Olharam aos céus juntos no regresso a casa em que habitavam. Uma revoada de aves voavam do leste ao sul.
— São belos, não o são? — questionou ele.
— Majestosos.
— É livre o pássaro? — persistiu, curioso com a resposta que receberia.
— Que tipo de pergunta é essa? Uma brincadeira?
— Eu jamais faria uma pegadinha com uma irmã de credo.
— Eu acredito que sejam. Olha como eles voam... Parecem tão felizes fazendo o que fazem... Voando sem qualquer barreira, sem precisar transpor qualquer obstáculo.
— Engraçado. E se eu afirmar que são escravos? — indagou.
— Escravos?! — arregalou os olhos, surpresa.
— Sim. Do instinto. Essas criaturas, por mais libertas que possam parecer, são completamente enclausuradas dentro de seus corpos e de sua natureza. A liberdade é uma qualidade humana, Aiko. Só nós, os bípedes, possuímos autonomia de vontade. Quando vê uma formiga trabalhando, ela não o faz por opção, mas porquê seu material genético a obriga...
A reflexão foi profunda, ao ponto de fazê-la cessar a caminhada. Estavam nas redondezas de Konohagakure no Sato, num terreno plano, à tarde, um ambiente que era ausente de flora, com a exceção de alguns arbustos e da grama rasteira.
— E o que nós devemos fazer para conquistar a liberdade, Kyo-sama? — interrogou-o.
— Isso, garotinha, é simples: conquistando-a. Se não puder por si própria, interpele por outrem que o possa.
— Acredito que prefiro a primeira das opções... — disse.
— Eu também. É justamente esse o motivo que me leva a, neste instante, decidir treiná-la com o ninjutsu. Embora seja versada nas artes físicas, não é prudente que perca o foco das demais.

A breve introdução foi sucedida de um aprendizado a ser passado. Tocou-a na testa com o polegar, passando o restante das falanges pelos cabelos. O contato estabeleceu um poderoso elo entre os chakras. Desenhou-se na testa dela uma marca, inscrição negra redonda com uma espiral interna a ela. De súbito, adentrou uma dimensão distinta da real. Um negro absoluto, preenchendo todas as direções vistas. A única luz existente era a proveniente do centro, cintilante, esquentando o espaço etéreo.
— Esta, Aiko, é a essência de todo o ninjutsu, o ninshū. Nem sempre os shinobis foram tolos egoístas que só se preocupavam com suas habilidades, minha querida aprendiz. No passado ancestral, as pessoas se interessavam em compartilhar suas experiências, os prazeres. Esta relação foi confiada ao chakra, que deveria servir como uma grande corrente para todos se conectarem. Quanto maior sua habilidade em compreendê-lo, mais poderosos se tornam os ninjutsus. — explicou.
A kunoichi se inspirou e passou a praticar as técnicas básicas sitiada naquele cosmo esotérico. Inicialmente, dificuldade padrão de todas as aprendizagens. Entretanto, dada aos dizeres do homem e os interpretando à perfeição em função da mentalidade prodigiosa, depreendeu ensinamentos significantes ao percorrer optado.

"Me ligar aos demais... Me ligar aos demais..." repetia mentalmente enquanto as mãos imprimiam uma quantidade seriada de selos de mãos. Naquele recinto, o tecido do tempo era distorcido, podendo permanecer por meses inteiros sem a necessidade de suprir condição fisiológica alguma. Num transe psicodélico, aperfeiçoou as capacidades relativas à arte ninja primordial. Um acréscimo notável. A quantidade de cópias básicas que poderiam ser criadas aumentaram, a qualidade da substituição também. Basicamente, tudo que era elementar, aprendido nos anos acadêmicos e utilizados na atualidade, embora com frequência inferior. Durante o treino rotinado, encabeçou a segunda parte dele: acrescer a velocidade que movimentava e firmava posições de mãos. Nesse aspecto, era primordial ser hábil com os dedos, inclusive adquirindo o dote de articulá-los facilmente. Para tanto, receberia uma sugestão imprevisível.
— Talentosa como é, já deve ter percebido. Estou certo? — indagou sorrindo.
— Refere-se aos selos de mãos? — rebateu curiosa.
— Sim. Treiná-los não é tarefa fácil, por mais geniosa que o seja. — afirmou. Esticou indicador e médio, simulando um tigre sem sua contraparte. Da energia evocada concebeu dois seres minúsculos e negros, semelhante a moscas que voavam com vasta maneabilidade. — Deve capturá-las com as pontas dos dedos. Boa sorte. — desejou sarcasticamente.
— Entendido! — confirmou vibrando com a atividade.

A pernas impuseram corrida ágil, capaz de acompanhar os voantes. Ambos os braços completamente estendidos os alcançaram. As dez pontas se articularam na tentativa de prendê-las com sucesso. Entretanto, semelhante a todas as primeiras vezes que praticava algo, falhou. Esguias, escaparam dentre as curtas frestas existentes de um dedo a outro.
— Vigor, jovem kunoichi. Persista e consiga, sei que é capaz. — confirmou acreditando fielmente nas competências dela.
Praticou por todo o dia, até que os membros superiores fossem inaptos a se manterem erguidos e firmes, com intuito de concretizar o desafio num sucesso. Entretanto, desrespeitando as suas esperanças estavam elas, quase invisíveis a olho nu, batendo as asas e dançando no ar conforme ordenava a natureza delas.
— Não tem problema sentir cansaço, Aiko. Deite-se e durma o tanto que for preciso. Repousada, certamente obterá um desempenho melhor. — aliviou a pressão que exercia ao observá-la.
— Sim, Kyo-sama. Obrigado. — agradeceu, contente com a possibilidade estimulada por ele.
Deitou-se, dormiu até que as baterias se reenergizassem por completo. Despertou e, de súbito, deparou-se com as algozes provocadoras de seu infortúnio.
— Preparem-se! — gritou ante os ares.

Impulsionou-se numa tração absurda. O repouso lhe caíra bem, haja vista que, estafada, era incapaz de proceder inteligentemente em oposição às dificuldades. Estrategicamente, balançou as mãos e dedos, enclausurando-as em ambas cerradas. Abriu-as em seguida, haviam desaparecido. O comando era o de se esvaírem quando a aprendiz lograsse êxito.
— Finalmente, faça uma demonstração, mostre-nos o que finalmente aprendeu. — solicitou, sorrindo.
— Certo...
Das palavras, flexionou os cotovelos à altura do tórax. Condicionada pelo brutal exercício, performou uma sequência acurada de posições. Era claro: a agilidade se aumentara consideravelmente. Dali, retornou à realidade, tomando o caminho de volta à residência onde viviam.

Aiko; ???/??? 475/475 00/05

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