O Uchiha ainda não acreditava no que tinha acabado de ler. Nesses quase um ano que conhecia a Hokage Angell, nunca imaginaria que tal coisa fosse acontecer. Primeiramente, porque não era lógico imaginar que Hattori Shion mataria a própria filha depois de todo o esforço que a aliança das vilas ocultas tiveram de empregar para invadir Suna e resgatá-lo. Além disso, Senko tinha uma impressão muito positiva sobre o poder de Angell, ela não seria derrotada assim tão fácil. Mas foi. Ela agora estava morta.

Andava pelas ruas de Uzushiogakure cambaleando na sua própria tristeza e no seu próprio estresse. Esse foram os últimos dez meses mais caóticos da vida de Senko. Certamente, se fosse mais velho, estaria afogando suas decepções em algum boteco barato. Porém, o jovem Mizukage precisava de alguma que acalmasse aquele aperto no coração e o seu princípio de taquicardia. Ele tinha que parar e descansar, aceitaria qualquer ajuda que lhe fosse oferecida.

Para a felicidade do rapazinho, ele passava logo à frente de um majestoso centro de Yoga. Senko já tinha visto aquela construção uma vez, quando passeava pela vila. O local era semelhante a um panteão, seus pilares eram enfeitados com fios de ouro e o grande portal que permitia a entrada naquele edifício era feito de mármore branco. O garoto foi tropeçando em si mesmo até chegar à entrada, onde tentou berrou por auxílio. — Alguém… Meah-judan… — o seu “grito” saiu fraco, a pressão de Senko tinha caído por conta da sua ansiedade e, além disso, mantinha um clone das sombras no gabinete.

Foi então que Pietrovão, o dono do estabelecimento, notou a presença do Mizukage e foi ao seu amparo. — Eeeeita, rapaz, você num tá bem não, viu? — ele agachou-se e carregou o jovem nos ombros, levando-o até uma maca para ficar deitado. Pousou o corpo de Senko e foi pegar um chá. — Aguenta aí que esse chá levanta até defunto!

Ele voltou depois de alguns minutos com uma chávena na mão. Senko, mais calmo, bebeu o chá e instantaneamente arregalou os olhos, ficando com o corpo todo ereto e cuspindo o que restava do líquido para fora. — QUE MERDA É ESSA?! — tentava tirar o gosto ruim da boca.

— Um ansiolítico bem potente. Engole isso daí, sei que o gosto é estranho da primeira vez, mas vai te fazer bem. — Fitou-o com um olhar paternal.

Senko fez uma careta, mas engoliu de uma vez aquele chá. — Você anda muito estressado, né? — perguntou o Pietrovão.


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Senko pousou a xícara de chá na maca e se ajeitou melhor na maca em que estava sentado. Com o calor do momento, nem tinha reparado direito na figura daquele funcionário do templo de yoga. Pietrovão era um homem alto e loiro; musculoso, mas nem tanto; usava roupas folgadas com cores aleatórias que formavam um padrão geométrico engraçado. No rosto, uns óculos redondos com um filtro sépia. Nos pés, chinelos slip-on.

— Quem é você? — perguntou Senko, ignorando a pergunta que Pietrovão havia feito.

O homem empurrou os óculos contra a cara e deu um sorriso. — Bom, meu nome é Pietrovão, o parceiro mais brabo do mundo do yoga! Bem-vindo ao meu império, ao Incrível Centro de Recuperações e Ações, Yoga Magic Resort & Spa! — Pietrovão disse com grande ânimo, abrindo os braços em excitação e fechando os olhos.

O Mizukage continuou sem entender muito bem, não expressou tanto entusiasmo porque ainda estava de luto. — Prazer, Senko. — disse, num tom triste.

— Ah, eu já te conheço. Todo mundo te conhece, você é o grande Sombra do Redemoinho! — respondeu Pietrovão, exibindo um largo sorriso.

— Hm... estranho ver alguém que expressa tanto entusiasmo em me ver. — O Uchiha se impressionou com a reação do professor de yoga.

— Por que não ficaria? Hihi! Bem, levante-se já, vamos até a sala de yoga. — Pietrovão correu até a sala e Senko, sem ver outra opção, seguiu-o.

Eles tiraram os sapatos e ficaram sobre um colchão fofo para exercícios. Senko já tinha entendido para onde isso estava indo. — Bom, a sua roupa parece confortável, hoje não vou pedir para retirá-la. Sendo assim, vamos começar com um alongamento! — Ele já começou a fazer a primeira pose.

— Ok... — O garoto copiou os movimentos de Pietrovão atentamente. Eles passaram bons minutos, talvez horas, fazendo aqueles alongamentos. — REXXXXXXXPIRA! — dizia o instrutor, puxando uma grande quantidade de ar para os pulmões.

Terminado o exercício, era a hora de saber o próximo passo. Mas antes...

— Ainda não respondeu à minha pergunta, Mizukage-sama.

— Desculpa. Não quero falar sobre.

Pietrovão levou a mão ao queixo e disse. — Ok, amanhã eu acho que eu poderei ter uma resposta, né?

— Como assim amanhã? — indagou Senko.

— Ué? Acha que o estresse sai assim do nada? Passaremos mais três dias juntos! Tem uns pijamas no quarto que eu separei para você.


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Mesmo sem ter a intenção de dormir no local, Senko acabou por aceitar a proposta. Afinal, o que foi constatado antes era verdade: ele aceitaria a ajuda independente da forma que fosse, estava com o seu emocional destruído e com a cabeça cheia de problemas. Subiu para o seu quarto, vestiu-se com as roupas que lhe foram dadas e tentou dormir.

No dia seguinte, foi acordado por Pietrovão. — Levanta, garoto! São 5 da matina, você tem que tomar o seu banho gelado para começar bem o dia! — disse numa voz entusiástica, balançando as cobertas do Mizukage.

— Hm... já vai... — respondeu o menino, tirando a remela do olho e indo pro banheiro. Depois de ter certeza de que o garoto estava acordado, o instrutor deixou o quarto. — AAAAAAAAH! — o papo do banho gelado era real, só havia água gelada naquele spa. E era inverno. Depois do banho, foi ao encontro de Pietrovão, que o esperava com um chá na mão. — E aí, meu rapaz, como foi o banho? Toma, é bom tomar um chazinho. — Ele deu a xícara para o Uchiha.

O chá tinha um gosto super amargo e estava quente, impedindo que o garoto tomasse tudo de uma vez. Em pequenas bicadinhas, ele ia bebendo enquanto os dois andavam até a seção de meditação. — Pra que tanto chá, Pietrovão? — perguntou.

— Esse chá tem uma mistura de plantas interessantes. Esse chá revigora, aquece o corpo no frio e... — Fez uma pausa dramática, olhando para o garoto com um olhar diferente e misterioso. — Nos ajuda a estabelecer uma conexão especial com a natureza.

Senko ficou um pouco curioso e ao mesmo tempo desconfiado. O garoto já estava acostumado a meditar e a contemplar a natureza desde que se conhecia por gente, por influências da própria mãe. Mas... o que ele queria dizer com essa “conexão especial”? Cabe ao Senko descobrir.

— Venha, pode se sentar, começaremos a meditação. — Os dois chegaram num campo aberto, cheio de flores e árvores frutíferas. Estranhamente, por mais que fosse inverno, aquelas plantas não pareciam estar acompanhando o clima. É como se toda o Spa estivesse sobre efeito de um microclima. Na grama, estava desenhado um círculo de terra e em volta dele quatro castiçais com incensos. — Tire os seus chinelos e sinta grama, respire fuuuuundo. — Pietrovão já estava de olhos fechados. — Sente-se no círculo e comece a meditar.

E assim Senko fez. Cruzou as pernas no centro do círculo e deitou os braços sobre as coxas, respirando lentamente, tentando esvaziar-se dos problemas que tinha dentro de si. Pietrovão acendeu os incensos e uma mulher se aproximou do professor. Ela trazia consigo um instrumento de cordas semelhante a uma harpa, o koto. Pietrovão então pegou o koto e começou a tocar gentilmente, criando um fundo musical para aquela meditação. Porém, Senko ainda não estava conseguindo se concentrar.


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Senko estava se esforçando para manter a concentração. Claramente conseguiria fazer a meditação sem problemas em um dia normal, mas compreensivelmente dessa vez não conseguia esvaziar a sua mente por nada. Bufou com força, tentando esvaziar seu peito estufado de angústias. Pietrovão, percebendo a dificuldade, foi ajudar o Mizukage.

— Então, algum problema?

— Não consigo me concentrar — abriu os olhos e abaixou a cabeça, tentando manter a compostura. Queria chorar, queria tirar todos os cabelos de sua cabeça, rasgar suas roupas. A ansiedade matava o garoto.

— Hm... acho que você precisa desabafar. — O instrutor de yoga se sentou ao lado do rapaz. — Diga o que sente, grite para a natureza e ela te ouvirá. — Ele apontava para a paisagem.

O menino hesitou por um instante, achando estranho aquele desabafo em voz alta. — Prefiro... não gritar, tudo bem? — disse e Pietrovão só consentiu. — Bom... eu não tenho confiança em mim mesmo, estou completamente cheio de obrigações e exposto a um milhão de novas informações, meu irmão morreu, agora a Hokage morreu... só... só estou cheio de tudo.

— Entendo... acho que não é agora que você vai resolver isso e tenho certeza de que é bem mais complexo do que você diz. Mas... deixe as suas angústias com a natureza, e ela tratara de te confortar. Você não deve meditar pensando que ela irá resolver as coisas por você. A natureza vai te acalmar, manter a sua cabeça nos eixos e tirar essa carga negativa de ansiedade que você tem, permitindo que você consiga lidar com seus problemas, sacou? — tentou explicar para Senko.

O estranho é, que mesmo sem estar ao lado do Koto, a música continuava a tocar. — Pera, como você faz isso?! Como você toca o koto sem estar... o tocando? — indagou o Mizukage.

— Hahaha! Eu tenho comunhão com a natureza! — Ele se levantou, pegou um dos castiçais com um incenso verde. Ele foi até Senko e passou a fumaça embaixo do seu nariz. — Volte a meditar, expulse as coisas ruins!

Senko fechou os olhos, cheirando aquele odor ruim de incenso, mas se mantendo pleno. A respiração voltou a ficar mais lenta, espaçada, profunda. O Mizukage sentia os batimentos cardíacos desacelerarem e a leve brisa bater em sua face. A música entrava na sua cabeça e aos poucos ele começava a se sentir diferente. O que era aquilo?


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O jovem Uchiha sentia-se um pouco melhor. Era algo estranho que começava na barriga e que depois se dissipava, causando alguns calafrios e dando uma sensação inusitada de formigamento por toda a sua pele. Os pensamentos de Senko, que antes estavam completamente voltados para seus problemas pessoais e os seus problemas profissionais como Mizukage, agora pouco a pouco estavam se transformando em um grande vazio, um silêncio gostoso dentro da mente, permitindo que os sons da natureza entrassem. O peso do próprio corpo já era nulo, mesmo sentado sentia-se flutuando nas ondas sonoras do koto e degustando o som do vento batendo nas folhas das árvores.

Foi nesse momento que Pietrovão, percebendo a plena concentração de Senko durante a meditação, pegou do seu bolso uma outra substância. Essa era mais líquida do que sólida, mas tinha certa viscosidade. Por trás do garoto, aplicou o líquido em sua nuca, fazendo movimentos lentos e circulares. — Agora você irá sentir algo que poucos tem a chance de experienciar. — Sussurrava para não atrapalhar o estado zen de Senko. — Você irá sentir por um breve momento o encontro da energia física e da energia espiritual... com a energia natural. — Conforme ia dizendo e esfregando aquela solução viscosa, pássaros, esquilos, borboletas e outros insetos se reuniam em volta dos dois e pousavam sobre Senko. Era algo incrível e inimaginável, Senko nunca tinha sentido algo assim. O que era para ser uma simples meditação para superar o estresse, virou uma experiência a se recordar.

Alguns segundos depois, a sensação passou e a sessão de meditação acabou. — Então, se sente melhor, Mizukage-sama? — perguntou o instrutor.

Senko sorriu, levantando-se do círculo. — É claro! Diga-me, o que era aquilo? Foi incrível! — a curiosidade tomava o espaço.

Pietrovão ficou mais sério para responder à pergunta do garoto, dizendo num tom bem sério e sombrio, completamente diferente do que tinha se mostrado ser até então. — Um dia você saberá. Mantenha a comunhão com a natureza que hoje foi oficialmente estabelecida e, um dia, vai entender que sensação foi essa. Volte aqui quando estiver pronto.

— Mas você disse que ficaríamos mais tr...

Interrompeu. — Volte quando se sentir pronto. Afinal, você tem mais o que fazer, não?

Era verdade, uma reunião esperava o rapazinho. — Ok... Bom, sendo assim, muito obrigado pela ajuda, Pietrovão. — O mestre de yoga só consentiu com um sorriso e Senko se retirou de lá. O Mizukage buscou suas roupas, se trocou e voltou para o seu gabinete.


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