Despertei no dia seguinte logo após me reencontrar brevemente com Kiryu, tendo uma ótima noite de descanso apesar das poses exóticas que fazia na cama durante a madrugada. Descendo as escadas do segundo andar da moradia e bocejando por estar cedo, fui surpreendido ao ver que a garota já me esperava logo ao início das escadarias. Pus minha mão direita sobre sua cabeça e lhe dei um abraço, fechando os olhos e sorrindo para a mesma, levantando a voz para falar com ela naquela doce manhã.

— "Bom dia, Kiryu! Como você está? Dormiu bem esta noite?" — Perguntei.

— "Sim, pai...Mas ainda estou um pouco cansada daquela última missão. O Senhor não pode ficar aqui mais um tempo? É sempre tão chato quando você sai com compromissos...Mas parece que você também havia dito que havia sido convocado para realizar alguns serviços, não é mesmo?" — A Garota de olhos grandes proferiu, com um sorriso.

— "Ah, é mesmo. Bom, eu não vou demorar muito, são deveres bem fáceis. Não precisa se preocupar, tá bom, linda? O papai já volta, não precisa ficar triste...Você sabe bem que eu sei me virar sozinho, hahaha!" — Disse em tom alegre, me despedindo de Kiryu.

De fato, não havia mentido. As missões eram simples até mais do que deveriam ser, na minha concepção. Cuidar de uma floricultura enquanto a mulher responsável pelo local está fora e entregar algumas pílulas especiais ao QG do vilarejo, as quais seriam entregues também pela dona da floricultura após o retorno, uma vez que era relacionada diretamente com a política e outras áreas mais específicas de inteligência de Uzushiogakure. Chegando à floricultura, não pude deixar de não notar o quão luxuoso era o local, com diversas salas - Com até mesmo direto a salas de massagem e outras coisas totalmente fora do contexto de um estabelecimento daquele tipo, mas fazer o que, não é mesmo? Com as vendas no rosto para esconder as deformações, tomei conta do local enquanto a moça estava fora, dando uma olhada ao redor e verificando as plantas e outros objetos de interesse que pudessem me despertar a vontade de comprar com o dinheiro que possuía no momento. Coçando o queixo, nem mesmo vi o tempo passar quando a dona retornou, avisando-me do trabalho feito e me entregando o cesto com as pílulas do soldado que deveriam ser entregues ao QG. Não demorei muito até chegar ao local, onde deixei o cesto com as respectivas pílulas com um dos superiores e fui dispensado da missão, recebendo as devidas recompensas pelos serviços prestados. Então, pude retornar para casa para me reencontrar com Kiryu e dar sequência a conversa que perduraria por mais umas boas horas. Sempre fui um apreciador de uma longa conversa e discussões, afinal de contas. Neste mundo ninja, não há nada tão sagrado e tranquilo quanto uma suave e leve conversa de manhã, sobre a mesa de café.

Por mais uma vez, amanheci. O mundo ao meu redor parecia ligeiramente diferente, mas eu não conseguia compreender os verdadeiros motivos por trás de tal. Quando o sol já estava em um raiar forte, levantei-me da cama e verifiquei o horário, sendo ainda sete da manhã. Passando a mão na testa para aliviar um pouco da preguiça após acordar, mal tive tempo para tomar um café completo quando bateram à porta. Atendendo, percebi que se tratava de uma criança com cerca de doze anos de idade, que me entregou um envelope. Nele, haviam duas convocações de missões, apesar de tecnicamente ser apenas uma. Aparentemente, um casal havia contratado os serviços da vila para pintarem o muro de suas casas, porém como a casa era dividida, cada um teria que cuidar de sua própria parcela, o que era mais lucro para mim, afinal, um trabalho que vale por dois. Joguei o papel para o alto e deixei-o cair em um lugar aleatório, e sem olhar para trás, abri a porta e pus as faixas no rosto por mais uma vez, disparando em velocidade máxima ao local indicado. Chegando até onde havia sido indicado pelos superiores, percebi que os muros da casa realmente se encontravam em uma situação deplorável, o que me fez arquear uma sobrancelha, por mais que não conseguissem ver. Rapidamente agarrei o balde com a tinta e o pincel e iniciei os serviços de pintura, não muito a vontade por ter praticamente acabado de acordar. O Serviço estava a ser realizado com relativa velocidade e bastante habilidade, não via dificuldade alguma em cumprir uma tarefa tão simplória como esta, e por conta disso, conseguia poupar tempo e acelerar para que voltasse para casa antes que Kiryu acordasse, afinal, seria um pouco estranho dar a entender que a deixei sozinha. Talvez eu estivesse apenas ficando um pouco paranoico com a questão de superproteção, mas não é algo que eu realmente queira deixar acontecer por mais uma vez. Após terminar os serviços, relatei aos donos da casa e aos superiores e parti para o gabinete para resgatar a recompensa da missão, retornando para casa pouco tempo depois. Pelo lado bom, tudo acabou bem mais rápido do que eu imaginei. Suspirei levemente e joguei olhares para o alto, pensando no que poderia fazer naquele dia, e se algo legal aconteceria. A vida estava bem monótona e até relativamente chata, afinal de contas...

Notícias aleatórias e de baixa importância repercutiam pelos jornais diários de Uzushiogakure no Sato. Em um deles, percebi que estavam a procurar por serviços shinobi para se livrarem de um grupo de pirralhos que estavam a incomodar algumas lojas mais periféricas do vilarejo, jogando pedras contra suas estruturas e até mesmo afugentando clientes com armas falsas e se aproveitando de brechas para furtar itens expostos e sem vigia dos respectivas estabelecimentos. Era manhã, mas como já estava de pé e diziam entregar uma boa recompensa, decidi ir até o local, desarmado. Não esperava muito coisa desse grupo de moleques, afinal de contas. Chegando no local indicando pelo dono de um dos estabelecimentos ainda vendado, cumprimentei o senhor e apresentei-me, dizendo que vim pela notícia do jornal. O velho explicou toda a situação que estava ocorrendo e disse que o grupo passaria no local em cerca de cinco minutos. Atento para as movimentações suspeitas que ali poderiam se mostrar a qualquer momento, aguardei pacientemente em um dos becos. As roupas extravagantes e longas se destacavam dentre a multidão, e lá vinha o grupo de quatro pivetes com facas em suas mãos, com uma mulher já correndo desesperada. Deixando meu esconderijo e me esgueirando por detrás do grupo, os surpreendi com uma tossida proposital, fazendo-os se virar para mim.

— "Qual foi, seu mané?! Tá querendo morrer, é?" — Um dos pirralhos esbravejou.

Com um leve sorriso no rosto, utilizei-me do Juken para aplicar um chute contra o pescoço do rapaz em alta velocidade, fazendo cair no chão sem ar. Os outros mal conseguiram reagir e foram recebidos com uma saraivada de golpes extremamente velozes em uma velocidade a qual seus olhos eram incapazes de acompanhar, tendo cada um dez de seus tenketsus bloqueados. Além da dor imensa e possíveis danos aos ossos, os moleques largaram as armas, as quais foram recolhidas pro mim. Neutralizados facilmente pelo meu talento natural e dons provindos do Clã Hyuuga sem nem precisar utilizar-me do Byakugan, relatei os acontecimentos ao dono do estabelecimento, deixando os pirralhos jogados na rua enquanto ninjas de maior nível vinham para prendê-los. Então, poderia receber a devida recompensa e retornar para casa sem maiores problemas. Dei algumas gargalhadas em meio ao caminho da volta enquanto andejava com o saco repleto de Ryõs, me perguntando se a vida de ninja estava ficando mais fácil ou se eu era bom demais para aquelas tarefas. Cocei o pescoço por mais algumas vezes, me lembrando dos momentos felizes da infância.