O sono lhe fugia feito areia entre os dedos. Quanto mais tentava agarrá-lo, menos parecia restar em seu poder. O menino soltou um suspiro leve de rendição, chutou o manto que lhe mantinha aquecido naquela noite fria e esticou a mão até onde estava apoiado seu alaúde de sete cordas. Fuyuki o aninhou contra o corpo com cuidado exagerado, da mesma maneira que uma mãe seguraria o filho, mas para ele não era, de fato, exagero algum. Aquele instrumento havia pertencido ao seu falecido pai, e por isso era muito mais que apenas madeira e cordas. Era uma importante parte de seu passado.

Levou apenas poucos instantes para afiná-lo. Então, sem cerimônias ou introdução, pôs-se a tocar. Com movimentos hábeis e experientes, o menino tocou uma melodia tranquila e lenta. Após poucos minutos de aquecimento, debruçou sobre o alaúde e pareceu se concentrar. O ritmo deu uma guinada e a música mudou para algo mais alegre, dedos e cordas travaram uma conversa animada, como velhos amigos que se reencontram após muitos anos. Lágrimas caíram dos olhos de Ren sem que ele sequer notasse, até que já fosse tarde demais.

De susto, errou as notas e a melodia ruiu. Limpou as lágrimas grosseiramente com as costas da mão direita e, após dar outro suspiro, sem notar, tratou logo de guardar o instrumento e dar por encerrada aquela noite. Decidido a tentar dormir novamente, deitou-se mais uma vez.

Porém, nesse momento, ouviu seu nome e batidas na janela. Com um rápido impulso já estava de pé, e seguiu até a janela, onde encontrou um pássaro negro que carregava um bilhete. “Corvo. Mau agouro?” Leu o bilhete que dizia em poucas palavras para que Fuyuki fosse até um ponto fora da vila, e que era urgente. “Essa hora? Hmm...” Com um dar de ombros foi trocar de roupas e apanhar seus equipamentos. Não estava esperando ser convocado para uma missão, mas quando foi que esperou? Elas sempre o pegavam desprevenido.

Em menos de dez minutos, estava pronto e pulando da janela.

O frio da noite o atingiu com a sensação de agulhas em sua pele, mas Ren ignorou o clima. Vivia naquela ilha já fazia onze anos, e há muito havia aprendido a aceitar as peculiaridades de Uzushio. Correu, tanto pela urgência descrita no bilhete, quanto para manter-se aquecido.

Chegou ao local após alguns minutos, e parou. Ao longe o Hatake avistou uma figura sombria com um corvo pousado em seu ombro. Quem poderia ser? Aproximou-se com passos comedidos e parou a certa distância. Cerca de cinco ou seis metros do homem.

— Olá. Fui convocado, por isso vim. – Anunciou com sua voz limpa e forte de barítono. Manteve-se firme. Se estava sendo testado ou não, iria enfrentar o que viesse com tudo o que tinha.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 462.

Informações:

Corvos, ratos e serpentes. Criaturinhas traiçoeiras, ardilosas e agourentas. Corvos são os detentores de más notícias, os mensageiros da morte. Ratos trazem a peste e a doença. Cobras são o símbolo do pecado da traição. E para cada um deles existia um oposto. Os pombos, são os detentores de boas novas, os mensageiros da paz. Os gatos remetem a longevidade e saúde, com suas sete vidas e corpos naturalmente atléticos. E os cães, bem, os cães são intrinsecamente leais a seus donos. Mas tudo isso, todo esse conhecimento empírico, é o que define a realidade, ou existem exceções à regra? Fuyuki não saberia dizer. Ele poderia até querer negar, se o perguntassem, mas como um Hatake, ele próprio era extremamente leal aos poucos amigos que tinha.

Tudo aconteceu em um breve instante. Se o menino tivesse piscando, teria perdido a coisa toda. Em um momento o homem estava sentado sobre a pedra, no momento seguinte estava atrás do próprio menino, com as mãos em seus ombros e lhe dando um livro de aparência familiar. E sem aviso, estava mais uma vez sentado sobre a rocha. As palavras do estranho foram uma surpresa tão grande para o Tokujo quanto toda aquela velocidade absurda, mas o menino jamais conseguiu tirar os olhos da capa do livro. Suas mãos tremiam visivelmente, e ele não conseguiria pará-las mesmo se tentasse. Sua boca estava seca e o coração batia em ritmo acelerado. Mesmo em uma noite tão fria como aquela, o suor brotava dos poros de sua testa.

“O livro… Esse é-!” Alguma parte de sua mente sabia que ele estava tendo um pequeno ataque de ansiedade, e que precisava se acalmar, mas Tem ignorou essa parte mais sensata, com medo piscar e o homem sumir novamente, mas dessa vez para nunca mais voltar. Ou de subitamente despertar em sua cama, e descobrir que tudo aquilo era nada mais que um sonho incomum. Deu vários passos a frente, se aproximando do desconhecido, a cautela esquecida frente à curiosidade e sua fome por conhecimento.

— Esse é o livro! Eu o estudei, e os outros três que alguém rabiscou o nome na última página! Eu até procurei por outros que falassem sobre o mesmo assunto, mas-… – Sustou a voz. Então olhou para cima, para o homem bem à sua frente. Havia ao menos uma dezena de perguntas que gostaria de fazer àquele desconhecido, e a cada segundo outra dezena brotava em sua mente. Mas pensou nas palavras do homem, e subitamente respirou fundo, tentando se acalmar.

Se aproximou mais e se sentou na pedra, ao lado do homem. — Acredito que a técnica de teletransporte dependa de âncoras para funcionar. Uma fórmula especial, para a assinatura de chakra do usuário, a fim de canalizar sua intenção de movimento. Assim, é possível fasear entre as faixas temporais, em teoria, manipular a matriz do tempo e curvar o espaço, a fim de atingir o ponto previamente demarcado no mesmo instante… – Notou que estava matraqueando e parou de falar.

Então olhou para o estranho. Eram como opostos. Um jovem, ainda na infância. O outro velho, talvez já no fim de seus melhores dias. Um de cabelos brancos, o outro com madeixas negras feito tinta. Os olhos castanho-avermelhados do menino buscaram os olhos negros do homem, e o garoto arqueou levemente uma sobrancelha, um claro sinal de curiosidade contemplativa. Em seguida reuniu coragem e fez a pergunta que mais desejava, entre as centenas que ainda borbulhavam em seu interior.

— O que os livros não diziam, era justamente o ponto mais crucial para canalizar a intenção através do chakra: Como o autor criou a fórmula específica que serviria de âncora para sua assinatura de chakra. – Concluiu sua afirmação com uma entonação de expectativa. Como alguém que pressente que o outro conhece a resposta para sua dúvida, mas que não deseja ser invasivo demais ao ponto de perguntar propriamente. Então esperou. Segurou a língua e teve paciência.

No momento esse era o melhor que poderia fazer.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 666.

Informações:

Um código de honra é algo que alguém escolhe elevar acima de todo o resto. Valores centrais de nossa personalidade funcionam de uma maneira semelhante, mesmo que, em muitos casos, nós não façamos essa escolha totalmente conscientes de suas implicações ou das consequências de nossa decisão. Um valor central vai muito além de preferências ou crenças, é algo que define quem somos, muito mais que laços sanguíneos ou o modo como fomos educados. É algo pelo qual daria sua vida para proteger, ou para conquistar. E quando quebramos nossos valores, quando fazemos algo que acreditamos que jamais faríamos, uma parte de nós se quebra também. Daí em diante já não somos mais quem costumávamos ser. Temos dificuldade até para reconhecer nosso próprio reflexo em um espelho.

Para um menino de onze anos, a personalidade de Ren estava muito mais desenvolvida do que a de muitos adultos com três vezes sua idade. Sua inteligência, semelhantemente, também estava muito à frente de seu tempo. E mesmo sendo tão maduro e intelectualmente capaz, ainda era um ser humano comum, assim como qualquer outro. Com valores, crenças e códigos de honra. Não me entenda mal, Fuyuki não tinha escrúpulos em fazer o que fosse preciso para alcançar seus objetivos, isso jamais mudou e, muito provavelmente, jamais mudaria. Ele possuía em seu interior uma grande fome de poder e conhecimento, tudo para que pudesse proteger aqueles que amava. E agora, mais uma vez estava bem diante da oportunidade que tanto havia desejado. O poder além da imaginação que tanto havia buscado encontrar.

As palavras do homem foram como um gatilho. Os olhos de Ren ficaram distantes, enquanto as engrenagens de sua cabeça funcionavam em alta velocidade. É claro que a resposta não seria dada tão facilmente, na verdade mais uma vez o garoto se via como se tivesse em suas mãos um quebra cabeças que também era um enigma, ao mesmo tempo. Então antes de conseguir as peças, antes disso precisava quebrar o código. E as pistas para a solução daquele mistério estavam nas palavras do homem e na kunai de três pontas em sua mão.

De súbito os olhos dele se arregalaram, ficando grandes feito pratos. Então sua expressão se fechou por um breve momento, como alguém que está muito concentrado, os olhos dançando de um lado par o outro, como se lesse as palavras de um livro. Então olhou para o homem, nos olhos negros feito poços de escuridão sem fim. — Chakra e sangue para firmar a ligação. Se minha teoria estiver certa, a fórmula escrita é somente uma marca do usuário, mas o que torna a técnica possível seria o traço de chakra do usuário e o sangue misturado à tinta para firmar a ligação… - Então olhou para a kunai em sua mão, a fim de ler o que estava escrito no selo. A palavra escolhida por aquele shinobi para representar sua marca.

— Em teoria, é claro. Cheguei perto? -Indagou com sincera curiosidade. Tinha esperanças de que sua teoria se aproximasse do segredo por detrás da técnica de teletransporte, ao menos agora que tinha as palavras do homem para que pudesse se orientar, sentia que estava fazendo algum progresso real. Mas será que estava mesmo caminhando na direção correta, ou dando voltas sem sair do lugar?








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 545.

Informações:

O universo ao nosso redor está sempre em constante mudança. Mas se existia uma coisa que Ren havia aprendido em seus estudos, é que nada se cria ou se destrói, mas tudo se transforma. O que era algo bastante simples de enxergar, pois o próprio chakra que era tão amplamente conhecido e usado na sociedade shinobi em que vivia era um excelente exemplo disso. O chakra, como era de conhecimento comum, provinha da união de duas fontes de energia. A energia física, do corpo, e a energia espiritual, da mente. A energia em constante transformação. Uma espécie de ordem para o caos, algo que até poderia soar insano ou errado, mas que para Fuyuki fazia todo o sentido. Afinal, ele também acreditava que tudo acontecia por alguma razão.

Chame de inocência. Chame de fé. Chame do que quiser. Ele sempre acreditou no destino, e mesmo meio ao mais completo e absoluto caos, sabia, em seu coração, que jamais deixaria de acreditar. A chama da esperança jamais deixaria de queimar. Tamanha era sua fé. Então quando ouviu as últimas palavras do homem de cabelos negros, o menino apanhou os utensílios e mordeu o dedo, a fim de tirar algumas gotas de sangue. “Assim como em um contrato de invocação, tentarei criar uma ponte de ligação, que me permita invocar a mim mesmo. O primeiro contrato é o mais importante, e o qual, se funcionar, terei que manter seguro no futuro. Mas, depois disso, se funcionar, deve ser possível colocar a marca em qualquer superfície, como outro fuinjutsu comum.”

Ren escreveu Konton (混沌), que significa Caos. Sentia que seria um bom lembrete para si, e foi o que precisou para tomar a decisão de usar aquela palavra. Misturou sangue a tinta, a fim de firmar o contrato de invocação consigo mesmo. Por mais insano e impraticável que pudesse soar. Então retirou uma kunai comum de sua bolsa, amarrou o papel com linha a argola, como faria com um selo explosivo, e a lançou a uma distância de dez metros. Olhou de canto de olho para o homem de cabelos negros, concentrou seu chakra no corpo todo, feito uma camada protetora, e direcionou dia intenção, assim como faria com qualquer outro jutsu. E desapareceu. Alguns segundos mais tarde, o menino ressurgiu de joelhos e ofegante no local onde a kunai estava.

Olhou para o estranho com olhos cheios de confusão. – O q… O que… Fiz de… Errado? – Perguntou ofegante, com enorme dificuldades até para formular as palavras e colocá-las para fora. Havia algo que não conseguiu prever, mas o que era? Sua mente estava em disparada, buscando encontrar algum erro em sua teoria ou execução. Mais que isso, pensava nas últimas palavras que seu mestre havia usado, quando falou que aquele Jutsu era mais que uma simples técnica de movimentação. O que ele quis dizer com aquilo? Teria sido um aviso que Fuyuki não conseguirá compreender no momento? Ren havia pensado que ele havia se referido à velocidade do transporte, mas agora já não tinha tanta certeza sobre isso.

Estava consciente que aquela havia sido sua primeira tentativa, e que já deveria considerar-se sortudo por não ter se autodestruído, mas o tempo e a energia do transporte estavam muito fora do normal. Aquela era uma distância que com um shunshin comum ele teria coberto em um instante, e com a técnica que havia usado deveria ter sido em tempo algum. Literalmente. Então o que ele mais queria entender era essa enorme disparidade no tempo.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 584

Informações:

O garoto se sentou no chão e limpou o suor do rosto com a manga da camisa, distraído. Ouviu as palavras do homem e sentiu as engrenagens de sua mente girar mais rapidamente. Seu olhar tornou-se distante e, por um breve momento, que poderia muito bem ter durado toda uma eternidade, o menino se lembrou de uma memória especifica. Quando seu pai estava lhe ensinando como usar os jutsus básicos da academia, o de subir em árvores primeiro, e depois o de andar sobre a face da água sem afundar. Lembrava precisamente como ele recitava vez após outra, que mais do que a quantia de chakra, o primordial ali era o controle preciso da energia liberada.

No instante seguinte estavam sentados na entrada da casa, observando os pássaros brincar no céu, era uma daquelas manhãs de sol tão raras em Uzushio, mas tão sinceramente apreciadas por seus habitantes. O pai de Ren falava sobre as duas mentes que todos possuem. A mente consciente e a mente inconsciente. Falava sobre os limites da mente desperta, como ela demorava a aprender e dominar mesmo as coisas mais simples, e depois discorria sobre o poder profundo da mente adormecida e os benefícios de aprender a usá-la. Ainda assim, esse era um desafio que não podia ser conquistado com facilidade, mesmo se Ren soubesse como fazê-lo.

E então, voltou para o presente. Como se uma bolha estourasse, em um instante estava perdido em suas memórias, no seguinte seus olhos se focaram e o menino se levantou. Andava de um lado para o outro, com uma expressão dura em seu rostinho infantil. “Controlar o chakra. Como ele disse, estou abrindo minha própria fenda temporal. Preciso criar a abertura, tanto a de entrada, quanto a de saída, e então me impulsionar através dela. Tudo tem que ser muito preciso, absurdamente preciso, daí a necessidade de um controle tão grande.” Concluiu por fim, sem mais delongas.

Em seguida retornou caminhando até a distância inicial de dez metros, enquanto resmungava para si mesmo em voz baixa sobre suas teorias malucas. — Então se criar a fenda de entrada e saída, e fizer o impulso do ponto A para o ponto B, tudo ao mesmo tempo, deve funcionar melhor. Acredito que o maior problema da tentativa anterior tenha sido em criar a entrada, entrar, e só então me preocupar com a saída. Isso fez com que eu gastasse energia demais na fase de mediação, quando tudo o que quero é entrar e sair no mesmo instante. – As palavras brotavam de seu interior como se fosse uma torrente infindável, mas o menino sequer notou.

Estava tão profundamente absorvido que nem ao menos notou que falava em voz alta. Na verdade, se o tivesse notado, teria sustado a voz, envergonhado por suas teorias cruas sobre uma técnica tão avançada. Falar sobre abrir fendas no próprio tecido do espaço-tempo era algo que Ren considerava muito acima de seu nível atual. Ainda assim, quando sua curiosidade tomava o controle, ele simplesmente não podia evitar.

Virou-se na direção da kunai e olhou por cima do ombro, para o homem e seu corvo. — Acho que entendi. Ainda tenho chakra para mais algumas tentativas, tudo bem se eu tentar de novo? – Indagou, torcendo para que o homem desse mais alguma dica importante, como havia feito todas as outras vezes. Caso contrário, iria colocar sua própria teoria à prova e observar os resultados.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 565.

Informações:

O menino observou o homem usar a técnica bem diante de seus olhos, mais uma vez, e mesmo não sendo a primeira vez que a via, não conseguia deixar de achar aquela velocidade espantosa demais. Ainda assim, o que mais chamou a sua atenção, dessa vez, foram as palavras do homem. A final, como ele sabia tanto sobre a história por trás daquela técnica milenar? Como poderia conhecer as origens, a ponto de saber quem havia sido o criador do jutsu e o segundo a usá-la, que também foi o responsável por aperfeiçoá-la? Era realmente intrigante pensar na identidade daquele indivíduo tão misterioso, mas por mais que sua curiosidade fosse enorme, Ren decidiu concentrar-se na tarefa em mãos. Ao menos por enquanto.

O chakra fluiu de seus poros. Fuyuki controlou a energia com precisão milimétrica, abriu a passagem dimensional que circundava sua pele, avançou por ela e abriu a saída no mesmo instante, sem hesitar. E caiu com um joelho no chão, a mão esquerda sobre o cabo da kunai. Estava ofegante, sabia que havia gasto cerca de três segundos, mas um sorriso orgulhoso tocava o canto de seus lábios. Seu olhar queimava de determinação. Dois segundos a menos. Não era muito, mas já era algum progresso. Caminhou mais uma vez através do campo de treinamento, se afastou por cerca de quinze ou dezesseis metros, então fez de novo.

Era uma sensação única. Como saltar de um ponto realmente alto ou mergulhar nas profundezas do oceano. O salto entre dimensões era como um leve formigar na pele. Uma euforia no peito. A sensação de velocidade e estabilidade. Isso tudo ao mesmo tempo, misturado, mas sem se aproximar por completo de nenhuma dessas coisas. O menino controlou o chakra e saltou através do tempo e do espaço, dessa vez aparecendo em pé, com a respiração um tanto menos pesada que antes, mas o tempo quase não havia melhorado.

Sorriu para o homem. — Um controle absurdo, de fato. Se eu hesitar ou errar o tempo um tantinho sequer, ela suga minhas reservas de chakra, e se me atrapalhar com os portais ou a travessia, me desgasto e perco tempo. Ainda assim, não estou pronto para desistir. – Seus dentes eram brancos e perfeitos feito marfim. Quando sorria, apareciam covinhas em suas bochechas. Ren era uma criança adorável. Mas em seus olhos ardia uma chama voraz. Por mais que seu exterior fosse apenas o de um menino franzino, sua mente detinha um intelecto monstruoso. Fuyuki almejava o poder, e agora que tinha a chance de agarrá-lo, jamais se permitiria desistir tão facilmente. — Não mesmo.

Mais uma vez se afastou da kunai, a fim de recuperar o fôlego e ganhar distância para tentar mais um salto. Sem olhar para o seu benfeitor, Ren se pronunciou. — Gostaria de fazer muitas perguntas. Você já deve ter notado que sou um jovem curioso. – Seu sorriso se alargou por um momento, brincalhão e irreverente. — Mas não o farei. Sou grato por sua ajuda. É um fato que jamais teria progredido tanto sem um empurrãozinho. – Olhou para o homem, seu rosto cheio de seriedade e reverência sincera. — Obrigado.

E, novamente, saltou. O chakra o envolveu e invocou seu corpo, a dimensão se rompeu e o engoliu. Então instantes mais tarde o menino ressurgiu, mais uma vez em pé no ponto onde sua kunai estava fincada. Infelizmente, o progresso não era grande, mas para Fuyuki cada milésimos de segundos a menos já era uma enorme vitória.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 575.

Informações:

Ao ouvir as palavras de seu mestre, Ren não pode evitar que um largo sorriso surgisse em seu rosto. Era realmente uma notícia maravilhosa, saber que aquela não seria a última vez que se veriam. Na verdade, não sabia bem por que havia presumido aquilo. “Não, é a aura que ele transmite. De perda. Uma aura de tristeza irreparável.” Seu mestre até podia sorrir e parecer se divertir por fora, mas não como ele parecia ser por dentro. Não que Fuyuki soubesse de algo, estava mais para um pressentimento. Pura intuição. Mas manteve todas as suas suposições para si, ao menos por agora. Ainda era cedo demais para esse tipo de conversas do coração.

“É isso. Coração, vontade...” Os olhos do menino brilharam e ele... Sumiu. E surgiu no mesmo instante, no local onde ela estava fincada no chão. Atirou a kunai com a mão direita, ela voou cerca de oito metros, então o menino a pegou em pleno voo com a mão esquerda, mais uma vez executando uma viagem dimensional perfeita. — Entendi. Todo esse tempo eu estava pensando demais, tentando calcular tudo, compreender todos os mecanismos. Quando o que realmente deveria fazer é... Bem, sentir. - Falava olhando para a kunai, para a inscrição no pedaço de papel.

Então levantou os olhos e encarou seu mestre. — Mas nós não precisamos pensar para que nossos corações batam ou nossos pulmões trabalhem. É tudo natural, instintivo; inconsciente. – Concluiu após uma breve pausa. Ele sabia como o jutsu deveria ser executado, mas tentar fazê-lo funcionar conscientemente era pura loucura. O cérebro humano, por mais rápido que possa processar informações, leva tempo para analisa-las e corrigir cada uma delas. Um tempo crucial para um jutsu que deveria ser instantâneo.

— Então ao invés de tentar operar o chakra por partes, o mais rápido que posso, deixo a experiência tomar conta e faço o jutsu acontecer naturalmente. – Seu sorriso se tornou um pouco azedo, envergonhado que estava por ter levado tanto tempo quebrando a cabeça para encontrar essa solução tão simples e óbvia. Sem mais cerimônias, lançou a kunai uma última vez e realizou o jutsu.

E foi mágico. Simplesmente incrível.

O portal dimensional se abriu, o envolveu e o liberou no ponto marcado do espaço onde a kunai estava, tudo isso em tempo algum. Instantâneo. Ren mais uma vez pegou a arma de arremesso em pleno voo. Então se virou para seu mestre com um sorriso cheio de uma exuberância infantil, como quem diz: 'Consegui!', mas que se considera maduro demais para gritar propriamente. Então respirou muito profundamente e procurou recuperar a compostura. Caminhou até a pedra onde seu sensei estava e se sentou ao lado dele.

— Essas marcas, funcionam com o mesmo princípio dos fuinjutsus de selamento também? – Indagou com sincera curiosidade, ao tempo que girava a kunai no polegar da mão esquerda. Sequer havia notado quando o homem havia marcado suas costas, mas imaginava saber o momento em que a marca no ombro foi colocada. — E como faço para tirá-las? Acho que nunca aprendi sobre isso na academia...








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 506.

Informações:

A mente do menino não parava um instante sequer. Agora que havia dominado o jutsu, não podia deixar de notar o quanto gastava de chakra em cada viagem, e, a partir daí, começou a calcular um número aproximado para quantas viagens poderia fazer com suas reservas de chakra atuais. E para sua surpresa, a resposta era absurda. Era apenas uma teoria, mas com um único salto poderia ir de Usuário até Konoha, em um instante, mesmo que ficasse com suas reservas praticamente esgotadas ao final do processo. Aquela era uma informação valiosa, uma ferramenta de valor inestimável. Mas sabia que se ela seria ainda mais útil se usada como um trunfo, uma carta na manga. Esse era o tipo de jutsu capaz de alterar o cenário de uma batalha em um instante. Literalmente.

Enquanto pensava, Ren fez como seu mestre lhe orientou. Concentrou o chakra e fez surgir e em seguida sumir a sua própria marcação. Caos. Não pode deixar de sorrir com a ideia de que agora em diante, ele iria espalhar o Caos pelo mundo. Um trocadilho bobo. Compreendeu de imediato que seria tão fácil quanto respirar perder a noção de todos os selos que iria colocar, se não mantivesse um controle preciso sobre os mais importantes. E pelas implicações das palavras de seu Sensei, foi fácil para o Hatake compreender que por mais simples que fosse a tarefa de colocar e retirar uma de suas próprias marcações, as de outros não seriam assim tão fáceis de lidar. Não era como se ele esperasse encontrar um usuário do mesmo jutsu a cada esquina, mas Fuyuki odiava se sentir despreparado e impotente diante de algum cenário.

Em seguida, após se sentir confortável com o processo de marcação, Ren voltou até onde seu mestre estava sentado e tocou a rocha com a mão esquerda, deixando a marca do Caos ao lado da marca do outro. Parou por um momento para ler a palavra que seu Sensei usava, para saber se por acaso encontrasse uma de suas marcações no futuro. Por impulso, lançou a kunai em sua mão para o alto e para a direita, então se transportou para o céus, agarrou a kunai e antes de começar a cair, ou sequer sair do lugar, voltou para a rocha que havia acabado de marcar. “Como pensei, não existe impulso real no avanço, apenas o transporte instantâneo da matéria, o que me permite desaparecer e ressurgir em qualquer ponto, sem precisar levar em conta a inércia, como teria que fazer com um Shunshin comum.”

Então ergueu os olhos para o sensei. — Essa é uma técnica incrível, mas por que decidiu me ensinar? Sério, sou só um garoto curioso que leu uns livros malucos em uma biblioteca. O que você ganha em me ensinar algo assim? Ou qualquer coisa, para ser sincero. – O menino não conseguiu conter sua perplexidade, seus olhos infantis estavam confusos, não era como se ele fosse o tipo que dá as costas ao próprio mestre, ou que se esquece de um gesto de bondade. Mas não tinha como aquela pessoa saber disso tudo, eles sequer se conheciam! — Por que escolheu confiar alvo assim para mim? Por que eu? E... Quem é você?

Não importava o quanto tentasse, não conseguia entender.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 537.

Informações:

As palavras de seu sensei o fizeram sentir uma alegria genuína. Há tempos que vivia por sua família e para desempenhar seu dever, sem amigos ou aliados próximos. Mas agora já não poderia mais dizer isso. A ligação que tinha formado com Sousuke apenas se fortaleceria com o tempo, tinha certeza, e isso o permitiu ficar em paz. Agora já não tinha pressa de fazer ainda mais perguntas, não via necessidade para apressar as coisas, teria muito tempo no futuro para estreitar a relação de amizade que estavam apenas começando a formar. O primeiro passo, porém, já havia sido dado. O homem havia confiado no menino para lhe ensinar uma técnica poderosa, e até mesmo revelar seu nome, algo que também não parecia fazer com frequência.

Dois segredos revelados em uma única noite. Ren se sentiu honrado. — Com palavras tão gentis, Corvo-sensei, digo que pode contar com minha lealdade, sem promessas ou vínculos, um presente gratuitamente oferecido. – Inclinou a cabeça levemente para frente, com a mão esquerda fechada pousada sobre o peito, do lado direito, na altura do coração. Era um juramento antiquado que seu pai havia lhe ensinado há alguns anos atrás, e sequer sabia por que havia lembrado tal coisa, mas agora que havia feito, julgou bastante apropriado.

— Concordo com algo que falou, Corvo-sensei. Sobre manter o conhecimento vivo. Não sei quanto tempo vai levar até que eu encontre alguém digno dessa técnica, mas juro que farei de tudo para que ela não morra comigo. – Falou olhando para seu mestre, enquanto girava a kunai com o selo do Caos em seu indicador. Em sua mente já começava a pensar nos preparativos para começar a usar aquele jutsu em combate. Iria precisar de mais kunais, e todas com selos previamente colocados, assim como as de seu mestre.

Também gostaria de marcar alguns pontos específicos da vila, como o prédio do Mizukage, onde era constantemente convocado, o campo de treinamento, a biblioteca, o mercado de armas, e o banco. “Ah, e os portões da vila, com toda certeza.” Então começou a pensar ainda mais longe. As vilas principais. Se conseguisse deixar um selo em cada uma delas, poderia entrar e sair em um instante, sem sequer ser notado. Também precisava visitar os vilarejos menores ao redor de Uzushio, onde já havia realizado algumas missões no passado.

— Quando nos encontrarmos novamente, estarei ainda mais forte. – Anunciou depois de um minuto, então abriu um largo sorriso confiante. — Irei te deixar orgulhoso, Corvo-sensei. Prometo.

Seus olhos grandes brilhavam em antecipação. Aquela técnica havia aberto portas para evolução que ele jamais julgou possíveis de existirem. Após uma simples interação, Ren conquistou um poder além de sua imaginação. Um poder que o aproximava muito de seu objetivo final. A força necessária para proteger sua família e sua vila. “Mas ainda não é o bastante. Mais que apenas poder, também preciso conquistar aliados. Hoje notei isso com clareza.”  Ainda assim, estava disposto a dar um passo de cada vez. O tempo diria onde seu destino o levaria.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero.

Palavras: 501.

Informações:

Quando o mestre afagou seus cabelos e se levantou, o menino quis pedir para que ele ficasse, para que pudessem conversar mais e dividir histórias do passado. Mas sabia que ainda teriam muito tempo para isso, então permaneceu em silêncio, mesmo quando recebeu o livro e ouviu as últimas palavras de seu professor. O homem de cabelos negros se desfez em corvos negros, partindo dali para outro lugar. Ren, porém, caminhou até a rocha e sorriu, vendo as duas marcas que haviam deixado. Então olhou para o livro em sua mão e acenou uma vez com a cabeça.

“Irei procurar por alguém digno de herdar esse jutsu. Um jovem que queira poder para proteger. Alguém da geração seguinte. Não deixarei esse poder morrer comigo, se puder evitar.” Sabia que técnicas tão poderosas assim jamais deixavam de existir por completo, mas havia feito uma promessa para seu mestre, e planejava cumpri-la. Com a kunai de três pontas marcada com o seu símbolo do Hiraishin em mãos, o menino começou a caminhada de volta para sua casa. Ele poderia ter usado o jutsu recém-aprendido para avançar mais rapidamente, e poderia ter chegado em alguns poucos instantes ao local desejado, mas escolheu não fazê-lo.

Sorriu. “Ainda sou jovem demais. Inexperiente. E esse é um jutsu que atrai muita atenção. Atenção que não devo atrair ainda, por ser muito fraco. Ao menos até ser capaz de me proteger, e defender as pessoas que amo, devo usar minhas habilidades com cautela.” Sim. A verdade é que não tinha muitos amigos em Uzushio. Todas as crianças que conheceu na época da academia eram, bem, crianças. A maioria ainda era Genin, ou chunin, se fossem especialmente talentosas. Mas nenhuma delas era forte o bastante para ser um aliado de peso.

Ren precisava desesperadamente de aliados fortes. Pessoas em quem pudesse depositar sua confiança. Por um breve momento agradeceu em seu coração por sua família, e agora pelo mestre que havia ganhado. Mas sabia que precisaria de mais aliados no futuro, se quisesse realmente proteger a vila do redemoinho, proteger o país da chuva, teria que conquistar uma multidão de novos amigos. Pessoas com os mesmos objetivos que ele.

Enquanto isso, porém, faria de tudo em seu alcance para continuar a avançar e crescer. Queria se tornar Jonin, e em um futuro próximo ingressar na ANBU. Talvez até praticar alguma profissão na aldeia, para desenvolver uma gama mais ampla de habilidades e competências. Mas tudo isso era apenas mera especulação. Hoje, porém, queria apenas dormir e apreciar sua nova conquista.








Status:
HP: 775/775
CH: 1550/1550
Tinta: 375/375ml

Stamina: 00/06

Resumo das Ações: --.

OFF: @Nero. +2 Inteligência (+200 palavras em dois posts) e Quest Hiraishin 10/10 de 200 palavras.

Palavras: 422

Informações: