Era cedo quando acordei, havia dormido durante horas na tarde passada e isso acabou encurtando meu sono da noite. Enrolei bastante para sair da cama, fui ao banheiro fazer a rotina matinal, desci para a cozinha e comi um café da manhã simples, uma maçã e copo de água, sem muito o que fazer e de bobeira, fiquei na sala assistindo televisão, minha mãe ficou surpresa de me ver acordada tão cedo, preparou seu café e foi fazer suas tarefas.

Algum tempo de passou, e durante todo esse tempo me mantive atirada no sofá, assistindo programas de qualidade questionável, porém era domingo, não havia muitas escolhas, até que alguém toca a campainha quebrando a monotonicidade, ainda de pijamas minha mãe fala de longe que eu atenda, com um suspiro de frustração, me levanto e vou até a entrada para ver quem é, deixo a porta entreaberta e percebo ser um ninja de patente alta por suas roupas, meu rosto entra em uma mistura de espanto e vergonha, ainda com parte do corpo atrás da porta, faço um "Oh!" e fecho a porta, em milésimos passa na minha cabeça o que diabos eu estava fazendo, e abro a porta novamente.


— Uhhhm, o-oi... Respondi tímida, o rosto vermelho e quase com lágrimas nos olhos, meu corpo estava tenso e os dentes rangendo, respirei fundo e tentei manter a compostura, ou o que restara dela. Ele me informou de uma missão especial, entregando um pergaminho, o peguei desajeitada e olhei para o papel em minha mão, surpresa e espantada com tudo que estava acontecendo.


— E-eu prometo ir... bem? Olhei para os lados, mas o ninja já havia saído, expirei com força e fechei a porta, apoiando minhas costas nela e caindo sentada.

— AH IRIS, ABRA A PORTA, MUITO BEM MÃE! Gritei, tentando aliviar a tensão, enquanto ironizava o tom tranquilo que ela havia me mandado abrir a porta, como se nada pudesse acontecer.
Respirei fundo ainda no chão, e então me levantei, afinal de contas, eu havia recebido uma missão, haviam confiado em mim para algo, e eu não podia desapontar.

Iris Jiyūna, foste selecionada para uma missão de Rank C donde será responsável de buscar e guiar um Gennin até além das montanhas para seu treino especial, atravessando uma floresta no processo, não deixe o jovem se ferir e guie-o a tempo!

Então eu iria ser uma guarda costas de um novato? Interessante, talvez estejam me cogitando como apta para subir de nível, já que estamos no mesmo rank, mesmo que provavelmente não ao mesmo tempo.
Seja como for, transitar por uma floresta não seria um problema para mim, desde pequena vivia subindo em árvores e brincando nas redondezas da minha casa, mesmo sem meu arco, conseguiria escoltar o ninja, tinha confiança nisso.

"Eu devia comprar logo meu arco..."

Me aprontei rapidamente, vestindo meus trajes ninjas e aprontando minha bolsa ao lado direito do corpo, era próximo do horário do almoço, então pedi para minha mãe preparar um Bentō para viagem, levei ele na mão esquerda e guardei pacote de chicletes no bolso, sai mascando um enquanto mantinha um ritmo acelerado para caminhada, em direção a academia, onde provavelmente eu encontraria o jovem.

Com um passo apressado, rapidamente chegava até a academia, outrora um local rotineiro para mim, fazia meses que não o visitava, e certa nostalgia bate ao vislumbrar sua entrada, o local em si estava mais vazio do que de costume, evidentemente não era dia de aulas, ainda sim, havia certa movimentação no edifício. Adentrando pela porta, uma das moças que cuidavam da limpeza e alimentação estava esfregando o chão, ao me ver cumprimentou-me, andei com cuidado evitando pisar onde ela já havia limpado e a respondi com um tom baixo "Bom dia."

Enquanto percorria um pouco mais adentro, percebi que poderia perguntar a ela onde poderia encontrar o Gennin que eu buscava, entretanto não havia muita intimidade com elas, e seria mais fácil procurar um de meus 2 professores preferidos para interagir, quando sou surpreendida por uma voz atrás de mim.

— Iris-chan?

Me virei e fitei o garoto, era menor do que eu, vestia apenas um short e seu cabelo espetado e verde dava uma impressão de não ser tão pequeno.
— Uhm, sim, sou eu. Respondi a ele, e logo minha mente começou a me importunar "Que tipo de apresentação patética é essa? Você vai escoltar ele, passe confiança Iris!"

Ele continuou se apresentando, e então se curvou para expressar sua gratidão. Encabulada, virei de costas, coçando o cabelo e mordendo o canto do meu lábio, pensando em como prosseguir, ao perceber que já havia ficado parada por alguns segundos, comecei a andar em direção a porta sem falar nada, pus a mão no bolso e retirei o pacote de chicletes, colocando mais um na boca e levantando-o por trás do ombro — Vamos lá então, quer um Lee?

"OK, SE EU TIVESSE FEITO ISSO DIRETO TERIA SIDO MAIS DESCOLADO, MAS FOI BOM, FOI BOM, TÁ TUDO EM ORDEM, DESDE QUE ELE NÃO VEJA MEU ROSTO POR UM TEMPO TÁ TUDO ÓTIMO."

Minhas bochechas queimavam de tão vermelhas que haviam ficado, se ele quisesse um chiclete, soltaria um do pacote e jogaria para ele, pela sua agilidade, provavelmente ele seria capaz de pegar, porém por via das dúvidas, eu diria "Pega aí" antes de arremessar, caso contrário, apenas guardaria no bolso e seguiria caminho, dizendo "Ok."

Após alguns passos fora da academia, apontaria para a direção que deveríamos seguir, e tentaria puxar um papo furado.
— Ehm, você não vai levar nada para se proteger? Pelo seu físico e entusiasmo, aposto que ele seja um usuário de Taijutsu, caso contrário não estaria usando só shorts para um treinamento especial.
— Então, uhm... quantos anos você tem? Diria após sua possível resposta, enquanto continuávamos o caminho faria uma nova pergunta — Ah! Eu lembro de ter um Lee na academia alguns anos a minha frente, você tem um irmão mais velho? Não são exatamente raros os casos de sobrenomes similares, porém ainda me lembro daquele garoto na academia, possuía uma grande aptidão para lutas, mas nunca cheguei a interagir com ele por ser de uma turma mais velha e diferente. Se eu estivesse certa a respeito dele ser um usuário de artes marciais na primeira pergunta, faria essa pelas chances de estar certa, caso contrário, manteria para mim a dúvida.

Considerações:

Soltava uma risada com o comentário do jovem a respeito de seu corpo, porém não viraria o rosto, e ao perceber sua agitação, aceleraria o ritmo também, não deixando-o me passar e agilizando nossa jornada.


Levei a mão ao queixo, mexendo nele um pouco enquanto matutava, realmente, o nome Lee não era algo comum de se ver, porém era frequente achar pessoas com características similares com tal sobrenome, creio que eu deveria ter deduzido antes.

— Huh? Minhas habilidades? Ehh, bem... — Soltei uma gargalhada sem graça, e então diminui o ritmo, virando o rosto para ele — Na realidade eu sou uma ótima arqueira, só que como pode ver, estou sem meu arco. Dei um sorriso para o garotinho empolgado e levantei os braços, fazendo o gesto de "Fazer o quê", então prossegui rapidamente — Mas não se preocupe, além disso sou ótima transitando em florestas, e me dou muito bem em combates físicos, aposto que conseguiria te deixar num sufoco, "fortão." Dei uma outra risada, estava provocando ele, mesmo que talvez não percebesse a malícia.

Logo chegamos aos portões, e o guarda nos permitiu passar com grande facilidade. — Ele devia ao menos ter pedido nossas carteiras ninja para confirmar que não estávamos fugindo, hm... Murmurei enquanto seguia o caminho, logo estaríamos na floresta próxima da saída.

— Então Lee é um clã, interessante. Eu também sou de um Clã, só que meus pais nunca mencionaram muito a respeito. Mas eu sei que posso fazer umas coisas legais, olha só. — Parei por um momento, com intenção de prender a atenção do garoto, abriria a mão em direção a ele e usaria minha manipulação de ossos para criar uma Kunai rústica de ossos. — Que tal, huh? Nojento, né? Com um sorriso, daria uma risada rápida e então ofereceria a Kunai para o garoto, se ele não quisesse, manteria ela em minha mão. — E o seu clã? Imagino que seja algo envolvendo Taijutsu, né?

No momento que víssemos a floresta, entraria com certo cuidado, cuidando as redondezas e árvores, em busca de qualquer sinal de vida selvagem recente, sendo patas ou arranhões, se identificado algo, tomaria uma rota evitando o encontro do animal silvestre.

— Ei, garoto, não precisa ficar preocupado, tá? É bem improvável que aconteça algo, só estou aqui para evitar que você se perca.


Aproveitando o local, iria respirar fundo, apreciando a beleza e quietude da floresta, seu ar diferente e clima mais úmido, deixando a beleza me contagiar enquanto o sol pinta o chão com sua luz que atravessa as folhas, uma obra viva que a cada brisa de vento te dá uma nova forma e sensação. Porém não me descuidaria, manteria o olho sempre atento para Lee e também para sinais de algo inesperado.

Um sorriso e calor tomaram conta do meu rosto, nem todo mundo costumava lidar com minhas habilidades sem estranhar de começo, e eu não me importava muito com isso, ou melhor, já havia me acostumado, contudo era sempre incrível ver pessoas que enxergavam a diferença como algo interessante, como eu.
— Bem, eu não sou muito boa em Ninjutsus também, e Genjutsus então... sou um desastre. Mas desde que sejamos capazes de arrebentar o inimigo, não importa o como, certo? Respondi ao comentário dele, com um sorriso no rosto, ainda envergonhada, fiz um "thumbs up" para ele e então voltei a atenção a trilha, ao fundo entre as árvores era possível ver a montanha, não faltava muito agora.

Algum tempo adentrando a floresta foi possível ouvir latidos, fiz um sinal de "pare" com a mão para o garoto, rapidamente ficando parada também, ele então chamou meu nome.
— Relaxa, você disse que ia confiar em mim, certo? — Respondi em um tom baixo — Deve ser apenas um cachorro selvagem, com azar é um grupo de lobos, de qualquer maneira, são ágeis e ferozes se te encontrarem, mas precisam te encontrar pra isso. Abri um sorriso confiante, utilizando minha manipulação de ossos, criei mais uma kunai robusta para uso próprio, caso necessário. Subi em uma árvore, dando um pulo para me apoiar num galho menor, e dando outros dois para ganhar altitude, do topo, averiguei a área o melhor que podia com minha visão aguçada, buscando rastros dos animais e de onde estavam vindo, caso conseguisse identificar sua direção ou passada, trajaria uma rota contornando eles, caso não fosse possível, instruiria o garoto a subir na árvore também e me acompanhar por elas até criarmos certa distância;


Se o garoto não conseguisse transitar pela árvores e eu não houvesse identificado uma rota pelo solo segura também, apenas guiaria ele o mais cautelosa possível, indo em direção oposta de onde havia escutado os latidos, preparada para caso combate, porém sempre visando evitar o mesmo, pois compreendia que minha missão se tratava de levar o menino até o treino, e não eu mesma treinar ele em um combate selvagem.

— Vamos lá garoto, na melhor das hipóteses seu treino começa antes e você me mostra seus grandes músculos em ação, huh? Comentei ironicamente, enquanto seguia a trajetória com um passo mais acelerado, precisava passar confiança para ele acima de minha timidez com interagir, mesmo que ele estivesse no mesmo rank que eu, era evidente que eu possuía mais experiência, e também que era mais velha por ter entrado atrasada na academia, era meu dever ninja ser um modelo para o jovem Lee!

Toda aquela inspiração do jovem Lee me deixava constrangida, porém conseguia ver que, desde que superasse isso, poderia ter novas experiências interessantes e inspirar a outros. Não que meu sonho seja ser idolatrada, mas a sensação de apreço era inegavelmente boa! E mesmo com as bochechas possivelmente vermelhas, já não sentia elas queimando tanto assim, talvez fosse por causa do sorriso que aquele garotinho me fazia manter constantemente com seu otimismo.
No topo das árvores, consegui identificar de os animais vinham, e com um pequeno desvio de rota, evitamos o confronto, nosso caminho foi uma ainda um pouco longo, com trocas de comentários banais sobre o lugar ou coisas que vinham a cabeça.

Finalmente, havíamos chegado até a montanha, era bem ingrime e alta, o pequeno Lee então tomou a iniciativa, começando a se despedir e explicar que seu teste já começara, e então agradecendo o presente, com lágrimas nos olhos, encabulada, virei um pouco o rosto, usando a mão para empurrar o cabelo, tentando me esconder, cruzei um pouco as pernas, tímida.

— Bem... se você guardar ele pra sempre, não foi um bom presente, né? ... Prefiro que você use ele quando precisar, e que lembre de mim na conquista.
Falei em um tom baixo, então tomei um pouco de ar e voltei a minha postura normal gradualmente, enquanto respondendo o final de sua frase — E não se preocupe, não vou esquecer do musculoso que precisou de guarda-costas, hihi. Falei com um sorriso travesso, e quando finalmente em postura normal, finalizei dizendo — Brincadeira, boa sorte no seu treino, nos vemos por aí! Até mais! E ei, pega. Disse, arremessando o último chiclete do pacote para ele, então virando de costas e levantando a mão, dando um tchau e adentrando novamente nas florestas.
Voltei mais despreocupada, peguei o meu chiclete e grudei numa folha, a goma já sem açúcar apenas me irritava após cansar a mandíbula, amassei ela e joguei para longe, logo se mesclou com as demais folhagens no ambiente e passei por ela rapidamente, abri meu bento e comi durante o trajeto, já era tarde e estava com fome, contudo não queria tomar mais tempo ainda na viagem, por várias vezes acabei tropeçando por não ver o chão ou quase derrubando a comida dos hashis enquanto andava, mas em geral fui um sucesso meu almoço-móvel. Mantive alerta para caso os animais silvestres ressurgissem, mas com sorte consegui voltar todo trajeto sem qualquer problema, adentrei na vila e um novo guarda estava a postos, acenei para ele e o mesmo me respondeu com uma mexida de cabeça, segui ao posto de missões, onde informaria o sucesso da missão e então voltaria para minha casa, tomando uma ducha e trocando de roupa, ficando um pouco mais relaxada após minha longa caminhada.

"Quem diria, minha primeira missão Rank C. Aquele Lee Obsidian era realmente interessante, espero que se torne um grande ninja um dia."