Saindo do escritório da Hokage, apenas admirava a borboleta que havia recém deixado voar. Com um susto, fui chamado para realizar outra tarefa. Um pacote me foi entregue e meu destino havia sido definido. Olhei para minha guardiã por um segundo e expliquei. —— Bom, acho que nos vemos depois. Tenho que levar isso nem sei para onde. —— Sorri, meio que me despedindo.

Encontrou-se com Makoto quando abriu a porta do gabinete, esperando que ambas pudessem fazer qualquer coisa antes de poderem se arriscar em alguma tarefa ninja. Freyja, apesar das dificuldades recentes, gostaria de criar certa relação com a menina, invés disso, ela parecia querer servir o vilarejo. — Uma missão? — indagou com curiosidade. — Bem, então eu irei com você. — sugeriu, de modo que pudesse garantir a segurança da menina com seus próprios olhos. Estava desarmada, mas não acreditava que isso fosse impactar no desempenho de uma missão destinada a uma genin.

Saíamos dos portões, uma ventania pareceu varrer toda a poeira presente no local, permitindo a alguns ciscos que caíssem em meus olhos. —— Ai caramba... —— Parei, começando a esfregar meus olhos de imediato. Com algum esforço, as lágrimas varreram a sujeira para fora, permitindo que continuasse o caminho.

Continuamos pelo caminho repleto de árvores até onde os olhos alcançam. —— Aqui é lindo. Você já saiu do vilarejo alguma vez, Onee- —— Me interrompi, estava demonstrando intimidade demais para alguém que acabara de conhecer. —— Está tudo bem chamá-la de Onee-san? —— A indaguei, enquanto nos aproximávamos das montanhas.

Ambas cruzaram os portões do vilarejo, Freyja esperava que visse novamente aquela grande construção de madeira quando retornasse. Tudo parecia um borrão, qualquer lembrança de que tenha passado pelos portões não passava de mera implantação em sua memória; estava aflita, mas não externaria isso a sua protegida. Nem mesmo a ventania seria capaz de atingir a menina, o instinto protetor da jonin a movia imediatamente para cobrir com os braços e mãos as partes que pudessem afligir Makoto de forma negativa.

Também transpuseram a floresta, verdejante e que dariam boas lembranças à Freyja, não fosse sua mente bagunçada. Não haveria trabalho até o terreno começar a tornar-se íngreme, de modo que ambas não conseguissem transpor normalmente. A menina soava como uma criança observando a natureza, provavelmente esta era a primeira vez que via aquele ambiente. — Pode me chamar como quiser, Makoto-chan — logo, olhou para o topo de onde tinham de continuar a subida, torcendo o nariz para a situação. — Firme chakra em seus pés para subirmos... ou eu posso lhe carregar, se preferir.

Freyja tomava a frente, usando seu corpo como uma verdadeira muralha entre mim e qualquer coisa que pudesse ter origem do percurso. Me sentia segura ao seu lado, segura que não faria nenhuma maldade a seu lado. Mais a frente, depois de um tempo de caminhar, encontramos três senhores e sua mula de carga, Irene.

Um deles pareceu iniciar um diálogo, algo que não ouvi plenamente, mas tinha alguma ideia de qual era seu desejo. Puxei a manga de destra de minha guardiã, assentindo com o olhar, era o melhor a se fazer. Evitar um conflito em terreno desfavorável era realmente o recomendado. E assim o fiz, grudando meu corpo contra a montanha, na espera da passagem do animal.

O vento batia em seu corpo como uma força da natureza querendo lhe derrubar da escalada, mas a jonin era resoluta em sua postura, mantendo-se firme com chakra fixando os próprios pés. Movida pela vontade de proteger Makoto, não haveria borrão mental, ventania ou artifício que a fizesse tremer.

Não tardou que mais um empecilho se mostrasse na jornada. O instinto protetor de Freyja se ativou, apesar de parecer apenas um grupo de pessoas comuns, a criação de laços com estranhos parecia tão longe quanto uma jornada à lua, mas assentiu ao pedido, pois eles pareciam ter mais urgência. — Passem, mas tentem não demorar, por favor. — disse com calma. — Makoto-chan, venha comigo. — orientou a garota, pegando-a pela mão e fixando-se na parede o mais rente possível para que o trio passasse.

Os homens passavam com certa dificuldade, a burrinha Irene foi a mais notável, já que sua cauda me atingiu em cheio, me impedindo de ver qualquer coisa em seguida. —— Ai caramba, não consigo ver nada. —— Reclamei, com um ardor incomum em ambos os olhos.

Não sentia tanta dor quanto as outras pessoas, mas ainda assim, aquela era a primeira vez que sentia aquele tipo de desconforto. Agarrei firme a destra de Freyja, já que ela deveria me guiar naquela situação. —— Você guia, okay?

A criatura passava de forma desengonçada, passando pelo caminho e prejudicando tanto a mim quanto Makoto, que teve a visão debilitada pela cauda do quadrúpede. Aquilo, por mais que parecesse ser de alguma forma não-intencional, enfurecia a jonin. — Preste atenção com a criatura! — alertou com a voz carregada. Queria derrubar aquelas pessoas dali, mas evitou fazê-lo, procurou algum auto-controle dentro de si e então manteve o caminho. — Você está bem, Makoto-chan?

Freyja pegou a menina pela mão com ternura e firmeza, jamais a deixaria escapar. Deixou um selo de sua habilidade nas costas da menina com um toque e então assentiu à sugestão, passando a guiar o caminho da garota pela mão.

Mesmo o mais treinado dos ninjas sucumbiria a uma situação como aquelas, mas Freyja tentara de preparar para todo tipo de mal que pudesse lhe impedir de atingir os objetivos que ansiava. Logo quando a terra ruiu e o próprio solo choveu sobre suas cabeças, agiu imediatamente. — Makoto-chan! — gritou puxando Makoto para perto de si, em seu colo, enfrentando as próprias costas contra a enxurrada, despertando os mil pássaros de forma intensa e duplicada ao seu redor. O chakra estaria nos pés à toda, buscando evitar uma possível queda.

Caso não fosse suficiente e a menina caísse de seus braços, haveria um segundo plano. — Não! — De sua bolsa de armas, uma kunai era sacada, logo marcada com a habilidade do Deus Relâmpago e cravada na parede. O Deus Relâmpago é invocado logo em seguida para combater a morte de sua protegida. Desapareceu em um flash negro e reapareceu às costas de Makoto, pegando-a pelos braços e retornando à kunai com a mesma habilidade. Tentou fixar chakra nos pés para evitar uma possível queda, segurando com toda a força a mão da garota.

A caminhada prosseguia, com fé que Freyja a guiaria sem problemas, me surpreendi imensamente com a súbita chegada dos projéteis rochosos. Minha guardiã uma palavra sequer pronunciou, então acreditei que estávamos seguras, então me findei calada. Quando sua voz ecoou em meus ouvidos, em um bravejar estrondoso, chamando por meu nome, que saberia que a situação estava longe de estar sob controle.

Não conseguia ver nada, apenas sombras e luzes. Senti um impacto, que me atirou para longe. Estava de fato caindo montanha abaixo, ou apenas pensei que estava, já que um segundo depois, senti novamente o toque de Freyja, que lutava bravamente pela minha segurança. O som de pássaros me trazia tranquilidade, então apenas permaneci quieta e imóvel, como um estorvo requerendo cuidados.

Sua tentativa de defesa como última instância foi também o próprio nêmesis de sua jornada. A eletricidade quebrara a rocha tamanha a força que lhe era empregada, fruto de sua habilidade inata no ninjutsu e no domínio daquela natureza elemental; maldita seria a hora em que se especializou em tal faculdade ninja. Mesmo teletransportando-se e buscando retornar, seria um movimento vão, visto que as rochas não cessavam a queda.

— Makot... — gritou, mas logo foi interrompida por uma rocha que acertou suas costas e lhe retirou o ar. Forte como um soco de um titã, uma segunda pedra atingiu suas costas, então criou novamente um campo elétrico para se proteger e obliterar as pedras, mas mesmo em meio a tanta euforia, sua preocupação era a pequena garota que lhe era incumbida de proteger. Uma vez no chão, correu para ver o corpo debilitado da menina, mas pior do que isso, era a inconsciência da menina que a preocupava. Freyja tomou sua protegida no colo e acariciou seu rosto, revelando os machucados que as rochas fizeram. — Makoto-chan! — gritava desesperada com a menina em seus braços. Não tinha conhecimento médico suficiente para saber se a garota ainda tinha vida ou se havia de fato morrido; a angústia tomava conta de seu corpo, um grande pesar percorria suas veias, enquanto furiosa, gritava em um acesso de raiva inexplicável.

O mundo já não parecia ser o mesmo, enxergava-o de forma diferente em questão de segundos. Ainda não amava profundamente a garota, mas o pouco tempo que passaram juntas foi o suficiente para que criassem um laço fraterno inicial. Makoto era a fonte em que depositaria todas as suas forças, mas agora, tudo havia se esvaído novamente, sentia que não conseguiria amar alguém novamente como amou a garota ou seus pensamentos confusos. Os borrões em sua mente pareciam ir embora, clarificados em um sentimento indescritível, junto de todos os sentimentos bons em seu coração, sendo estes substituídos por puro rancor e ódio. E em meio a lágrimas e gritos de fúria, o ódio preenchia os olhos de uma vermelhidão mais intensa que o sangue.

Escuridão e um silêncio indescritível. Em uma câmara de vidro, repousava sem pulso, olhando para o horizonte. Me questionava o propósito de minha existência já no berço, minha matriz, algo tão frágil e complicado. Estava cercada por trevas, caindo eternamente em um abismo de desespero. —— Eu morri? —— Era só o que imaginava. Se a morte podia ser sentida, aquela provavelmente seria sua sensação; um desapego do calor e da esperança, pura e completa ausência e vazio.

Do além, do vazio, uma voz se pronunciou, fazendo-se ser ouvida contra minha vontade. —— Você precisa me aceitar, mas você já sabe disso, não é? —— Não, me recusei a dar ouvidos, não queria deixá-lo ganhar. Um homem, semelhante a minha imagem, seus cabelos negros e óculos redondos eram o que chamavam a atenção. Com um estalar de seu dedo indicador, ela insistiu novamente. —— Você é uma máquina de matar, por que não aceita isso de uma vez? —— Questionou.

Meus olhos pesavam e minha cabeça doía. Não queria me deixar vencer e não iria ser levada tão facilmente. —— Eu não sou um monstro. —— E então me forcei a levantar. —— Eu ainda não vou morrer. —— Concluí, desaparecendo da escuridão. As feridas em meu crânio se recuperaram rapidamente, com o auxílio do sangue maldito que corre em minhas veias. Meus olhos se abriram lentamente e nenhuma palavra foi proferida, estava ainda fraca e permaneci a descansar.

Parecia não haver saída daquela situação. A fúria a consumia por dentro, estava com a menina no colo e mesmo tendo a capacidade de simplesmente teleportá-las dali de volta para o vilarejo, mas seu acesso de insanidade a impedia de tomar uma decisão sã a ponto de resolver o problema que foram colocadas. Ofegante, Freyja olhou para o rosto desfalecido da garota e notou que suas feridas pareciam se regenerar, ao mesmo tempo que sua própria visão estava completamente diferente, como se conseguisse enxergar além do que os olhos humanos permitiriam.

Por um momento pensaria que a menina estivesse viva, mas no estado em que se encontrava, era incapaz de conter alguma vida naquele corpo frágil. Estava convicta de que havia falhado em seu dever mais importante nos últimos dois anos. A vontade da jonin era de padecer ali ao lado da menina.

Meus olhos se abriram, pude ter um deslumbre borrado de Freyja antes de apagar novamente, mas seus olhos apresentavam um brilho avermelhado, diferente do habitual. Me neguei a pensar a respeito, apenas desmaiando novamente. Minha respiração deveria ser o suficiente para convencê-la de que não estava morta, não ainda.

Com a escuridão da noite, deixei a escuridão do mundo dos sonhos, despertando de encontro a Freyja. —— Eu estou aqui, você me chamou? —— Tive a impressão de ter ouvido meu nome, mas talvez estivesse apenas alucinando. Não havia mais nada para fazer por ali, já que a encomenda estava desaparecida e provavelmente seria melhor retornar o quanto antes. Subir essa encosta havia sido uma péssima ideia.

De súbito, o corpo da menina nos braços da jonin reagiu. Freyja pensou estar em uma ilusão, presa nas armadilhas que sabia que a própria mente humana poderia criar em uma situação de desespero. Beliscou seu próprio braço, mordeu os lábios e nada saía da ilusão; o mundo retomava suas cores normais. Makoto estava viva.

Freyja abraçou a protegida com força, como se a abraçasse pela última vez em muito tempo. — Makoto-chan... — murmurava. — Me perdoe por isso. — ela mal conseguia falar, mas a mensagem fora passada com sucesso. — Eu jamais irei deixar algo lhe machucar. Nunca mais. — falou com toda a certeza do mundo. Depois de respirar fundo por alguns minutos, recompondo-se, a necessidade agora era a de sair do ambiente de enclausuramento. Freyja olhou para cima, como se calculasse a distância de sua localidade até a boca do precipício, de modo a bolar uma fuga, apesar de já ter alguma ideia moldada. — Vamos sair daqui.

— Segure-se firme em mim, Makoto-chan. — disse para a garota. Havia um plano em sua mente para sair em grande estilo daquela situação e para isso sua protegida deveria estar em contato com seu corpo. Logo que Makoto se segurasse na jonin, Freyja iniciaria seu movimento.

Para fugir do fundo do poço, literalmente, seu movimento inicial foi o de sacar três kunais, instantaneamente seladas com o jutsu-shiki do Deus do trovão em sua empunhadura. Depositava nos objetos de arremesso a esperança de não tirar a si do enclausuramento, mas sim Makoto. Assim, disparou uma das lâminas com a dominante rumo à liberdade, calculou o ponto médio em que sua força se esvaía da pequena faca, então transportou a si e a garota para esta. O processo seria repetido mais duas vezes com as lâminas restantes, para não só saírem do buraco, como retornarem à rota da montanha.

Ela pediu que me segurasse, então o fiz. Agarrei com ambos os braços ao redor de seu pescoço, fixando as mãos juntas em seu peito. Me segurei o máximo que pude, para não ser arremessada longe durante as manobras, mas no fim, tudo iria melhorar.