sentado no chão, de pernas cruzadas, próximo ao campo de treinamento, taichi exibia um semblante frustrado. era ele agora oficialmente um genin do redemoinho, com habilidades suficientemente reconhecidas para que pudesse ostentar uma bandana com orgulho. ainda assim, incapaz de se sentir confiante, taichi não conseguia não duvidar do próprio valor.

ele era bom com o seu jutsu, disso taichi não tinha dúvidas. possuía técnicas singulares e uma boa agilidade, e sabia se safar de uma situação difícil quando precisava; mas era fraco fisicamente, e isso o amedrontava. taichi entendia a sua deficiência, e, de certa forma, sabia muito bem de onde ela vinha; seu pai, sempre tão orgulhoso do próprio sangue, o forçava a treinar incansavelmente a manipulação da areia de ferro, fazendo com que sobrasse pouco ou quase nada de tempo para praticar suas outras habilidades. dono de um taijutsu vergonhoso, taichi desconfiava ser o mais fraco da sua geração.

pensativo, ele mordeu uma das bolinhas do dango que carregava consigo. tomou um susto quando o mensageiro o abordou, e não soube o que falar quando ele lhe entregou a carta. deveria agradecer? taichi imaginou que sim, mas antes que tivesse oportunidade, o homem sumiu tão rapidamente quanto surgiu.

na folha, as instruções de sua primeira missão. sentiu um frio subir pela espinha quando seus olhos correram pelas informações, absorvendo os detalhes do que deveria ser feito - impeça as ações de uma dupla de bandidos. mensagem objetiva, sucinta, tão direta quanto o sopro de vento gelado que fez os pelos do seu corpo arrepiarem. ou seria ele que estaria nervoso?

taichi não se deixaria intimidar, no entanto. em vez disso teve uma ideia que ele julgou muito boa: pediria a ajuda de um dos guardas para treinar o seu taijutsu enquanto ficasse de campana. taichi deveria estar preparado caso os nukenins resolvessem agir mais cedo, e ele sabia que sempre havia guardas de plantão nos portões do vilarejo; certamente um deles poderia lhe dar uma forcinha. parabenizou a si mesmo com um sorriso, feliz com a própria decisão, e engoliu o restante do dango antes de correr para o leste.



– vaaai, me ajuda... prometo que não vai demorar. – suplicou, tentando soar convincente. – você não vai perder uma mão se me der uma forcinha.

– cara, você é um pé no saco, sabia? – respondeu um dos chunin que estava no local, coçando a cabeça como demonstração de contrariedade. visivelmente entediado, ele se deixou levar pela insistência do mais novo. – beleza, mas só desta vez, ok?

taichi riu, divertido, não se dando ao trabalho de expressar em palavras a sua gratidão. em vez disso, saltou o suficiente para que sua perna alcançasse o rosto do adversário, e desferiu um chute direto em sua cabeça.



taichi rolou pelo chão, sentindo o impacto do soco amassar o seu estômago. tentou recuperar o ar enquanto se levantava, mas o golpe certeiro o impediu de controlar a respiração. ele encarou o chunin, notando a expressão de satisfação em sua face.

– vamos lá, rapaz. foi você que pediu. – provocou, maliciando as palavras como só faz quem sabe que está na vantagem. – é só isso que tem para mim?

– eu nunca te pedi para me espancar. – reclamou taichi, contrariado, a mão procurando uma arma para seguir com o treinamento. arfava um pouco enquanto retomava a postura, mas percebeu que, apesar da intensidade da troca de golpes, seu corpo não estava mais do que um pouco arranhado.

– bobagem! e guarde logo essa kunai. você não tem uma missão para fazer? – alertou, apontando para a saída da vila.

taichi fitou o céu para descobrir, pelo sol, quanto tempo havia se passado desde que chegara ao ponto de encontro. de fato, estava no horário. agradeceu a disposição do colega com uma mesura respeitosa, e se escondeu, na tentativa de emboscar os seus alvos.

os olhos cinzentos seguiam os alvos com atenção. camuflado pela vegetação densa da localidade, taichi observava cada pequeno movimento daqueles homens, como um felino que se prepara para abater a sua presa. ele estava animado com o pensamento que lhe ocorreu, e ficou excitado por desempenhar o papel de caçador. posicionado como um gato, o corpo curvado para o chão e os dedos pressionados contra o grande galho, taichi procurava decidir qual seria o melhor momento para a sua investida.

afinal, demasiadamente prudente como era, o garoto se recusava a atacar sem ponderar sobre o leque de possibilidades que poderia se desdobrar a partir de uma ação mal calculada; ele se quer tinha acesso aos rostos dos bandidos, e a única informação verdadeiramente útil que conseguiu arrancar dela perspectiva visual foram as espadas que ambos empunhavam. para taichi, pouco importava o que eles analisavam nos muros de uzushio; a ele só interessava conseguir um bom resultado em sua primeira missão. por outro lado, taichi também não se sentia confortável em ataca-los sem ao menos lhes conceder o direito à réplica.

do mesmo modo, taichi não pôde deixar de notar que os homens ainda não haviam deflagrado nenhum crime, razão que de fato deveria servir para dosar a sua mão. para além disso, lembrou-se de que as ordens não incluíam captura ou assassinato – ele só deveria impedir o futuro delito. taichi suspirou, reconhecendo o que deveria fazer.

de olhos cerrados, ele contraiu os músculos das pernas e preparou o assalto. impulsionou-se para cima em um movimento silencioso, voando em um trajeto arqueado sobre seus inimigos. agora, de cabeça para baixo em pleno ar, sem ousar desviar a atenção dos encapuzados por um único momento, taichi liberou de sua capanga duas balas de areia singelas, e as atirou contra as costas dos nukenins.

pousou sobre o muro em seguida, o chakra infundido na sola dos pés para permiti-lo desafiar a gravidade. sem ter certeza de que sua técnica havia acertado, ele induziu a areia guardada a projetar-se a sua volta, envolvendo-o em uma nuvem de ferro condensado.

– sumam daqui. – ordenou, a voz calma como era do seu feitio. tentou soar ameaçador, mas sabia que sua figura pueril não aflorava a covardia no coração de terceiros. ainda assim, torcia para que os bandidos o ouvissem e fugissem, mas entendia que não podia contar com a sensatez de dois marginais.

assumindo uma postura de contra-ataque, taichi decidiu que os capturaria caso optassem pela luta. em seu movimento anterior ele tentara marcar seus oponentes com a sua areia, a fim de tornar infalível a precisão de sua próxima técnica, caso precisasse dela. por sorte, o primeiro tiro, tendo acertado ou não, serviria de aviso – um que seus alvos inteligentemente acatariam.

Taichi suspirou, aliviado, quando os bandidos sumiram de sua vista. Estava surpreso pelo bom funcionamento de sua tática, e até mesmo um pouco orgulhoso também. Seu treino com o chunin havia lhe confirmado o que ele já sabia, e por isso taichi sentia que ainda não estava verdadeiramente preparado para uma batalha real. Precisaria se esforçar muito mais além do que já vinha fazendo; ir a missões cada vez mais difíceis para evoluir como homem e shinobi. Taichi precisaria crescer.

Mesmo assim, ele estava feliz. A missão havia sido um sucesso sem que ele precisasse derramar uma única gota de sangue. Sempre temeu que a carnificina atravessasse a sua trajetória e o mergulhasse em um círculo de dor e sofrimento, mas agora estava confiante em sua missão de ser um ninja sem precisar da violência como única moeda de troca. Poderia ser ingenuidade de sua parte, mas taichi acreditava genuinamente no poder do diálogo.

Contente com o desfecho, ele manipulou a areia de ferro de volta para a capanga e deixou o corpo despencar para o chão, dando uma cambalhota e pousando com os dois pés no chão. Esticou os braços, alongando os músculos, e tomou o rumo para o quartel general. Precisaria comer alguma coisa no caminho, pensou. Outro dango, talvez?