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O clarear do sol espreitava-se por entre as nuvens naquele dia nebuloso. Sentia a brisa frígida da tarde roçar meus fios de cabelo e balanca-los por meu rosto e orelhas. Havia umidez no ar, tal qual todas os dias. Ocasionalmente, caiam algumas gotas do céu, então todos andavam com capas de chuva ou sombrinhas para protegerem-se. Eu caminhava nos arredores da aldeia agarrado nos braços de minha mãe. Eu recordo-me que o meu aniversário seria amanhã, e eu e minha mãe queríamos procurar pela cidade um presente de aniversário. Não consigo me lembrar de como, mas nós achamos algo que carrego comigo até hoje. Enquanto passávamos pelas vitrines das lojas nas ruas, minha atenção foi roubada por uma raposa de pelúcia. Nós dois acabamos concordando que aquele presente era fantástico, ou talvez eu a tenha convencido disso. Por fim, ela comprou a pelúcia e lembro-me de que dormia todas as noites agarrado no brinquedo até um ano atrás. Naquele dia, meu pai retornou de uma missão que foi encarregado e ele me deu de presente uma grande espada. Sua lâmina e empunhadura eram ornadas e sinceramente, era uma bela espada, mas minha mãe jamais aceitaria, assim como eu, que algum dia eu pudesse utilizar aquela arma. De um modo ou de outro, aquela espada tornou-se um símbolo de nossa família por seu valor monetário, mas desprovida de um significado real.
Acredito que isso é o que define o mundo em que vivemos, trivialidades que resultam em mortes, mas não gosto de pensar que essa é a sina do mundo ninja, na verdade, dificilmente imagino-me vivendo em um mundo assim, afinal, minha aldeia é repleta de serenidade, ou ao menos, acredito eu. Fazia tanto tempo que até já havia esquecido dessa memória de anos atrás, de meu presente de aniversário. Me pergunto porque me lembrar disso agora. Eu caminho pelos arredores da aldeia terminando de ler um livro, segurando a obra entre meus dedos da mão direita. Não faz muito tempo que visitei a biblioteca pública da vila e aluguei alguns livros de meu interesse, costumava fazer isso principalmente quando era ainda mais jovem. Eu deitava sobre minha cama e perdia-me nos parágrafos rítmicos como uma melodia. Se não me engano, eu detestava a chuva, principalmente por ser ruidosa e em dias de tempestade, quase ensurdecedora, mas hoje, acho que não ouvi-la por muito tempo me traz certo desconforto. Hoje eu havia feito de tudo para que esse dia fosse exclusivamente para desenvolver minhas habilidades, principalmente meu controle de chakra. Eu caminhei pelas ruas e então, cheguei em meu local favorito para isso. Em um ponto da cidade, há uma ponte que, depois de seu parapeito, é possível ver alguns edifícios em um nível mais baixo. Saltando pelo parapeito e por entre esses prédios, você chegará nesse meu lugar especial. É possível ver o horizonte até onde a vista alcança, através até mesmo dos portões da aldeia. Eu visitei esse lugar pela primeira vez com um amigo meu da época da academia. Um ambiente pacífico tocado apenas pela mansuetude e alcançado apenas pela chuva.
Antes de chegar, eu coloco meu livro dentro de minha bolsa. Eu me sento cruzando minhas pernas na posição de lótus e coloco meus palmos virados para cima, em cima de meus dois joelhos. Em seguida, respiro em tempos pausados ao mesmo tempo que fecho meus olhos. Me concentro apenas me minha respiração, mas ainda assim posso ouvir algumas pessoas calcorrearem ao longe, alguns barulhos específicos e claro, a chuva, a eterna chuva de nossa Aldeia. Eu dou longas inspiradas e solto o ar por minha boca. No segundo instante, eu concentro-me em expalhar meu chakra pelos pontos de meu corpo, circulá-lo nas pequenas e grandes partes, emiti-lo como as nuvens descarregam as águas em seu interior. Passo longos minutos em meditação e concentrando-me em manter um rítimo constante de circulação de chakra. Após isso, começo a realizar movimentos variados usufruindo do chakra concentrado em meus pés e mãos para realizá-los. Há diversos pontos onde posso tentar alastrar-me sem perder o equilíbrio e sem desajustar meu fluxo de chakra. Eu permaneço no treino de controle de chakra o dia todo até finalmente estar completamente desgastado, ou ao menos, estar ciente de que já tive um treino suficientemente produtivo.
Eu retorno até minha casa aos passos lentos e observo meu entorno. Não muito distante, vejo a biblioteca pública e aproveito a oportunidade para devolver o livro que lia durante o percurso.
— Senhorita Chitsuna, eu vim devolver o livro! — Digo após adentrar o recinto e aproximar-me do balcão. Ela estava organizando alguns papéis por debaixo do balcão e em seguida, orienta-me até a prateleira na qual o livro pertence. Eu vou e guardo-o junto aos outros: — Desculpe pela demora, não queria atrasar então vim as pressas devolver. — Falo enquanto curvo-me para me desculpar. A senhorita sempre detestou cordialidade excessiva, e acredito que por isso sempre envergonha-se quando tento ser gentil demais.
Eu despeço-me acenando para ele e volto a caminhar até minha casa. O trajeto é um tanto longo e mesmo durante a noite, ainda é possível ver pessoas andando serenamente por entre as ruas, vezes apenas papeando sobre a proteção de seus guarda-chuvas, vezes dentro de estabelecimentos. Eu conheço pouco da região, principalmente dos pontos comerciais, mas aparentam ser locais agradáveis, talvez eu vá em algum deles quando houver a oportunidade: — Mãe, cheguei em casa! — Digo após entrar depois de alguns passos aqui e ali. Ela está na cozinha preparando, como de costume, um chá de hortelã e um frango refogado: — A senhora está preparando minha comida predileta! Muito obrigado! — Eu digo enquanto a abraço. Ela tenta se esquivar por eu estar encharcado pelo chuva e um tanto suado. Eu rapidamente percebo mas já havia me aproximado demais: — Caramba, eu vou tomar um banho, desculpe... — Murmurei enquanto me dirigia para o banheiro de minha casa. Terminando meu banho, me visto adequadamente e vou até a sala de jantar. Nós aproveitamos a noite comendo juntos um frango refogado. A lua beijava o negrume da noite, podíamos ver a lua iluminar aquele céu, o dia havia sido produtivo.

Considerações: