aparenta dizer a carta, está sofrendo algumas mudanças estranhas e a vila teme que possa ser ações de Nukenins. Meu objetivo quanto a isso era simplesmente invadir o local em silêncio e assassinar alvos que estejam no local. Caso não haja ninguém relatar o que houve e repassar as informações a um superior responsável pela missão. Droga, eu realmente teria que fazer isso?! O desânimo já havia batido, mas não era como se eu pudesse ir contra o mandado de superiores. Peguei a minha bolsa de armas e mal arrumei-me corretamente, fechando a porta ainda de Quimonos e descalço. A localização do casarão era fora dos portões da vila a cerca de 1,2km's de distância em direção noroeste a Uzushiogakure. Bom, qualquer coisa eu posso simplesmente sair correndo, não é mesmo? Passei a mão na cabeça para retirar as gotas de suor e inspirei profundamente...Seria uma longa noite, mas torcia para que fosse ao menos tranquila e sem problemas. Não queria me meter em confusão, e muito menos ferir alguém de maneira injusta.

Enfim, não muito a ser feito após a palavra final ter sido proferida pelos superiores de Uzushiogakure. Missão entregue deveria ser cumprida de uma maneira ou de outra, e eu tinha noção disso. Arqueando uma de suas sobrancelhas após a releituua da carta entregue, ergui o rosto ao teto da casa e fechei os olhos, suspirando. Seria uma noite e tanto, mas nada poderia fazer para tal. Deixando os portões da vila com velocidade e bastante suavidade em cada um de seus movimentos espaçados entre si, pude verificar que era uma noite de lua crescente, mas estranhamente Uzushiogakure estava bem iluminada pelo raiar prateado provindo do astro. Passei a vistoriar a paisagem banhada em prata pelos céus, ainda dando contrastante com a escuridão de muitos locais que ali não puderam receber o divino brilhar da lua. Isso colocava um sorriso em meu rosto: A Natureza e seu ciclo, uma beleza natural imutável. Suave, no tempo certo e justa em ações...Sonhava com um dia em que a humanidade também viesse a ser pura. No entanto, tudo o que eu vi até os dias de hoje foram somente desgraça e ilusão, apesar de uma fagulha de esperança ainda estar acesa no fundo de meu coração por conta de Kiryu, ainda que não saiba a verdade sobre ela e o homem que destruiu minhas esperanças há quase dois anos atrás. Era um caminho relativamente longo, mas nada demais. Não faria questão de utilizar o Byakugan nesta situação por não estar detectando nada demais nos arredores, o que aliviava bastante meu interior. Com menos problemas, se obtém maiores resultados, afinal de contas.

— "Não falta muito até chegar lá, consigo ver uma espécie de chaminé a distância, entre as árvores. Droga, mas como eu vou fazer para invadir o lugar, mesmo que o Byakugan possa detectar possíveis inimigos? Terei que pensar bastante antes de tomar um movimento arriscado, portanto. Só espero que hoje eu possa voltar para minha casa...Não posso simplesmente terminar minha história em um lugar maldito como este. Honrarei a vila e minha família, e mostrarei para eles que não sou um covarde!" — Disse para mim mesmo.

As palavras que proferi a mim mesmo aumentaram meus ânimos e colocaram um sorriso confiante em meu rosto. Segurei a bolsa de armas firmemente enquanto adentrava no território sombreado e dominada pela escuridão da floresta de altas árvores que residia no local, vendo que seria uma travessia bastante complicada. Me escondendo dentre a vegetação local, estava preparado para ativar o Dõjutsu do olho que tudo vê, mas não antes de tomar noção do terreno ao redor. Me esgueirei até uma série de arbustos e percebi que havia uma clareira a frente com uma espécie de tocha colocada ao seu centro. Talvez a confirmação da presença do alvo? Não tinha certeza, mas ao menos sabia que era a hora de finamente por a benção dos Hyuuga em prática após um longo período de tempo.

A Hora era chegada, de finalmente honrar o nome de meu clã ao colocar dois de meus dedos a frente do rosto, concentrando uma certa quantia de chakra e abrindo os olhos lentamente. — "Byakugan!" — Proferi em baixo tom, ativando o Dõjutsu dos Hyuuga enquanto as veias ao redor dos olhos saltavam e a visão se multiplicava em diversas vezes a ponto de nem mesmo conseguir calcular a verdadeira distância total que meus olhos poderiam enxergar. Vendo através da escuridão, árvores e quaisquer tipos de objetos sólidos, eu conseguia detectar dentro do casebre ancião que ninguém ali se encontrava, mas havia uma sala em específico que meus olhos não conseguiam ver através por algum motivo. Desconfiei desta situação e pensei que pudesse ser um compartimento específico para deter a visão de um olho deste tipo e que os oponentes estavam preparados para este tipo de situação caso necessário e possivelmente esconderam-se na sala negra. Arqueei as sobrancelhas porém com o Byakugan ainda ativo e sem necessidade de olhar aos arredores, adentrei pela porta da frente, buscando objetos e pistas de interesse sobre o que poderia fazer, e então pensei em explorar toda a moradia antes de tentar realizar algo contra a porta que levava para adentro do cômodo que impedia a visão de meu Dojutsu, o que um péssimo sinal.

— "Que droga, não consigo ver absolutamente nada, nem por um único centímetro. Esta barreira é muito bem revestida com chakra e parece ter sido feita unicamente para bloquear a visão de Dojutsus como o Byakugan. Mesmo assim, acho improvável que funcione do lado de dentro, sendo uma artimanha talvez para emboscadas. De qualquer forma, não há nada do lado de fora desta sala antes de móveis aleatórios e outros cômodos em decadência alarmante. Que droga, vou ter mesmo que ir até lá...." — Disse em baixo tom, como um sussurro.

Após verificar todo o casebre em busca de pistas e nada encontrar mesmo com o Olho que Tudo Vê ativo, nenhuma opção me restava além de investigar o que estava além da porta misteriosa que se encontrava semi-aberta, aparentemente guiando até o subsolo da casa, como uma espécie de porão oculto anti-chakra. Abrindo a mesma, percebi que se tratava de uma escadaria longa e extremamente fina, a qual eu deveria tomar cuidado enquanto descendo. Quanto mais descia, menos podia dizer o que encontraria lá embaixo, pois a visão do Byakugan até agora estava totalmente bloqueada. Algumas gotas de suor desciam de meu rosto com preocupação e bastante hesitação em cada passo, eu sabia que se houvesse uma batalha, eu com certeza saíria como perdedor, humilhado - E talvez nem mesmo vivo. Tentaria evitar confusão o máximo possível, pois eu sabia que mesmo com um Doujutsu desta maneira, matar com certeza não era um ponto forte de mim.

Talvez eu estivesse andando em direção a minha própria condenação e não conseguisse perceber tal, mas mesmo assim algo me mantinha encorajado a seguir em frente. Somente aqueles que seguiram avançando sabem responder que sentimento era este, e eu era uma das pessoas que continuaram seguindo em frente por mais sombria que fosse a situação atual da vida.
Chegando ao fim da escadaria, pude perceber que agora me encontrava em uma espécie de labirinto com paredes que repudiavam o chakra e impediam uma visão concreta do Byakugan, por mais que pudesse ver ao redor e dentre os locais não-cobertos por este material especial. Andejando lentamente pelos corredores interconectados no subsolo sombrio e putrefato, pude perceber que eu não era o único que ali estava presente. De alguns em alguns instantes, conseguia notar uma pulsação de chakra através do meu Byakugan, mas que por conta do material que revestia as paredes, não conseguia manter o foco por mais de 0,7 segundos da pulsação que surgia a cada 25 ~ 30 segundos, em média. Não existia uma única fonte de luz no local, e meus passos cruzavam os corredores sem nem mesmo analisar os arredores, como se não existisse um padrão para chegar a saída, apenas me localizando pela pulsação de chakra suspeita. Saquei uma kunai de minha bolsa de armas, e mesmo não tendo intenção alguma de entrar em uma luta por medo de sofrer uma derrota humilhante por não confiar em meu próprio potencial, ainda tinha que ter algo para me defender dos perigos futuros que surgirão.

— "Esse chakra possui uma coloração exótica, se assemelha a uma espécie de vinho. Está parado, a cerca de sessenta metros de onde estou, não deve faltar muito para chegar até lá...Assim espero, ao menos. Não posso perder muito tempo, talvez o suspeito esteja planejando algo...Esse labirinto é muito apertado, o que torna a movimentação rápida e fluída um grande problema...Maldições, o que eu devo fazer ao chegar lá? ..Vou tentar conversar, a violência espontânea nunca é uma solução, afinal de contas..." —

Disse, decidindo o que fazer ao alcançar o suposto e possível fugitivo o qual fui designado a capturar em nome de Uzushiogakure no Sato, sem nem mesmo conhecer suas verdadeiras habilidades ou identidade fora dos muros da vila. Mesmo assim, eu não tinha preparo algum para entrar em uma luta sem a permissão de utilizar quaisquer técnicas ninja, e muito menos o discernimento necessário para entender o motivo dessa proibição tão estranha. Será para não chamar a atenção de outros possíveis oponentes, ou seria apenas para fins de um assassinato sem rastros? Eu não havia chegado a uma conclusão definitiva, mas ao menos sabia que o alvo estava muito próximo. — "Trinta Metros" — Proferi a primeira vez. — "Dezesseis Metros...Consigo ver uma luz ao fundo...É a hora." — Enfim, os passos pelo labirinto profano e decrépito haviam moldado o caminho até a minha perdição, ou seria...Salvação?

Finalmente, cheguei até a porta, onde um calafrio percorreu por toda a minha espinha antes mesmo que eu pudesse tocar a maçaneta decrépita que se pendurava por poucas lascas de madeira que lentamente se apodreciam, revelando uma situação que beirava a miséria, novamente ressaltando o quão antigo e descuidado tal local é. Porém, sem hesitar, utilizei-me do grande controle de chakra e da perícia no elemento dos ventos para transferir uma certa quantia de chakra à kunai que ali segurava, dando-lhe uma maior força e resistência, além de potencializá-la com uma camada de vento cortante ao redor da mesma, caso algo viesse a tentar me agredir de alguma maneira. Abrindo a sala rapidamente e pulando para o interior, o Byakugan por mais uma vez verificou os arredores, mas nada ali continha além de uma sala cheia de papéis e vazia, com uma cadeira quebrada ao centro e uma lâmpada de teto pendurada e falha, quase apagando-se de uma vez por todas. Rangi os dentes por alguns instantes antes de adentrar no local, a pulsação de chakra simplesmente desapareceu de uma hora para outra e eu não entendia muito bem o motivo para um desaparecimento repentino tão estranho. Arqueei a sobrancelha do lado direito enquanto passava a mão, tateando as paredes e diversas outras estantes presentes em busca de respostas, mas tudo o que eu encontrei foi um grande vazio, que me deixava bastante irritado. Apesar disso, toda a busca parecia chegar ao fim quando uma voz leve ecoou por detrás da porta, no ângulo exato o qual o Byakugan não conseguia enxergar. Neste mesmo ângulo, uma mão fora colocada sobre o ombro esquerdo, o que me fez paralisar e quase desistir da vida, imaginando que havia sido surpreendido por um nukenin retornante ou mesmo o que aqui se encontrava. Com um aperto frio como a própria morte, o desconhecido levantou a voz, enquanto minha consciência lentamente se esvaía com uma leve perfuração atrás do ombro esquerdo, que me fez até mesmo babar.

—  "Ah, você chegou bem na hora. Vamos, não tenha medo...Eu juro que não vai doer nem um pouquinho. É só uma picadinha, tá bom? Fique calmo...E tudo sairá como o planejado, Hyuuga." —  O Homem proferiu antes de gargalhar enquanto minha queda e consciência falhavam.

Finalmente desmaiei, desativando o Byakugan e caindo em um sono obscuro profundo. Mesmo sonhando, eu tinha a consciência de que ainda estava vivo. Algo estranho me atingiu e eu não sabia o que era, mas de fato não se parecia com uma ponta de aço de uma arma comum...Será mesmo que o que está acontecendo é ao menos real? Eu poderei voltar para minha família por mais uma vez, ou este seria o fim da linha para minha história? Droga...As imagens que se passam na minha cabeça...Me atormentam até o último segundo. Eu não consigo me esquecer...Daquele maldito homem.

Quase perdi as memórias de quem eu era naquele instante, não sabia o que estava fazendo e muito menos o que havia acontecido...Mas eu sentia meu corpo arder de maneira tão intensa que era como se eu estivesse sendo queimado vivo. Mesmo assim, suprimi a dor para que se fizessem em forma de lágrimas e agarrei os braços, tentando conter aquela sensação infernal pelo máximo de tempo possível. Eu podia sentir que algo estranho se fazia no momento, como se marcas se espalhassem por todo o lado esquerdo do corpo, causando ainda mais dor e uma sensação súbita de uma grande alteração no fluxo geral do chakra, o que me fez cair ao chão por mais uma vez, enquanto o homem se aproximava com um bater de palmas. Quando a visão deixou de ser turva, percebi que estava em uma grande sala muito bem iluminada e sem cômodos, com aberturas por todos os lados que permitiam a passagem do ar. Levantei-me com muitas dificuldades e bastante dor, ofegando e lentamente olhando para cima, enquanto por mais uma vez ativava o Byakugan, a fim de ter uma maior compreensão do que se passava no local. Não sabia o que estava acontecendo e nem o que estava fazendo, mas eu conseguia sentir uma enorme quantidade de ódio saltando do meu peito, como se quisesse explodir para fora na forma de um grande massacre. Eu não poderia me render a isso, afinal. Eu jurei nunca matar um ser humano, e não seria hoje que quebraria meu juramento. Não enquanto eu enxergasse esperança neste mundo. Pessoas merecem uma segunda chance, e eu carregaria isso até o fim.

— "Ora ora, pois veja só quem conseguiu sobreviver a inserção do Juinjutsu. Como está se sentindo, rapaz? Dói, não é mesmo?" — O homem proferiu.

Com o Byakugan, pude ver que se tratava de alguém de idade bem mais avançada com uma máscara que relembrava um pássaro pendurada sobre seu ombro esquerdo. Não pode ser...Era aquele mesmo cara que me entregou a missão? Então, foi tudo mentira? Arregalei os olhos e tentei dar três passos para trás, ainda ofegando pelo cansaço e esforço extremo. As marcas continuavam a se espalhar, e eu não entendia bem o que realmente ele queria dizer com tudo aquilo. Estaria tentando me matar?

— "Q-quem é você, afinal de contas?" — Perguntei, com tom baixo.

— "Pode me chamar de Muichiro, eu sou um Cientista que vive por aqui perto, e bem, me desculpe por isso. Eu não pude deixar de aplicar um de meus experimentos mais valiosos em uma pessoa mais preparada fisicamente do que você, Hyuuga Kagaya. Não se preocupe, você não morrerá se conseguir controlar este poder. É uma espécie de selo que aumenta seus atributos físicos em troca de energia vital...Mas bem, parece que este será meu último experimento...Não tenho mais muito tempo, afinal, meu coração já parou." —

— "O-Oque?! O que você está falando, seu louco? Tem ideia do que fez?" — Indaguei-o.

— "Sim, e por isso mesmo que fiz o coração parar. Estou vivo apenas pelas minhas reservas de chakra, não me faltam mais do que dois dias de vida, se eu tiver sorte. Por isso, quero vê-lo usando este poder...Seria minha última luz, para finalmente poder partir em paz e sabendo que meu legado não foi em vão. E sim...Eu quero ver sua força..Me matando. Faça-o, jovem. Não hesite, este poder agora é seu!" — O velho arrependido dizia.

Por um momento, paralisei. O que eram aqueles palavras, afinal? Um pedido de assassinato? Quais eram os motivos do arrependimento daquele velho? Tantas questões sem resposta, e matar seria a última coisa que eu faria em vida. Mordi os lábios em aversão ao pedido do homem e me afastei um pouco mais, desta vez agarrando o ombro com ainda mais força, também fechando os olhos por alguns momentos. Eu não sabia o que fazer..Me faltava a coragem, a força...Além de ir contra tudo aquilo que preguei desde a morte de minha amada Kanao. Que tipo de situação é essa, afinal? Estaria...Em um pesadelo?

O Ódio que senti naquele momento nem se equipara ao que senti quando presenciei a morte de Kanao, mas eu sentia que a fúria me consumia cada vez mais. O juramente finalmente seria quebrado? Sem hesitação, quebrei todos os meus códigos, conduta e moral ao pular sobre o homem, desferindo um ataque diagonal de cima para baixo contra seu ombro esquerdo, decepando-o com a kunai moldada com a lâmina de vento. O velho caiu no chão com um grande sorriso, aparentemente balbuciando suas últimas palavras. Eu não sabia bem o que pensar naquele momento, havia agido por impulso. Imediatamente larguei a kunai e olhei para minhas mãos com respingos de sangue, me ajoelhando após ter tido total noção do que fiz. Mas espera, eu deveria me sentir mal por isso, afinal de contas? Os olhos antes chorosos agora se mantinham sérios, retirei as mãos do rosto e levantei-me lentamente, olhando para o homem. Parte daquela ação havia sido movida por influência do próprio Juinjutsu, mas estranhamente eu não conseguia sentir um verdadeiro remorso por aquele cidadão atormentado. No final, matar alguém que é verdadeiramente culpado por diversos pecados não é um crime, e sim a coisa certa a fazer. Neste dia, finalmente aprendi a verdade sobre este mundo, repetindo as palavras para mim mesmo para que nunca mais esquecesse de tais.

— "Não é pecado lutar pelo que é certo...Não é errado lutar pela justiça." — Repeti para mim mesmo enquanto fechava as mãos e focava totalmente os olhares no homem caído.

Ele sangrava bastante e possivelmente já não tinha mais tanto tempo restante de vida. Em um de seus últimos movimentos, com o braço que lhe restava, decidiu chamar minha atenção. Mesmo sendo um criminoso procurado e um cientista deturpado, atendi seu último pedido e aproximei-me do mesmo com bastante velocidade, pondo uma das pernas ajoelhadas e apoiando os braços sobre a mesma enquanto prestava atenção às palavras finais daquele que me aplicou tal maldição. Com os olhos Byakugan ainda ativos, eu verificava os arredores e conseguia notar que a barreira de chakra lentamente se quebrava, o que significava que as forças do idoso estavam se esgotando a uma velocidade extremamente elevada. Seus olhos já estavam semi-fechados, mas ainda tinha forças para lamentar-se sobre seu passado. Iria escutá-lo até o final, como uma forma de honrar o oponente - Um sinal de respeito ,pro mais que não merecesse. Suspirei profundamente antes de permitir a continuidade na fala do velho, atentamente observando o sangramento contínuo que lentamente drenava sua vitalidade. Cuspindo um pouco de sangue, finalmente notei que o homem conseguira arranjar um bocado de últimas forças para conseguir recitar suas últimas memórias antes do fim, talvez desesperado para que alguém se lembrasse de sua existência. Eu estava lá...Para me lembrar dele, o único que o faria.

As marcas do selo amaldiçoada finalmente começavam a retrair, enquanto eu utilizava do meu controle de chakra também para acelerar o processo, por mais que tivesse pouco domínio sobre este poder, o qual era originado pela parte de trás de meu ombro esquerdo. A dor lentamente se passava, e preparado para ouvir as palavras finais daquele homem, enfim pude escutar as lamentações finais da voz trêmula e quase morta do velho, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos e a pele lentamente se empalidecia, indicando que o fim da vida estava muito mais próximo do que o imaginado.

— "Heh...Heh..Não é uma forma boa de morrer, eu sei...Mas não é como se eu merecesse uma morte tranquila, afinal...Eu..E-eu me arrependo de ter sequer existido deste mundo. Eu usei minha família como objetos de estudo e até mesmo cheguei a vender meus próprios pais ao mercado negro para que eu conseguisse grana o suficiente para ter equipamentos de primeira classe...Matei minha mulher e usei as partes de seu corpo para criar uma criatura meio-humana e meio-animal, fundindo ambos em um único corpo e dando origem a um ser grotesco. Pelo comportamento agressivo, acabei a eliminando e servi seus restos como jantar. Também havia maltratado muito minha filha, obrigando-a a se tornar uma doutura. Em um momento de ódio, a mandei para a rua congelada, onde lá ficou até finalmente falecer de hiportemia...Eu sei, eu sou um demônio...E-" —

Não me segurei. Perfurei o crânio do desgraçado com a kunai envolta em vento, trazendo sua morte com rapidez e crueldade. Não, aquilo não era humano. Eu sentia um ódio genuíno desta vez, não era somente uma sensação a qual tentava conter a todo tempo no passado. Agora eu entendo: Existem pessoas que vivem mas merecem morrer, e existem pessoas que morrem e merecem viver. Vermes imundos e nojentos como estes deveriam ser eliminados pelo bem da própria sociedade, agora vejo que fui um tolo. A verdade bem diante de meus olhos, e eu ainda me apegava a ideia de que todos mereciam uma segunda chance: Porém não, nem todos merecem este privilégio de se reerguer na sociedade. Desativando o Byakugan e decepando o corpo do homem, gritei com fúria e arremessei sua cabeça no vaso sanitário, deixando-a para decompor com os olhos arregalados. Guardei a kunai ensanguentada na bolsa de armas e então dei as costas, selando a porta do local com uma manipulação de vento que criou uma espécie de tranca artificial, finalmente deixando tudo no esquecimento - Um passado sombrio que deveria ser apagado. Agora, eu deveria retornar para minha família, que diferente da dele, será bem cuidada pelas minhas mãos. A justiça deveria ser feita, por bem ou mal. E eu sabia muito bem disso.

O Nível de Restrição e controle sobre o selo amaldiçoada ainda era mínimo, mas eu já possuía uma certa noção de como o mesmo funcionava, visto o uso descontrolado há pouco tempo atrás. Cocei o pescoço por mais uma vez, ainda confuso por não ter uma resposta concreta para aquele homem ter me cedido esta marca. Mesmo assim, não havia anda que eu poderia fazer a respeito além de aceitar e me fortificar para dominá-la por completo, assim atingindo um nível superior. Deixando a casa abandonada para trás, fechei suas portas e apaguei as tochas que estavam ao lado de fora, novamente jogando-a ao esquecimento para nunca mais fosse relembrada de seu passado obscuro, um cadáver agora sonhador e tranquilo. Dei uma leve risada com o canto direito da boca e então pus-me de costas, andejando para fora das florestas noturnas enquanto minha mente já se encontrava bem longe dali, mais especificamente em casa. Mesmo com tudo o que se passou , tudo o que eu mais queria era ter uma boa noite de sono e cuidar de Kiryu, deixá-la sozinha neste tipo de situação era perigoso e eu não me sentia nem um pouco bem por isso, pois eu já tive as consequências de deixar um que amo desprotegido e vê-lo morrer em minha frente, sem que eu pudesse fazer nada. Inspirei e suspirei enquanto observava as estrelas ao céu, silenciosamente planejando por trás das nuvens. Enfim retornei olhares para a frente e percebi que não demoraria muito até o retorno até minha moradia, visto que Uzushiogakure já era visível do ponto onde estava, mesmo com toda a neblina que encobria o país.

Não se passaram mais do que duas horas desde que deixei o vilarejo, o que me despreocupava um pouco. Com passos nobres sob o luar, retornei para Uzushiogakure em silêncio enquanto a patrulha ainda estava distraída com os afazeres desconhecidos. Cruzei as ruas do vilarejo com a venda sobre minha cabeça e continuei a coçar o lado esquerdo do pescoço, tenso. Muito coisa havia acontecido neste período de tempo, principalmente por ter assassinado uma pessoa. Mas mesmo assim, eu não sentia remorso. Eu sentia que havia feito a coisa certa, trazido a justiça para este mundo. Por isso, eu deveria seguir em frente e não mais recuar perante os inimigos. Chegando em casa, destranquei a porta da frente e adentrei a moradia, fechando a entrada por mais uma vez e jogando as chaves sobre a mesa enquanto imediatamente subia ao segundo andar, verificando a situação de Kiryu. Felizmente, nada havia mudado e ela permanecia dormente sobre sua cama, o que colocou um sorriso em meu rosto e me deu uma sensação de alívio. Com isso, consertei a faixa do quimono casual e medi passos em direção ao meu próprio quarto, onde deixei a janela aberta para que pudesse visualizar a lua antes do sono vir. Retirei a venda e me joguei sobre a cama, refletindo sobre as experiências de hoje. Depois de um certo tempo, reconsiliei comigo mesmo e finalmente tomei minha decisão. Com a mente e corpo equilibradas, enfim pude ter uma noite tranquila de sono, para acabar com tudo isso de uma vez por todas.