A luz adentrava o vão entre as janelas entreabertas da varanda, ofuscando minhas vistas ainda que de pálpebras fechadas. O brilho do amanhecer levava-me a acordar entre um bocejo, uma espreguiçada e por fim coçando levemente os olhos antes de abri-lhos por definitivo. Em movimentos pouco lentos, desvencilhava-me das cobertas pondo os pés sobre a textura frigida da madeira corrida do chão. Primeiro o direito, seguindo o esquerdo, através de passos meramente preguiçosos completaria o percurso da cama ao banheiro.

Ainda no início daquela rotina matinal, escovando os dentes fitando meu próprio reflexo no espelho, pensava sobre os feitos do dia anterior, sendo mais específica: o treino com Ayase. Sobre meus pensamentos, apesar de ter estudado mais sobre a arte ninja ilusória, Genjutsu, e também raciocinar algumas táticas de estratégia, meu desempenho físico foi péssimo. A essa altura, como uma pessoa que pensa em desbravar os horizontes, sinto-me na obrigação de tornar-me mais forte. Portanto, preciso treinar. Esse tipo de atividade é fundamental para manter-me firme na jornada de kunoichi. Fora que, além de todo esse desejo individual de conhecimento, tem a vontade de ficar junto a Ayase e Araragi. Dessa forma, motivos não faltam para instigar -me.  

Trajei minhas roupas corriqueiras, algo simplório e condizente com as atividades a serem realizadas: um colete cropped, de cor rosa e lilás; uma blusa preta, regata de gola alta e barra redonda; um par de luvas pretas; um shortinho branco; e uma bota preta de cano longo até os joelhos; além da minha bolsa de armamentos presa na lombar. Os cabelos amarrados em um penteado de rabo de cavalo.

Pronta, desci as escadas de casa indo em direção a cozinha, onde tomei meu café da manhã. Peguei uma garrafa cheia de água gelada, e algumas pedras de gelo. Estava sozinha, mas esse era o comum de acontecer, pois meus pais saem logo cedo. Enfim, logo após terminar de comer, saí de casa rumando ao campo de treinamento da vila.

Chegava no campo, olhando a minha volta aquela mesma imensidão verde de antes; solo gramado, poucas árvores e um grande espaço aperto. O clima estava ótimo, tão bom quanto no dia anterior. Tudo parece contribuir para as atividades que pretendo realizar.

— Certo... — Digo, fechando os olhos e enchendo os pulmões através de um grande suspiro. Procurava ficar concentrada, focada no treino. Passando-se alguns minutos. — Agora. — Abro os olhos e disparo em uma corrida usando o máximo de minha velocidade, visando até onde conseguiria chegar.

O treino com Ayase serviu para perceber coisas que estavam faltando em mim. O que me fez perder muitas oportunidades de encurralar a garota por conta de sua areia ser muita mais rápida. Lembro bem, na primeira ação da garota, as garras formadas por ela foram quase capazes de me pegar. Tive que usar a técnica acadêmia de cintilação corporal, Shunshin no Jutsu, para conseguir desviar, e ainda assim senti a areia quase pegar-me de raspão. Em suma, meu físico ainda é muito fraco, não tenho condições de alcançar grandes velocidades e nem me manter na ativa por muito tempo.

Parei, em meio a corrida, ofegando e apoiando minhas mãos sobre os meus joelhos. Com certa dificuldade, olhei para trás, visando meu ponto de origem, e logo pensei: então esse é o meu limite? Só fui capaz de alcançar alguns metros de distância, com uma velocidade medíocre, e ainda já me encontro tendo que respirar de boca aberta. O suor começava a escorrer em meu rosto, pregando alguns fios do meu cabelo sobre a pele.

Respirando fundo, procurando reconcentrar-me, passei as costas da mão sobre a testa para limpar-me do suor, e com a outra mão trouxe a garrafa à minha boca, dando uma grande golada. A água gelada ajudava-me a recuperar um pouco do fôlego perdido, e junto a isso peguei uma das balinhas que o onii-san costuma carregar consigo, comendo-a para saciar uma vontade de glicose que cairia bem na situação atual.

Seguido de um breve arfar, romperia o doce em minha boca consumindo cada parte quebrada, cerraria os punhos e flexionaria os joelhos. — Vamos, Sayuri. Você consegue. — Murmurei como forma de me encorajar. Fitei o horizonte e disparei numa largada de corrida, procurando meu desempenho máximo ali.

A cada passo dado era como se eu mesma estivesse me golpeando. Sentia meu fôlego indo embora, com a respiração gradativamente ficando mais difícil, fato que eu tentei reverter buscando ar pela boca ofegante. Já estava sentindo o peso de meus cabelos, molhados de suor, bem como a incômodo de minhas próprias vestimentas.

O ápice do meu esforço foi alcançado poucos segundos após ter minha visão turva, seguidamente perdendo o controle das pernas e fraquejando. Caí direto ao chão, batendo os joelhos e as palmas das mãos contra o solo, que por sorte era levemente afofado pelo gramado do local. Naquela mesma posição, fiquei buscando respirar o quanto podia e me recompor, ao ponto de ficar de joelhos.

Uma longa inspiração foi seguida de uma expiração de mesma intensidade. Trouxe a garrafa até meus lábios, secos, e bebi de forma ininterrupta até a última gota que restava no recipiente. Apesar de sentir minha força se esvair, com o corpo trêmulo, olho para o céu. Meus olhos recobrariam seu brilho inato, assim como o fôlego da pela brisa refrescante que batia em meu corpo esfriando o suor.

Levantei-me, erguendo a cabeça, na mesma medida que pegava um pirulito de minha bolsa e retirava sua embalagem. Trazendo o doce até minha boca, cerrei sua haste com os dentes, saboreando o gosto com a língua. Então, mais uma vez fitando o horizonte, corri; rompendo meu limite.

Considerações:

Sayuri HP: 225 | CH: 250 | ST: 0/2