(51-57 DG) O circo chega ao vilarejo...
A família Matsuno durante anos vagou pelos países do fogo e da água, levando entretenimento circense para as crianças das aldeias até finalmente se instalar permanentemente em um pequeno vilarejo no país da água, distante de outros assentamentos humanos e com conexão apenas com Kirigakure no Sato. Sendo povoado apenas por alguns poucos civis e majoritariamente sustentados com atividades rurais, todos ali se conheciam muito bem. A chegada dos circenses foi uma surpresa para o povoado que nunca havia visto contorcionistas, malabaristas e, principalmente, os marionetistas. Ao menos uma vez na semana todos se reunião na casa de algum deles para assistir algum dos shows proporcionados pelos Matsuno.

E foi em meio a um desses shows que os pais de Haru se conheceram, tendo ele nascido poucos meses depois devido à falta de precaução dos dois. O homem era um dos marionetistas Matsuno e a mulher era filha de um dos camponeses considerados como “líderes” do vilarejo. Ambos eram muito novos e definitivamente não estavam prontos para criar aquela criança, passando a maior parte dos seus cuidados durante seus três primeiros anos para os avós paternos dele. Haru era o primeiro neto de seus avós e ambos queriam proporcionar a ele o máximo de conforto e felicidade que pudessem.

Os pais do garoto acabaram não ficando juntos, eles sempre tiveram muitas brigas por motivos completamente fúteis, tornando insustentável a convivência depois de dois anos juntos. O marionetista nunca fez questão de ser próximo do filho, achava ele um peso indesejado que nem deveria ter nascido, e o culpava por grande parte das suas frustrações. A mulher, por sua vez, começou a se aproximar dele aos poucos, estabelecendo bons laços com ele depois de ter se separado do seu pai. Ela também queria proporcionar a Haru o melhor que tinha a oferecer, lhe introduzindo desde pequeno ao mundo dos contos e livros, ela acreditava que desenvolvendo sua educação ele nunca teria que se submeter aos trabalhos braçais do campo, coisa que sempre odiou.

Aos seus quatro anos o garoto ainda não havia pronunciado nenhuma palavra, sua família começou a se preocupar e por decisão de sua mãe, que agora estava mais presente em sua criação, decidiu buscar ajuda em Kirigakure. Eles dois se mudaram para lá, onde os médicos começaram a examinar a causa da mudez do garoto, não conseguindo identificar nada que pudesse ser feito para ajudá-lo além de ensinar a língua de sinais para sua mãe e para ele. O pai de Haru não tinha mais contato com ele, mas seus avós ainda lhe mandavam algumas marionetes de brinquedo feitas artesanalmente para ele. Sua mãe arranjou um emprego na biblioteca da cidade, o que ajudou ela a continuar investindo na educação de seu filho com livros infantis que ela mesma pegava emprestado para ele, ela também fez questão de contratar um tutor para incentivar algumas habilidades básicas para ele. Depois de dois anos em Kiri, ele e sua mãe retornaram ao vilarejo, ela não estava conseguindo sustentar a moradia ali devido ao pouco pagamento que recebia no trabalho e começava a ter medo devido a um clima de grande tensão bélica que crescia ali. Quando retornaram ao seu vilarejo, eles descobriram que o pai de Haru havia partido para se tornar um ninja, ele queria buscar um sonho antigo que nunca tinha tido oportunidade antes, o homem ainda declarou que nunca mais voltaria para aquela terra.

(61-66 DG) O circo parte do vilarejo...
Quatro anos após a volta para seu vilarejo natal, havia chegado ali a notícia que de Kirigakure havia sucumbido, agora sobrando apenas ruinas do que outrora fora o único contato do pequeno vilarejo para sua sustentação. E junto dessa notícia, o falecimento do pai do garoto foi anunciado, ele fora um dos que estavam na vila quando ela foi destruída, não conseguindo escapar a tempo. Os avós de Haru ficaram devastados durante semanas, mas o garoto não sentiu o impacto daquela revelação, ele nunca havia desenvolvido laços emocionais com seu pai, não havia motivo para passar pelo luto de perdê-lo. Meses depois, eles perceberam o quão era inviável continuar morando ali, não tinham quem comprasse seus produtos agrícolas e a assistência médica profissional mais próxima ficava a dias de viagem. Os Matsuno decidiram voltar ao seu passado itinerante, começando a treinar novamente suas habilidades circenses. A pequena família da mãe de Haru decidiu seguir com eles, era a melhor coisa a se fazer se quisessem viver bem.

Diferente de seu passado, as viagens itinerantes da trupe dos Matsuno se limitaram ao País da Água, os mais velhos da família temiam o que poderia acontecer a eles caso se aventurassem para outras nações. E já que não havia uma grande vila shinobi ali, tinham a sensação de estarem mais seguros naquela nação, desde que conseguissem se proteger por conta própria. Foram anos difíceis, tendo eles passado por alguns assaltos, e situações onde viram-se obrigados a buscar abrigo com completos estranhos. Entretanto, os caminhos pela nação proporcionaram novas e maravilhosas experiências para Haru, a verdade é que ele nunca havia tido tanto contato com pessoas diferentes desde que voltara para seu vilarejo. Fascinando-se por cada nova vila e ficando mais envolvido com a manipulação das marionetes que usava nos shows, Haru se tornou uma das principais atrações da família em seu show itinerante, mesmo sendo o membro mais novo da trupe. Virou um hábito da família sempre o presentear com pelo menos um livro a respeito de um tema variado a cada parada, ele havia desenvolvido interesses por diversos assuntos ao mesmo tempo, que iam desde história, álgebra e contos antigos. O que ele mais adorava era fazer uma espécie de disputas de “quiz” com os membros de sua família, as quais ele quase sempre ganhava sem fazer muito esforço, era um dos melhores momentos de todos juntos.

Mas a verdade é que o medo havia tomado de conta de toda a família do garoto, todo cuidado era pouco durante suas viagens... Sua mãe encontrava-se receosa sobre o futuro, ela não queria aquela vida para eles, havia prometido a si mesma que proporcionaria o melhor para seu filho, e não estava conseguindo fazer aquilo em meio àquelas viagens. E seus avós ainda não haviam superado a morte traumática de seu pai. O que fez com que o avô paterno do garoto desenvolvesse uma gigantesca paranoia quanto aos shinobi, ele temia todo e qualquer encontro com cada um deles, apesar destes terem acontecido apenas duas vezes desde que partiram do vilarejo. Essa paranoia o fez adoecer, ele não comia mais achando que seria envenenado e tinha constantes acessos de raiva e pânico, até que chegou ao ponto que seu corpo não aguentou... O mais velho da família morreu no ano de 63 DG. O garoto de 12 anos o viu morrer, ele estava ao seu lado quando seu último suspiro foi dado, logo após ele lhe entregar uma marionete que havia esculpido a alguns meses para ele.

Haru tinha uma ligação muito forte com seu avô, e perdê-lo dessa forma o afetou muito. O garoto se viu sem nenhuma vontade de comer, relembrando dos acessos de paranoia do seu avô, e sentia-se mal todos os dias porque achava que poderia ter feito alguma coisa para ajudar ele. Ele parou de apresentar nos shows da família por alguns meses até que se sentisse bem novamente para isso. Em meio a isso, ele desenvolveu um transtorno alimentar, era a forma que seu inconsciente havia encontrado para lidar com aqueles sentimentos, o que alguns chamam de bulimia para ele era algo normal. O prazer de comer o fazia se sentir tão bem, tão vivo, ele abusava disso e logo depois se arrependia tanto... A única coisa que conseguia fazer depois era se esforçar para colocar tudo para fora. Devido a esse transtorno, Haru perdeu muito peso, fazendo com que ficasse muito abaixo do seu peso ideal e debilitando sua capacidade física.

(67-69 DG) Acabou o circo...
No total, as famílias passaram seis anos viajando pelo País da Água sempre buscando uma forma de desviar ou evitar os conflitos, até que um dia, quando estavam se apresentando em uma pequena vila costeira, a mãe de Haru encontrou-se com um shinobi conhecido por ela. Eles se conheceram na época em que ela e o garoto moraram em Kiri, e nunca mais tinham se visto desde então. Aparentemente ele fora um dos poucos que haviam conseguido escapar da destruição de Kiri por estar fora da vila quando tudo aconteceu. Feliz pelo reencontro, a mulher decidiu apresentá-lo ao resto da família. E foi nesse encontro, aos seus 16 anos, a primeira vez que Haru ouviu falar da técnica de Kugutsu, ele achou aquilo fascinante e foi logo tentar conversar com o homem que não entendia nada da sua língua de sinais... Foi um pouco decepcionante. Sua mãe o ajudou e eles se demoraram um pouco discutindo como aquele estilo de luta funcionava, ele até chegou a mostrar uma das marionetes para o garoto. Para ele, ter a experiência visual daquele momento foi decisivo para que ele desejasse levar as tradições da família a outro nível, ele queria dominar o Kugutsu. Haru acha que as usar como armas era uma forma de refinar a arte de manipulação de marionetes, além de que com aquilo ele poderia criar e pesquisar diferentes usos mecânicos das marionetes, era um mundo de possibilidades infinitas e ele estava completamente louco para encará-lo.

Enquanto ainda estavam naquele vilarejo, eles perceberam que os mais velhos estavam começando a não suportar mais as viagens que faziam, talvez estivesse chegando a hora deles descansarem e se estabelecerem em algum lugar. O shinobi amigo da mãe de Haru os falou da recém-estabelecida Uzushiogakure no Sato, uma vila que surgira com a promessa de ser a nova potência do país da água. Aparentemente haveria muitas oportunidades disponíveis em uma vila nova, essa descoberta era exatamente o que eles tanto queriam. Eles poderiam se assentar e refinar sua arte ao mesmo tempo que teriam segurança, conforto e uma nova vida. E, em busca disso, eles partiram em direção à Uzushio, seguindo as direções dadas pelo novo amigo da família.

Chegando lá, eles encontraram um ambiente novo, cheio de oportunidades. Logo conseguiram se estabelecer bem, buscando profissões e empregos que pudessem sustentar a família, mas isso acarretou que a maioria deles deixou de lado seus domínios de marionetes e outras artes circenses. Porém, Haru não foi um desses, o garoto se inscreveu na academia da vila, desenvolvendo suas habilidades e começando a trabalhar o domínio de Kugutsu. Treinando cada vez mais, Haru percebeu que tinha dificuldades físicas a serem superadas, algo que logo foi percebido por seus senseis foi seu transtorno alimentar. Sua família foi informada e logo trataram de cuidar do garoto, com o auxílio de tratamento psicológico ele melhorou bastante no controle de seu transtorno, mas ainda assim não se encontra curado, tendo recaídas periódicas em momentos de instabilidade. Essa evolução fez com que ele ganhasse alguns poucos quilos a mais, mas ainda mantendo-se abaixo de seu peso ideal.

Conforme ele avançava em seus estudos na academia, sua avó paterna não ficava nada satisfeita... A experiência passada com o pai do garoto e seu marido a havia deixado extremamente receosa em aceitar que ele pudesse se tornar um shinobi. Ela acreditava que o destino dele seria o mesmo do seu pai, o que temia devido à fraca condição física do garoto e definitivamente achava uma afronta ele usar da arte de marionetes para matar outros, para ela marionetes tinham o único propósito de entretenimento. Haru só conseguia ver isso como uma limitação, achava que sua avó era muito apegada aos costumes familiares para ver o infinito de possibilidades que havia no mundo.

Essa situação toda rendeu grandes discussões entre a matriarca e o garoto, envolvendo até mesmo sua mãe que acabava por apoiar as decisões do filho, ela acreditava nele e queria o ver seguindo o caminho que quisesse para sua vida. Tudo isso só fez com que ele desenvolvesse ainda mais a ânsia em se tornar um shinobi, mas agora ele não seria apenas um shinobi, ele queria ser um dos melhores. Como resultado, Haru se distanciou da avó, passando a morar com sua mãe em um local separado do resto da família e decidiu focar em seus estudos, graduando-se na academia com excelentes desempenhos em alguns dos testes. E no momento de sua formatura, foi a primeira vez que ele parou para pensar no que sua avó falava... No fim das contas, e se ela estivesse certa?