Eu estava à frente do escritório administrativo da Vila da Pedra. Com minha bandana presa à cintura, eu estava confiante enquanto ostentava o símbolo que provava o meu papel como membro da força militar daquele país. Não só isso, mas aquilo era a prova de que eu existia e em breve todo o mundo saberia o meu nome. E sim, todas essas foram palavras que eu disse olhando para o meu próprio reflexo no espelho há poucos minutos atrás.

Os dias desde o incidente com o senhor Kanechiro tinham sido turbulentos. Ainda que eu tenha conseguido sobreviver, aquele porão acabou se juntando aos meus pesadelos recorrentes com os laboratórios que agora eu tinha uma mínima noção do que se tratavam. Acordar suando no meio da noite era algo recorrente para mim, e infelizmente esse é o tipo de coisa que você nunca se acostuma. Mas eu percebi que algo mudou desde que consegui aqueles olhos. Os sonhos com o laboratório se tornaram menos recorrentes, como se não tivessem mais uma mensagem urgente para me passar. Quando eu lembrava da sensação daquele dia — da cabeça e olhos ardendo em desespero —, a lembrança era gatilho o suficiente para fazer aqueles olhos vermelhos virem à tona.

— Sharingan. — sussurrei enquanto olhava para o espelho. Aquele tomoe no canto do círculo dos meus olhos era um sinal de que eu ainda estava apenas começando. Mesmo sem entender aquilo tudo, as informações simplesmente pareciam ir surgindo na minha mente conforme eu me questionava ou pensava nelas. É por isso que eu sabia que aqueles meus olhos ainda tinham espaço para ir além... Ainda tinha um potencial adormecido. O que despertar esse potencial me proporcionaria? Isso minha intuição ainda não era capaz de relevar. Mas eu estava pronta, sim.

De volta à minha visita ao escritório da vila, eu pedi para que o guarda me anunciasse para a responsável pelo setor de distribuição de missões. Provavelmente negariam a entrada de uma pessoa aleatória, mas eu fiz questão de segurar na cintura com os dedos apoiados no metal com o símbolo da vila cravado. O homem encapuzado não pôde recusar o pedido de um ninja de sua aldeia. Naquele dia, uma dupla de homens jovens estavam responsáveis por catalogar e distribuir as tarefas. Eu me aproximei da mesa e pensei em bater nela para chamar atenção. Mas isso não é o meu estilo, sabe? Não consigo agir muito bem forçando esse comportamento agressivo, sabe, mesmo que eu ache incrível quem consegue e quisesse ser tão badass assim também.

— Com licença, eu sou Uchi-... — eu comecei a me apresentar, mas então travei. Aquele nome... Por mais que eu me sentisse confortável com ele por sentir que ele realmente me pertencia, ainda assim era estranho pra mim me anunciar com um sobrenome. Por toda a minha vida eu sempre fui Takara e nada além disso. Agora eu finalmente tinha algo a mais. Suspirei fundo e sorri amigavelmente antes de tentar novamente — Uchiha Takara, sim. Devo estar nos registros somente como Takara ainda, mas não importa. Eu gostaria que me fosse designada uma missão. Mas não qualquer uma, mas uma que seja digna de uma grande kunoichi.

Os homens ficaram se encarando com expressão de confusão e eu percebi que meu discurso foi quase nada convincente. De fato, fazer a linha tímida me tinha sido bem mais proveitoso durante a minha jornada. Mas eu ainda estava com essa ideia de ser mais confiante dali para frente, então mesmo que estivesse completamente envergonhada pela reação deles (ou a falta dela, no caso), eu tentei manter a expressão confiante. O que parecia ser o mais jovem deles revirou alguns pergaminhos e soltou uma risadinha de repente. Ele se recompôs logo em seguida, no que continuei encarando-o fazendo esse papel de ninja sem medo.

— Essa aqui serve? — perguntou um deles estendendo um pergaminho na minha direção. Quando estendi a mão para pegá-lo eu notei que o outro homem não estava realmente varrendo o lugar, mas sim apoiado na vassoura tentando segurar o riso. Me senti ainda mais constrangida, mas segurei a onda. Desenrolei o pergaminho com calma para ler a missão que me aguardava. Arregalei os olhos em surpresa quando li o conteúdo da minha próxima tarefa.

Era a oportunidade perfeita.

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Segui até o hotel designado no pergaminho da missão. Segundo o que estava escrito nas instruções, eu seria a guarda costas de Minato Yukina, uma atriz e cantora famosa que estava no Vila da Pedra a negócios. Ainda segundo as informações que me foram cedidas, algumas pessoas entre a sua legião de fãs não são lá tão amigáveis assim, e um obcecado já conhecido pela equipe de Yukina tinha a ameaçado há poucos dias. Esse homem chamado Fabian era um estrangeiro (como o próprio nome demonstra) que segue Yukina para absolutamente todos os lugares que ela vai dizendo que por ser o maior fã dela então ela tem a obrigação de casar com ele. Ele está em todos os shows, manda presentes estranhos e por diversas vezes foi avistado nas redondezas de onde a estrela fica hospedada. Ele consegue fugir toda vez, e assim segue causando problemas. Em sua última aparição ele ameaçou Yukina e garantiu que se ela não iria viver com ele por bem então ele faria o possível para ela obedecê-lo por mal. A equipe da jovem atriz teme que ele cumpra o que prometeu uma vez que não duvidam dos extremos que Fabian pode chegar para ter sua vontade saciada.

Meu trabalho seria basicamente garantir que Yukina chegaria em segurança na casa de sua família, local para onde ela estaria indo tirar férias antes da sua grande turnê. Eu pessoalmente não sou nenhuma grande fã dela, mas já a vi em outdoors e comerciais espalhados pela vila. Apesar de ainda ser uma estrela em ascensão, Yukina ainda assim não deve ser desprezada no ramo. As fichas que me foram entregues junto com o breefing da missão incluía informações de toda a equipe da garota, incluindo a própria. Ela tinha quinze anos, três anos mais velha que eu. Seria estranho uma criança protegendo uma adolescente? Bem, tanto faz, é esse o meu trabalho mesmo.

Assim que cheguei na recepção do hotel eu fui rapidamente informada que Yukina e sua equipe me esperavam no quarto andar, no quarto 401. Segui pelas escadas até o quarto indicado e antes que eu pudesse bater na porta ela se abriu. Um segurança me pediu para entrar e quando olhei para o canto da sala lá estava ela: Minato Yukina terminando de tirar a maquiagem depois de passar a manhã gravando um novo comercial.


— Bom dia. Eu sou Takara. Serei a responsável pela sua segurança durante a próxima viagem, senhorita Yukina. — eu disse guardando o pergaminho e um bolso nas costas, seguindo de uma reverência. A estrela daquela missão abriu um sorriso ao me ver e fez impulso como se fosse levantar, mas a sua maquiadora pediu para que ela esperasse um pouco mais.

— Nossa, quem diria que mandariam alguém tão jovem e bonita. Será um prazer trabalhar com você, Takara. Ah, não precisa ser tão formal. Somos amigas agora, certo? — ela disse. O seu carisma era sem igual, isso eu posso dizer. Assim que ela dirigiu a primeira palavra em resposta a mim eu já estava completamente encantada e senti meu coração errar uma batida. Talvez minhas bochechas tenham até ficando um pouco vermelhas, e foi quando eu virei o rosto de lado colocando o cabelo atrás da orelha.

— Bem, quando estiver pronta podemos ir. Seria melhor irmos logo antes que escureça demais e fique mais perigoso. — eu disse, no que todos acenaram positivamente. Eu seria a capitã pelas próximas horas, então tudo o que acontecesse dali pra frente seria completa responsabilidade minha. Isso é pressão o suficiente para fazer qualquer outra pessoa se desesperar, mas eu estava focada. Precisava daquela missão para compreender ainda melhor minhas novas habilidades. Eu estava sedenta para adquirir tais conhecimentos.

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A casa para qual Yukina estava indo ainda era localizada no País da Terra, ainda que em um tipo de vilarejo mais simples e um tanto distante da Vila da Pedra. Segundo o que um de seus seguranças me contou, aquela era a antiga casa dos avós da estrela. Os pais dela tinham se mudado há pouco tempo para lá em busca de uma vida menos agitada no campo e ela ainda não tinha tido a chance de visitá-los. Como surgiu uma oportunidade em sua agenda lotada, ela resolveu aproveitar para ir ver seus pais. Claro que tudo isso sob a ameaça de Fabian.

— Vocês realmente acham que ele poderia tentar algo? — eu perguntei para o líder da segurança enquanto repassávamos o plano entre nós. Fora eu e ele que estaríamos liderando a escolta (mais eu, no caso, ele estaria me obedecendo), tínhamos ainda a maquiadora e estilista, o empresário, mais dois seguranças e o homem responsável por guiar a carruagem. Durante o trajeto até a entrada da vila Yukina ficou ocupada dando atenção para os fãs que a percebiam, o que custou a atenção dos dois seguranças. O líder deles foi quem me respondeu.

— Sim e não. — ele respondeu — Fabian é um fã louco, mas até então nunca tentou nada tão extremo assim. Na maioria das vezes ele nem tenta falar com Yukina, apenas fica observando de longe. Ainda assim, ele parece ser alguém instável. Nunca tinha ameaçado daquela forma antes, então ficamos com medo dele realmente cumprir com o que disse. — ele explicou por fim e eu acenei positivamente com a cabeça, indicando que entendi a situação. Realmente existiam grandes chances de ser apenas uma ameaça vazia, mas eu não estava muito afim de arriscar isso.

O plano de ação era simples, mas tanto eu quanto o líder da segurança concordamos que seria eficaz. Basicamente, colocaríamos os dois seguranças para seguir a pé do lado da carruagem, um de cada lado. Em caso de acelerarmos, existia um apoio para que eles pudessem segurar e serem levados no mesmo ritmo. A prioridade era proteger as laterais, e eles deveriam focar nisso. O líder da segurança seguiria ao lado do condutor, sendo seu papel nos resguardar de problemas na dianteira. Eu iria caminhando atrás, também com um apoio para ser utilizado caso fosse necessário acelerar. O empresário e a maquiadora iriam do lado de dentro, juntamente de Yukina. A estrela deveria estar sentada no centro, com os outros dois servindo de escudo para ela.

— Nossa... Você pensou tudo isso nesse tempinho? — perguntou Yukina aparentando estar impressionada.

— Sim. Somos treinados para isso na Academia. Digo, para saber realizar escoltas. — respondi, quase soltando por um momento que aquela era a minha primeira missão do tipo. Optei por omitir tal informação para evitar deixar Yukina nervosa. A garota apenas sorriu demonstrando confiança e seguiu para dentro da carruagem. Estávamos prontos para partir e assim aconteceu.

O terreno na primeira parte do trajeto era por demais irregular, o que impedia que os cavalos conseguissem correr adequadamente. Por conta disso, o ritmo acabou sendo menor. Eu e os guardas seguimos em nossas posições, atentos aos nossos arredores. A paisagem do País da Terra não possui tantas florestas como o País do Fogo, por exemplo, sendo basicamente uma enorme cadeia de montanhas. Isso significa que é bem complicado passar despercebido, deixando todos expostos. Isso tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que até mesmo possíveis inimigos acabam encontrando dificuldade em se esconder e armar emboscadas. O lado ruim é que realmente não tem como se esconder para evitar emboscadas. No pior dos casos, a situação ali seria decidida por quem avistasse o outro primeiro.

Fechei os olhos por breves segundos e tentei lembrar da sensação daquele dia, e quando abrir os olhos novamente eu de alguma forma sabia que aquilo tinha sido ativado. Sim, o meu Sharingan. Sendo uma habilidade ocular, eu esperava que ele me ajudasse a detectar possíveis problemas. Não só isso, mas eu queria testar o limite de duração que eu suportaria com ele em funcionamento. Foi por isso que o ativei sem pensar demais. A sensação era de como se de repente as coisas tivessem ficado um pouco mais lentas, uma coisa difícil de explicar em palavras. Eu estava maravilhada, sim, mas ainda não era o suficiente para definir se aquilo era realmente útil.

Foi quando ouvi um grito vindo da frente. Era o líder da segurança avisando para abaixar. Eu me virei imediatamente tentando ver o que estava acontecendo e foi quando eu escutei aquele barulho característico de fios de aço desenrolando em alta velocidade. De uma hora para a outra dezenas de senbon pareceram voar surgindo por entre as pedras, algo que não seria possível a menos que tivessem utilizado algum tipo de genjutsu. Mas o tempo para escapar era pouco, porque mais agulhas pareceram surgir por trás também, como se manifestadas do vento. Vindo em minha direção, eu sabia que não poderia escapar daquilo...

Mas acho que eu estava errada. O tempo pareceu reduzir de marcha por alguns breves segundos, e foi como se eu pudesse ver claramente a trajetória que aquelas agulhas iriam percorrer. De alguma forma eu sabia como me esquivar daquilo, e de forma quase instintiva eu me joguei justamente para o único lado em que a saraivada de agulhas não iria me atingir. Caí desengonçada no chão, mas me virei rapidamente na direção de onde os ataques tinham se formado. Não fazia sentido aquelas senbon se formando a partir do vento, a não ser que aquilo fosse...

— Genjutsu! O inimigo possui habilidades shinobi, cerquem o perímetro! — eu anunciei. Mas talvez fosse tarde demais. As senbon que outrora avançaram em minha direção sequer tinham se fincado contra a madeira da carruagem, provando claramente que era um truque barato. No entanto, as agulhas vindas das laterais ainda estavam ali. Essas, sim, eram verdadeiras. Os seguranças responsáveis por proteger as laterais praticamente não tiveram tempo para se defender, e foi naquele instante que caíram no chão com diversas agulhas perfurando os seus corpos. Eu corri para me aproximar quando o líder deles se mostrou ileso também (já que foi alvo da mesma ilusão que eu).

— Yukina! Está tudo bem aí dentro? — gritei pedindo para que a garota respondesse que sim. Quase que instantaneamente a jovem atriz respondeu que sim, e questionou o que estava acontecendo do lado de fora — Estamos sendo atacados! Não saiam daí de dentro! — avisei levantando a voz. Meu próximo movimento foi varrer os arredores em buscar de algum sinal dos nossos inimigos. Foi quando notei uma pedra ali próxima como se coberta por um prisma multicolorido. Seria o efeito do sharingan? Eu não saberia dizer, mas o fato é que eles tinham sido localizados.

— Se mostre agora, bandido! — gritei — Eu já sei onde você está!

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Para ser sincera, eu não achei que os bandidos iriam se relevar só porque eu pedi. Eu peguei uma kunai dos meus equipamentos para forçar alguma aparência mais preparada e agressiva, embora eu não tivesse a intenção de usar aquela arma para qualquer coisa que fosse pela minha quase inexistente aptidão para o combate. O Sharingan foi o suficiente para revelar seu esconderijo, então agora eu esperava que fosse o suficiente também para enfrentar aqueles inimigos que começaram a surgir um por um. A cobertura prismática que notei antes era mesmo um tipo de camuflagem, no que alguém a removeu como se fosse um pedaço de pano. Um total de três homens mascarados pareceram brotar de dentro da pedra e atrás deles estava aquele que eu reconheci do briefing da missão como Fabian.

— Não acredito que você chegou a esse ponto, seu desgraçado. — disse o líder da segurança ao notar que realmente estava certo em levar a ameaça do perseguidor a sério. O homem tinha uma aparência desgrenhada, como se não tomasse banho a dias. Ele movimentou a língua por cima dos lábios enquanto coçava atrás do pescoço. Em um primeiro momento parecia que ele estava olhando para mim, mas então eu percebi que na verdade seu olhar estava fixado era na carruagem. Em outras palavras, ele já sabia que Yukina estava ali dentro. Devia estar planejando uma forma de chegar a até ela. Segurei a kunai mais forte e a levantei na altura do rosto.

— Sugiro que recuem. Vocês não vão passar desse ponto. — anunciei com convicção, mas os mascarados pareceram não se importar. Até aquele momento, eu sabia que existia ao menos um ninja entre eles, no caso o responsável pela ilusão das agulhas e a camuflagem com o pano. Pela forma que se movimentaram deixando um deles mais para trás, eu assumi então que aquele era o alvo prioritário. Assim como eu ele deve ter focado demais em ilusões e deixou o desenvolvimento corporal de lado, então a formação deles envolve chamar a atenção com os dois na frente enquanto aquele mais atrás auxilia com seus truques. Não bastasse isso, ainda teria que lidar com Fabian... Que pelo menos até aquele momento ainda não tinha se movido. Aquilo era bom.

O líder da segurança tomou a frente para lidar com os dois bandidos de antes, deixando o ilusionista mais atrás para mim. Eu sabia que ele iria tirar proveito de um combate à longa distância onde poderia lançar ilusões continuamente sem se colocar em perigo. Eu sei disso porque é um tipo de postura que eu mesma costumo adotar, e é normalmente a mais inteligente. Ainda assim, eu estava disposta a me colocar em uma situação desconfortável para deixar meu inimigo igualmente em desvantagem. Foi por isso que movi minhas mãos em selos e cuspi aquela que descobri ser a técnica característica do meu clã.

— Katon: Goukakyuu no Jutsu! — anunciei antes de inclinar a cabeça para trás e então a jogar para frente com os dedos formando um arco à frente da minha boca. Um sopro forte e contínuo foi o suficiente para converter em fogo o chakra em meus pulmões. As chamas se moldaram na forma de uma grande esfera flamejante que avançou na direção do meu inimigo. Ele pareceu não esperar aquilo, mas ainda assim conseguiu se jogar para o lado e sair da trajetória do ataque. Ele se levantou rapidamente e me procurou com os olhos, mas tudo o que viu foram seus parceiros brigando com o último segurança consciente. Isso porque eu aproveitei a própria cobertura da bola de fogo para me aproximar. Assim que me notou quase o alcançando pela lateral, o homem começou a mover os dedos em selos de mãos. Eu fiz o mesmo enquanto torcia para que eu fosse mais veloz que ele. E assim aconteceu.

Uma vez pego no meu Narakumi no Jutsu, o bandido parou de realizar os selos de mãos e arregalou os olhos assustado. Eu não sabia o que ele estava vendo, mas sabia que ver seu maior pesadelo bem na sua frente deveria ocupá-lo por tempo o suficiente. Ele ainda não sabia sobre eu utilizar Genjutsu como ele, então ainda teria alguma dificuldade antes de perceber o truque. Eu esperava que logo ele compreendesse a situação e se livrasse, mas enquanto isso não acontecia eu movi as mãos em mais selos. Desta vez, iria ajudar o líder da segurança que parecia estar tendo dificuldade em um combate dois contra um.

Eles pareciam estar tão focados no combate que nem se deram conta de que eu tinha acabado de neutralizar o seu parceiro e estava agora virada para eles com um jutsu sendo preparado pelas minhas mãos. Em um momento eles estavam quase sobrepujando o segurança para no seguinte simplesmente perderem o controle de seus corpos. Estavam paralisados pela minha técnica. O segurança estranhou a interrupção, mas quando me viu olhando para eles pareceu perceber que aquilo era obra minha e sem mais enrolação golpeou-os com sua faca, encerrando ali as suas vidas.

Mas ainda não tinha acabado. Quando eu me virei na direção do ilusionista de antes ele estava já bem longe, fugindo depois de ter se livrado da minha ilusão como suspeitei que aconteceria. O problema é que ao olhar na direção em que Fabian estava eu não o avistei mais. No momento seguinte ouvi os gritos vindo de dentro da carruagem e percebi a porta aberta. Só podia ser ele.

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Corri em direção à carruagem o mais rápido que pude, o que não era muito. O segurança fez o mesmo e foi pelo outro lado afim de cercar para impedir que Fabian escapasse. Assim que me aproximei eu vi ele ali, com uma faca na mão e puxando Yukina pelo braço enquanto ela gritava desesperadamente. A maquiadora era quem estava daquele lado da porta e eu a encontrei caída no chão com uma moça de sangue se formando embaixo do seu corpo. A sensação de falha me atingiu fortemente e tirou minha reação por segundos cruciais. Quando eu voltei a perceber meus arredores foi por Fabian me dando um chute na barriga que me arremessou contra a rocha atrás de mim e arranhou meus cotovelos ao ponto de arrancar um pouco de sangue. Por mais que tentasse impedir o maníaco de levar Yukina, o empresário se viu de mãos atadas quando Fabian apontou a faca para ele e ameaçou atacá-lo. O segurança quando abriu a porta também se assustou pela visão da maquiadora sangrando e entrou na carruagem para socorrê-la. Enquanto isso, o perseguidor estava com as mãos em Yukina do lado de fora da carruagem. Ele a arremessou contra o chão, no que a jovem não conseguiu mostrar resistência e simplesmente caiu. Ainda com a faca em mãos, ele aproximou sua língua do rosto dela e lambeu próximo dos seus olhos. Aquela cena foi o suficiente para me tirar do sério.

Eu me reergui furiosa já preparando mais selos para acabar com aquela palhaçada, mas Fabian não parecia querer deixar brechas para ser impedido. Ele olhou para mim com aquele sorriso maníaco no rosto enquanto a saliva escorria pelo canto da sua boca e apontou a faca para Yukina. A jovem estrela se assustou e deu um grito, que foi o suficiente para que o homem movesse a faca com raiva próximo o suficiente do rosto dela para corta-lhe superficialmente na bochecha. Ele pareceu parar por alguns segundos olhando a ferida que tinha causado e então grunhiu em fúria antes de se levantar de cima da garota e se virar na minha direção.

— Olha o que você fez! — ele gritou — Você machucou o lindo rostinho da Yukina-chan, sua imunda!

Ainda assustada, a jovem caída não conseguiu sequer reagir para tentar escapar e se encolheu no chão com as mãos na altura da boca. Fabian olhou para ela naquela situação e então virou o rosto novamente para mim e grunhiu furiosamente antes de vir correndo na minha direção. Eu não tinha tempo para prendê-lo com algum jutsu! E sabendo que não sou boa em combate físico, eu percebi que estava encurralada. Ainda assim eu não me dei por vencida. Fabian realizou o primeiro movimento  para me ferir ao mover a faca em um arco na altura do meu rosto. Eu não sabia lutar mas ainda poderia me esquivar. Ou pelo menos assim eu pensei quando só consegui sair da trajetória o suficiente para o corte pegar apenas na minha testa. Eu senti o sangue escorrendo e descendo pela lateral do meu nariz, mas não tive tempo para pensar demais porque os ataques não tinham acabado.

Como dito, eu não tinha velocidade o suficiente para acompanhar os golpes de Fabian. De alguma forma, eu conseguia ver a trajetória dos seus movimentos, mas não o suficiente para conseguir me esquivar por completo. Meu corpo parecia não conseguir acompanhar a antecipação que meus olhos estavam me fornecendo, e como resultado eu acabei sendo ferida nos braços, tronco e rosto novamente, nas bochechas.

Segurei no ombro esquerdo com a mão direita enquanto ofegava. Estava no meu limite e não parecia que teria escapatória. Fabian não me permitia realizar selos de mãos, a sua pressão não abria espaço para que eu pudesse me defender com o arsenal que eu tinha em mãos. Meu coração estava tão acelerado que eu conseguia ouvi-lo reverberando na caixa torácica e estremecendo todo o meu corpo. A sensação de morte daquele dia estava de volta, e eu me senti ainda mais acuada por não estar respondendo somente por mim mesma. Naquele dia mais vidas estavam na minha responsabilidade, e olhando mais ao fundo era perceptível que eu tinha falhado não uma, mas três vezes naquela missão. Isso era imperdoável.

— Morre, sua cadela! — gritou Fabian antes de avançar na minha direção. A rocha atrás de mim não iria permitir que eu andasse ainda mais para trás para sair do seu golpe. Eu sabia que não conseguiria sair da frente daquele ataque por meios normais. Assim que o maníaco ergueu sua faca e ela começou a descer em um golpe vertical na minha direção, a sensação de morte atingiu o seu ápice... E acompanhada dela veio aquela dor de cabeça de novo. No segundo seguinte, foi como se o tempo parasse. Eu vi o golpe de Fabian perder velocidade gradativamente e mesmo surpresa eu me movi tentando sair de sua trajetória.

No segundo seguinte veio o barulho de algo se chocando nas pedras, e quando o tempo voltou a correr normalmente eu percebi que tinha conseguido sair da frente do ataque. O próprio perseguidor pareceu se surpreender também e gritou com raiva antes de avançar com tudo na minha direção mais uma vez. Infelizmente para ele, algo aconteceu. Minhas habilidades de antecipação estavam melhores e me permitindo ver com mais clareza os seus movimentos. Meu corpo não precisou ficar mais veloz quando os meus olhos se tornaram ainda mais perceptíveis, me garantindo um maior tempo de reação. Ainda que só esquivando sem realmente revidar, eu vi Fabian de repente ter seus ataques frustrados. Eu sorri de forma provocativa e satisfeita com a forma que a situação tinha se invertido.


— Acabou, Fabian. Meus olhos podem lhe acompanhar agora. — anunciei confiante de que aquilo tudo tinha acabado. O homem notou que realmente não teria mais sucesso lidando comigo e se virou de repente para ir em direção à Yukina. Acontece que ao fazer isso ele me deu tempo o suficiente para finalmente neutralizá-lo com um dos meus jutsus. E eu não teria pena. O homem parou de correr de repente como se seus pés tivesse se prendido em algo e conforme os segundos se passavam mais o seu corpo ia parando de se mover até finalmente só se cabeça continuar livre. Para quem apenas observava pelo lado de fora o homem tinha simplesmente parado de correr, mas vendo pela mente dele a situação era ainda pior. Preso pelos galhos de uma grande árvore ao ponto de quase se fundir ao seu tronco, Fabian acabou pego em uma das minhas ilusões mais poderosas. Quando Yukina viu que o homem tinha sido neutralizado, ela se aproximou com calma. Ela pegou a faca que antes estava sendo usada para ameaçá-la e me ferir das mãos dele, que sequer conseguiu mostrar resistência. Ela estava levantando a mão na direção da garganta do homem quando eu segurei o seu braço.

— Eu sei o que você está sentindo, mas não vale a pena. Vai por mim. — eu disse de forma calma, e foi quando Yukina desabou de joelhos e começou a chorar incontrolavelmente. Apesar de tudo aquilo ter acabado, acabou tendo um preço. Um preço que ninguém precisaria ter que pagar se eu tivesse sido mais eficiente no meu trabalho. A morte de todas aquelas pessoas era culpa minha e...

— Você está viva! Graças a deus! — eu ouvi a voz do líder da segurança gritar de dentro da carruagem. Antes de ir checar, eu me certifiquei de imobilizar Fabian para que ele não fugisse quando a ilusão se dissipasse. Só então fui até a carruagem e ainda assim me senti culpada pelos seguranças caídos. Foi só ao me aproximar que eu percebi que eles ainda respiravam. As agulhas não tinha os matado... Estavam apenas desmaiados. Minhas mãos tremiam quando eu percebi que eu não tinha falhado tanto quanto imaginava. Nenhuma das pessoas que eu precisava proteger tinham morrido, e isso era ótimo. Eu senti vontade de chorar, mas me mantive firme. Meus olhos recuaram para seu tom azul de costume quando vi a maquiadora consciente com o empresário apoiando sua cabeça. Ela tinha um corte na altura do ombro, que era o que tinha formado a poça de sangue que eu vi antes e achei que ela tinha falecido.

Depois daquilo, fomos capazes de seguir viagem. Eu ainda estava machucada, mas precisaria esperar até a volta para a vila afim de me tratar. O restante do trajeto foi sem empecilhos, ainda que completamente tenso pelos acontecimentos de antes. Quando chegamos no destino, Yukina veio falar comigo.

— Obrigada por me proteger. Finalmente vou poder me ver livre desse cara.

— Como obrigada? — eu retruquei sem conseguir mais camuflar o que eu estava sentindo com aquela falsa confiança — Quase morremos. Todos nós.

— É verdade. Mas estamos aqui ainda, não é? — ela rebateu e me vi sem argumentos. Apesar de tudo, ela ainda estava sorrindo. Assim que notaram a nossa presença, os pais dela saíram de casa correndo para vir falar com a filha. Ela acenou para eles antes de voltar a falar comigo — Vamos marcar de nos ver quando eu estiver no País da Terra de novo, okay? Sem maníacos, sem bandidos. Apenas duas amigas curtindo o fim de semana.

— É claro. — eu disse, acreditando ser apenas educação já que alguém tão ocupada dificilmente teria tempo para sair desse jeito. Depois de tudo isso, a missão tinha sido concluída. Ainda que com alguns problemas de curso, tudo tinha acabado bem. Eu aprendi mais sobre os limites dos meus olhos assim como eu queria, e pude ter um bom descanso quando retornei à vila e precisei passar a noite no hospital cuidado dos meus machucados.

Será que Takane-sama vai aparecer de novo?

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