Hakuryuu Kinsetsu

Nos dias que se seguiram ao firmamento do pacto com Nanabi, Haku sentiu como se seus ouvidos ainda zunissem pela recente exposição prolongada a sons prolongados. Entretanto, no caso, era como se estivesse sentido meses de ruídos brancos em seu próprio chakra. Havia uma desarmonia sempre presente que, para alguém com o controle tão fino do chakra quanto ele, soava como uma grande dissonância. Porém, há tantos meses exposto ao mesma situação, demorou dias para ter certeza de que o zunido em seu próprio chakra não era meramente uma impressão.

À altura em que decidiu seguir para o dojo do mestre Ziusudra, sentia como se o silêncio interno esmagasse os seus ouvidos. Há tanto tempo não sentia a calma interior que sequer conseguia se lembrar da sensação com precisão.

De qualquer forma, estranhando sua situação interna ou não, fato era que todas as suas habilidades envolvendo o controle de chakra delicado haviam retornado ao normal. E, com isso, a motivação para avançar suas habilidades na manipulação dos novos chakras em seu interior também havia emergido.

Considerando que não tinha tantas outras fontes de onde tirar mais informações sobre seus novos poderes, decidiu recorrer à mesma fonte a qual havia o levado até ali. Tinha ido longe, mas imaginava que, pelo menos, seu mestre e sua veterana deveriam conseguir indicar algum sentido para o qual ir e, quem sabe, descobrir mais.

Palavras: 230

Hakuryuu Kinsetsu

No dojo de seu mestre, não demorou a ser recebido por Terá e Ziusudra. Ambos pareciam bastante curiosos para saber até onde Kinsetsu tinha ido desde o último treino que fizeram em conjunto. O velho, por sua vez, pareceu encarar Hakuryuu por alguns instantes a mais.

Ele não demorou a comentar que certamente algo havia mudado. E, Haku, por sua vez, imediatamente pensou na harmonia interior retomada no seu fluxo de chakra. Entretanto, permaneceu absolutamente confuso quanto ao método do mestre de averiguar aquilo. Afinal, sabia apenas de técnicas oculares que eram capazes de visualizar o chakra, e os olhos do professor nem de longe pareciam ter um dos vários doujutsus que já tinha visto. Eventualmente, contentou-se com que não saberia tão cedo: mais um dos segredos do velho mestre.

Sem enrolar mais, Haku perguntou diretamente sobre novos trechos do diário do jinchuuriki desconhecido. Os dois o observaram com expressões não das mais esperançosas. No entanto, apesar de alertarem que não parecia haver mais nenhuma informação com o mínimo de continuidade para ser entendida, Kin ainda assim quis ver o conteúdo.

Ao que vasculhou diversos excertos, pode encontrar algumas frases ou termos soltos que, de certa forma, pareciam fazer algum sentido. Não os culpou, claro. Era impossível que soubessem. Afinal, para entender a alegoria que parecia se esboçar naquela situação, era necessário ter noção abstrata de como era estar com uma besta de cauda dentro de si. E, realmente, toda a coisa parecia se encaminhar para um tipo de cabo de guerra.

Entendendo a lógica do assunto, Haku decidiu retornar aos demais volumes e, assim, aprofundar mais seu conhecimento sobre o próprio chakra da besta.

Palavras: 275

Hakuryuu Kinsetsu

Após boas horas de estudo do diário e outros documentos antigos e escassos sobre o assunto, Haku sentiu que havia entendido o panorama acerca do chakra da sua besta de cauda. Sentindo-se pronto para o treino, dirigiu-se ao pátio do dojo de seu professor.

Naturalmente, olhos curiosos foram atraídos para o Haku, já um tanto notório dentro do lugar por alguns motivos, além de Nanabi.

Sentado sob uma das rochas no karesansui do dojo — reminiscente daquele na Cidadela do Deserto por razões óbvias de descendência do professor —, Haku começou a se concentrar no núcleo da besta em seu interior. Agora, mais consciente da natureza do chakra do seu companheiro de corpo, Haku sentia que sua mente “enxergava” o núcleo de forma muito mais clara. Parecendo um orbe estelar, como antes, mas dessa vez muito mais detalhado e azulado, Haku parecia sentir que finalmente as coisas começavam a fazer sentido.

Diferente do outro orbe que havia roubado no treino do controle completo, este era absurdamente mais massivo. Tão massivo que seu pequeno orbe, um estelar amarelado, parecia jamais ser capaz de competir com algo do tipo.

Todavia, dessa vez, Kin não estava tão amedrontado assim. Tinha noção sobre a natureza daquele chakra azul-marinho e sobre o que estava fazendo. E, claro, dessa vez, tinha um trato firmado com o dono dele.

Canalizando toda aquele material incandescente azulado, Haku começou a puxar a energia de Nanabi para alimentar e, então, revestir seu próprio orbe amarelado.

O surto de energia que sentiu foi diferente de tudo que já havia sentido. Seu selo amaldiçoado também era capaz de inundá-lo de uma energia, ainda que desagradável e capaz de afetar seu humor, era poderosa o suficiente para melhorar grandemente suas capacidades físicas. Entretanto, aquilo estava em outro nível. A sensação era incrível. O surto de energia — em nada desagradável, diferente do chakra amaldiçoado — era tamanho que Haku sentia como se fosse capaz de tudo.

Todavia, como sempre, buscou se controlar. Afinal, pode sentir que algo não parecia muito certo. Um calibroso tentáculo havia se estendido da estrela azul, alimentando a amarela. Tamanha a energia, que a amarela havia crescido consideravelmente. Entretanto, ao que parou para respirar, Haku pode perceber algo sutil: fluxo de material amarelo emergia da sua estrela em direção à azul pelo centro do tentáculo azul.

Àquela altura, de olhos abertos, contemplava com tanta surpresa sua nova aparência, quanto os diversos alunos que surgiam de cada canto do dojo. No entanto, aprofundado na sensação de troca de chakra, sentindo ares de certa perfídia na troca — afinal, parecia uma faca de dois gumes, cujo uso prolongado certamente poderia matá-lo —, estava introspectivo e alheio às dezenas de olhares dos arredores. Observando seu braço direito e, então, o torso abaixo do seu rosto, ponderou sobre as intenções de Nanabi. Ele não parecia do tipo mentiroso. Inclusive, o problema na harmonia entre seus chakras com certeza havia sido resolvida. No entanto, aquela coisa parecia mais profunda. Tão profunda que não conseguia determinar a razão.

Sentia que tinha de experimentar aquele poder antes de poder dar passos adiante. E, de qualquer forma, tinha outros assuntos a resolver em relação aos treinos de outros aspectos de seus novos poderes.

Ao que se virou, porém, percebeu os montes de olhos fascinados com sua nova transformação — cobertura inteiramente branca, com detalhes roxos e cabelos longos — e arregalou os olhos.

Tímido, congelou alguns instantes e, então, atrapalhou-se ligeiramente para desativar a transformação. Porém, logo que o fez, reverenciou desajeitadamente o mestre e a veterana, que estavam na porta principal, também observando, e saiu. Tinha muito a treinar, afinal.

Palavras: 596