Um escorpião entrava na areia gelada naquela noite de inverno em Sunagakure no Sato enquanto os irmãos Matsuda caminhavam pelas enormes dunas de areia do País do Vento. Tinham caminhado a tarde inteira em busca de mais alimento para abastecer a pequena cabana que fizeram no meio do deserto. Harumi, a mãe de Senko e Ichiro, permaneceu em casa tecendo bolsas, carteiras e outros tipos de bugigangas para os nômades que sempre encontravam em seu longo e árduo êxodo.

Infelizmente, viver em sociedade com a base moral dos ex-habitantes de Suna era uma tarefa no mínimo complicada – para não dizer burra –, uma vez que era um povo antiético e cheio de valores deturpados. Além disso, a desigualdade em que viviam, a pobreza e o desamparo só contribuíam para o surgimento de mentes voltadas para o crime e confusão. Ninguém, digo, ninguém era digno de confiança no deserto. Foi o que Senko aprendeu desde pequenino, desde que podia entender frases mais complexas. Ichiro, o filho mais velho, teve esses ideais pregados em sua consciência e teve que amadurecer muito para exercer o papel de pai que lhe fora convenientemente atribuído pela morte de Hideki Matsuda no ataque de Okina Ootsutsuki à Vila da Areia. Afinal, crescer num foi uma opção para esses dois irmãos, era algo mais do que necessário para sobrevivência de ambos. Harumi não era capaz de tê-los embaixo do braço a todo o tempo e muito menos era capaz de alimentar duas crianças e a si mesma sem auxílio nenhum. Então, o que restava para os dois irmãos era uma tarefa simples: cuidar um do outro, procurar comida e não confiar em ninguém. Se tivessem que matar alguém em defesa própria, não poderiam hesitar nem um segundo. A vida era uma guerra e o deserto era o campo de batalha.

Pela condição precária em que viviam, Senko e o irmão não tinham muitas roupas. O caçula era privilegiado, já que Ichiro sempre deixava as melhores roupas, aquelas que eram mais quentes, com o irmão. Tinha que assegurar que ele iria crescer bem, independentemente do sacrifício que fosse necessário ser feito. No País do Vento, as manhãs eram absurdamente quentes e as noites eram congelantes, mesmo estando acostumado era difícil resistir ao clima com uma amplitude térmica tão grande.

— Achei! Achei um! — Ichiro arremessou sua lança naquele escorpião que tentava se esgueirar entre os grãos de areia. O primogênito, tendo matado o inseto, ofereceu aquele bicho do rabo torto para Senko. Sem esperar, o caçula comprimiu chakra nos seus pulmões e soltou uma pequena e quente chama pela boca, fritando o escorpião na hora. — Vai que é tua! — encorajou Ichiro, observando os olhos gulosos do irmão que abocanhou o escorpião sem tomar muito cuidado com o seu ferrão.

Era claro que aquilo não era o suficiente para se alimentarem. Havia semanas que sobrevivam com uma meia dúzia desses, dependia muito do dia e da sorte. Em alguns dias, apenas Senko comia enquanto o irmão mais velho passava fome; outros em que nenhum dos Matsuda comiam. Era uma vida desgraçada. Ultimamente, Harumi tem tentado vender objetos aos viajantes para, quem sabe, imigrar para outro país do mundo ninja com os ryous que estava arrecadando. Para ser exato, tinha armazenado quantias boas nas últimas semanas e sentia-se confiante, talvez seria o fim daquela miséria.

— Ichiro, olha, OLHA!!!!!!! — Senko berrou animado para o irmão. O garoto tinha avistado um grande camelo andando perdido no deserto. Aquilo era uma oportunidade de ouro, era um dia abençoado para aquela família que só sobrevivia com os insetos que retiravam da areia. Aquele animal iria durar por semanas e possibilitar rangos maravilhosos preparados pelas mãos habilidosas de Harumi. Os dois irmãos salivavam ao ver o camelo indefeso.

O berro de Senko assustou um pouco o animal que andava desajeitado na areia. — Ei, Senko, shhhhh, sem movimentos bruscos e sem gritaria a partir de agora, vamos ir pouco a pouco. — Ichiro sussurrou o mais alto que pôde e foi andando agachado em direção ao animal empunhando a sua lança. O pequeno Matsuda foi logo atrás do irmão, curioso para saber como Ichiro iria abordar aquela situação.

Ambos chegaram perto do quadrúpede com a cautela combinada. Ele tinha uma sela, provavelmente tinha se perdido do dono. Junto dessa sela, uma guia que provavelmente servia para... guiar, obviamente, mas também para prender o animal em algum toco de madeira. Ela estava rompida na ponta. Provavelmente foi por causa disso que ele estava ali perdido no deserto, havia se desprendido do estábulo e fugido.

— Distraia ele pela frente que eu vou por trás. Vou tentar domá-lo pela sela e conduzi-lo até a cabana, beleza? — cochichou mais uma vez para o caçula. Senko assim o fez, indo até a cabelo do animal e fazendo alguns sons para distraí-lo, quem sabe fazer um pouco de carinho naquele animal assustado. — Psss, psss, pss, vem cá garota, deixa eu te fazer um carinho. — O camelo aparentava ser um animal manso e aceitou os afagos de Senko. Contudo, assim que Ichiro subiu em suas costas, o animal avançou com grande rapidez e foi correndo sem controle pelas dunas de areia. Senko só teve tempo de agarrar a guia e foi sendo arrastado pelo animal. Por cerca de 100 metros eles foram sendo levados sem controle, até que Ichiro se estabilizou conseguiu controlar a fera.

Chegando na cabana, mataram o animal com respeito. Era o que podiam fazer para sobreviver. Senko acendeu uma fogueira com alguns gravetos e restos de estruturas da antiga Suna que foram arremessadas por todo o deserto usando a sua liberação de fogo mais uma vez. Naquela noite, a família Matsuda teve um rango decente, e teriam bastante comida por mais um tempo. Porém...

— Bom... enquanto vocês estavam fora, eu fui assaltada. — disse Harumi, num tom triste. — Levaram todas as nossas economias...

Os dois irmãos foram diminuindo o ritmo das mordidas e olharam em choque. — Mãe, como assim? Quem fez isso?! Nós podemos encontrar o desgraçado e fazê-lo devolver! — disse Ichiro, com raiva.

— Ichiro, relaxa. Vocês já fizeram o suficiente.



Status: HP: 1950/1950 | CH: 2850/2850 | ST: 00/06

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